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sábado, 1 de setembro de 2018

Brasil e a automação de empresas

País é só o 39º entre 44 que mais usam a robótica; especialistas veem perda de competitividade

Depois que um profissional da fábrica da Unilever em Aguaí (SP) coloca um conjunto de 93 latas vazias na esteira, ninguém mais precisa encostar nelas para que caixas de desodorantes cheios e tampados das marcas Dove e Rexona deixem a empresa.

Trabalham ali empilhadeiras autônomas, que levam caixas com insumos e itens prontos de um lado para o outro, máquinas que sozinhas enchem as garrafas e as tampam em fração de segundo e braços robóticos que fazem o encaixotamento dos itens.
Há também um robô que, de duas em duas horas, pega itens prontos e verifica características como peso e diâmetro.

As máquinas registram tudo o que fazem e geram gráficos para que os operadores acompanhem o processo.
Equipadas com sensores, elas se comunicam. Ninguém precisa avisar que faltam latinhas na esteira. O sistema faz solicitações de mais suprimentos por conta própria.

Braços humanos não são usados nem para abastecer o caminhão que leva os itens para o centro de distribuição da empresa. Caixas com o produto final são empilhadas sobre uma esteira posicionada na frente do veículo e descarregam o conteúdo ali dentro.
Ricardo Gomes, diretor da fábrica, diz que ela foi desenvolvida buscando o que há de mais atual em termos de sustentabilidade e tecnologia. Com três anos, é a unidade mais nova da companhia no Brasil. A Unilever tem dez complexos fabris no país.

Segundo ele, a automação torna a produção mais eficiente, aumentando a qualidade e reduzindo o desperdício. Em algumas semanas, até o abastecimento da esteira com latas será feito por máquinas.

Gomes nega que a adoção de automação diminua o número de trabalhadores. Segundo o executivo, ela permite que eles deixem atividades repetitivas e desconfortáveis e passem a se dedicar a buscar melhorias para a produção ou atuar em outras áreas.

"Temos de desmistificar a ideia de que a automação impacta a participação de pessoas. Quando a usamos, precisamos do ser humano, mas em áreas estratégicas."  A companhia não informa qual o número de profissionais na unidade de Aguaí.

Apesar de a robótica estar em crescimento no Brasil, exemplos como o da multinacional ainda são raros no país.

Segundo dados da IFR (Federação Internacional de Robótica, na sigla em inglês);
■  o Brasil tem dez robôs a cada 10 mil trabalhadores.
■ A média global é de 74.
■ O Brasil fica na 39ª posição em um ranking de 44 países que mais usam a tecnologia.
■ A liderança é da Coreia do Sul, com 631 robôs por 10 mil trabalhadores, seguida por Singapura (488) e Alemanha (309).

COMPETITIVIDADE DAS EMPRESAS BRASILEIRAS
O atraso ameaça a competitividade das empresas brasileiras, segundo Fernando Madani, coordenador do curso de engenharia de controle e automação do Instituto Mauá de Tecnologia.
"Existe o medo da perda de empregos que a automação traria. Mas, se não formos mais eficientes, vamos perder todos os empregos", diz.

MÃO DE OBRA ESPECIALIZADA
Segundo Madani, um desafio para empresas que querem adotar robótica é ter mão de obra especializada para dar manutenção aos sistemas, especialmente no caso de pequenas e médias companhias.
"Um robô não é mais tão caro, é possível comprar muitos deles pelo preço de um carro premium, de R$ 300 mil."

Empresas que fornecem robôs no Brasil, as estrangeiras ABB e Kuka e a nacional Pollux dizem que, apesar da presença baixa deles no país, a demanda vem em alta.
"Na crise, os grandes investimentos em linhas automotivas [em que robôs são mais adotados] foram menores, mas outros setores estão investindo mais", afirma Daniel Diniz, gerente de marketing e vendas da ABB.

