Jaron
Lanier é uma das pessoas com as declarações mais impactantes que se pode
encontrar no Vale do Silício, com seus dreadlocks, seu olhar fulminante, sua
inteligência afiada e seu caráter explosivo.
Jaron
Lanier foi parte da criação do protocolo da Internet, é considerado o pai da
realidade virtual e um dos informáticos mais brilhantes da história do Vale do
Silício. É escritor, filósofo e um destacado compositor de música clássica e
eletrônica, que colaborou com músicos como Terry Riley e Philip Glass. Na
última década, se tornou um dos principais críticos do uso da tecnologia
digital. Há alguns anos, publicou um livro com o pouco sutil título “Você não é
um aplicativo”, e sua outra obra, mais recente, se chama “Dez Argumento para
Você Deletar Agora Suas Redes Sociais”.
Atualmente,
Lanier é consultor para Microsoft, e não vacila em dizer que é uma voz
qualificada para criticar a tecnologia digital, pois ele mesmo sabe cimo estão
sendo desenhados os algoritmos. “Na verdade, conheço os algoritmos. Não sou um
estranho que olha e critica”, diz Jaron. “Falo como cientista informático, não
como cientista social ou psicólogo. A partir dessa perspectiva, posso ver que o
tempo está se acabando. O mundo está mudando rapidamente sob o nosso mando.
Portanto, não fazer nada não é uma opção”.
Lanier acrescenta que “o
algoritmo está tentando captar os parâmetros perfeitos para manipular o
cérebro, enquanto o cérebro, para encontrar um significado mais profundo, está
mudando as respostas aos experimentos do algoritmo... Já que o estímulo não
significa nada para o algoritmo, pois é genuinamente aleatório, o cérebro não
está respondendo a algo real, e sim a uma ficção. O processo – de se obcecar
com uma elusiva miragem – causa dependência.
Lanier assegura que os
algoritmos dos bancos de dados gigantes criaram um novo modelo no qual “o
comportamento dos usuários é o produto”, um comportamento que está sendo
constantemente modificado, pois a grande aposta é justamente essa, usar o mais
avançado informaticamente para aprender a modificar a conduta da forma mais proveitosa
para os interesses das corporações.
Basicamente,
o que Lanier (que se considera um otimista) acredita é que a Internet pode ser
salva, mas é preciso abandonar as redes sociais e desmontar os grandes
monopólios que controlam as nuvens de dados.
O
problema está no modo de operar destes algoritmos, que estão sendo ajustados
constantemente para capturar a atenção dos usuários e fazer com que se
comportem de uma forma que seja mais rentável.
Isso
gera uma enorme negatividade, sensações de raiva, narcisismo, indignação, entre
outras, pois estas plataformas aprenderam que as emoções negativas duram mais
online: o ódio se canaliza melhor online.
Segundo
Lanier, as ferramentas destas plataformas funcionam melhor para as pessoas que
buscam reproduzir sentimentos negativos. “Portanto, o Estado Islâmico tem mais
sucesso nas redes sociais que os ativistas da Primavera Árabe.
Os
racistas obtêm mais impacto que o movimento Black Lives Matter (“Vidas Negras
Importam”), criando este aumento no movimento nacionalista racista nos Estados
Unidos de uma forma que não havíamos visto em gerações.
Estes
são os dez argumentos de Lanier para que você abandone agora as redes sociais
(que correspondem aos dez capítulos de seu livro):
1)
Você está perdendo seu livre arbítrio.
2)
Renunciar às redes sociais é a forma mais precisa de resistir à loucura dos
nossos tempos.
3)
As redes sociais estão tornando você um idiota.
4)
As redes sociais estão minando a verdade.
5)
As redes sociais fazem que aquilo que você diz não ter importância.
6)
As redes sociais estão destruindo sua capacidade de empatia.
7)
As redes sociais estão fazendo você ser infeliz.
8)
As redes sociais não querem que você tenha dignidade econômica.
9)
As redes sociais estão fazendo com que a política seja impossível.
10)
As redes sociais odeiam a sua alma.
Fonte:
Carta Capital - 23/05/2019
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