sábado, 10 de julho de 2010

Que esquerda é essa?

Como retrato da esquerda, o Fórum Social Mundial nos oferece uma imagem melancólica. De um lado, o evento, se presta a ser um palco de aclamação do lulismo; de outro, reitera sem mais dogmas anticapitalistas, fazendo tabula rasa do legado ruinoso dos experimentos coletivistas do século 20.

Em sua 10ª edição, o fórum agregou uma esquerda que transita entre o novo pragmatismo e a utopia de antigamente, sem que se detenha na crítica de nenhum dos polos. Adesista e fundamentalista ao mesmo tempo, essa esquerda age como quem quer usufruir todos os benefícios possíveis deste mundo (lulista), sem prejuízo de manter intacto o clichê do "outro mundo possível".

Entre o radicalismo vazio e o apego ao poder, haveria uma trilha menos cômoda. Algo como o compromisso com a redução das desigualdades, com o combate à corrupção em todas as suas formas e a defesa da democracia e do pluralismo -tudo combinado numa perspectiva reformista, que se paute pelo realismo sem abrir mão de princípios.

Não é isso, como se sabe, o que seduz os funcionários da utopia. Mas que esquerda é essa que vira as costas aos estudantes venezuelanos e não se manifesta contra a escalada autoritária de Chávez? Que esquerda é essa, para quem o mensalão não existiu ou acha que "a vida é assim mesmo"? Que esquerda é essa, capaz de defender a barba de Fidel Castro e o bigode de José Sarney?

Não há dúvida de que existe uma maioria bem intencionada entre os participantes do fórum. Mas o evento se tornou coisa de profissionais. Com raríssimas exceções, os intelectuais que contam não perdem mais tempo por lá. Restou um lúmpen "pensante" que fez do fórum o seu negócio. Gente, aliás, que cansou de esperar Godot e hoje enche as burras à custa do lulismo. São parasitas do Estado que adoram ressuscitar o fantasma neoliberal diante de plateias embasbacadas para manter viva a sua boquinha. Será possível ainda ser de esquerda sem parecer idiota ou espertalhão?

Fonte:Folha de São Paulo - São Paulo, 01 de fevereiro de 2010 

Comentário:
É nova esquerda capitalista, burguesa e espertalhona. Só levanta os chavões ideológicos na época das eleições.
Veja o caso da Dilmanov, preocupado com os pobres durante as eleições, mas através dos pobres e da ideologia,  busca aspiração burguesa. A declaração patrimonial da petista soma  um milhão de reais, possuindo três apartamentos, uma casa e um lote financiado.
Quem tem emprego assim na iniciativa privada? Três empregos.
Dilmanov  é funcionária, desde outubro de 1975, da Fundação Economia e Estatística do governo do Estado do Rio Grande do Sul.
Faz parte do Conselho da Petrobras, ganhando mais de cem mil reais
E como ministra.
O mesmo capitalismo que ela combate, ela usufrui. A nomenklatura petista vive bem, vive de brisa encostada no Estado. Essa é a nova esquerda

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Paulo Moura

Paulo Moura, é um compositor, arranjador, saxofonista e clarinetista brasileiro de choro, samba e jazz.

Nasceu em 1933, em São José do Rio Preto, em uma família de músicos, antes de entrar para a família do sopro, começou tocando piano aos nove anos de idade, incentivado pelo pai, Pedro Moura, carpinteiro de profissão e clarinetista nas horas vagas.

A família já contava com dois trompetistas, os irmãos de Paulo, José e Alberico e o outro irmão, o Valdemar, no trombone. Com isso Paulo Moura foi para detrás do teclado e estudou dedicadamente o piano, até que aos treze anos passou a acompanhar a banda liderada por seu pai em festas e bailes.

Aos 18 anos mudou-se com a família para o Rio de Janeiro onde ingressou na Escola Nacional de Música, estudando teoria, harmonia, contraponto, fuga, composição com grandes mestres como Guerra Peixe, Moacir Santos, Paulo Silva e Maestro Cipó.

Tornou-se um dos mais requisitados instrumentistas do Rio de Janeiro, sendo o primeiro clarinetista do Teatro Nacional por dezessete anos e excursiou mundo afora acompanhando músicos como Ary Barroso, também foi integrante da Zacarias e sua Orquestra.

