quarta-feira, 29 de junho de 2011

Na TV, ex-marido nega ação armada de Dilma

Vai ao ar em cinco partes, a partir da próxima segunda-feira, o depoimento que Carlos Araújo, ex-marido da presidente Dilma Rousseff, gravou para a novela “Amor e Revolução”, do SBT.

Os depoimentos de ex-militantes de organizações de esquerda na época da ditadura são um dos chamarizes da trama de Tiago Santiago, e vão ao ar sempre no final dos capítulos.

Araújo será o primeiro entrevistado a ocupar cinco capítulos. No depoimento, ele negou a participação de Dilma em ações armadas, contou detalhes sobre o roubo do cofre do ex-governador Adhemar de Barros e falou sobre a prisão da presidente.

 “Eu tenho muito orgulho de ser companheiro da Dilma. Sempre nos identificamos. O nosso bom companheirismo persiste até hoje”, disse.

Ele conta que foi um dos fundadores da VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares ) e chama os assaltos que praticavam de “ações de desapropriação de bancos”.

Relata a prisão de Dilma em São Paulo e as sessões de tortura a que foi submetida. “Ela não ficou com sequelas. Felizmente. Ela entrou na cadeia nova e saiu nova.”

Araújo diz que o assalto ao cofre do Adhemar foi planejado pela necessidade de financiar as ações de guerrilha, que se avolumavam. “Tínhamos a informação de que o dinheiro do jogo do bicho era recolhido mensalmente e levado para a casa de Dona Ana Capriglione, no bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro, e depois mandado para o exterior. Soubemos disso, fomos lá e pegamos o cofre. Naquela época tinha aproximadamente US$ 2 milhões.”

Ele diz que tentou o suicídio depois que foi preso e torturado e negou a participação da ex-mulher em ações armadas. “A Dilma não participou de ação nenhuma. Não existe nenhum processo. Ela não participou de nenhuma ação armada porque não era o setor dela. Ela atuava em outros setores.” Fonte:Folha.com - 29´de junho de 2011

Comentário: Interessante para a esquerda e para a mídia, o que eles fizeram foram uma aventura romântica terrorista. Naquela época a sociedade não apoiou esse romantismo da esquerda  que nasceu na alienação dos movimentos estudantis. O mentor ou intelectual  é muito mais perigoso  pois ele formula a estratégia do terror, ele não mata diretamente, mas ele é o propelente.

Hoje na mídia a esquerda vende a imagem que naquela época era a Branca de Neve que foi passear na floresta e encontrou o lobo mau (ditadura). Não fizeram nada, não mataram, não torturaram, não seqüestraram, não mataram inocentes, não jogaram bombas, etc. Hoje eles são empresários, adoram a la dolce vita, buona vita, veja os Bons  Companheiros  do Molusco.  Todos estão bem empregados, aposentados ou encostados na Casa da Viúva  A Casa da Viúva é aquela boa senhora que paga as contas. O nosso Brasil

O roubo ou, melhor,  o seqüestro ou desapropriação de bancos do mísero 2 milhões de dólares, equivale, hoje, apenas 34 milhões  de dólares. Pode ser considerado o segundo maior roubo da história no país.

Veja o documento liberado para consulta pública sobre VAR-Palmares

VAR-Palmares planejou execução de militares

Documentos do grupo guerrilheiro, no qual militou a presidente Dilma, indicam planos para ‘justiçamento’ de oficiais do Exército

Com cinco páginas, o relatório A Campanha de Propaganda Militar, redigido por líderes do grupo, avalia que a eliminação de agentes da repressão seria uma forma de sair do isolamento. O texto foi apreendido em um esconderijo da organização, o chamado aparelho, e encaminhado em caráter confidencial ao então Ministério da Aeronáutica.

O arquivo inédito, revelado pelo Estado no ano passado e aberto à consulta pública na terça-feira, 12, faz parte do acervo do Centro de Segurança e Informação da Aeronáutica (CISA). No Arquivo Nacional, em Brasília, novo endereço do acervo que estava em poder do serviço de inteligência da Aeronáutica, há um conjunto de documentos que tratam da VAR-Palmares. Mostram, entre outras coisas, a participação de militares da ativa e a queda de líderes do grupo em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo.

Os nomes dos integrantes do grupo receberam uma tarja preta, o que impede estabelecer relações diretas entre eles e as ações relatadas. É possível saber, por exemplo, que militantes de Belo Horizonte receberam em certa ocasião dez revólveres calibre 38 e munição, mas não os nomes desses militantes.

Na primeira página, o relatório de cinco páginas destaca que o grupo não tem "nenhuma possibilidade" de enfrentar os soldados nas cidades. Sobre o justiçamento de militares observa: "Deve ser feito em função de escolha cuidadosa (trecho incompreensível) elementos mais reacionários do Exército."

Extermínio. Na época da redação do texto, entre 1969 e 1970, a ditadura tinha recrudescido o combate aos adversários do regime. Falava-se em setores das forças de completo extermínio dos subversivos. Em dezembro de 1968, o regime havia instituído o AI-5, que suprimia direitos civis e coincidia com o início de uma política de Estado para eliminar grupos de esquerda.

