Mostrando postagens com marcador internet. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador internet. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

CHINA PROPÕE LIMITES AO USO DE SMARTPHONES ENTRE JOVENS

Menores de 18 anos poderão usar celulares por no máximo duas horas por dia. Diretrizes visam aumentar controle governamental sobre uso da internet e conteúdos online e geram novo revés para empresas tech chinesas.

A China está mais perto de implementar uma nova diretriz que visa regular o tempo em que crianças e adolescente passam na internet, com o propósito de "combater o vício". Alguns críticos, no entanto, se queixam dos limites impostos ao acesso a informações para um geração bastante sagaz em termos de tecnologia.

A regulamentação, cujo processo legal se inicia no sábado (02/09) depois de o texto passar um período aberto à opinião pública, estipula que os smartphones e aplicativos já devem vir com um "modo para menores" instalado em fábrica, no intuito de restringir o uso dos aparelhos a no máximo duas horas.

O limite de tempo diminui de acordo com a idade do usuário, sendo que para as crianças com menos de 8 anos, o tempo máximo é de 40 minutos por dia. Além disso, os menores de 18 anos não poderão utilizar seus aparelhos entre as 22h00 e as 06H00.

Os pais poderão decidir se devem ou não adotar as restrições ou ampliar os limites das mesmas.

As regras, elaboradas pela Administração de Ciberespaço da China, também estabelecem a chamada "segurança de conteúdo" para assegurar que as informações online observem "valores socialistas" que possam ajudar as crianças a cultivarem a "boa moral".

A agência reguladora chinesa alega que as diretrizes visam proteger os menores de acessarem informações identificadas como ilegais ou prejudiciais à sua saúde física e mental.

ELOGIOS E CRÍTICAS

Muitos pais viram com bons olhos a nova regulamentação do governo chinês. "Acho muito boa a proposta", avalia Kong Lingman, de Xangai. "Os menores, quando passam muito tempo ao telefone, podem prejudicar a qualidade do tempo que as famílias têm para aproveitar juntas."

Defensores das novas regras recorreram à rede social chinesa Weibo, deixando inúmeros comentários positivos nas postagens do governo que anunciavam as medidas.

Mas, as regulamentações também atraíram críticas. "O resultado de querer controlar tudo é que, no final, nada acaba sendo corretamente controlado", afirmou um usuário da Weibo.

A proposta vem em seguida a uma série de medidas implementadas pelo governo chinês para reforçar o controle governamental sobre o espaço cibernético, desde 2019. Naquele ano, o governo limitou o tempo dos menores de 18 anos para jogarem vídeo games, em uma regra chamada de "modo para jovens".

DISTRAÇÃO DA PROPAGANDA DO GOVERNO

A instrução inicial era que os jovens pudessem ter 90 minutos por dia para jogos online durante a semana. Mas, em 2021, as regras foram endurecidas para no máximo uma hora por dia para jogar, nas sextas-feiras, fins de semana e feriados.

Aplicativos de vídeo e de transmissões ao vivo também foram orientados a seguirem o "sistema antivício", que exige que todos os usuários se registrem com seus nomes verdadeiros, apresentando documentos de identificação emitidos pelo governo.

"Essa sequência de políticas segue, de fato, um padrão específico", diz Tai Yu-Hui, professora de comunicação e tecnologia da Universidade Nacional Yang-Ming Chiao-Tung, em Taiwan. Segundo afirmou, a China tem como objetivo impor seu conceito de segurança nacional, com foco em três áreas: internet, entretenimento e jovens.

Um relatório divulgado nesta segunda-feira pelo Centro de Informações sobre Internet da China revelou que a taxa de penetração na internet passou de 76% em junho de 2023.

Com uma base de usuários de internet em expansão, vídeos em redes sociais e jogos online podem ser percebidos como formas capitalistas de entretenimento, ou como uma distração da propaganda do governo.

Segundo Tai, desde que o presidente chinês, Xi Jinping, assumiu o cargo, há uma década, "criou-se uma tendência de integração da ideologia política no conteúdo diário de entretenimento".

Em março, um artigo técnico divulgado pelo Conselho do Escritório de Informações de Estado delineou um objetivo claro de assegurar que a internet "se desenvolva dentro dos limites da lei".

MAIS UM DURO GOLPE PARA AS TECH

Uma vez que os pais têm a palavra final sobre a adoção das novas regras, os pesquisadores avaliam que ainda não está claro qual será o impacto das novas restrições sobre as crianças.