Sua primeira gravação foi ao lado da cantora Dalva de Oliveira, interpretando a canção de Nelson Cavaquinho, Palhaço. E aos 19 estreou como solista tocando a peça de Weber “Concertino para Clarinete e Orquestra” acompanhado da Orquestra Sinfônica Nacional.

Vídeo:

  Vídeo:


Revolução de 1932

Comentário:


Hoje é feriado no Estado de São Paulo em comemoração a revolução de 1932. Como todo brasileiro está mais preocupado em aproveitar o feriado de qualquer data histórica, essa data  para os paulistas é mais um feriado de descanso ou  ir para o litoral. Os jornais esqueceram essa data, como a maioria das datas históricas. O brasileiro  é um povo singular possui brasilidade para o futebol, escola de samba e outros folclores,  mas conhecer a formação do país é um alienado.

Resumo histórico da revolução

Explode em São Paulo uma revolta contra o presidente Getúlio Vargas. Tropas federais são enviadas para conter a rebelião. As forças paulistas lutam contra o exército durante três meses. O episódio fica conhecido como a Revolução Constitucionalista de 1932.

Em 1930, uma revolução derrubava o governo dos grandes latifundiários de Minas Gerais e São Paulo. Getúlio Vargas assumia a presidência do Brasil em caráter provisório, mas com amplos poderes. Todas as instituições legislativas foram abolidas, desde o Congresso Nacional até as Câmaras Municipais. Os governadores dos Estados foram depostos. Para suas funções, Vargas nomeou interventores.

A política centralizadora de Vargas desagrada às oligarquias estaduais, especialmente as de São Paulo. As elites políticas, do Estado economicamente mais importante, sentem-se prejudicadas. E os liberais reivindicam a realização de eleições e o fim do governo provisório.

O governo Vargas reconhece oficialmente os sindicatos dos operários, legaliza o Partido Comunista e apóia um aumento no salário dos trabalhadores. Estas medidas irritam ainda mais as elites paulistas.

Em 1932, uma greve mobiliza 200 mil trabalhadores no Estado. Preocupados, empresários e latifundiários de São Paulo se unem contra Vargas.

No dia 23 de maio é realizado um comício reivindicando uma nova constituição para o Brasil. O comício termina em conflitos armados. Quatro estudantes morrem: Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo. As iniciais de seus nomes formam a sigla MMDC, que se transforma no grande símbolo da revolução.

Em 9 de julho, explode a revolta. As tropas rebeldes se espalham pela cidade de São Paulo e ocupam as ruas. A imprensa paulista defende a causa dos revoltosos. No rádio, o entusiasmo de Cesar Ladeira faz dele o locutor oficial da Revolução Constitucionalista.

Quando se inicia o levante, uma multidão sai às ruas em seu apoio. Tropas paulistas são enviadas para os fronts em todo o Estado.

A desigualdade entre as tropas constitucionalistas e as getulistas era grande. Além de um arsenal menor, o número de soldados paulistas era pequeno em relação aos adversários. O governo federal fez uma campanha contra o movimento difundindo a idéia de que São Paulo queria se separar do Brasil, o que ajudou a angariar voluntários.

A intenção dos paulistas era receber apoio de setores insatisfeitos de outros Estados como Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Mato Grosso. Esses movimentos, no entanto, foram rapidamente inibidos.

Mas as tropas federais são mais numerosas e bem equipadas. Aviões são usados para bombardear cidades do interior paulista. 35 mil homens de São Paulo enfrentam um contingente de 100 mil soldados. Os revoltosos esperavam a adesão de outros Estados, o que não aconteceu.

Em 3 de outubro de 32, após três meses de luta, os paulistas se rendem. Prisões, cassações e deportações se seguem à capitação. Estatísticas oficiais apontam 830 mortos. Estima-se que centenas a mais de pessoas morreram sem constar dos registros oficiais.

A Revolução Constitucionalista de 1932, foi o maior confronto militar no Brasil no século XX. Apesar da derrota paulista em sua luta por uma constituição, dois anos depois da revolução, em 1934, uma assembléia eleita pelo povo promulga a nova Carta Magna.

 

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Norte-coreanos que fogem do país narram a miséria do país

O operário de construção norte-coreano vivia na penúria. Seu empregador público não lhe pagava há tanto tempo que ele tinha esquecido seu salário. Na verdade, ele pagava ao seu chefe para ser um funcionário fantasma, para que pudesse deixar seu local de trabalho. Então ele e sua esposa poderiam ganhar seu sustento vendendo pequenos sacos de detergente no mercado negro.