A VAR-Palmares surgiu em 1969 com a fusão do grupo Colina (Comando de Libertação Nacional), em que Dilma militava, com a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), do capitão Carlos Lamarca. Dilma, à época com 22 anos, foi presa em janeiro de 1970 em São Paulo. Ela só foi libertada em 1972, após passar por uma série de sessões de tortura. Sempre que fala sobre seu envolvimento com a resistência ao regime militar, Dilma costuma ressaltar que sua visão atual da vida não tem "similaridade" com o que pensava durante o tempo de guerrilha.

O documento tornado público classifica as ordens como contraofensiva. Seria uma resposta aos "crimes" do regime militar contra a esquerda: "O justiçamento punitivo visa especialmente paralisar o inimigo, eliminando sistematicamente os cdf da repressão, os fascistas ideologicamente motivados que pressionam os outros."

O texto também dá orientações sobre como definir e vigiar possíveis alvos. A ideia era uma fazer uma lista dos oficiais "reacionários" e de pessoas ligadas à CIA, a agência central de inteligência dos Estados Unidos.

A VAR-Palmares tinha definido como alvos prioritários o delegado Sérgio Paranhos Fleury, do DOPS, e seu subordinado Raul Careca, acusados de comandarem a máquina da tortura nos porões de São Paulo: "Careca, Fleury são assassinos diretos de companheiros também. Trata-se de represália clara. Já outros investigados serão eliminados sob condição, conforme vimos acima." Fonte: O Estado de São Paulo - 13 de abril de 2011 

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Aimi Eguchi - Real ou Virtual

No mais recente movimento  pop-japonês em direção as estrelas virtuais ou fictícias, com a inclusão de mais um membro a uma banda formada de garotas japonesas com milhões de superfãs termina em não ser real.
Aimi Eguchi estrelou um comercial de doces logo depois de entrar para o grupo AKB48,  exibindo cabelo perfeitamente penteado, feições proporcionais, e divulgando o doce com uma voz doce e insípida .
Os fãs de AKB48 desconfiaram imediatamente, pois todos os anos, os fãs escolhem do grupo a mais popular e geralmente, é a que aparece nos comerciais.  De acordo com Eguchi, que detalhou sua idade, cidade natal, e hobbies, ela era apenas uma modesta  "estudante de pesquisa." Seria possível que Eguchi nem existisse?  
Assista ao comercial de doces estrelado pela Eguchi.
Logo após o comercial que foi ao ar, a empresa de doces Ezaki Glico, admitiu que Aimi Eguchi  era apenas uma personagem gerada por computação gerada por imagem facial, com as melhores características de cada membro da banda.
O manager da banda  AKB48 inicialmente tentou defender a humanóide  Eguchi, dizendo: "Ela é real!  Ela não participou do 12th Generation Auditions, mas tivemos que rapidamente aceitá-la".
Mas um vídeo no Hub Singularity , mostrou o making de Aimi Eguchi e provou uma vez por todas que ela foi gerada por computação gráfica.
Eguchi é outro exemplo da tendência pop-japonesa em direção as estrelas virtuais ou fictícias. Fonte: The Washington Post - 06/23/2011

Video: Outro exemplo difícil  reconhecer  a imagem real da virtual
Comentário: Com a tecnologia digital, daqui a pouco o internauta criará sua própria Barbarella e  com a realidade virtual em 3D penetrará na tela e terá sua girlfriend e outras coisas mais.

sábado, 25 de junho de 2011

Guerra da Tríplice Aliança: Sem passado não há futuro



Exatamente o que Solano Lopes pretendia ao invadir o Brasil em dezembro de 1864 e junho de 1865, matando, estuprando, roubando e torturando brasileiros nas terras que habitavam havia gerações não se sabe. Já o revisionismo histórico que se pratica há mais de quarenta anos no Brasil em relação à Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870) é mais fácil de estimar: levar a luta ideológica ao extremo de negar a nacionalidade.

Num átimo, aplica-se o socialismo utópico ao Paraguai do século XIX, transformando uma nação pobre submetida a gerações de autocratas num bastião da luta antiimperialista contra o Brasil e a Inglaterra. Pouco importa que o Brasil estivesse rompido com a Inglaterra havia mais de dez anos, que o Brasil tivesse apoiado a independência paraguaia, que o Brasil tivesse procurado chegar a algum tipo de acordo sobre fronteiras antes do conflito, que o Brasil tivesse sofrido o apresamento de um navio e uma invasão predatória e que o Brasil, depois de sustentar praticamente sozinho uma guerra sangrenta e custosa, tivesse se comedido na vitória, garantindo a soberania e a integridade territorial paraguaias, mesmo à custa de forte discordância com aliado.

Dada a facilidade com que o revisionismo histórico se alimenta da distorção de acontecimentos de há mais de um século, a comissão da “verdade” que o governo pretende impor à sociedade brasileira deveria estabelecer como marco cronológico inicial de seus trabalhos o século XIX. Quem sabe assim, de um debate não controlado pela esquerda revolucionária incrustada no governo, tivéssemos nossa História de volta, apagada dos livros de nossos filhos e netos pela fúria sindicalista e ideológica que transbordou aos currículos escolares.