Edouard Mekhalian, diretor-geral da Kuka para o Brasil, diz que a demanda por robôs cresce cerca de 15% ao ano.
Segundo ele, entre os fatores que dificultam o avanço da robótica no Brasil;
■ mercado historicamente mais fechado (o que diminuiria a busca por competitividade),
■ as incertezas com relação à política e à economia (que afastam investimentos) e
■ um mercado consumidor que não é acessado por toda a população.

José Rizzo, presidente da Pollux, afirma que o avanço do uso de robôs na década ficou abaixo de sua expectativa. Ele diz que acreditava que, com o barateamento da tecnologia e o aumento do custo da mão de obra, haveria um crescimento forte a partir de 2014. Porém, como resultado da elevação do desemprego, o interesse por eles não foi o esperado.

ALUGUEL DE ROBÔS
Como os clientes não estavam dispostos a fazer investimentos, a companhia passou a oferecer robôs como serviço, alugando os equipamentos e ficando responsável por sua programação e manutenção. Desde 2017, em vez de o cliente ter de investir R$ 400 mil em um projeto com robô, ele passa a ter a opção de pagar R$ 8.000 mensais para usar a tecnologia.
"Dificilmente iríamos acelerar a adoção no modelo antigo. Agora, de cada dez robôs instalados, oito são nesse modelo."
Apesar de a iniciativa ter dado bons resultados, ele diz que a situação do país é preocupante: "Se não mudarmos nossa realidade, nem em cem anos tiraremos o atraso".
Fonte: Folha de São Paulo - 7.ago.2018

Comentário:
As mudanças na forma como trabalhamos e produzimos nossas riquezas são irreversíveis. Nossa economia mudou e a sociedade deve passar por tempos complicados por causa disso. Não existe uma fórmula pronta para resolvermos essa equação, pois o momento ainda é novo. A tecnologia certamente já alterou a forma como muitos empregos funcionam, chegando a eliminar algumas funções, mas medidas efetivas precisam ser tomadas por nossos governantes. A questão social afeta toda a população e infelizmente não vejo uma ação real sendo executada. É preciso tomar uma atitude agora para ao menos amenizar as preocupantes consequências dessa eliminação em massa de empregos. Fonte: Martin Ford (autor do livro “Rise of the Robots”)

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

País deve pensar no futuro e virar chave do seu crescimento

Avanço só virá se inovação for tratada como estratégia, afirma Gianna Sagazio, referência no tema

Enquanto a inovação não for definida como estratégia para o desenvolvimento do país nada vai mudar, diz Gianna Sagazio, diretora de inovação da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
“A gente sabe que é um momento difícil para o Brasil, de busca do equilíbrio fiscal. Mas isso não pode apagar uma agenda de futuro. É preciso resolver questões emergentes, mas também pensar no futuro”, afirma ela, que é também superintendente do IEL (Instituto Euvaldo Lodi), criado pelo setor industrial e que prepara as empresas para aumentar a competitividade.
A inovação  não é prioridade do país. Na China, o primeiro país de renda média que ficou entre os 20 mais inovadores do mundo, existe uma estratégia montada para que a inovação seja o fio condutor do desenvolvimento. O Brasil ficou em 64º lugar no ranking do Índice Global de Inovação em 2017,

O Instituto coordena a Mobilização Empresarial pela Inovação, movimento formado pelas 500 maiores lideranças do país com o objetivo de ampliar a inovação no Brasil.
Os países mais inovadores —por acaso, os mais competitivos e desenvolvidos— têm políticas com prioridade para investir nessa área.

Investimentos em inovação em 2017;
■EUA investiram US$ 532 bilhões (R$ 2 trilhões);
■China, US$ 279 bi (R$ 1 tri);
■Alemanha, US$ 105 bi (R$ 407 bi).
Estamos bem longe disso.

