Non, je ne regrette rien
domingo, 28 de janeiro de 2018
Educação: A receita francesa contra a pirraça
Pamela Druckerman, americana radicada em Paris, comparou a
forma como os pais criam os filhos na França e nos Estados Unidos e concluiu:
os franceses preparam melhor para o futuro, mas não esperam grande coisa deste
futuro.
Casada com o colunista esportivo inglês Simon Kuper, mudaram
para Paris em 2004 e se tornou mãe e dona de casa. Olhando em volta, percebeu
que não estava se saindo bem em nenhuma das duas funções. Grávida, engordou
mais do que o recomendado e se encheu de preocupações, enquanto as vizinhas
gestantes francesas continuavam charmosas e em forma. Depois do parto, sofria
com as noites maldormidas, enquanto via as francesas retomar a rotina sem
olheiras. Levava a filha para almoçar fora e, entre crises de birra e
inapetência, invejava as crianças nas mesas em volta, comendo como gente
grande.
Pamela resolveu então investigar como os franceses
conseguiam criar filhos tão bem comportados. O resultado está no best-seller
Bringing up Bébé, lançado em vinte países e que acaba de chegar às livrarias
brasileiras com o título Crianças Francesas Não Fazem Manha, da editora Objetiva.
Mãe de mais uma menina e dois meninos que comem queijos e verduras como
parisienses natos, ocupada em escrever um segundo livro sobre o assunto,
Conheça alguns dos conselhos da autora para os pais, a partir da comparação
entre o que fazem as famílias americanas e francesas:
1. EQUILÍBRIO
“Nem tudo é perfeito
na França. Os franceses têm uma visão bem pessimista da vida, estimulada nas
escolas, na literatura, no cinema e nas artes. Para eles, os problemas são
imutáveis. Os americanos são mais positivos e esperançosos. Acreditamos que
podemos tudo. Em casa, tento compensar esta influência cultural francesa lendo
histórias americanas para os meus filhos. Além de boas maneiras à mesa, quero
que eles aprendam também a acreditar no final feliz.”
2. TEMPO LIVRE
“Meus três filhos estudam num escola pública de Paris, onde
também têm aulas de música e praticam esportes. Se morássemos nos Estados
Unidos, eles provavelmente teriam muito mais atividades. É difícil escapar da
pressão social, embora eu perceba que os americanos estão revendo este esquema
de agenda lotada dos filhos e dando mais importância ao convívio com a família.
Os pais franceses têm muito a ensinar nesta questão. A educação francesa
facilita o aprendizado de características que são essenciais para se tornar um
adulto saudável, como administrar o tempo livre sem ansiedade. As crianças
brincam sozinhas, sem monitores ou babás em volta o tempo todo. Os pais não
adaptam a decoração inteira da casa ao gosto dos filhos, mas respeitam seus
palpites no próprio quarto, que consideram seu território.”
3. O MOMENTO CERTO
“Os pais franceses estão tão preocupados com o futuro dos
filhos quanto os americanos, chineses e brasileiros. Como todos os pais do
mundo, reclamam da qualidade das escolas e querem que os filhos desenvolvam ao
máximo suas habilidades. A diferença é que os franceses respeitam mais cada
fase da infância. Acham que ensinar a criança a ler e escrever aos 3 anos,
quando ainda não tem maturidade para isso, não garante que ela terá sucesso no
futuro. Eles veem com desconfiança esta nova forma de educar, com alto estímulo
precoce.”
4. LIMITES
Dizer não e estabelecer limites transmite segurança à
criança. Ela entende com clareza como deve se comportar. É claro que, quando
ouve o não, vai reclamar e demonstrar raiva. Os pais franceses entendem que
sentir raiva e se frustrar faz parte da vida. Eles dialogam com os filhos, mas
não abrem espaço para longas discussões. São firmes e não se sentem culpados
porque sabem que é melhor para a criança aprender a ter paciência e
autocontrole. Se o filho interrompe um telefonema, por exemplo, a mãe francesa
pede que ele espere e retoma a conversa; a americana desliga e vai atendê-lo.
Assim, a criança americana cresce acostumada a ter o quer, na hora que quer, e faz
um escândalo se isso não acontece. Nos Estados Unidos, os pais têm medo de
contrariar os filhos porque são eles que mandam na rotina da família. O
resultado é que a criança acha que é o centro do universo e não se conforma
quando tem uma expectativa frustrada.”
