Uma nova espécie de maçã desenvolvida em Santa Catarina
conquistou o direito de recolher royalties nos 23 países que compõem a União
Europeia. A fruta, que recebeu o nome de Monalisa, foi elaborada por
meio de melhoramento genético iniciado há 31 anos por técnicos da estatal
catarinense Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural).
“A fruta é doce,
crocante, suculenta e tem uma bela aparência. Ela caiu no gosto dos europeus”,
afirma Renato Luis Vieira, gerente da estação experimental da Epagri em
Caçador, que projeta o início do recolhimento da verba dos direitos de venda
para 2022.
“Estamos colhendo os
frutos de um trabalho iniciado há muito tempo. É demorado, mas, quando vem a
valorização, não tem preço”, disse. O cruzamento de plantas que deu origem à
Monalisa foi desenvolvido em um ensaio experimental na primavera de 1988.
A história começou com o pesquisador Anísio Pedro Camilo,
que fez doutorado em um programa de hibridações nos Estados Unidos , segundo
Frederico Denardi, engenheiro‑agrônomo aposentado da Epagri. O pesquisador fez
o cruzamento de uma muda de maçã gala com uma outra muda desenvolvida para ser
mais resistente. “A gala é a mais produzida no Brasil hoje, mas tem
inconvenientes como a dificuldade de adaptação ao clima do Sul. Também é muito
suscetível a doenças”, disse.
As sementes foram pré-germinadas em câmaras climáticas e
depois monitoradas em estufas. Na sequência, as mudas foram submetidas ao
contato com as principais pragas que atacam os pomares. As mudas que resistiram
foram selecionadas para passar por uma nova bateria de testes. Depois de
atestar a resistência, os melhoristas (que fazem o melhoramento genético)
partiram para aperfeiçoar a qualidade da fruta. Foram feitos testes para medir
a firmeza da polpa, o nível de acidez, o teor de açúcar, a coloração, o
formato, o sabor e a capacidade de conservação, entre outros fatores.
A ROTINA DE AVALIAÇÕES SE ESTENDEU POR SETE ANOS.
Em 1995, os pesquisadores atestaram o ápice da qualidade
buscada e escolheram uma muda para ser a versão final do experimento. Ela
recebeu um código de identificação e foi multiplicada por meio de enxerto.
A previsão é de redução do custo de produção porque é uma
variedade resistente a algumas doenças que atingem a planta. “O agricultor
deixa de gastar com agrotóxicos. Ela também se adapta muito bem à produção
orgânica e produz efeitos na segurança alimentar e ambiental”, disse.
Os bons resultados culminaram na decisão de lançar a nova
fruta para o mercado. Mudas foram fornecidas para os viveiristas interessados. A
partir de convênio firmado com a Mondial Fruit Selection, empresa francesa que
representa a maçã no exterior, testes foram feitos na Europa para avaliar a
adaptação da fruta ao clima e a aceitação entre os produtores.
Foi na fase do lançamento que Denardi batizou a maçã de
Monalisa, em razão da “universalidade e por ser um nome bonito, atraente e
fácil”.
Em abril, a empresa concluiu que a Monalisa tem alto
potencial de comercialização na Europa. Para realizar o cultivo, a propriedade
intelectual da criação foi reconhecida.
A empresa irá liberar as mudas para os produtores
licenciados que já poderão realizar o plantio. O processo do cultivo até a
floração e colheita deve levar três anos, o que significa que estará nos
mercados europeus a partir de 2022.
Com o início da comercialização, a Epagri começará a receber
os valores pela concessão dos direitos da fruta. No Brasil, um edital será
lançado para selecionar produtores que atendam as condições de cultivo. “Agora é preciso ver se o mercado consumidor
aceita a fruta”, disse Vieira. Fonte: Folha de São Paulo - 18.mai.2019
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