Antigamente, a espionagem dava trabalho. Muito trabalho. E
algum risco à mistura.
Se você queria saber o que se passava na casa do vizinho,
era preciso invadir a casa; montar grampos e câmeras ocultas; voltar a sair da
casa; e depois passar a noite inteira de olhos abertos e ouvidos idem.
Com sorte, era possível saber qualquer coisa. Com uma semana
de vigia, era possível saber alguma coisa.
Com um mês ou um ano, era possível ter uma ideia razoável
sobre a vida do sujeito.
Francis Ford Coppola filmou isso em "The
Conversation" (1974). Filme primoroso com um Gene Hackman primoroso - mas,
mil perdões, terrivelmente "démodé".
Hoje, esses contorcionismos são absurdos. Não vale a pena
invadir a casa do vizinho.
Basta ir ao Facebook para saber o que ele é, o que faz, do
que gosta, com que está, onde está, por onde andou, em que terra nasceu, onde
estudou, o que estudou, que lugares frequenta, quem são os seus amigos, que
matérias ele lê, que músicas ouve - a lista de informações é infinita e,
pormenor fundamental, não custa um tostão a nenhuma agência de espionagem.
Sim, o escândalo revelado por Edward Snowden mostra o
intolerável abuso da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos sobre
cidadãos nacionais e estrangeiros.
Mas convém lembrar que o abuso só foi possível porque havia
combustível para ele: o nosso público narcisismo. Ou, para usar a feliz
expressão de Sérgio Dávila nesta Folha, porque nos transformamos em
"facebobos".
Não precisamos de ser torturados. Não precisamos de ser
interrogados. Nós confessamos tudo alegremente. E voluntariamente. Fonte: Folha de São Paulo-15/07/2013 - João Pereira Coutinho, escritor
português,doutor em ciência política.
Comentário: Facebook é a agência de inteligência global a
serviço da sociedade. Éa CIA da sociedade de consumo
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