5. MODELO
“Moro em Paris desde 2004 e ainda me sinto intimidada pelas
francesas. Não consegui ficar amiga de nenhuma parisiense. Elas são discretas e
distantes -- o oposto do que observei sobre as brasileiras quando morei em São
Paulo, em 2001. As brasileiras cuidam do corpo, mas não são escravas de um
padrão de beleza. Já as francesas seguem à risca um modelo restrito e pré‑definido
– sempre magra, bem vestida, sem exageros - e a mulher que não se enquadra nele
está perdida. Elas trabalham tanto quanto as americanas, mas conseguem ter mais
equilíbrio entre as horas dedicadas à carreira e aos relacionamentos pessoais,
até porque recebem mais ajuda do governo. Elas recebem auxílio financeiro para
criar os filhos e dispõem de creches e escolas públicas de boa qualidade.
Curioso: mesmo assim, vivem reclamando da vida.”
6. COM ALEGRIA
“As crianças francesas aprendem a ter prazer com as coisas
do dia-a-dia que, em outros países, são consideradas privilégio de adultos.
Comida, por exemplo. Os americanos se preocupam muito com a nutrição mais
correta e acham que o paladar das crianças pequenas é limitado ao doce e ao
salgado. Na França, elas são estimuladas desde cedo a experimentar diferentes
sabores. Para elas, as refeições são um ritual prazeroso: a mãe ou o pai vai ao
mercado com os filhos comprar os ingredientes para o jantar, eles cozinham
juntos, arrumam a mesa e se sentam para apreciar a comida, sem pressa e sem
televisão ligada. Desta forma aprendem a comer legumes e queijos naturalmente,
sem dramas. A hora de dormir também é encarada de modo diferente. Nos Estados
Unidos, se o bebê chora, vai para o colo imediatamente. Na França os pais
esperam um pouco, para ver se ele pega no sono sozinho novamente. Assim se
estabelece um modo de vida mais relaxado. Com joie de vivre, como eles dizem.”
Fonte: Veja - 18 fev 2013
Comentário:
Enquanto no Brasil, segundo a psicanalista Marcia Neder,
autora de "Déspotas Mirins ; Por que os filhos mandam nos pais? Ela diz que a 'pedocracia', ou seja, a
ditadura das crianças, está mais presente do que nunca.
■ O culto e a idolatria à criança está cada dia mais
presente nos lares brasileiros. E não é apenas uma postura de birras, pirraças
ou manha. Os 'reizinhos' não aceitam ouvir 'não', querem tudo do jeito deles e
na hora que eles querem. Mas em que momento essas crianças começaram a ser as
donas da casa?
■ Segundo ela, na cultura atual de idolatrar a criança, os
pais têm uma necessidade grande de serem amados pelos seus filhos. "E eles
dizem que 'se não dermos alguma coisa a eles, eles ficam chateados e dizem que
não amam a gente'. É uma inversão total de valores", reforça Neder.
■"É mais fácil deixar a criança ser rei. É mais fácil
do que aguentar o chilique. Dá trabalho educar. Para evitar isso é bem claro:
estabelecer quem é pai e quem é mãe, quem é adulto, e quem é a criança. Se você
não estabelece desde o início, tentar estabelecer depois fica complicado",
sugere.
sábado, 27 de janeiro de 2018
Brasil é vítima do seu Congresso
Em relatório, grupo de estudos do renomado Sciences Po
aponta que próximo presidente não terá forças para "romper inércia
política" e que Lava Jato não vai ser sustentável sem reforma ampla do
sistema.
O Observatório Político da América Latina e do Caribe
(OPALC), ligado ao renomado Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences
Po), fez um balanço pessimista sobre as chances de o Brasil superar seus
problemas políticos e apontou que o Congresso é o grande obstáculo para que o
país realize mudanças profundas no seu sistema.
O capítulo do relatório dedicado ao Brasil afirma que o país
"entrou em 2017 em um período de estabilização mas também de estagnação
econômica" e é "bastante improvável que o próximo presidente conte
com influência política junto ao Congresso" para "tirar o país da
inércia".
"Uma visão intuitiva e ingênua sugeriria que a pressão
ligada à multiplicação de escândalos poderia levar os atores políticos a
trabalhar em conjunto em uma reforma política de grande escala. Uma análise
mais detalhada dos fatos mostra que não é assim", diz o texto.
"As elites no poder conseguem resistir à mudança e
geram uma força de inércia que retarda ou bloqueia qualquer projeto destinado a
transformar o cenário, as regras e as práticas políticas."