Parecia difícil que a vida pudesse piorar. Mas então, em uma tarde de sábado de novembro, sua irmã entrou em seu apartamento em Chongjin com notícias chocantes: o governo norte-coreano tinha decidido desvalorizar drasticamente a moeda do país. As economias da família, algo equivalente a US$ 1.560, foram reduzidas ao equivalente a US$ 3.

No mês passado, o operário, sentado em um esconderijo nesta movimentada cidade no norte da china, lamentava os anos de sacrifício em vão. Legumes para seus pais, medicamento para a asma de sua esposa, o agasalho esportivo que sua filha de 15 anos desejava –tudo foi negado com base na teoria de que, mesmo na Coreia do Norte, vale a pena poupar para o futuro.

 “Ai!” ele exclamou, xingando entre gemidos. “O quanto trabalhamos para poupar aquele dinheiro! Só de pensar a respeito me deixa louco.” Os norte-coreanos estão acostumados a dificuldades e decepções. Mas a desvalorização da moeda em 30 de novembro, aparentemente uma tentativa de escorar uma economia estatal em dificuldades, foi para alguns o pior desastre desde a fome que matou centenas de milhares em meados dos anos 90.

Entrevistas no mês passado com oito norte-coreanos que deixaram recentemente o país –um fugitivo da prisão, contrabandistas, pessoas em exílio temporário para encontrar emprego na China, a esposa em viagem de um membro do Partido dos Trabalhadores governista– pintam um retrato assustador de desespero dentro da Coreia do Norte, uma nação de 24 milhões de pessoas, e do crescente ressentimento em relação ao seu líder errático, Kim Jong-il.

O que parece ausente –ao menos por ora– é instabilidade social. As dificuldades disseminadas, a revolta popular com a desvalorização da moeda e a crescente incerteza política enquanto Kim busca transferir o poder para seu terceiro filho não se transformaram em uma resistência notável contra o governo. Pelo menos dois dos entrevistados repetiram a propaganda oficial de que a Coreia do Norte é vítima de inimigos obstinados, sua pobreza um plano do Ocidente, que sua sobrevivência é ameaçada pelos Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão.

A acusação pela Coreia do Sul de que a Coreia do Norte afundou um de seus navios de guerra, o Cheonan, em março, é apenas parte da trama, disse a esposa do membro do partido.

 “É por isso que temos armas para nos protegermos”, ela disse enquanto visitava parentes no norte da China –e ganhava um dinheiro extra como garçonete. “Nossos inimigos estão nos atacando por todos os lados, e é por isso que carecemos de eletricidade e boa infraestrutura. A Coreia do Norte deve manter suas portas fechadas.” Outros se mostraram mais céticos com a propaganda do governo, mas ainda consideram uma guerra como sendo inevitável.

 “Nós estamos sempre aguardando pela invasão”, disse uma ex-professora de escola primária. “Meu filho diz que deseja que a guerra chegue, porque a vida é difícil demais e nós provavelmente morreremos de qualquer forma de fome.”

Eles e outros norte-coreanos falaram apenas sob a condição de anonimato, em conversas em grande parte arranjadas pelas igrejas clandestinas que operam na China, no outro lado da fronteira. Se fossem identificados como viajando ou trabalhando ilegalmente na China, eles poderiam ser deportados e presos, assim como seus parentes. Aproximadamente metade dos entrevistados disse que planeja voltar à Coreia do Norte; a outra metade espera desertar para a Coreia do Sul.

Em muitos detalhes, seus relatos, feitos separadamente, se encaixam. Eles também reforçaram as descrições dos economistas e analistas políticos de um país abatido.

 Uma economia em retração

Citando fotos aéreas de chaminés sem fumaça, os economistas dizem que aproximadamente três entre quatro fábricas norte-coreanas estão inativas. A economia está em retração desde 2006, quando Kim Jong-il se retirou das negociações multilaterais visando encerrar seu programa de armas nucleares. O afundamento do Cheonan abalará ainda mais a economia: a Coreia do Sul suspendeu quase todo o comércio, privando o Norte dos US$ 333 milhões por ano em vendas de peixes, frutos do mar e outras exportações.