Quanto o Brasil investe?
O dado mais recente, de 2015, do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, mostra que o Brasil empenhou R$ 76 bilhões (US$ 23 bilhões de dólares)  em pesquisa e desenvolvimento em inovação. O governo federal e os estaduais desembolsaram R$ 38,3 bilhões, e o setor privado, R$ 38,1 bilhões. Ou 1,28% do PIB investidos em P&D, 0,64% para cada lado. Aqui, pesquisa e desenvolvimento são considerados custos. Nos países mais inovadores, investimento. Fonte: Folha de São Paulo - 16.ago.2018

Comentário:
Quando D. Pedro II visitou os Estados Unidos em 1876. De 15 de abril a 12 de julho de 1876, o imperador percorreu mais de 14 mil quilômetros de trem  e passou por 28 estados, além da capital Washington.
O imperador se interessou pela ciência, pela tecnologia, as invenções e ficou maravilhado pelo trem. Dom Pedro II percorreu as extensões continentais dos Estados Unidos de trem, de Nova York a São Francisco na ida e na volta.  Ele foi de oeste a leste, e depois voltou do leste para oeste, buscando informações, e as inovações que estavam conhecendo.
Pelo jeito tivemos pouco avanço em quase 142 anos, continuamos a produzir ou fabricar carroças tecnológicas com conteúdo nacional.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Brasil fica em 64º lugar em ranking mundial de inovação

O Brasil ocupou o 64º lugar no ranking mundial de inovação tecnológica. Isso porque o país ganhou cinco posições em relação ao ano anterior, quando ficou em 69º na listagem mundial.

O índice é calculado pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual e tem como parceiro nacional a Confederação Nacional da Indústria (CNI).

A LIDERANÇA DO RANKING;
■ Suíça, seguida por Países Baixos (Holanda), Suécia, Reino Unido, Cingapura, Estados Unidos, Finlândia, Dinamarca, Alemanha e Irlanda.

ENTRE OS PAÍSES DE RENDA MÉDIA-ALTA, O DESTAQUE FOI;
■ China, seguida por Malásia, Bulgária, Croácia e Tailândia. O Brasil foi classificado nesta categoria, ocupando a 15ª posição neste grupo. Dentro da região latino-americana, o país ficou na 6ª colocação.

Entre os de renda média-baixa, os mais bem posicionados foram Ucrânia, Vietnã e Moldávia.Já nos países de renda baixa, alcançaram melhor desempenho Tanzânia, Ruanda e Senegal.

INSUMOS E CONDIÇÕES INSTITUCIONAIS
O Brasil subiu no ranking quando considerados os chamados insumos de inovação, ficando na 58ª posição. Neste indicador, são levados em consideração itens como instituições, capital humano, pesquisa, infraestrutura e sofisticação de mercado e negócio. No ano anterior, havia ficado em 60º lugar.

Os melhores índices registrados no país foram nos quesitos de gastos em educação (23º colocado), investimento em pesquisa e desenvolvimento (27º), dispêndio de empresas em P&D (22º) e qualidade das universidades (27º). Os autores também destacaram a capacidade de absorção de conhecimento (31º), pagamentos em propriedade intelectual (10º), importações de alta tecnologia (23º) e escala de mercado (8º).

Já os pontos fracos foram apontados pelo relatório nas instituições (82º), ambiente de negócios (110º), facilidade de abertura de negócios (123º), graduados em engenharias e ciências (79º), crédito (104º) e a formação de capital bruto (104º).

PRODUTOS E INOVAÇÃO
Nos produtos da inovação, o Brasil está no 70º lugar. Nessa categoria são considerados produtos científicos e tecnológicos e indicadores relacionados a eles, como patentes e publicações em revistas e periódicos acadêmicos. Ainda assim, o índice subiu em relação ao ano anterior, quando o país ficou na 80ª colocação.

No índice de eficiência de inovação, o Brasil pulou para a 85ª posição - da 100ª no ano anterior. Esse indicador mede o quanto um país consegue produzir tecnologia frente aos insumos, condições institucionais e estrutura de capital humano e pesquisa de que dispõe. Fonte: Inovação Tecnológica - Agência Brasil -  12/07/2018

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Ser jovem hoje é pior do que antes, e pode piorar

Se formos considerar alguns dos principais desafios atuais —entre os quais a mudança do clima, a dívida pública e o mercado de trabalho—, uma conclusão óbvia emergirá: ser jovem hoje é relativamente pior do que era há um quarto de século. No entanto, na maioria dos países, a dimensão geracional é notável pela ausência, no debate político. Cinquenta anos atrás, as pessoas falavam com frequência, e falavam alto, do "conflito de gerações". Hoje, esse conflito se tornou invisível. Isso é ruim para os jovens, para a democracia e para a justiça social.