O documento detalha como o Congresso é capaz de derrubar ou
preservar um presidente, conforme as vantagens políticas que pode obter, sempre
em nome da preservação dos privilégios de seus membros.
"Michel Temer não sofreu a mesma iniciativa de
demolição política que a experimentada por Dilma Rousseff em 2016. Podemos ver
aqui o papel decisivo desempenhado pelo Congresso na manutenção dos equilíbrios
políticos", afirma o relatório.
"Mas os congressistas não só têm o poder de derrotar um
presidente ou de preservar um. Eles também são os cérebros do sistema político,
prevenindo há várias décadas qualquer iniciativa de reforma política que possa
pôr em perigo os seus próprios interesses e prejudicar a sua vida política.
Como o próprio Michel Temer afirmou em 2015, quando ainda era vice-presidente
da República, 'o Congresso é o senhor absoluto da reforma política'."
LAVA JATO NÃO É SUFICIENTE
O capítulo brasileiro no relatório foi elaborado por
Frédéric Louault, vice-presidente do OPALC e professor da Universidade Livre de
Bruxelas, na Bélgica. No texto, Louault aponta que, apesar dos avanços, a
operação Lava Jato não é suficiente para pressionar o Congresso e forcar
mudanças, e que iniciativas mais amplas nos campos eleitoral e constitucional
são necessárias.
"É improvável que a onda de choque causada pela
operação Lava Jato signifique no curto prazo uma alternância do quadro político
e das práticas. Mesmo que uma limpeza do sistema pareça inevitável, as elites políticas
brasileiras já demonstraram no passado a sua capacidade de resistir a mudanças,
de recuperação ou mesmo de regeneração", diz o relatório.
O relatório segue o raciocínio afirmando que iniciativas
como a lei anticorrupção de 2013 e a repressão contra crimes de corrupção
"não são suficientes" para "quebrar os hábitos políticos que se
perpetuam há séculos". "O impacto das ações policiais e judiciárias
não pode ser sustentável sem uma reforma profunda do sistema político."
O texto ainda aponta que "o Brasil é, portanto, vítima
de seu Congresso e prisioneiro de seu sistema eleitoral, estabelecido pela
Constituição de 1988". Ainda segundo o OPALC, o complicado sistema de
eleições proporcionais estabelece "um presidencialismo de coalizão baseado
na individualização do comportamento político, fragmentação e instabilidade de
alianças".
"Incapaz de confiar uma maioria estável no Congresso, o
presidente da República torna-se 'refém' de uma base aliada heterogênea e deve
fazer largas concessões para governar."
REPENSAR A CONSTITUIÇÃO
Segundo o OPALC, foram realizadas algumas iniciativas para
reformar o sistema eleitoral, como a criação de um fundo de campanhas e o
estabelecimento de um teto de gastos em campanhas. Só que qualquer iniciativa
de reforma apenas focada no aspecto eleitoral não é suficiente. Também é
preciso repensar aspectos mais amplos, especialmente a Constituição.
"O tema da reforma política, que está no cerne da
agenda legislativa a cada grande crise do sistema representativo (Collorgate em
1992, Mensalão em 2005, Lava Jato em 2015) produziu até agora apenas alguns
efeitos concretos sobre as condutas políticas", afirma o relatório.
"Como o cientista político Sérgio Abranches apontou em
2005, é improvável que uma reforma política eleitoral tenha um impacto
significativo e sustentável se ela não ocorrer paralelamente a uma reflexão
mais profunda sobre a reforma constitucional."
Por fim, o relatório prevê com pessimismo que o próximo
ocupante do Planalto não deve conseguir romper o ciclo de estagnação junto a um
Congresso avesso a mudanças e que só tem em mente os seus próprios interesses.
"Enquanto o Brasil celebra em 2018 o trigésimo
aniversário da Constituição de 1988, os debates sobre a reformulação desta
Carta não estão na agenda", dizem os estudiosos franceses. "Dado o
contexto atual – marcado por uma crescente polarização política, a fragilidade
do sistema partidário e a prioridade dada às políticas de estabilização
macroeconômica – é pouco provável que o próximo presidente da República tenha
influência junto ao Congresso para romper com a inércia política e tomar uma
iniciativa nesse campo." Fonte: Deutsche Welle – 25.01.2018
sexta-feira, 26 de janeiro de 2018
Desconto em Nutella gera tumulto e violência na França
Era para ser só uma promoção de Nutella. Mas, ao colocar o
creme de avelã à venda por € 1,40 (cerca de R$ 5,47), uma rede de supermercados
na França acabou provocando tumulto e confusão pelo país, na última
quinta-feira, 25 de janeiro.