Quando a Península Coreana foi dividida em 1945, a Coreia do Sul era mais pobre do que sua vizinha. Atualmente, seu trabalhador ganha em média 15 vezes mais do que um norte-coreano, segundo dados corrigidos pelo custo de vida. O número de desertores que chegam pela China à Coreia do Sul tem crescido constantemente ao longo da última década, chegando a quase 3 mil no ano passado.

As taxas de mortalidade infantil e materna cresceram pelo menos 30% de 1993 a 2008, e expectativa de vida caiu em três anos, para 69 anos, no mesmo período, segundo os números do censo norte-coreano e do Fundo de População das Nações Unidas.

O Programa Alimentar Mundial da ONU diz que 1 entre 3 crianças norte-coreanas com menos de 5 anos é desnutrida. Mais de 1 entre 4 pessoas precisa de ajuda alimentar, diz a agência, mas apenas 1 entre 17 a receberá neste ano, em parte porque os doadores relutam em enviar ajuda a um país que insiste em desenvolver armas nucleares. A desvalorização da moeda apenas ampliou o sofrimento. Sua meta era desviar a receita da vasta economia clandestina norte-coreana –seus mercados de rua– para as empresas públicas sem dinheiro.

Os mercados são a única fonte de renda para muitos norte-coreanos, mas eles são uma afronta ao credo do governo de socialismo econômico. Teoricamente, todos, exceto os menores, idosos e mães de crianças pequenas, trabalham para o Estado. Mas as empresas estatais estão definhando há 30 anos, e os norte-coreanos fazem tudo o que podem para escapar de trabalhar nelas.

Os agricultores cuidam de seus próprios jardins enquanto ervas daninhas tomam as fazendas coletivas. Os trabalhadores urbanos faltam em seus empregos públicos para mascatearem de tudo, de metal retirado das fábricas desativadas até televisores contrabandeados da China.

 “Se você não praticar o comércio, você morre”, disse a ex-professora, uma mulher de 51 anos com rosto redondo e rabo-de-cavalo. Ela passou de uma funcionária pública obediente a uma comerciante fora-da-lei, mas mesmo assim não conseguiu escapar de sua situação difícil.

Famintos demais para estudar

Ela lecionou por 30 anos em uma escola primária em Chongjin, a terceira maior cidade da Coreia do Norte, com aproximadamente 500 mil habitantes. O que antes era um emprego de período integral se transformou em um de meio expediente em 2004: as escolas passaram a fechar ao meio-dia. Pelo menos 15 de seus 50 alunos abandonaram os estudos ou partiam após uma hora, famintos demais para poderem estudar.

 “É muito difícil ensinar uma criança com fome”, ela disse. “Até mesmo sentar em uma carteira é difícil para elas.” Os professores também passavam fome. Seu salário mensal mal comprava um quilo de arroz, ela disse. Com formação universitária, ela retirou sua própria filha da terceira série em 1998, a enviando para uma vizinha para aprender a costurar.

Ela abandonou seu emprego na escola em 2004 para vender macarrão de milho no principal mercado de Chongjin, um espaço de barracas com cobertura de plástico com metade do tamanho de um quarteirão da cidade, onde os comerciantes vendem principalmente produtos chineses, incluindo pasta de dente, agulhas para costura e DVDs das novelas sul-coreanas proibidas.

Mas o macarrão mal dava lucro, então ela tentou um comércio mais arriscado envolvendo produtos controlados pelo Estado: pinhão e frutas vermelhas utilizadas em um chá popular. Esse esquema ruiu em outubro. Após ela e seus sócios terem colhido 17 sacas de produtos de uma aldeia, um guarda em uma barreira confiscou todas elas em vez de aceitar suborno para deixar que passassem. Ela ficou com o equivalente a US$ 300 em dívidas.

Como ela, o operário de construção, um homem magérrimo de 45 anos com boa cabeça para números, decidiu que o empreendimento privado era a única salvação de sua família. Mas como homem, era mais difícil para ele se livrar de seu trabalho.

No papel, ele disse, uma construtora estatal de Chongjin o emprega. Mas a empresa possui pouco material de construção e não tem dinheiro para pagar seus funcionários. Assim, como mais de um terço dos trabalhadores, disse o operário, ele paga cerca de US$ 5 por mês para que um funcionário registre sua presença na empresa, para que ele possa trabalhar em outro lugar.