A Guerra da Tríplice Aliança (12 de novembro de 1864 a 1º de março de 1870) se desdobrou nas campanhas de Mato Grosso (invadido a 27 de dezembro de 1864 e ocupado até abril de 1868), de Corrientes, na Argentina, (13 de abril a 5 de outubro de 1865), do Rio Grande do Sul (10 de junho a 18 de setembro de 1865) e do Paraguai (5 abril de 1866 a 1º de março de 1870), combatidas as três primeiras nos territórios invadidos do Brasil e da atual Argentina. O comando-em-chefe das tropas brasileiras foi desempenhado pelo General Osório e pelo General Polidoro, antes de o Duque de Caxias exercê-lo no período de 18 de novembro de 1867 a 19 de janeiro de 1869, e posteriormente pelo Conde D´Eu até o final da guerra. Diante desses fatos históricos, vitimizar o Paraguai e acusar Caxias só podem servir muito bem a um propósito: desmoralizar a maior atuação do Exército Brasileiro na sua missão de defesa da Pátria e a figura de seu patrono que o conduziu à vitória.

Não é pela manutenção do sigilo de documentos de estado que o Brasil se singulariza, pois não se tem notícia que Cuba, Coréia do Norte, China e a URSS antes de sua derrocada tenham aberto os seus arquivos ou estabelecido qualquer prazo para fazê-lo. Quem visitar os sítios históricos da Campanha do Paraguai nos dias de hoje vai notar o cuidado sistemático com que os paraguaios reconstroem a “Guerra Grande” segundo a sua perspectiva patriótica. Desde o túmulo napoleônico de Solano Lopez à discreta exibição num obscuro museu próximo ao Rio Paraguai do cruel instrumento de imobilização dos prisioneiros, passando por obras de arte e narrativas que enaltecem os combatentes paraguaios, sem esquecer o parque histórico Vapor-Cué, onde se findou a esquadra paraguaia e estão expostos os navios de guerra guaranis restaurados, aí incluído o patrimônio brasileiro tomado na invasão de Mato Grosso, verifica-se que os paraguaios estão fazendo na paz, sem a menor cerimônia, o que fizeram na guerra – defender o seu país. O Brasil não se singulariza pelo trato a documentos de estado, mas sim por ser o único que denigre a própria história. Não há nação no mundo do tamanho e, pior, com as pretensões do Brasil que dedique à sua história, em particular à militar, esse tratamento.

O Exército é uma instituição nacional e permanente. Não é justo ultrajá-lo, negando-lhe até mesmo ter defendido a Pátria. O mal que assim faz é ao país que não chegará a lugar algum ferindo a si mesmo.

País sem futuro é país sem passado.

Sérgio Paulo Muniz Costa- historiador, é membro do CPE da UFJF, pesquisador de Segurança e Defesa do CEBRI e responsável pela Clio Consultoria Histórica. Foi Delegado do Brasil na Junta Interamericana de Defesa, órgão de assessoria da OEA para assuntos de segurança hemisférica.

Comentário: O passado é cheio de vida e seu rosto irrita, revolta, fere, a ponto de querermos destruí-lo ou pintá-lo de novo. Só queremos ser mestres do futuro para podermos mudar o passado. Lutamos para ter acesso aos laboratórios onde se pode retocar as fotos e reescrever as biografias e a História. Milan Kundera. O livro do riso e do esquecimento.

Retirada de Laguna

Durante o Segundo Império (governo de Dom Pedro II), o fato mais importante que ocorreu foi a Guerra da Tríplice Aliança, movida pela República do Paraguai contra o Brasil, Argentina e Uruguai, iniciada a 27/12/1864 e terminada a 01/03/0870 com a morte do Presidente do Paraguai, Marechal Francisco Solano Lopez, em Cerro-Corá.

Os episódios mais notáveis ocorridos em terras matogrossenses durante os 5 anos dessa guerra foram: a) o início da invasão de Mato Grosso pelas tropas paraguaias, pelas vias fluvial e terrestre; b) a heróica defesa do Forte de Coimbra.; c) o sacrifício de Antônio João Ribeiro e seus comandados no posto militar de Dourados. d) a evacuação de Corumbá; e) os preparativos para a defesa de Cuiabá e a ação do Barão de Melgaço; f) a expulsão dos inimigos do sul de Mato Grosso e a retirada da Laguna; g) a retomada de Corumbá; h) o combate do Alegre; Pela via fluvial vieram 4.200 homens sob o comando do Coronel Vicente Barrios, que encontrou a heróica resistência de Coimbra ocupado por uma guarnição de apenas 115 homens, sob o comando do Tte. Cel. Hermenegildo de Albuquerque Portocarrero. Pela via terrestre vieram 2.500 homens sob o comando do Cel. Isidoro Rasquin, que no posto militar de Dourados encontrou a bravura do Tte. Antônio João Ribeiro e mais 15 brasileiros que se recusaram a rendição, respondendo com uma descarga de fuzilaria à ordem para que se entregassem.

