Trabalhadores formaram fila para disputar vagas de mutirão
de emprego
no centro de São Paulo
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Com a queda do Produto Interno Bruto no primeiro trimestre,
consolidam-se projeções de mais um ano quase perdido. A alta esperada para 2019
já caminha para menos de 1%, pior até que as observadas nos dois anos
anteriores.
Desde o encerramento da recessão de 2014-16, a mais aguda
depois da crise de 1981-83, a renda nacional por habitante permanece mais de 8%
abaixo do patamar de 2013.
Nada menos de 28,4 milhões de brasileiros, quase um quarto
da população em idade de trabalhar, estavam em situação de subutilização no
período de três meses encerrado em abril, segundo dados divulgados na sexta
(31) pelo IBGE.
Além dos desempregados, estão nesse grupo os que buscam uma
jornada maior e os desalentados, que já nem procuram ocupação.
O quadro sombrio se completa com a constatação do Instituto
de Economia da Fundação Getulio Vargas, em estudo recente, de que a
desigualdade no mercado de trabalho alcançou no primeiro trimestre deste 2019 o
maior nível em pelo menos sete anos.
Desde o final de 2015, a renda dos 40% mais pobres caiu 22%,
enquanto a dos 10% situados no topo da pirâmide subiu 3,3%.
Compreende-se, assim, que a letargia do crescimento
econômico reacenda a desesperança e traga novas demandas por soluções
emergenciais, por vezes perigosas.
Naturalmente há o que fazer no curto prazo —uma ideia que se
aventa é nova liberação de recursos das contas do FGTS. O debate sobre cortes
adicionais dos juros do Banco Central ficou comprometido pela alta recente das
cotações do dólar, com risco inflacionário.
Cumpre resistir a clamores por medidas de fácil apelo
político, como maior intervenção estatal e ampliação dos gastos públicos.
Incorrer nos mesmos erros que resultaram na situação atual não constitui uma
agenda promissora.
Resgatar o país da estagnação, ao contrário, demanda
reformas de grande envergadura, que possam de fato alterar o padrão de funcionamento
da economia.
A mudança na Previdência é apenas a mais urgente, a fim de
restaurar a perspectiva de solvência do Estado —e liberar, ao longo do tempo,
preciosos recursos para educação, saúde, saneamento, segurança e
infraestrutura. Tais aportes, se bem aplicados, poderão quebrar os mecanismos
que reproduzem a pobreza e a desigualdade.
Um redesenho do sistema tributário, além de reduzir custos e
burocracia, deve concorrer para uma taxação mais progressiva da renda. Maior
abertura ao comércio internacional e mudanças regulatórias para desmontar
oligopólios reforçariam a produtividade, com ganhos sociais inatingíveis apenas
com políticas distributivas.
É sempre difícil aprovar reformas, sobretudo num quadro de
escassez, quando os setores beneficiados se entrincheiram. Entretanto ficaram
para trás os tempos em que algum crescimento econômico e farto gasto público
permitiam escamotear distorções do statu quo. Fonte: Folha de São Paulo - 2.jun.2019
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