Esses pagamentos, comuns nas empresas estatais menores, supostamente mantêm as empresas solventes, disse uma mulher de 62 anos que é comerciante em Chongjin. Até mesmo uma empresa grande, como a usina de aço da cidade, não paga salários desde 2007, disseram ela e outros, apesar de seus operários receberem o equivalente a 10 dias de rações alimentares por mês.

 “Como as empresas sobreviveriam se não recebessem o dinheiro dos trabalhadores?” ela perguntou sem ironia. Recentemente, a empresa do operário de construção se tornou mais ativa. O Estado resolveu recuperar a única rua pavimentada de Chongjin e construir um hospital e uma universidade para o centenário em 2012 do nascimento de Kim Il-sung, o pai de Kim Jong-il e fundador da Coreia do Norte.

Mas a onda de projetos teve um custo: cada família foi obrigada a entregar 17 sacos de pedras todo mês para seu comitê local do partido. O operário de construção pediu aos seus pais idosos que procurassem em leitos de córregos e campos por pedras que a família quebrava à mão em pedras do tamanho de uvas.

Sem um salário do Estado, ele ganha dinheiro com sua inteligência. Todo mês de outubro, ele vende lulas pescadas com um barco que ele pilota nas águas costeiras traiçoeiras. Em outros meses, ele pedala cerca de 30 quilômetros à procura de bens para vender, geralmente detergente comprado de uma fábrica que é revendido por sua esposa com ágio de 12% em uma lona estendida do lado de fora do mercado principal. O governo periodicamente tenta intervir nos mercados, regulando preços, horas, tipos de bens vendidos, idade e sexo dos comerciantes e até mesmo se transportam seus produtos de bicicleta ou nas costas.

Economias dizimadas

Em um comunicado de 2007 do Comitê Central, Kim Jong-il se queixou de que os mercados se transformaram em “um berço de todo tipo de práticas não-socialistas”. A desvalorização da moeda em 30 de novembro os virou do avesso. O Estado decretou que um novo won, mais valioso, substituiria o velho won, mas que as famílias poderiam trocar apenas 100 mil wons, aproximadamente US$ 35 segundo a cotação do mercado paralelo, pelo novo. A medida na prática eliminou as reservas privadas de dinheiro.

Para amortecer o golpe, dizem os trabalhadores, lhes foi prometido que seus salários seriam restaurados caso retornassem aos seus empregos públicos. Na verdade, disseram o operário de construção e outros, eles receberam um mês de salário, em janeiro, antes dos salários desaparecerem novamente.

Alguns com contatos políticos evitaram o pior. Uma mulher de Hamhung, a segunda maior cidade da Coreia do Norte, disse que o diretor do banco local permitiu que seus parentes trocassem 3 milhões de wons, 30 vezes o limite oficial.

A esposa do membro do partido, com o cabelo levemente encaracolado, uma bolsa de grife pirata ao seu lado, se gabou de sua casa de seis cômodos com dois televisores coloridos e um jardim. Em seguida, ele elogiou a desvalorização como uma punição merecida para aqueles que tentaram enganar o Estado, apesar dela ter reconhecido que isso levou ao caos e ter lembrado que um alto funcionário financeiro foi executado devido à política.

 “Muita gente ruim enriqueceu por meio do comércio ilegal com a China, enquanto boas pessoas nas empresas estatais não tinham dinheiro suficiente”, ela disse. “Assim, os abastados perderam para os destituídos.” A ex-professora deu tudo o que tinha. Após seus credores a despojarem de todo seu dinheiro, ela disse, ela atravessou a pé o congelado Rio Tumen à noite e entrou na China em busca de ajuda de seus parentes que vivem lá. Faminta e apavorada, ela bateu aleatoriamente às portas até que um estranho a ajudasse a contatá-los.

Agora segura no lar de seus parentes, ela disse, ela se maravilha em como eles desfrutam de iguarias como pepinos no inverno. Mas abandonar temporariamente seu filho e filha, ambos na faixa dos 20 anos, a deixa tão tomada de culpa que às vezes ela nem consegue engolir os alimento diante dela. “Eu não sei se meus filhos conseguiram algum dinheiro ou se morreram de fome”, ela disse, com os olhos cheios de lágrimas.

Para o operário de construção, a notícia da desvalorização dada por sua irmã provocou uma corrida para tentar salvar o pé-de-meia da família. Ele esvaziou a gaveta do armário na sala de estar onde guardavam suas economias e dividiu com sua esposa e filha, dizendo: “Comprem o que conseguirem, o mais rápido que puderem.”