Foi ai que o Tte. Antônio João enviou ao Comandante Dias da Silva, de Nioaque, o seu famoso bilhete dizendo: "Ser que morro mas o meu sangue e de meus companheiros será de protesto solene contra a invasão do solo da minha Pátria" A evacuação de Corumbá, desprovida de recursos para a defesa, foi outro episódio notável, saindo a população, através do Pantanal, em direção a Cuiabá, onde chegou, a pé, a 30 de abril de 1865.

Na expectativa dos inimigos chegarem a Cuiabá, autoridades e povo começaram preparativos para a resistência. Nesses preparativos sobressaia a figura do Barão de Melgaço que foi nomeado pelo Governo para comandar a defesa da Capital, organizando as fortificações de Melgaço. Se os invasores tinham intenção de chegar a Cuiabá dela desistiram quando souberam que o Comandante da defesa da cidade era o Almirante Augusto Leverger - o futuro Barão de Melgaço -, que eles já conheciam de longa data. Com isso não subiram além da foz do rio São Lourenço. Expulsão dos invasores do sul de Mato Grosso- O Governo Imperial determinou a organização, no triângulo Mineiro, de uma "Coluna Expedicionária ao sul de Mato Grosso", composta de soldados da Guarda Nacional e voluntários procedentes de São Paulo e Minas Gerais para repelir os invasores daquela região. Partindo do Triângulo em direção a Cuiabá, em Coxim receberam ordens para seguirem para a fronteira do Paraguai, reprimindo os inimigos para dentro do seu território.

A missão dos brasileiros tornava-se cada vez mais difícil, pela escassez de alimentos e de munições. Para cúmulo dos males, as doenças oriundas das alagações do Pantanal matogrossense, devastou a tropa. Ao aproximar-se a coluna da fronteira paraguaia, os problemas de alimentos e munições se agravava cada vez mais e quando se efeito a destruição do forte paraguaio Bela Vista, já em território inimigo, as dificuldades chegaram ao máximo. Decidiu então o Comando brasileiro que a tropa seguisse até a fazenda Laguna, em território paraguaio, que era propriedade de Solano Lopez e onde havia, segundo se propalava, grande quantidade de gado, o que não era exato. Desse ponto, após repelir violento ataque paraguaio, decidiu o Comando empreender a retirada, pois a situação era insustentável.

Iniciou-se aí a famosa "Retirada da Laguna", o mais extraordinário feito da tropa brasileira nesse conflito. Iniciada a retirada, a cavalaria e a artilharia paraguaia não davam tréguas à tropa brasileira, atacando-as diariamente. Para maior desgraça dos nacionais veio o cólera devastar a tropa. Dessa doença morreram Guia Lopes, fazendeiro da região, que se ofereceu para conduzir a tropa pelos cerrados sul mato-grossenses, e o Coronel Camisão, Comandante das forças brasileiras. No dia da entrada em território inimigo (abril de 1867), a tropa brasileira contava com 1.680 soldados. A 11 de junho foi atingido o Porto do Canuto, às margens do rio Aquidauana, onde foi considerada encerrada a trágica retirada. Ali chegaram apenas 700 combatentes, sob o comando do Cel. José Thomás Gonçalves, substituído de Camisão, que baixou uma "Ordem do dia", concluída com as seguintes palavras: "Soldados! Honra à vossa constância, que conservou ao Império os nossos canhões e as nossas bandeiras".  Historiador: Paulo Pitaluga Costa e Silva

A qualidade da universidade brasileira

Sabemos por que nossas universidades são deficientes; resta ver se temos vontade política para mudar, o que ainda não conseguimos fazer

Há exatos 35 anos, em 22/6/1976, escrevi o artigo inaugural da seção "Tendências/Debates", intitulado "Tecnologia e humanismo". Desde então, especialmente nos últimos dez ou 12 anos, ficou universalmente reconhecida a importância das universidades ditas de pesquisas para o desenvolvimento econômico de seus respectivos países.

Como consequência, proliferaram diferentes esquemas de avaliação, em que se incluem ordenações por qualidade (ranking).

Embora opiniões sobre o que seja qualidade divirjam, é notável a convergência das classificações das universidades de todo o mundo, realizadas com critérios distintos. Exemplo expressivo é o fato de que, dentre as dez primeiras classificadas, estão quase sempre as mesmas sete ou oito americanas e as duas ou três inglesas, quaisquer que sejam os critérios.

Essas características ocorrem até pelo menos a ducentésima posição, embora sem a mesma acuidade que no caso das dez primeiras. A pertinência dessas avaliações, incômodas, para dizer o menos, para certos acadêmicos, não surpreendentemente é contestada.

Se no Brasil as avaliações negativas de suas universidades serviram apenas para provocar ressentidos diatribes inconsequentes, em países maduros e em outros emergentes elas ao menos produziram tentativas de identificação das razões das deficiências de suas instituições de ensino superior; em alguns casos, reformas já foram encetadas.

O presidente da Universidade Yale (EUA), Richard C. Levin, em recente artigo na revista "Foreign Affairs", mostra como a China elegeu nove universidades (denominadas C9) para concentrar recursos, o que já havia acontecido com Japão, Coreia do Sul e Taiwan.

A agenda da Índia é ainda mais ambiciosa, com 14 universidades escolhidas. Os países que estão se desenvolvendo mais aceleradamente no Oriente imitam nesse aspecto os EUA e a Inglaterra.