Vamos começar pela mudança no clima. Contê-la requer mudança de hábitos e investimento em redução de emissões para que as futuras gerações tenham um planeta habitável. O alarme foi acionado pela primeira vez em 1992, na Conferência Eco 92, no Rio de Janeiro, mas ao longo dos últimos 25 anos pouco foi feito para conter as emissões. E o progresso depois do histórico acordo quanto à mudança do clima obtido em dezembro em Paris dificilmente será rápido, porque a premissa do acordo é postergar os grandes esforços. O assentimento universal às propostas só foi obtido pela aceitação de atraso ainda maior.

Dada a imensa inércia inerente ao efeito estufa, a distância entre comportamento responsável e irresponsável começará a resultar em diferença nas temperaturas dentro de apenas um quarto de século, e consequências graves surgirão dentro de apenas 50 anos. Qualquer pessoa que tenha mais de 60 anos hoje mal perceberá a diferença entre os dois cenários. Mas o destino da maioria dos cidadãos que hoje tenham menos de 30 anos será afetado de maneira fundamental. Com o tempo, o prazo adicional para ação obtido pelas gerações mais velhas terá de ser pago pelas mais novas.

Considere a dívida, a seguir. Desde 1990, a dívida pública cresceu em cerca de 40% do Produto Interno Bruto (PIB) na União Europeia e nos Estados Unidos (e muito mais no Japão). Dadas as taxas de juro quase zero, o arrasto que isso acarreta para as rendas é quase zero, por enquanto; mas, porque a inflação virtualmente inexiste e o crescimento é anêmico, houve uma estabilização no endividamento. Com isso, a redução de dívidas demorará mais do que se imaginava depois da crise financeira mundial, o que privará as gerações futuras do espaço fiscal de que necessitariam para investir em ações quanto ao clima ou na contenção de ameaças à segurança.

Os futuros aposentados representam outra forma de dívida. Os sistemas de repartição (pay as you go) em vigor em muitos países são gigantescos esquemas de transferência intergeracional. É fato que todos contribuem enquanto estão trabalhando, e todos se tornam beneficiários na aposentadoria. Em um estado estático ideal, os regimes de aposentadoria não redistribuiriam renda de faixa etária a faixa etária. Como dizem os especialistas, esses regimes seriam neutros do ponto de vista geracional.

Mas a geração baby boom (as pessoas nascidas da metade dos anos 40 à metade dos anos 60) contribuiu pouco para o sistema de aposentadorias em regime de repartição, porque o crescimento econômico, o tamanho da população e a baixa expectativa de vida de seus pais tornavam fácil financiar as aposentadorias. Todos esses fatores agora entraram em reversão: o crescimento se desacelerou, a geração baby boom forma uma anomalia demográfica que pesa sobre seus filhos, e a expectativa é de que suas vidas sejam longas.

Os países nos quais reformas foram introduzidas cedo nos sistemas de aposentadoria conseguiram limitar o fardo que recai sobre os jovens e manter um equilíbrio razoavelmente justo entre as gerações. Mas os países nos quais as reformas foram postergadas permitiram que esse equilíbrio coloque os jovens em posição desvantajosa.

Por fim, considere o mercado de trabalho. Ao longo dos 10 últimos anos, as condições pioraram consideravelmente para os novos ingressantes, em muitos países. O número de jovens classificados como "nem empregados e nem estudando ou em treinamento" (NEET) é de 10,2 milhões nos Estados Unidos e de 14 milhões na União Europeia. Além disso, muitas das pessoas que ingressaram recentemente no mercado de trabalho vêm sofrendo de baixa segurança no emprego e de períodos repetidos de desemprego. Na Europa continental, especialmente, os trabalhadores jovens são os primeiros a sofrer durante as desacelerações econômicas.