Os três correram furiosamente de bicicleta até o mercado de Chongjin. “Era como um campo de batalha”, ele disse. Milhares de pessoas tentavam freneticamente dar um lance mais alto que as outras por produtos, em uma tentativa frenética de converter o dinheiro que logo não valeria nada em algo palpável. Alguns preços subiram 10.000%, ele disse, antes dos comerciantes encerrarem as atividades, percebendo que seus lucros logo também não valeriam nada.

Os três disseram que voltaram para casa com 30 quilos de arroz, uma cabeça de porco e 100 quilos de tofu. A filha do operário conseguiu comprar uma pequena tábua de corte e um par de calças usadas. Juntos, eles disseram, eles conseguiram gastar o equivalente a US$ 860 em itens que teriam custado menos de US$ 20 no dia anterior.

Sua filha tentou confortá-lo. “Pai, eu guardarei essas calças até minha morte!” ela prometeu. Ele disse para ela que a tábua de corte seria seu presente de casamento.  “Naquele momento, eu realmente queria me matar”, ele disse. Ele gesticulou para a janela do esconderijo e para a noite de Yanji, bem iluminada e com tráfego agitado. “Não é como aqui”, ele disse. “Aqui não é grande coisa ganhar dinheiro. Lá, é sofrimento e sofrimento; sacrifício e sacrifício.”

Ele disse que não conseguia dormir noite após noite, fixado no agasalho esportivo que sua filha queria. Ela dizia que ele era muito melhor que o suéter de inverno e as calças comuns que ela usava. Ele a dissuadiu, porque os mais baratos custavam quase US$ 15. Quando ela insistiu demais no assunto, ele xingou e gritou: “As pessoas nesta casa precisam comer primeiro!”

 “Eu não posso descrever quão terrível me sinto por não tê-lo comprado para ela”, ele disse, com voz trêmula.

Um isolamento profundo

Os norte-coreanos que nunca cruzaram a fronteira não têm como ter ideia de suas tribulações. Não há Internet. Os aparelhos de rádio e televisão são soldados para receberem apenas os canais do governo. Até mesmo a esposa do membro do partido não tem telefone e lamenta sua falta de contato com o mundo exterior. Sua primeira pergunta para o estrangeiro foi: “Eu sou bonita?”

Lentamente, entretanto, a informação está entrando. Os mercadores voltam da China e relatam que as pessoas são mais ricas e comparativamente mais livres lá, e que os sul-coreanos supostamente são ainda mais. Alguns dos celulares dos comerciantes são ligados à redes de telefonia móvel chinesas, que podem ser camufladamente emprestados por taxas exorbitantes.

A punição por assistir filmes e programas de televisão estrangeiros é pesada. O comerciante disse que um vizinho de 35 anos passou seis meses em um campo de trabalhos forçados no ano passado, após ser pego assistindo “Dragões em Dose Dupla”, um filme de ação cômico de Hong Kong estrelado por Jackie Chan. Para desalento da ex-professora, seu filho de 26 anos corre riscos semelhantes.

Sua irmã é casada com um funcionário do governo na capital, Pyongyang, ela disse, mas nenhum deles é fã de Kim Jong-il. Em sua visita mais recente, ela disse, sua irmã sussurrou para ela: “As pessoas o seguem por medo, não por amor”. Desde a desvalorização da moeda, ela e outros disseram, as pessoas estão claramente mais ousadas nesses comentários.

 “Agora, no mercado, as pessoas falam tudo”, disse o operário de construção. “Elas dizem que o governo é ladrão –mesmo em plena luz do dia.” Sua esposa não era uma delas. Por semanas após a desvalorização, ele disse, ela ficou deitada na esteira no chão da sala de estar, imobilizada pela depressão. “Eu não tinha força para dizer nada para ela”, ele disse. Finalmente, ele disse para que ela se levantasse. Era hora de recomeçar. Fonte: UOL Noticias -11/06/2010

Comentário:

Ainda existem muita gente que elogia o comunismo ou socialismo onde a economia é inteiramente planejada pelo governo.

domingo, 4 de julho de 2010

Pimenta para bravos



Perto dela, malagueta, habanero e dedo-de-moça não passam de frágeis senhoritas. A nova rainha do quanto-mais-quente-melhor se chama Bhut jolokia e é simplesmente a pimenta mais forte do mundo.  