A França encomendou um estudo a um grupo de intelectuais provenientes de vários países (a "Missão Aghion"), com a finalidade justamente de identificar as diferenças entre as grandes universidades do exterior e as francesas.

O relatório resultante serve melhor ao Brasil que à França. Abaixo, listamos as diferenças essenciais entre as universidades brasileiras e as universidades mais bem qualificadas dos EUA e da Inglaterra.

1 - O órgão máximo no Brasil, o conselho universitário, é constituído essencialmente por membros da corporação interna (70 na Unicamp e cem na USP), enquanto nas grandes universidades do exterior o órgão colegiado supremo é formado por uma grande maioria de cidadãos prestantes externos à universidade (entre dez e 15), frequentemente empresários, dirigentes de instituições da sociedade civil etc.

2 - Enquanto no Brasil eleições de reitores e diretores se fazem entre e por grupelhos da corporação interna, desnaturando a atividade acadêmica, nas boas universidades do exterior o conselho escolhe um comitê de busca para procurar seus reitores e diretores, principalmente fora da universidade.

3 - No Brasil, tudo favorece a endogenia ("inbreeding"), enquanto no exterior uma pluralidade de mecanismos é adotada para eliminá-la em todos os níveis da carreira universitária. São escolhidos fora da universidade os professores titulares e, por vezes, os associados.

4 - Finalmente, nas universidades americanas o pesquisador-docente só alcança estabilidade, e assim mesmo precária, no fim da carreira; aqui, começa como vitalício. Sabemos, portanto, por que nossas universidades são deficientes.

Resta ver se temos vontade política para mudar, o que não fizemos nesse intervalo de 35 anos.

Fonte: Folha de São Paulo - 22 de junho de 2011 - ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE, 79, físico, é professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), presidente do Conselho de Administração da ABTLuS (Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron) e membro do Conselho Editorial da Folha.

Comentário: A qualidade  da Universidade americana é a capacidade de gerenciar de forma empresarial e não perder o foco em ciência e tecnoligia. Aqui a universidade está  mais  preocupado com a rotina administrativa  e carreira acadêmica. Os quatro tópicos indicados no artigo dizem tudo sobre as deficiências das universidades brasileiras.

A universidade brasileira é como uma concha que desenvolve pérola que se fecha totalmente para a sociedade. Ela não participa da sociedade quanto a democratização do conhecimento, como uma estratégia  de produção de tecnologia e ciência  que sirvam a todos.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Rastros portugueses na comida japonesa

“Tempura deriva de uma receita popular portuguesa conhecida originalmente como peixinho-da-horta”, diz a Wikipedia.

E mais: “o nome (tempura) vem da palavra portuguesa ‘tempero’ “.

Em sites portugueses, encontrei várias receitas de "peixinhos-da-horta", que consistem de vagens (‘feijao verde’) empanada em um ‘polme’ – massa  – feito de farinha, água, ovo e cebola picada,  e frita em óleo. Outros legumes, como abóbora e pimentão, também são fritos desse jeito.

Não consegui descobrir a origem do nome "peixinhos da horta", mas o sagaz colega Rogerio Wassermann observou a semelhança visual de tempura com porções de ‘peixinho frito’;  ou seja, é bem provável que o nome surgiu de uma alusão visual a uma versão ‘vegetariana’ de uma porção de peixes empanados fritos.

Há outra versão para a origem do nome ‘tempura’, que diz que o nome deriva do hábito dos jesuítas de não comer carne vermelha “no tempo da Quaresma”, em latim "ad tempora quadragesimae".

Li ainda que os japoneses também se encantaram com vários doces portugueses. Ainda hoje, são populares as pequenas balas conhecidas localmente como kompeito (o nome deriva de ‘confeito’) e o bolo kasutera (uma versão do 'bolo de Castella’, um tipo de pão-de-ló).

Navegando ainda mais longe, descobri ainda que o curry vindaloo – um dos mais populares pratos servidos nos restaurantes indianos aqui na Grã-Bretanha – deriva de “carne de vinha d’alhos”, levada pelos portugueses a  Goa.

Para mim isso tudo é novo e incrível: entre os rastros mais fortes da passagem dos gloriosos navegadores portugueses, séculos atrás, por vários cantos do mundo, estão pratos típicos da "terrinha".

Nós ficamos com a feijoada, os japoneses com o tempura e os indianos com o curry vindaloo. Fonte: BBC Brasil - 13 junho 2011

Comentário: Navegando em sites  de gastronomia português encontrei a receita, peixinhos-da-horta. É muito popular em Portugal como entrada. Minha mãe fazia muito com berinjela ou com abobrinha italiana.

Ingredientes:

400 gr de feijão verde

125 gr de farinha com fermento

1 colher de sopa de azeite

100 ml de cerveja ou leite

2 ovos inteiros

sal e pimenta q.b.


Preparação:
Aparam-se as pontas do feijão e cortam-se em pedaços de 10 cm. Lavam-se e cozem-se em água a ferver cerca de 5 minutos. Devem ficar semi-cozidos. Escorrem-se e deixam-se arrefecer.