Quanto a todas essas questões - clima, dívida, aposentadorias e emprego -, as gerações mais jovens se saíram relativamente pior do que as mais velhas, nos desdobramentos dos últimos 25 anos. Um símbolo revelador é que muitas vezes a pobreza é maior entre os jovens do que entre os idosos. Isso deveria ser uma questão política importante, com implicações significativas para as finanças públicas, proteção social, política tributária e regulamentação do mercado de trabalho. E reforça o imperativo de reanimar o crescimento por meio de políticas que estimulem a produtividade.

Mas o novo conflito de gerações teve pouco efeito político direto. Mal é mencionado no debate eleitoral e em geral não resultou no surgimento de novos partidos ou movimentos. Em lugar disso, a distinção entre as gerações se faz presente na participação eleitoral.

Nas mais recentes eleições legislativas dos Estados Unidos, o comparecimento dos eleitores mais jovens foi de menos de 20%, ante 50% para os eleitores mais velhos. Tendências semelhantes são observáveis em outros países. A despeito da crescente incerteza que enfrentam, os cidadãos mais jovens se envolvem muito menos com a política eleitoral do que era o caso entre seus pais e avós quando tinham a mesma idade.
Essa disparidade entre as gerações em termos de comparecimento às urnas explica por que os políticos se preocupam mais com os velhos do que com os jovens. Mas nas sociedades que estão envelhecendo, quanto mais os jovens se abstiverem de votar, mais as decisões dos legislativos e governos serão distorcidas em seu desfavor.

É verdade que os pais em geral não são egoístas. Ajudam os filhos com dinheiro e propriedades doados em regime privado. Mas só aqueles que disponham de renda e patrimônio podem oferecer assistência significativa. O resultado de negligenciar os jovens coletivamente e apoiá-los de forma privada representa desigualdade social em escala maciça.

Como resolver as distorções geracionais no sistema política é uma questão crucial para todas as democracias. Existem soluções: voto obrigatório, limitação no número de mandatos que um político pode exercer e parlamentos da juventude ou órgãos especiais para examinar questões intergeracionais, por exemplo. Mas essas medidas são ou difíceis de implementar ou apenas moderadamente efetivas diante da magnitude dos desafios.

As tendências atuais são claramente insustentáveis, em termos políticos e sociais. O que é incerto é quando e como os jovens reconhecerão esse fato e se farão ouvir. Fonte: Folha de São Paulo - 06/02/2016, Jean Pisani-Ferry, professor da Escola Hertie de Administração Pública, em Berlim,

sábado, 21 de julho de 2018

Rastros de informações que seu computador sabe sobre você

Nossos computadores pessoais são como armazéns em que acumulamos todo tipo de coisas: desde fotos da infância e vídeos com os amigos até músicas marcantes e textos íntimos. As máquinas guardam tudo isso em arquivos compostos por uns e zeros, um código de dígitos binários (bits) que eles são capazes de compreender e traduzir imediatamente.

COMBINAÇÕES
As combinações diferentes de bits criam arquivos de tamanhos diferentes: oito bits fazem um byte; 1.000 bytes são um kilobyte; 1.000 kilobytes formam um megabyte; 1.000 megabytes, um gigabyte; e 1.000 gigabytes recebem o nome de um terabyte.
E todos esses bytes armazenados em um disco rígido permanecem ali para sempre - a não ser que você o destrua ou que ele seja danificado.

MAS COMO DESCOBRIR O QUE NOSSO COMPUTADOR SABE SOBRE NÓS?
A BBC investigou quanto é possível descobrir sobre uma pessoa analisando apenas o interior de seu computador.
Durante três meses, um casal de Lincolnshire, no leste da Inglaterra, recebeu um laptop para usar no dia a dia.
Depois desse período, o especialista em informática forense Thomas Moore se encarregou de revisar os dados dentro da máquina. E os resultados foram... "inquietantes", segundo ele.
"Não sei qual é o nome dessas pessoas, mas consegui descobrir uma grande quantidade de coisas sobre sua identidade e seu estilo de vida", disse à BBC.