Quando a pimenta biquinho apareceu, fez fama por não ser ardida e em pouco tempo virou mania. Mas a moda agora é outra: quanto mais quente, melhor. As pessoas estão querendo pimentas cada vez mais fortes. Se fizer chorar, então, perfeito. Vale até provocar suadouros e desmaios.

A pimenta sensação atende pelo nome nada simpático de Bhut jolokia. É chamada também de pimenta-fantasma ou simplesmente de jolokia, como é mais conhecida. Seja qual for o nome, o fato é que ela é a pimenta mais forte do mundo - por enquanto - e isso não é força de expressão.

A jolokia foi criada em Tezpur, na Índia, há dez anos, fruto de um cruzamento entre as pimentas mais ardidas de que se tinha notícia. Sua pungência ultrapassa 1 milhão na escala Scoville.

Atraiu as atenções e espalhou-se pelo mundo, provocando lágrimas e fortes emoções. Pimenteiros em grupos de discussão já fizeram apologia dela e há até teses sobre o seu poder de fogo - a jolokia tem o dobro da pungência de variedades como a red sativa, a scotch bonnet e a habanero. Na internet, diversos sites vendem sementes de jolokia e frutos prontos para o consumo.

Por que um fruto que queima a boca faz tanto sucesso? Os especialistas têm uma boa explicação: pimenta vicia. "A pungência é interpretada como uma queimadura e o cérebro libera endorfina para combater o desconforto. Assim, a pessoa sente bem-estar. É uma espécie de recompensa", diz Arlete Marchi Tavares de Melo, pesquisadora de hortaliças do Instituto Agronômico de Campinas (IAC).

Mais que fã confesso, Nelusko Linguanotto Neto, dono da Bombay Food Services, admite ser um desses viciados em pimenta. De manhã, toma cápsulas "para garantir a pimenta do dia". "Vai que não consigo almoçar ou jantar", brinca o autor do Dicionário Gastronômico de Pimentas.

O ardor e o aroma da pimenta dependem de centenas de substâncias. Mas a pungência é causada principalmente pela capsaicina, substância presente em células da placenta, onde se ligam as sementes. É por isso que muita gente se confunde, achando que as sementes causam o ardor.

"Basta um leve toque nas células da placenta para que elas liberem a capsaicina e ‘contaminem’ as sementes e o fruto. A região mais ardida da pimenta é sempre o terço superior, perto do cabo", explica a Arlete.

Família Capsicum. Acredita-se que as pimentas sejam todas originárias da Bacia Amazônica. Ainda que tenham sabor e pungência distintas, a cambuci, o pimentão, o tabasco, as pimentas-de-cheiro e o jalapeño são parentes. Até a pimenta biquinho, grau zero de pungência, é prima da jolokia. Todas pertencem ao gênero Capsicum.

Os frutos têm sementes abundantes e fáceis de cultivar. E, por um capricho da natureza, a grande família das pimentas pode sempre agregar mais algum parente por meio de novos cruzamentos. Ou seja, se plantadas próximas, pimentas mais doces e mais picantes podem se reproduzir, dando origem a frutos de sabor e pungência variados.

Foi assim que surgiu, por exemplo, o tipo malaguetão: cruzamento da ardida malagueta com a menos picante dedo-de-moça. "Entre as 30 espécies de pimentas existentes, cinco são cultivadas: Capsicum chinense, Capsicum annuum, Capsicum baccatum, Capsicum frutescens e Capsicum pubescens", explica Arlete.

No Brasil, pimenta é fruta de se comer em porções pequenas ou a conta-gotas, fresca ou em conserva. "Não temos costume de secá-las e de processá-las em pasta como os peruanos", diz Cyro Abumussi, produtor da Fazenda Ituaú, no interior de São Paulo.

Com regiões bastante ensolaradas, o Brasil tem pimenta o ano todo. Os maiores produtores são Minas Gerais, Goiás, Pará, Ceará, Bahia e São Paulo. Além da dedo-de-moça (menos picante que a malagueta), as pimentas-de-cheiro (espécie Capsicum chinense) são abundantes aqui.

Os frutos são atarracados, em geral amarelados, e a pungência varia muito - por aqui vingam desde as pimentas-de-cheiro verdadeiras, de pungência média, às variedades chora-menino e pimenta-de-bode, bem ardidas.