Faz-se então o polme: deita-se a farinha numa tigela e ao centro abre-se uma cavidade na qual se deita o azeite, uma pitada de sal, pimenta, a cerveja ou leite e começa-se a mexer aos poucos do meio para as pontas.Vai-se juntando os ovos um a um e bate-se bem a massa para ligar melhor. Deixa-se repousar meia hora.

Depois envolve-se os pedaços de feijão verde na massa um a um (pode ser com a ajuda de um garfo) e fritam-se em óleo quente. Escorrem-se bem e estão prontos a servir.

Carne Vinha d'Alhos

É um dos principais pratos tradicionais associados à Festa, sendo confeccionado na maioria dos lares madeirenses. Alguns restaurantes apresentam o receituário tradicional ao longo do ano, no entanto, é nesta quadra festiva que encontra maior procura. Aqui fica a minha sugestão, sabendo que este é um prato que pode ser confeccionado de muitas formas, dependendo da sua apresentação à mesa.

Bom apetite!

Ingredientes:

1 kg de lombo de porco (ou entremeada)

2 dentes de alho

1 folha de louro

1 ramo de segurelha

200 ml de vinho branco

100 ml de vinagre

sal e pimenta da terra

1 cebola

1 nabo

2 colheres de sopa de banha

750 g de semilha miúda

Corte a carne aos cubos e deixe a marinar durante dois dias com o vinho, o vinagre, os dentes de alho, a segurelha e o louro cortado em pedaços, sal e a pimenta. No dia em que utilizar a carne, refogue a cebola e a banha. Junte a carne e a marinada e deixa-se cozer com o nabo cortado às rodelas finas. A meio da cozedura da carne, junte as semilhas descascadas e deixe cozer.

Pode optar por fritar a carne com a marinada que depois vai a acompanhar o pão de casa fatiado, frito na mesma gordura da cozedura. Serve-se com semilhas descascadas e passadas como o pão e com legumes cozidos à parte. Fonte: Gastronomia de Madeira

domingo, 19 de junho de 2011

Macarrão é a comida preferida pela maioria das pessoas



Esqueça comida japonesa, bifes e batatas fritas. Pesquisa realizada em 17 países pela organização Oxfam sobre a forma como as comem hoje revelou que a massa foi eleita o prato favorito. O resultado sugere uma ocidentalização cada vez maior dos cardápios em detrimento dos alimentos tradicionais em cada país.

No Brasil, o três pratos favoritos da população são lasanha, arroz e massa. Apesar de os alimentos nacionais ainda serem populares, como a paella na Espanha, costela de vitela na Alemanha e biryani na Índia, pizza e macarrão são agora as comidas favoritas para a maioria, com mais da metade dos países - 9 de 17 - listando um ou os dois entre suas três comidas favoritas.

A pesquisa foi realizada para a nova campanha da Oxfam, que faz um apelo aos governos e grandes corporações para resolverem o problema do sistema global de alimentos e garantir que todo mundo tenha acesso a comida suficiente. O trabalho mostrou que os preços das comidas são um motivo de preocupação comum e que as dietas das pessoas estão mudando, com muitos não comendo as mesmas coisas que consumiam há dois anos.

No Reino Unido, pratos populares com curry alcançaram apenas o quarto lugar, com os britânicos elegendo o bife como seu prato favorito, seguido por massa e frango. Os Estados Unidos optaram por pizza, enquanto a Austrália foi o único país que escolheu um doce, o chocolate, que ficou em 15º lugar no ranking global.

Apesar da popularidade dos pratos ocidentais, os fast foods não foram a primeira escolha para muitas pessoas, com o KFC ficando em 107º lugar, à frente apenas do McDonald's, em 113º.

Os dez primeiros colocados no mundo todo foram:

1- Macarrão

2- Carne

3- Arroz

4- Pizza

5- Frango

6- Peixe e frutos do mar

7- Vegetais

8- Comida chinesa

9- Comida italiana

10- Comida mexicana

Dos países em desenvolvimento ao Reino Unido e os Estados Unidos, a pesquisa mostra que o custo da comida é uma preocupação no mundo todo. Sessenta e seis por cento das pessoas dizem que esta é sua principal preocupação sobre o que elas e suas famílias comem.

Saúde e nutrição foram a segunda maior preocupação no mundo todo, com 43% das pessoas afirmando que essas são umas de suas principais preocupações. No Reino Unido, 53% dos entrevistados se preocupam com o quão os alimentos que consomem são saudáveis ou nutritivos.

O diretor da campanha da Oxfam, Phil Bloomer, comentou:

- A atitude do mundo para a comida está mudando, diante dos aumentos de preços. Mais e mais de nós estamos mudando a forma como comemos e é vital que nós mudemos o jeito como pensamos nossa comida. O sistema global que deveria atender a todos nós está quebrado, deixando uma em cada sete pessoas com fome todos os dias e muito mais preocupados com o aumento dos preços. A comida é um de nossos maiores prazeres e um de nossos direitos mais básicos.Fonte: Globo Online - 17/06/2011 

Comentário: A comida italiana não é sofisticada, predomina a simplicidade, molho natural, etc. Ainda predomina a comida artesanal, caseira, etc. É a comida mediterrânea

A Itália é a grande mama da cozinha ocidental. A Itália é considerada o berço da cozinha ocidental por ter sido palco de dois grandes episódios da nossa história: o Império Romano e o Renascimento.