A rede Intermarché decidiu reduzir em aproximadamente 70% o
preço da Nutella, inicialmente vendida a €4.50 (R$ 17,59). O desconto gerou
cenas de violência entre clientes, que disputaram o produto com desconto em
lojas em diferentes cidades francesas, de Norte a Sul. Vídeos e relatos se
espalharam pelas redes sociais.
Cerca de 365 milhões de quilos de Nutella são consumidos
todos os anos em 160 países, ao redor do mundo. O creme foi criado pela família
Ferrero em 1940, na Itália, em Piemonte, região famosa pelas avelãs. A empresa lamentou as cenas de violência que aconteceram na
última quinta-feira. Salientou ainda que a decisão de dar o desconto foi
exclusiva da rede de supermercados. Fonte: BBC Brasil - 26 de janeiro de 2018
quinta-feira, 25 de janeiro de 2018
A polêmica em torno de um poema em Berlim
Estampado em prédio, texto de Eugen Gomringer foi acusado de
espelhar mulher como objeto. Para Ricardo Domeneck, caso reflete discussão
tardia e necessária sobre misoginia e gera debate sobre liberdade de expressão.
Na parede de um prédio em Berlim, está estampado um dos
poemas clássicos de Eugen Gomringer, considerado um dos criadores da poesia
concreta ao lado dos brasileiros Haroldo de Campos, Décio Pignatari e Augusto
de Campos. Chama-se Um admirador:
avenidas
avenidas e flores
flores
flores e mulheres
avenidas
avenidas e mulheres
avenidas e flores e mulheres e
um admirador
Estampado na parede da escola superior Alice Salomon
Hochschule, no bairro de Berlin-Hellersdorf, desde 2011, o poema causou polêmica
no ano passado, quando foi acusado de espelhar a passividade da mulher como
objeto e a situação feminina como não agente dos próprios passos, dos próprios
olhos. Nesta terça-feira, as autoridades locais decidiram que, numa planejada
reforma da fachada da escola em meados deste ano, o texto de Gomringer será
substituído por um poema de Barbara Köhler.
Estamos passando por um momento difícil, em que nos vemos em
meio a uma conversa extremamente necessária e importante, que começou tarde.
Mas não tarde demais. E é por ser uma conversa tão importante e tão tardia, a
que discute finalmente a misoginia e a violência contra a mulher em nossa
sociedade, que me parece muito importante saber onde concentrar nossas
energias. E que erros evitar.
Estamos vendo no Brasil uma onda de boicotes e conversas
muito pouco civis, ainda que pareçam cheias de fervor republicano e cidadão.
Exposições fechadas por supostas apologias a atos criminosos, boicotes a
palestras tanto à direita quanto à esquerda. Este talvez seja um assunto pesado
demais para uma coluna sobre literatura. Mas trata-se, afinal, de um poema. Por
ter visto o meu desejo criminalizado por tanto tempo, não tenho a menor vontade
de criminalizar o desejo de outros.
Não sei se a você,
querido leitor, este poema soa sexista. Não há nele, certamente, qualquer
violência ou apologia à violência. Não sei mais onde traçaremos a linha da
liberdade de expressão e liberdade artística se todos, dentro de uma
comunidade, começarem a tentar fazer desaparecer os discursos que desagradam à
sua visão de mundo, sem que haja qualquer desvio constitucional em tais
discursos. Fonte: Deutsche Welle – 23.01.2018
Comentário:
A poesia concreta surgiu com o Concretismo, fase literária
voltada para a valorização e incorporação dos aspectos geométricos à arte
(música, poesia, artes plásticas).
O poema do Concretismo tem como característica primordial o
uso das disponibilidades gráficas que as palavras possuem sem preocupações com
a estética tradicional (verso/rima) de começo, meio e fim e, por este motivo, é
chamado de poema-objeto.
Caminhamos, ou melhor, já estamos no totalitarismo das redes
sociais. Cada um é um censor.
A rede social é o Ministério da Verdade (1984, George
Orwell), produtor das notícias, entretenimento, educação e artes.
quarta-feira, 24 de janeiro de 2018
Amazon Go, a loja sem atendentes e sem caixa
A primeira indicação de que há alguma coisa de incomum na
loja do futuro criada pela Amazon surge bem na porta de entrada. A sensação é a
de que você está entrando em uma estação de metrô. A entrada da Amazon Go é
protegida por uma fileira de portões que só permitem a entrada de quem tiver um
app da loja em seu smartphone.