Entretanto, quem já sentiu os efeitos foram as empresas chinesas de tecnologia. No mesmo dia em que as diretrizes foram anunciadas, suas ações despencaram na bolsa de Hong Kong.

Essas empresas incluem a Weibo, o serviço de streaming de vídeos Bilibili, a plataforma de vídeos curtos Kuaishou e a Tencent, que opera o popular aplicativo de mensagens WeChat.

Há cerca de dois anos, quando as autoridades chinesas reforçaram as regras do "modo para jovens", diversos aplicativos implementaram medidas para aderir às diretrizes.

A Douyn, o equivalente chinês do TikTok, implementou um "modo para adolescentes", que restringiu crianças com menos de 14 anos a 40 minutos por dia de uso.

AUTOCENSURA?

As novas restrições devem levar as empresas de tecnologia a realizarem novas revisões de suas configurações para usuários, de modo a evitar possíveis violações.

Segundo Tai, este é mais um revés para a indústria, em um momento em que um longo período de rigidez regulatória sobre o setor parecia estar chegando ao fim.

A especialista avalia que, uma vez que as diretrizes se referem a informações ilegais ou mentalmente prejudiciais sem definições mais específicas, as empresas de tecnologia poderão "recorrer à autocensura para evitar cruzar qualquer linha vermelha". Fonte: Deutsche Welle – 03.09.2023

sábado, 28 de julho de 2018

Você acredita nos profetas digitais?

Cibergurus abominam era pré-internet e inventam teorias para explicar uma realidade que ainda faz pouco sentido prático

Como acontece em todas as eras, a da internet tem sua própria geração de gurus. São os “ciberteóricos” que sonham com um futuro eletrônico aperfeiçoável e anunciam preceitos sobre a necessidade de refazer o mundo. Como muitos que se revoltaram contra a religião, eles trazem não a paz, mas a espada. A mudança é inevitável. É preciso abandonar os velhos hábitos. Entretanto, os ciberteóricos pertencem a uma espécie peculiar de estilo: eles agitam e defendem uma revolução constante, que, no entanto, beneficiará principalmente as gigantes da tecnologia, diante de cuja imagem virtual eles se curvam.

O jargão dos ciberteóricos revela um ódio adolescente do mundo. Jay Rosen, famoso ciberguru do “futuro da notícia”, não perde uma oportunidade para menosprezar empresas editoriais associando-as ao termo “legado”, no sentido de sistema antiquado. Outro termo favorito dos ciberteóricos é “disrupt” (romper, desconstruir, em português). A maioria das pessoas acha a ideia irritante, mas para eles, quanto mais a tecnologia romper as práticas estabelecidas, mais emocionante ela se tornará.

Outro cibercharlatão, o jornalista Jeff Jarvis, escreveu no livro O Que o Google Faria?, de 2009: “A educação é uma das instituições que mais merecem ser desconstruídas”. (O tom de repúdio ressentido é típico.) Que forma deveria assumir esta subversão? A startup Coursera, por exemplo, promete transformar o ensino universitário, oferecendo trechos de aulas em vídeo e fazendo que os alunos deem notas para os trabalhos uns dos outros. Se você é um ciberteórico, este truque é um plano brilhante para alavancar o poder dos indivíduos. Se não for, é um plano brilhante para descarregar a maior parte do trabalho do ensino nas costas dos alunos.

Outra suposta qualidade do Coursera é o fato de ele ser “aberto”, como tudo agora deve ser. O cibercredo do “aberto” soa tão liberal e amigável que é fácil deixar de prestar atenção à sua hipocrisia. As grandes empresas de tecnologia, que são os exemplos preferidos dos ciberteóricos sobre a próxima ordem mundial, são tudo menos abertas. O Google não divulga seu algoritmo de busca; a Apple tem um notório sigilo sobre seus produtos; o Facebook costuma mudar as opções de privacidade dos usuários. Em busca do lucro, tais empresas constroem freneticamente utopias semiabertas de conteúdo proprietário.

O software de código aberto, no modelo do Linux, era o exemplo favorito do motivo pelo qual o conceito aberto predomina sobre o fechado. Entretanto, apesar dos sucessos admiráveis (particularmente na indústria), o software comercial e fechado ainda predomina. A maioria dos clientes sabe, por experiência própria, que o sistema Android dos celulares é customizado e fechado novamente pelas fabricantes.