O intenso comércio de alimentos na região durante o império, centrado no suntuoso mercado circular da cidade de Roma, fez transitar pelo local caravanas recheadas de alimentos vindos de toda a Europa, África e Oriente: cereais, pão, vinho, azeitona, legumes e frutas secas e frescas, amêndoas, nozes, avelãs, pinhões, leite, queijo, ovo, arroz, especiarias, massa seca, porco, carneiro, faisão, galinha, avestruz, peixes, moréia, moluscos, lebre, javali e antílope.

A conquista de Sicília, Sardenha e Córsega levou o gosto pela abundância e pelo luxo dos gregos para as cozinhas e os salões italianos, onde passa a imperar a gula, saciada pelo excesso de carnes regadas a molhos concentrados, especiarias e ervas aromáticas, acompanhadas de muito pão e vinho.

Por sua vez, o Renascimento trouxe novo brilho às artes e à gastronomia local. Entre os séculos XIV e XVX, cidades como Veneza e Florença se converteram em centros de refinamento cultural e artístico. Foi nessa época que os banquetes e os exageros da Idade Média cederam lugar ao requinte, à sobriedade e à moderação da nova corte européia. Surgia a alta gastronomia, que prezava a moderação no cozimento e no uso de especiarias, assim como os bons modos à mesa.

Os italianos dispensam preparos sofisticados, valorizam o sabor e o perfume natural dos ingredientes de suas terras, considerados alguns dos melhores da Europa e complementam com molho e tempero. À mesa, os melhores momentos são oferecidos pelas pastas, peixes, frutos do mar e cortes especiais de carne, como o ossobuco e o escalope de vitela. Estes pratos são preparados com azeite de oliva e recebem generosas doses de ervas frescas, como alecrim, estragão, salsa, sálvia, tomilho, manjerona, orégano, manjericão e folhas de louro. São também amplamente utilizados na cozinha italiana alho, cebola, atum, presunto, bottarga, funghi porcini, anchova, mussarela de búfala, tomate e alcaparra. Como complemento, estão sempre presentes pães e excelentes vinhos produzidos no país.

sábado, 18 de junho de 2011

Reféns do crack - O drama de uma família

Da noite de segunda-feira até o meio da tarde de quinta-feira, a família de uma socióloga de 34 anos e seu filho de dois anos enfrentou um pesadelo. Ao se dirigir a uma boca de fumo no Campo da Tuca, na Capital, para comprar crack com a criança, permaneceu presa por ordem de traficantes. Sua libertação, após o sumiço ganhar repercussão na imprensa, a livrou do domínio dos bandidos, mas não garantiu a soltura de um longo cárcere imposto pela dependência química.

Enquanto a quadrilha possivelmente buscava maneiras de conseguir dinheiro com sua captura, ela era mantida sob efeito permanente da pedra. Em razão disso, deixou o cativeiro com dificuldades para respirar e foi imediatamente internada em uma clínica para desintoxicação. O menino, resgatado faminto e assustado, é mantido sob os cuidados da avó, professora universitária de 63 anos, e do irmão mais velho da dependente, também sociólogo, de 38 anos. Ainda abalados com o episódio, ontem à tarde os dois familiares receberam ZH em um apartamento na Capital para narrar o drama de quem luta para se livrar das grades invisíveis do crack. Confira trechos da entrevista.

 “Nós ficamos apavorados”.

Zero Hora – Como começou a dependência química?

Mãe – A minha filha já era uma dependente em potencial, por questões químicas, biológicas. Hoje, depois de começar o tratamento, que eu comecei a participar de reuniões e também fazer terapia, eu entendo melhor o problema. Antes, quando eu descobri que ela estava usando crack, eu trabalhava muito na pressão e na cobrança.

ZH – Como a família descobriu o vício?

Mãe – Muda o comportamento. Começa a não cumprir as suas obrigações, a ter atitudes...a sumir coisas, a vender. Hoje ela tem 34 anos, começou com pouco mais de 30. Ela se formou na Ulbra em Ciências Sociais, trabalhava, tinha carro. Ela trabalhava mais na área de eventos, sempre gostou muito de eventos, capacitação de pessoas, divulgação. Eu descobri quando vi um cachimbo enrolado em uma meia.

Irmão – Eu encontrei uma lata de refrigerante furada, que os usuários utilizam para fumar. Ela começou a trocar celular, roupas, pneu de carros, estepe, macaco, rádio, e para recuperar essas coisas eu ia nos traficantes para pagar e recuperar. Até que tive conversa com o tio e o pai e disse “não dá mais, tem de internar”. Aí o pai e a mãe abriram os olhos. Antes, só cobravam, tiravam o carro, tinha atitude de punição, mas não de tratamento.

ZH – Ela morava sozinha?