'PERTURBADOR'
Moore extraiu os cookies - registros de visitação de sites - e outras informações públicas disponíveis na memória da máquina.
Cookies são arquivos pequenos enviados por sites e armazenados no navegador, que registram dados sobre nós. Esses programas "espiões" coletam informações-chave para a publicidade online, especialmente no que diz respeito aos anúncios exibidos de forma personalizada para cada usuário.
Os cookies "contam" às marcas e empresas como nos comportamos na internet para que possam exibir propaganda de acordo com nossos gostos e interesses.
Usando só esses dados, o especialista criou um perfil de cada usuário do laptop. "Sabemos que essas pessoas vivem em Lincolnshire, no Reino Unido", afirma.
"Também conseguimos saber que eles são politicamente ativos e têm interesse especial em questões europeias, sobretudo no Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia)."
"E sabemos que eles têm interesse se hospedar em casas (pelo site) AirBnB e que estão cotando preços para uma viagem ao País de Gales, à pedreira de Penrhyn, para praticar tirolesa", afirma Moore.
O especialista também descobriu que o casal possui cartões de crédito do banco britânico Egg Bank (que só funciona pela internet), que é cliente da empresa de telefonia EE e que assiste a programas de televisão como The Cleveland Show(uma série de animação) e I'm a Celebrity... Get Me Out of Here! (um reality show).
Usando apenas os dados remanescentes no computador, Moore também descobriu que o casal tem uma filha adolescente que gosta de festas e que a família tem um BMW. Há também um segundo carro na casa, um Ford S Max, que está precisando de um limpador de para-brisa novo.
"Sabemos também que eles têm um gato e são compradores bastante espertos", disse o especialista, enquanto o casal assentia, impressionado.
Praticamente todos os dados que ele conseguiu estavam corretos. Em apenas três meses, o computador havia armazenado 3.100 cookies - 25% dos quais eram de rastreamento publicitário (os chamados "cookies de seguimento").
Esses arquivos permitem a terceiros identificar tendências e direcionar campanhas a usuários específicos.

QUE DADOS SEU COMPUTADOR ARMAZENA?
Enquanto você navega na internet, o navegador e os cookies que ficam registrados nele gravam:
■ Seu endereço de IP (número que identifica seu computador);
■ Seu provedor de internet, sua velocidade de conexão;
■ A quantidade de bateria que sua máquina tem a cada momento;
■ A orientação do seu computador (através dos dados do giroscópio - sensores que informam a direção na qual os aparelhos eletrônicos estão se movendo);
■ O sistema operacional que você usa e também os dados sobre seu processador;
■ A resolução de sua tela e outras especificações de hardware.

PARA ALÉM DOS DADOS TÉCNICOS, A MÁQUINA TAMBÉM REGISTRA OS SEGUINTES DADOS PESSOAIS:
■Sua localização - e, por consequência, a casa em que você vive (geralmente, um endereço aproximado bastante certeiro);
■ O idioma que você fala (ou, ao menos, no qual escreve);
■ Seu cartão de crédito (se você tiver o número registrado ou salvo para algum site);
■ As redes sociais que você visita;
E tudo o mais que as páginas de internet que você visita revelarem sobre sua vida familiar, seus costumes, se você tem filhos, se tem carro (e qual), os filmes e séries que vê... a lista pode ser maior de acordo com o uso que você faça do dispositivo. Fonte: BBC Brasil - 3 junho 2018

terça-feira, 1 de maio de 2018

Adam Alter: “O vício nas telas avança silencioso”

A tecnologia digital é uma necessidade moderna. Os videogames, a televisão, o rádio e o telégrafo, e até a letra impressa revolucionaram a sociedade por causa de seus efeitos sobre a cultura, o conhecimento, a criatividade e as emoções. Mas com os aplicativos é diferente, porque se apoiam em algoritmos sedutores. O problema com esse vício, além do mais, é que não se pode remover a substância que vicia porque todo mundo está usando essa tecnologia.
Professor de marketing na faculdade de Administração da Universidade de Nova York, ele explora no livro Irresistible como a tecnologia consegue roubar o tempo e a atenção dos usuários para que eles não se afastem da tela. Defende que sejam estabelecidos padrões para o design de aplicativos. Mas adverte que o consumidor é que deve avaliar seriamente como gerencia seu tempo.