“Ter oleodutos, funcionários, produtos ou mesmo propriedade intelectual não é mais a chave do sucesso”, escreveu Jarvis em 2009. “O sucesso está na abertura.” Qual é, neste momento, a empresa de maior valor de mercado do mundo? A Apple, que vende produtos físicos, guarda seu acervo de patentes e é tão “aberta” quanto o Fort Knox (posto militar do Exército dos Estados Unidos).

O plano genial do Coursera para “desconstruir” o ensino universitário pode ser aprendido numa palestra do TED (sigla para tecnologia, educação e desenvolvimento). São apresentações com a duração máxima de 18 minutos, com abundância de recursos, que oferecem ideias do tamanho de um nugget. Uma palestra do TED tem o formato de uma coleção de histórias reunidas sob um título ridiculamente simples, num vídeo que depois os entusiastas das redes sociais enviam aos amigos.

O título perfeito de uma apresentação TED é o recente Os Jogos que Podem lhe Dar Dez Anos a Mais de Vida, da ciberteórica da gameficação Jane McGonigal. O que poderia ser este jogo? Ligar um joystick a um pulmão de aço? Não, trata-se de um pequeno jogo online criado por ela chamado SuperBetter. Até o momento, não há estudos com grande número de pessoas que mostrem que o game faz você viver dez anos a mais.

REBANHO.
Os pensadores cibernéticos levaram a ideia de sabedoria coletiva para um lugar que mal se assemelha à realidade que conhecemos. Agora é possível propor seriamente que há ocasiões em que “a pessoa mais inteligente da sala é a sala”, como afirma o subtítulo do livro do teórico David Weinberger, Too Big to Know, publicado em janeiro. Segundo sua ideia estranhamente autodestrutiva, os livros são formas ultrapassadas de organização da “informação”, e o volume total das informações agora é tão esmagador que talvez admitamos que “a rede” saiba mais do que nós.

Se a tese fosse correta, o seu livro seria dispensável, porque um número aleatório de blogueiros poderia escrever coisas melhores. O livro é também tipicamente cibernético por conter um ódio pseudo-democrático a qualquer forma de especialização. “A internet”, proclama ele, “permite que os grupos desenvolvam mais ideias do que um indivíduo sozinho”. Assim como a escrita e a conversação, desde que foram criadas.

É surpreendente a frequência com que a Wikipedia é citada como paradigma de uma “criação do conhecimento” comunitária, considerando que a Wikipedia proíbe explicitamente a criação de conhecimento novo. Sua lei básica é “nenhuma pesquisa original”, com exceção da menção a “fatos” ou “ideias” que não tenham sido já divulgados em outros lugares. A obediência ao mandamento faz que a Wikipedia dependa de fontes citadas, incluindo artigos de jornais e de revistas acadêmicas, no que se refere ao “conhecimento” que ela contém. Isto não significa que a Wikipedia não tenha utilidade – longe disso –, mas não é um exemplo daquilo que se afirma com tanta frequência que ela seja.

Os ciberteóricos não ousam distinguir informação de conhecimento, porque isto exigiria que eles fizessem a triagem intelectual que o seu sucesso retórico exige que se evite. Um livro contém menos informações, em termos de bytes, do que um vídeo de um gatinho. E se você é um sábio cibernético, provavelmente desprezará os livros. Clay Shirky, autor de Lá Vem Todo Mundo, de 2008 – um manifesto coletivo que agora é considerado um exercício desesperado de apoio a serviços que já foram populares, como Flickr – escreveu no mesmo ano: “Ninguém lê Guerra e Paz. É muito longo, e não é tão interessante”. (Na verdade, segundo o Nielsen BookScan, Guerra e Paz vendeu em 2011 cerca de 17 mil cópias somente no Reino Unido).

Os livros são importantes para o tagarela cibernético em busca de projeção pessoal, mas de uma maneira diferente. Jarvis contou nos agradecimentos de sua publicação mais recente, Public Parts: “(Seth) Godin é o culpado por eu escrever livros. Um dia, ele me mandou sentar e falou que eu seria um tolo se não escrevesse um livro – e seria ainda mais tolo se achasse que o livro era o objetivo. Não, ele disse, o livro serviria para eu construir a minha reputação diante do público, e assim levaria a outras coisas. E foi o que aconteceu”. É isso: se você escreve um livro achando que o objetivo é o livro, você é tolo. A função exata de um livro é a de um cartão de visita que lhe abre portas e faz você ser convidado para lugares onde as coisas acontecem de verdade. Os que pensam que a literatura, o pensamento e a argumentação são em si objetivos nobres são tolos. É esta a afirmação do anti-intelectual ultramoderno.