Do lado de dentro, um minimercado de 165 metros quadrados
oferece o mesmo tipo de comida que você poderia encontrar em muitas lojas de
conveniência - batatas chips, refrigerantes, ketchup. A loja também oferece uma
seleção de alimentos parecida com a das lojas Whole Food, a cadeia de
supermercados de produtos orgânicos adquirida pela Amazon.
Mas a tecnologia que existe do lado de dentro, em geral
oculta aos olhos dos consumidores, possibilita uma experiência de consumo sem
igual. Não há operadores de caixa ou caixas registradoras em lugar algum. O
comprador sai da loja por aqueles mesmos portões, sem precisar parar para pegar
um cartão de crédito. A conta dele na Amazon é cobrada automaticamente pelo que
quer que a pessoa carregue com ela para fora da loja.
Não há carrinhos ou cestas para compras na Amazon Go. Porque
o processo de pagamento é automatizado, para que eles serviriam? Em lugar
disso, o consumidores coloca os produtos diretamente na sacola de compras com a
qual deixarão a loja.
A cada vez que o consumidor apanha um item em uma
prateleira, a Amazon informa que o produto será incluído automaticamente no
carrinho de compras da conta online do comprador. Se o consumidor devolver um
produto à prateleira, a Amazon o retirará do carrinho de compras virtual.
O único sinal da tecnologia que torna tudo isso possível
flutua por sobre as prateleiras da loja - conjuntos de pequenas câmeras,
centenas delas espalhadas pela área. A Amazon não revela muito sobre como o
sistema funciona, limitando-se a revelar que envolve sistemas sofisticados de
visão computadorizada e software de aprendizado por máquina. Tradução: a
tecnologia da Amazon é capaz de ver e identificar cada item disponível na loja,
sem necessidade de um chip especial afixado a cada lata de sopa ou pacote de
frutas secas.
Em 2016, existiam mais de 3,5 milhões de operadores de caixa
nos Estados Unidos, e os empregos de alguns deles podem estar sob ameaça se a
tecnologia que embasa a Amazon Go se difundir. Por enquanto, a Amazon diz que a
tecnologia simplesmente muda o papel dos funcionários - o que é exatamente a
maneira pela qual a empresa descreve o impacto da automação sobre os empregados
em seus armazéns.
"Nós deslocamos o pessoal para tipos diferentes de
tarefas, que em nossa opinião possam propiciar uma experiência melhor aos
clientes", disse Puerini.
As tarefas incluem reposição de estoques e ajudar os
clientes a resolver quaisquer problemas técnicos. Empregados da loja ficam por
perto dos compradores para ajudá-los a encontrar produtos, e ao lado há uma
cozinha na qual cozinheiros preparam refeições para venda na loja. Porque não
há caixas, um funcionário fica na seção de vinhos e cerveja da loja,
verificando a idade dos compradores antes de autorizá-los a apanhar garrafas de
bebidas alcoólicas das prateleiras.
A maioria das pessoas que vão regularmente a supermercados
sabe o quanto o processo de passar pelo caixa pode ser incômodo, com filas
longas ou clientes que se atrapalham nos quiosques de processamento automático.
Na Amazon Go, a sensação que você tem ao finalizar uma
compra é - e não encontro outra maneira de expressá-la - a de que acabou de
roubar a loja. Só alguns minutos depois de deixar a loja, quando a Amazon envia
um recibo automático da compra, a sensação se dissipa.
Mas roubar alguma coisa não é fácil, na Amazon Go. Com
permissão da empresa, tentei iludir o sistema de câmeras da loja, enrolando uma
sacola de compras em torno de uma embalagem com quatro latas de refrigerantes,
com preço de US$ 4,35, enquanto ela ainda estava na prateleira. Coloquei a
sacola enrolada por sob o braço e saí da loja com os refrigerantes. A Amazon me
cobrou por eles.
Uma grandes pergunta que fica sem resposta é quais são os
planos da Amazon para essa tecnologia. A empresa não revela se planeja abrir
novas lojas Amazon Go, ou se preservará apenas a loja inicial como uma espécie
de novidade tecnológica.
Há até especulações de que a Amazon poderia vender o sistema
a outras companhia de varejo, da mesma forma que vende serviços de computação
em nuvem a outras empresas. Por enquanto, os visitantes da Amazon Go precisam
prestar atenção na hora de comprar: sem que seja preciso encarar o caixa na
hora do pagamento, é fácil ceder à tentação e gastar demais. Fonte: Folha de São Paulo - 22/01/2018
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