PERGUNTA. PSICÓLOGOS E SOCIÓLOGOS VÊM DEBATENDO OS EFEITOS DAS TELAS HÁ ANOS. AGORA O PROBLEMA DOMINA AS MANCHETES.
Resposta. O movimento tomou forma em novembro, quando Sean Parker [um dos primeiros investidores no Facebook] disse que a rede social não se preocupa com o bem-estar dos seus usuários e que tudo o que importa é que as pessoas mantenham os olhos colados na tela e passem o máximo de tempo possível usando o dispositivo. Foi um grande momento, levou outras figuras do mundo tecnológico a revelar que algo semelhante acontecia em suas empresas.
“Os executivos do Vale do Silício mandam seus filhos para escolas sem tecnologia. Eles sabem de tudo isso e são os mais cautelosos”

P. MAS ESSAS EMPRESAS SÃO INDIFERENTES OU SIMPLESMENTE QUEREM TER O MELHOR PRODUTO?
R. Pode-se dizer que o melhor produto é aquele que você não consegue parar de usar. Se você usa o iPhone quatro horas por dia, é porque ele é bem projetado. Mas é muito difícil saber quais motivações estão por trás. Por isso é tão importante que quem conhece o processo o revele, para que essas empresas levem em consideração o consumidor.

P. A CULPA É DO FABRICANTE OU DO DESENVOLVEDOR DO APLICATIVO?
R. A Apple não me parece ser o problema. É verdade que permite criar aplicativos que não conseguimos parar de usar. Mas depois que te vende o telefone, a Apple não se importa tanto com o tempo que você passa na tela. Já Facebook, SnapChat e Twitter se preocupam com isso a cada minuto porque é uma métrica fundamental para seus negócios. Poderíamos pedir à Apple para regular a forma como apresenta as informações, o que também é importante, mas os ganchos estão no conteúdo.

P. A PESSOA É A ÚLTIMA RESPONSÁVEL PELO USO.
R. Existem pessoas capazes de ver que 20 minutos já bastam e então passam para outra coisa. Mas se em 2015 se ficava uma média de três horas na frente das telas, no ano passado já eram quatro. Portanto, houve uma mudança no conteúdo que escapa do controle do usuário. Nem todo mundo é capaz de fazer uma análise do que é bom ou ruim para sua vida. É nisso que as empresas focam, nos milhões de olhos que não se importam com o uso da tecnologia.

P. COMO SE DETECTA ESSE TIPO DE DEPENDÊNCIA?
R. O primeiro sinal é social, quando compromete os relacionamentos. O segundo é financeiro, se essa interação acaba custando mais dinheiro do que se pensava. A terceira é física, porque a perda de atenção pode causar um acidente ou porque o usuário não se exercita. E o quarto é psicológico, porque muda a maneira como você lida com o tédio. O último parece uma bobagem, mas o telefone está ocupando cada segundo que se tem livre. Não há problema em não se entediar, mas do tédio surgem ideias.
 “Essas empresas não estão muito preocupadas com a inovação, exceto a própria, seu foco é tentar impedir que o usuário saia”

P. AS TELAS SÃO UMA AMEAÇA PARA UMA SOCIEDADE ABERTA?
R. Sim, porque reforçam o efeito de caixa de ressonância. As pessoas ficam em plataformas onde veem suas próprias ideias e pontos de vista refletidos. Isso te torna mais intransigente, dogmático e teimoso. O Facebook sabe que as pessoas gostam de ver os outros compartilhando suas mesmas ideias. As plataformas são projetadas para tentar mantê-lo conectado ao dispositivo, para reforçar essa ressonância; não querem alterar a mensagem apresentando opiniões diferentes.

