sábado, 10 de novembro de 2018

O fim da Primeira Guerra Mundial

"Finie la guerre?" – "Acabou-se a guerra?" O carro dos negociadores alemães que, vindo da Bélgica, atravessou a fronteira da França em 6 de novembro de 1918 espalhou o júbilo entre os soldados franceses. Os exércitos ainda se confrontavam, mas a guerra que já durava mais de quatro anos parecia estar se aproximando do fim.

Pouco mais tarde, na madrugada de 11 de novembro, o líder da delegação alemã, Matthias Erzberger  e sua contraparte francesa, o marechal Ferdinand Foch, preencheriam plenamente os anseios de milhões de europeus.

Num vagão de trem no bosque de Compiègne, cerca de 90 quilômetros a nordeste de Paris, os dois colocaram sua firma no recém-negociado armistício entre a Alemanha e os Aliados: os alemães capitulavam. No ano seguinte, em 28 de junho, no famoso Salão dos Espelhos do Palácio de Versalhes, ambos os lados assinariam oficialmente o acordo de paz.

AJUDA DO OUTRO LADO DO ATLÂNTICO
Até meados de 1918, as tropas alemãs haviam avançado no front ocidental, ganhando muito terreno. No entanto, entre março e julho, o contingente se reduziu de 5,1 milhões para 4,2 milhões de militares. O Império Alemão conseguiu fechar suas lacunas até o verão, mas só remobilizando soldados feridos e de novo recuperados. Além disso, os primeiros recrutas nascidos no ano de 1900 iam chegando pouco a pouco.

Contudo, os alemães se viam agora diante de um inimigo totalmente novo: os americanos. Depois que o presidente Woodrow Wilson declarara guerra à Alemanha, em 2 abril de 1917, seus soldados avançavam pelo Oceano Atlântico. No início do outono de 1918, desembarcavam diariamente 10 mil deles.

O historiador John Keegan concorda que os jovens americanos eram inexperientes no combate. "Decisivo, porém, foi o efeito que sua chegada teve sobre o adversário: profundamente deprimente."
No fim das contas, as bem equipadas unidades dos Estados Unidos é que decidiriam a guerra a favor dos Aliados. Os supremos comandantes das tropas alemãs se viram logo forçados a aceitar que não era mais possível vencer o conflito, que só um armistício evitaria o colapso total no front alemão.

MORTE EM ESCALA INDUSTRIAL
Até chegar à trégua de 11 de novembro, a Europa atravessara quatro anos de uma pavorosa carnificina e destruição jamais vista. Em sua viagem pela Bélgica e França, Erzberger registrou um quadro de desolação: "Nenhuma casa mais de pé, uma ruína se sucedia à outra. À luz da lua, os destroços se erguiam no ar, fantasmagóricos; nenhum ser vivo se mostrava."

O cronista e político do Partido Alemão do Centro traçou o balanço de uma guerra de letalidade sem precedentes. O avanço tecnológico e a industrialização haviam criado um arsenal que suplantava tudo o que já existira em termos de quantidade e qualidade: tanques aparentemente indestrutíveis, embarcações que manobravam debaixo d'água, artilharia de alcance gigantesco, gases mortais.

Em 1916, os alemães haviam colocado em ação o canhão ferroviário "Langer Max": lançados através de um tubo de 35 metros de comprimento, seus projéteis de 300 quilos atravessavam distâncias de até 48 quilômetros. Com essa arma, Paris foi alvejada em 23 de março de 1918. Algumas granadas atingiram a igreja de Saint Gervais durante um culto, matando 88 pessoas e ferindo cerca de 100.

Historiógrafos militares estimam que, durante a Primeira Guerra Mundial, se lançaram 850 milhões de granadas de artilharia. Ao todo, as nações envolvidas convocaram quase 56 milhões de recrutas. A matança se deu em escala industrial, com cerca de 11 milhões de soldados tombando sob a chuva de projéteis de canhões e o fogo de metralhadoras – uma média de 6 mil combatentes mortos por dia de conflito.

A esses se juntaram 21 milhões de feridos, soldados que perderam membros ou parte deles, que ficaram paralíticos ou acamados, foram submetidos a amputações, terminaram cegos ou surdos.

HORRORES DO FRONT
As vivências no front eram, inevitavelmente, aterrorizantes. "É horrível quando estilhaços de granadas penetram nos tecidos moles", recordava-se o soldado alemão Karl Bainier, nascido em 1898. "Nossos dois comandantes também foram atingidos em cheio durante a noite. Um perdeu o tórax inteiro; o outro, o tronco todo. O do tronco morreu na hora. O outro ainda gritou."

Assim, não é de espantar que sobretudo os soldados desejassem o fim da guerra. Em maio de 1918, o comandante-chefe príncipe Rupprecht da Baviera observava não ser "nem um pouco fora do comum" que até 20 de cada 100 soldados se ausentassem sem permissão. Se fossem apanhados, em geral eram punidos com dois a quatro meses de prisão, "mas é exatamente isso o que alguns querem, pois assim escapam de uma ou outra batalha".