SUPERCOMPARTILHAMENTO.
 Alguns poderiam considerar um fracasso dos ciberteóricos o fato de o mundo que conhecemos hoje ter tão pouco a ver com as descrições deles. As pessoas ainda leem romances russos; o mercado de massa não foi substituído por “nichos” (basta perguntar à autora de Cinquenta Tons de Cinza, E.L. James). O aberto não é o modelo predominante de sucesso empresarial da internet. O New York Times hoje tem cerca de 600 mil assinantes digitais, embora os dogmáticos cibernéticos jurassem que o acesso pago nunca funcionaria.

No artigo O Que a Mídia Pode Aprender com o Facebook, Jarvis fala que os jornais deveriam imitar o modelo de Mark Zuckerberg: “A produção é cara. O compartilhamento não é caro e é escalável. O Facebook logo atenderá um bilhão de pessoas com uma equipe equivalente à de um grande jornal”. Faça os leitores se encarregarem da maior parte ou de todo o trabalho e, pronto! O legado da mídia (a ultrapassada) é transformado na mídia social que dá dinheiro.

Com a mídia “social” ocorre o mesmo que com o conceito de compartilhamento: os cibernéticos adotaram um termo plausível e deram um significado novo e instrumental. Social hoje implica uma técnica comercial para convencer usuários a revelar mais informações aos anunciantes sobre suas “redes” de amizade e de contatos comerciais, e para “conectar” usuários a determinadas marcas por meio do botão “curtir” – e logo, como sugerem experimentos do Facebook, haverá um botão “querer”.

Mesmo a leitura de livros – se é que persistir – precisará ser transformada em “leitura social”, como se os livros não fossem já produtos sociais. Entretanto, não importa se os cibergurus estão equivocados a respeito do presente, porque seu valor equivale mais ao de um Nostradamus sem fios. O cibermaníaco idealiza um ciberfuturo perfeito e declara que ele já chegou, ou é tão vago a respeito da data que talvez jamais possa ser refutado. O título de uma recente palestra no TED de Clay Shirky é um exemplo deste presságio que não pode ser desmentido: Como a Internet Transformará (Algum Dia) o Governo.

Os ciberteóricos em geral poderiam talvez ser tolerados como inócuos futuristas, não fosse que muitos deles, pela influência do seu trabalho de consulta e pelos seus palanques virtuais, neste momento estão preocupados em promover um vandalismo cultural. Tudo o que cheirar a coisa ultrapassada da era pré-digital terá de ser derrubado, “rompido” e refeito à sagrada imagem do Google e da Apple, com a exceção de uma maior abertura para as sondagens digitais sobre o oligopólio das companhias de internet. Vida longa para o compartilhamento, a leitura social, o trabalho voluntário de um estudante ou os participantes da “comunidade” online de uma empresa, e a entrega dos seus documentos às megacorporações que exploram dados e controlam a “nuvem”.

Os ciberteóricos adoram aplicar o adjetivo “inteligente” a si mesmos e aos colegas, mas, como grupo, eles são os modelos de anti-intelectuais mais destacados dos nossos dias – pequenos revolucionários da tela de toque e do Twitter.

MARTELADAS NOS GURUS

TUDO É ABERTO
O termo é amigável, mas também é hipócrita: as empresas que representam a filosofia, como  Google, Apple e Facebook têm posturas dúbias.

A EDUCAÇÃO JÁ ERA
Jeff Jarvis diz que a educação tem de  ser  desconstruída - mas isso acaba deixando a maior parte do trabalho para os alunos.

O FIM DA MÍDIA
Jay Rosen, guru do "futuro da notícia". diz que o atual sistema editorial é antiquado. Mas o NY Times  tem 600 mil assinantes pagos

TED
As conferências apresentam ideias do "do tamanho de um nugget": ou seja, "ideias fast food", que depois os entusiastas das  redes sociais enviam aos amigos.

INTERNET INTELIGENTE
O  teórico cibernético David Weinberger diz que os livros são ultrapassados e a " internet sabe mais do que nós.

CROWD SOURCING
A Wikipedia  prega que produz conhecimento coletivamente, mas depende de  fontes e pesquisas de outros lugares.

SUPERCOMPARTILHAMENTO
Social hoje é uma técnica comercial para que as pessoas revelem mais informações pessoais nas redes. Até a leitura se transformou em "leitura social".
Fonte: O Estado de S. Paulo-03/03/2013,Steven Poole, News Statesmen