P. SUPÕE-SE QUE, QUANTO MAIS ABERTA, MAIS INOVADORA É UMA SOCIEDADE.
R. Não dá para ser criativo sem ter um espaço aberto para pensar e debater. Mas acho que essas empresas não se importam muito com inovação, exceto a sua própria, que é focada em tentar evitar a saída do usuário e a perda de receita com publicidade. É uma nova forma de monopólio.

P. ESTAMOS INFELIZES COM TANTA TECNOLOGIA?
R. Acho que estamos menos felizes como comunidade, como sociedade. Se dedicamos menos tempo a tudo aquilo que nos torna humanos, e passamos as quatro horas que temos livres no telefone fazendo a mesma coisa, nos tornamos homogêneos. Precisamos dedicar esse tempo livre aos nossos hobbies, praticar esportes, fazer caminhadas na natureza, conversar frente a frente. É vital para o desenvolvimento das pessoas.

P. MARC BENIOFF, CEO DA SALESFORCE, COMPARA O USO DE REDES SOCIAIS COM O USO DO TABACO. DEVERIA SER REGULADO EM VISTA DA MANEIRA COMO VICIA?
R. Poderiam ser criadas normas, por exemplo, para proteger os funcionários com políticas que limitem o envio de mensagens fora do horário de trabalho. Mas é algo que os consumidores precisam exigir, como aconteceu com a política ambiental. Ninguém dava atenção ao descarte de lixo até que se tornou um grande problema e os consumidores forçaram a mudança.

P. COMO SE INTERROMPE O FLUXO DE INFORMAÇÕES QUE AS PESSOAS USAM PARA TRABALHAR OU INTERAGIR?
R. Não é uma batalha equilibrada. Há centenas de pessoas dedicadas ao design de cada detalhe, de cada truque, como o botão “curtir”, que faz você se viciar nas plataformas. Eles têm bilhões de dados que lhes permitem saber o que funciona. É por isso que, como consumidores, devemos ser mais inteligentes e tentar mudar nossos hábitos de uso. É difícil.

P. ESSE VÍCIO, NO ENTANTO, NÃO MATA COMO AS DROGAS.
R. Sim, mas a dependência química afeta uma parte muito pequena da população, enquanto o vício nas telas é muito mais difundido e avança de maneira silenciosa. Ser viciado em heroína não é socialmente aceito, mas em tecnologia, sim. As pessoas esperam que você responda às mensagens imediatamente, do elevador ou durante o jantar. As consequências disso terão maior alcance.

P. ENTÃO É MAIS DIFÍCIL DE COMBATER?
R. A dependência de álcool ou drogas pode ser reduzida mudando-se de ambiente. Não é fácil, mas é uma opção. Mas se você depende da tecnologia em sua rotina diária, não há alternativa porque nossas vidas estão cheias de telas e é muito difícil se comunicar sem elas. Para a maioria dos adultos, as telas se tornaram um elemento de definição da própria identidade.

P. PARECE MAIS COM A CRISE DA OBESIDADE DO QUE COM A DO TABACO. NÃO SERIA MAIS PRÁTICO ENSINAR COMO USAR A TECNOLOGIA?
R. A abstinência não é realista, mas deveriam existir cursos sobre como interagir com a tecnologia. E não só para mostrar seus riscos, mas também seus benefícios. Há escolas sem tecnologia no Vale do Silício, onde estudam precisamente os filhos de executivos de tecnologia. Eles sabem muito bem de tudo isso e são os mais cautelosos. Fonte: El País -25 ABR 2018  

Comentário:
Três bilhões de pessoas, cerca de 40% da população mundial, usam redes sociais - e gastam em média duas horas diárias compartilhando, curtindo, tuitando e atualizando status nessas plataformas, segundo algumas pesquisas recentes. Isso gera cerca de meio milhão de tuítes e fotos no Snapchat compartilhados a cada minuto. Fonte: BBC Future