Nos meses seguintes, o front do lado das Potências Centrais – Alemanha e Áustria-Hungria – ficaria cada vez mais desfalcado. Muitos soldados se recusariam a lutar, outros partiriam para casa por conta própria.

SOLO FÉRTIL PARA A PRÓXIMA GUERRA
Enquanto as alas alemãs rareavam progressivamente, o comando supremo se eximia de qualquer responsabilidade. Em 19 de setembro de 1918, o general Erich Ludendorff escreveu: "Pedi à Sua Majestade para colocar no governo também aqueles círculos a que principalmente devemos a situação em que estamos. Portanto agora veremos esses senhores assumirem os ministérios. Agora eles que tratem a paz que tiver de ser tratada. Eles que tomem a sopa que prepararam para nós."

Esses senhores" eram, para Ludendorff, as bancadas do Parlamento que, já em meados de 1917, haviam pleiteado um acordo de paz: social-democratas, liberais de esquerda e o católico Partido Alemão do Centro. Essa acusação de uma suposta traição pela pátria exausta da guerra foi também adotada pelo mais alto militar do Império Alemão, o marechal de campo Paul von Hindenburg.

"O Exército alemão foi apunhalado pelas costas", afirmou, supostamente citando o general inglês Frederick Maurice. Embora este tenha sempre negado com veemência haver dito tal frase, assim nascia a "lenda da punhalada", segundo a qual a Alemanha teria perdido a guerra devido à "traição" interna. Essa lenda contribuiu significativamente para o futuro fracasso da República de Weimar.

De início, porém, o 11 de novembro trouxe o fim da guerra que milhões de europeus tanto ansiavam. No entanto, isso não significou automaticamente o fim do sofrimento: privação, vicissitude e luto seguiram pesando sobre o povo, agravados pela sensação de ter lutado e sofrido em vão.

"A falta de sentido, ao chegar a seu ponto mais alto, é raiva, raiva e raiva e continua não fazendo sentido", resumiu o escritor austro-húngaro Walter Serner a cólera de seus compatriotas. Esse sentimento tóxico tomou conta dos alemães e seria o solo fértil para a ascensão de um ex-soldado do front chamado Adolf Hitler. Fonte: Deutsche Welle - Data 06.11.2018

Comentário:

Resumo cronológico
Conflito opôs as Potências Centrais (os impérios Alemão, Austro-Húngaro e Otomano) à Entente (liderada por Rússia, Reino Unido e França)

Principais datas
■28.jun.1914  O herdeiro do Império Austro-Húngaro, Francisco Ferdinando, é morto por um nacionalista sérvio em Sarajevo; um mês depois, a Áustria-Hungria declara guerra à Sérvia, dando início ao conflito
■21.fev.1916 Começa a Batalha de Verdun, na França, a mais longa (dura até dezembro) e uma das mais violentas, com mais de 1 milhão de mortos
■7.abr.1917  Os Estados Unidos entram no conflito e declaram guerra à Alemanha, desequilibrando a disputa a favor da Entente
■11.nov.1918 A Alemanha aceita um armistício com os adversários, interrompendo o conflito
■28.jun.1919 O Tratado de Versalhes, acordo de paz definitivo, é assinado

Personagens
■Vladimir Lenin Liderou em novembro de 1917 a Revolução comunista na Rússia, fazendo o país deixar a guerra
■Adolf Hitler Sua participação na guerra como cabo do Exército acabaria influenciando a criação do nazismo
■Guilherme 2º Após assumir como imperador, impôs uma política agressiva na Alemanha, que levou à guerra, mas durante o conflito cedeu a maior parte do poder aos militares

■G. Clemenceau O primeiro-ministro francês foi um dos principais defensores de uma ação militar contra a Alemanha e um dos idealizadores do Tratado de Versalhes

Classificação de estatísticas de vítimas
Estimativas de número de baixas para a Primeira Guerra Mundial variam muito As estatísticas de baixas militares listadas aqui incluem mortes relacionadas a combate, bem como mortes de militares causadas por acidentes, doenças e mortes enquanto prisioneiros de guerra. A maioria das vítimas durante a Primeira Guerra Mundial deve-se à fome e às doenças relacionadas com a guerra. 



População (milhões)
Mortes-militares
Mortes-Civis
Total de mortes
Mortes em  % da população
Militares feridos
Allies of World
War I
806.0
5,711,696
3,674,757
9,386,453
1.19%
12,809,280
Central Powers
143.1
4,010,241
3,143,000
7,153,241
5%
8,419,533

Allies World War I - França, Rússia e Grã-Bretanha entraram na Primeira Guerra Mundial em 1914, como resultado da Tríplice Entente. Os demais países uniram-se aos aliados ao longo da guerra.
Central Powers – designação atribuída à coligação formada entre a Alemanha e a Áustria-Hungria à qual se juntariam o Império Otomano e a Bulgária. O nome encontra-se relacionado com a posição central ocupada pela Alemanha e Áustria-Hungria no continente europeu.
Fonte: REPERES – module 1-0 - explanatory notes – World War I casualties – EN
Author & © : Nadège Mougel, CVCE, 2011, 2011, English translation: Julie Gratz, Centre européen Robert Schuman



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