"Por muito tempo as pessoas fugiram das pimentas ardidas achando que faziam mal. Era difícil encontrá-las em restaurantes, mas com a popularização das casas de comida mexicana e peruana, a pimenta passou a ser valorizada", diz Arlete.

COMO UMA DROGA

O efeito bombástico da pimenta começa na língua. Quando alguém morde uma pimenta, ela se rompe e libera a capsaicina, seu composto químico ativo mais importante. A substância estimula os receptores de calor e de dor presentes em toda a língua. O cérebro interpreta esse ardor como se a língua tivesse sido queimada. E faz com que os receptores opióides do sistema nervoso simpático produzam endorfina - responsável pela sensação de bem-estar. Esses receptores são os mesmos que respondem a algumas drogas. A capsaicina também altera o equilíbrio térmico do corpo, provocando ondas de calor e suor. Fonte: Estadão - 01 de julho de 2010 

Adiós Muchachos, El tango alemán

                              Hasta 2014 ?????



   






quinta-feira, 1 de julho de 2010

Lula: Hoje e Ontem

O assistencialismo, ao praticar a atenção às populações desfavorecidas, oferece a própria atenção como uma "ajuda", vale dizer: insinua, em uma relação pública, os parâmetros de retribuição de favor que caracterizam as relações na esfera privada. É pelo valor da "gratidão" que os assistidos se vinculam ao titular das ações de caráter assistencialista. O que se perde aqui é a noção elementar de que tais populações possuem o direito ao amparo e que, portanto, toda iniciativa pública, voltada ao tema da assistência caracteriza dever do Estado. O que se vislumbra, pelo assistencialismo, é a possibilidade dos assistidos "retribuírem" eleitoralmente a atenção recebida; por isso, os assistidos devem ser submissos e dependentes, não devem se organizar de forma autônoma e, muito menos, expressar demandas políticas como se sujeitos fossem. O assistencialismo é por isso mesmo, uma prática de dominação. Se vitorioso, ele produz objetos dóceis e manipuláveis. (Marcos Rolim)

Em ano eleitoral a Bolsa Família, reajuste  chega a 307%

Principal programa social do governo federal, o Bolsa Família terá um orçamento de R$ 13,7 bilhões em 2010. O valor implica em um reajuste de 307% perante a cifra inicial de R$ 3,4 bilhões aplicados em 2003, quando o programa foi lançado.

Para 2010, a ideia é ampliar o número de atendidos, que deve passar para 12,9 milhões de famílias. De acordo com estatísticas oficiais, os beneficiários aplicam os recursos recebidos fundamentalmente em alimentação, material escolar, remédios e vestuário infantil.

Considerando a média usual de quatro pessoas por família, isso equivale a 49,5 milhões de brasileiros atendidos, ou seja, 26% da população do país.

Nos últimos sete anos, foram aplicados no programa social R$ 55,2 bilhões, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), que administra o Bolsa Família.

Cabe às prefeituras a tarefa de realizar o cadastramento das famílias de baixa renda, por meio do Cadastro Único dos Programas Sociais do Governo Federal.

Esse tipo de programa é a ilusão do socialismo, o dinheiro sai do governo vai para os pobres,  gastam o dinheiro e volta de forma indireta através  de impostos de mercadorias, novamente para o governo. É um ciclo vicioso que não tira a família da pobreza. O mais interessante desse programa é o resultado, sempre ampliando a base de cobertura para família pobre, significando crescimento da pobreza. Em 2003 o programa abrangia  3 milhões de famílias e hoje quase 13 milhões de famílias.

Esse tipo de programa  não incentiva o trabalhador rural procurar emprego, pois ele perde o direito à aposentadoria especial antecipada. Os candidatos a esse tipo de aposentadoria –aos 55 anos para as mulheres e 60 para homens— são classificados como “segurados especiais”, não há necessidade de contribuir para a Previdência. Se registrado na carteira, vira “assalariado rural” e tem de contribuir à Previdência por 13 anos ou trabalhar mais cinco antes de se aposentar com o salário mínimo. Isso provoca a opção de muitos trabalhadores trabalharem no mercado informal. 

Eleição

Dois lavradores ouvidos por um jornalista, disseram que planejam votar “na tal mulher do Lula”. A dupla reside em lares alcançados pelo Bolsa Família. Num, recebe a mulher. Noutro, a mãe. Esse é o país dos coitadinhos espertos. É o Forrest Gump,  Contador de história.