segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Battisti chega à Itália após quase 40 anos foragido

O avião com o italiano Cesare Battisti chegou ao aeroporto de Ciampino, em Roma, nesta segunda-feira (14) às 8h40 pelo horário de Brasília. Ele desceu do avião escoltado por policiais e sem algemas. Battisti foi entregue pela polícia boliviana às autoridades da Itália na cidade de Santa Cruz de La Sierra, onde foi preso no último sábado (12).
Um forte esquema de segurança foi montado no aeroporto de Roma para receber Battisti. Ele será levado para um presídio na periferia de Roma.  

O italiano de 64 anos, que integrou o grupo Proletários Armados pelo Comunismo, foi condenado à prisão perpétua em 1993 por quatro assassinatos cometidos nos anos 1970 contra um guarda carcerário, um agente de polícia, um militante neofascista e um joalheiro de Milão (o filho do joalheiro ficou paraplégico, depois de também ser atingido).
Ele afirma que nunca matou ninguém e se diz vítima de perseguição política.

Foram 37 anos de fuga permanente, com períodos de prisão e lutas político-judiciais para evitar a Justiça da Itália. Battisti escapou do seu país na década de 1980, viveu na França, no Brasil e, mais recentemente, havia se escondido na Bolívia.

O italiano chegou a conseguir refúgio no Brasil em 2009. Mas o status, concedido a ele pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi revisto em dezembro do ano passado, por Michel Temer, que autorizou sua extradição. A Polícia Federal fez mais de 30 operações para localizá‑lo, mas não teve sucesso.

POSSÍVEIS BENEFÍCIOS
Battisti ficará seis meses em regime de isolamento diurno em uma ala destinada a terroristas, de acordo com o jornal "La Repubblica".
Como os crimes foram cometidos antes de 1991, quando houve uma mudança na legislação italiana, ele terá alguns benefícios, como sair da cadeia por curtos períodos se apresentar bom comportamento depois de ter cumprido 10 anos de pena.  Após ter cumprido 26 anos no cárcere, ele poderá obter liberdade condicional.
Como ele foi julgado à revelia (sem a presença do réu), a defesa também pode tentar um novo julgamento.

CRONOLOGIA DOS FATOS:

1979: Cesare Battisti é preso em Milão suspeito de assassinato de um joalheiro.

1981: Battisti é condenado a 12 anos e 10 meses de prisão por "participação em grupo armado" e "ocultamento de armas". Ele foge da prisão de Frosinone, perto de Roma, e se refugia na França.

1982: Battisti foge para o México.

1985: o presidente francês François Mitterrand se compromete a não extraditar os ex-ativistas de extrema-esquerda italianos que rompessem com o passado, embora tenha excluído os que cometeram "crimes de sangue".

1990: Battisti volta para a França e começa a escrever romances policiais.

1991: a corte de apelações de Paris nega um pedido da Itália de extradição.

1993: a corte de apelações de Milão condena Battisti à prisão perpétua por quatro "homicídios agravados" praticados entre 1978 e 1979 contra um guarda carcerário, um agente de polícia, um militante neofascista e um joalheiro de Milão (o filho do joalheiro ficou paraplégico, depois de também ser atingido).

2001: Battisti pede naturalização francesa. Uma decisão favorável de julho de 2003 foi anulada em julho de 2004.

2002: Itália pede extradição de Battisti, em 20 de dezembro.

2003: pedido de naturalização francesa é concedido, em julho.

2004: decisão sobre naturalização francesa é anulada. Battisti é detido em Paris a pedido da justiça italiana. Intelectuais, artistas e personalidades políticas francesas protestam. É libertado, mas mantido sob vigilância. A câmara de instrução da corte de apelações de Paris se declara favorável à extradição. Battisti recorre. O italiano não se apresenta à polícia como exige o sistema de vigilância judicial, e passa para a clandestinidade. A promotoria expede ordem de detenção. O recurso de Battisti é rejeitado, e a extradição para a Itália torna-se definitiva. O primeiro-ministro francês Jean Pierre Raffarin assina o decreto de extradição; Battisti foge.

2005: o Conselho de Estado da França confirma a extradição. Os advogados de Battisti apresentam um recurso ante a Corte Europeia de Direitos Humanos contra o decreto de extradição.

2007: Battisti é preso no Rio de Janeiro. Ele é levado para a penitenciária da Papuda, em Brasília, para fins de extradição.

2009: o então ministro da Justiça do Brasil, Tarso Genro, concede status de refugiado político a Battisti, baseado no 'fundado temor de perseguição por opinião política', contrariando decisão do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare). O status não permite o seguimento de qualquer pedido de extradição baseado nos fatos que fundamentaram a concessão de refúgio. Em fevereiro, o STF nega pedido de liminar do governo italiano contra a decisão de conceder refúgio a Battisti. Após a votação pela extradição, os ministros decidiram também pelo placar de 5 votos a 4 que a decisão final sobre a extradição caberia ao presidente Lula.

2010: ex-presidente Lula nega pedido de extradição.

2011: Battisti deixa a prisão na Papuda (DF) após o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir, por seis votos a três, manter a determinação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que negou o pedido de extradição de Battisti.

2012: Cesare Battisti pede a reabertura ao presidente italiano dos seus processos para ter "a possibilidade de se defender". No mesmo ano, ele participa da abertura do Fórum Social Temático, em Porto Alegre, e lança o livro “Ao pé do muro”, que escreveu no período em que esteve preso em Brasília.

2013: o Superior Tribunal de Justiça manteve a condenação do italiano por falsificação de documentos.

2014: Battisti dá entrevista ao programa Diálogos, de Mario Sergio Conti, na GloboNews, ele afirmou que nunca matou ninguém.

2017: Battisti tenta fugir para a Bolívia e é preso na fronteira. O governo italiano pede que o Brasil reconsidere a decisão de não extraditá-lo, mas a Justiça decide soltar Cesare Battisti.

2018: a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu ao STF que desse prioridade ao julgamento que poderia resultar na extradição. Um mês depois do pedido da PGR, o ministro Luiz Fux, mandou prender o italiano e abriu caminho para a extradição, no início de dezembro. Na decisão, o ministro autorizou a prisão, mas disse que caberia ao presidente extraditar ou não o italiano porque as decisões políticas não competem ao Judiciário. No dia seguinte da decisão de Fux, o então presidente Michel Temer autorizou a extradição de Battisti. Desde então, a PF deflagrou uma série de operações para prender Battisti. No final de dezembro, a PF já tinha feito mais de 30 operações

2019: Battisti é preso na Bolívia. De lá, ele foi enviado direta na tentativa de localizar o italiano. mente para a Itália, onde é aguardado pelas autoridades italianas. Fonte: G1-13 14 /01/2019 

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