Mãe – Um tempo ela morou sozinha, depois comigo. O crack tem um perfil diferenciado, tu vendeu até o tênis que tu tem. O tênis, o relógio, o sapato. Tu começa a viver em um baixo mundo, mesmo. Nós morávamos em Porto Alegre, depois fui morar na praia, levei ela comigo, eu vinha trabalhar em Porto Alegre e ela trabalhava lá em uma empresa, mas o problema continuava presente. Ela viveu um período com um rapaz que também era dependente e ficou grávida. Aí foi assustador, porque estava grávida e fumando.

ZH – Mesmo durante a gravidez não conseguiu ficar longe do crack?

Mãe – Ela conseguiu um tempo, pelo menos, mas de vez em quando recaía. Mas até o filho dela nascer, a gente não tinha bem noção do que era essa doença. Ela tinha acompanhamento psiquiátrico e psicológico, mas não era um tratamento. Ela começou a se tratar realmente a partir do momento em que baixou numa clínica, quando o filho já estava com seis meses.

ZH – Por que não deu certo?

Mãe – Porque o tratamento do crack não é de 30 dias, 40 dias. Ele tem de ser contínuo. Eu aprendi isso. É uma doença, é uma coisa séria e tem de tratar de maneira diferente. Se a família não se envolver 24 horas por dia, não adianta. Por que a minha filha ficou mais de um ano sem usar? Porque quando comecei a entender o procedimento, ela largou emprego, amigos e ficou só comigo. Em casa, era só eu e ela. Se eu saía para trabalhar, ficava uma atendente terapêutica com ela. E não é barato esse tipo de serviço. Aí começou a melhorar, porque enquanto os usuários têm recaídas frequentes, eles não têm compreensão da coisa. A droga não deixa ver que o que está destruindo a tua vida é a própria droga. E não existe neste país tratamento para crack. É ilusão, é sonho o que dizem. Há vagas para desintoxicação, mas não tratamento.

ZH – Nem com plano de saúde?

Mãe – O plano paga 30 dias de internação por ano. É muito pouco. Ela ficou internada seis meses, mas estamos discutindo o pagamento com o plano de saúde na Justiça.

ZH – Ela havia deixado a clínica havia muito tempo?

Mãe – Em outubro passado. Ela estava em tratamento, mas em casa, comigo. Como ela estava indo bem, até comecei a afrouxar um pouco a vigilância. Acho até que muitas pessoas devem me julgar, dizer que eu não podia ter deixado ela, mas quando tu lida com isso, é uma coisa tão terrível, é uma exigência 24 horas para ti.

ZH – E como fica a rotina nessas condições?

Mãe – Eu não tenho mais vida. Eu sou aposentada do Estado, mas continuo trabalhando em uma universidade porque, se eu parar de trabalhar, não vou ter dinheiro para pagar o tratamento da minha filha. Tenho 63 anos e ainda trabalho muito. Trabalho 40 horas por semana na universidade, mas aí sempre tem alguém com ela. O meu neto passa o dia em uma escolinha muito boa, é muito bem cuidado, eu já fui lá, ela me acompanhou. Ela nunca se negou a isso. Mas tu ouve que tem gente que fica 10 anos limpa e recai. Os psiquiatras nos dizem que a recaída faz parte do tratamento. Mas o que aconteceu agora foi horrível porque ela levou a criança. E porque caiu em lugar em que ficou presa ali. Tu aprende a ver o perfil da recaída de cada pessoa. Todo dependente tem um perfil.

ZH – Qual o perfil da sua filha?

Mãe – Ela nunca levava a criança. Jamais. E, quando sumia, era oito horas, nove horas no máximo e a gente já sabia onde ela estava, porque ela ia sempre aos mesmos lugares em Porto Alegre. Era em um beco da Nilo Peçanha ou no Humaitá, o meu filho já sabia o roteiro e achava ela de carro em seguida. Mas, desta vez, ela sumiu. Ele virou a cidade, virou esses lugares de cabo a rabo, rodou esses lugares por sete, oito horas direto. Ninguém viu. Nós ficamos apavorados, porque fugiu do perfil.

ZH – Como foi a busca?

Mãe – O carro havia sumido, e a Polícia Civil e a Brigada Militar já estavam atrás deles. Mas amigos do meu filho sugeriram avisar a imprensa, porque os traficantes têm de ouvir que a polícia já está envolvida. Aí meu filho entrou em contato com o delegado Zucco (Rodrigo Zucco, do Denarc), que era colega dele no Colégio Militar, que disse que a nossa ação estava certa. Conversamos com o Sérgio Zambiasi, e quando foi 15h, o carro foi localizado.

ZH – O que houve depois?

Mãe – Dali a uma hora, recebi telefonema da minha filha. Passei para o meu filho, e ela pediu ajuda para ele. Ele perguntou: onde tu está? Ela disse “não sei, acho que estou em Viamão”.

Irmão – Quando eu liguei para o delegado Zucco para dizer que a minha irmã havia ligado, ele disse “já sei onde ela está, estamos nos dirigindo para lá”. Eu fui para lá também mas fiquei esperando com a minha mãe na Avenida Bento Gonçalves. Uma viatura nos pegou e, quando chegamos lá, já haviam encontrado.

ZH – Como ela foi parar lá?

Irmão – Ela foi na Zona Sul buscar crack, na segunda-feira. Aí encontrou uma guria que disse que não tinha lá. Mas que ia levá-la a um lugar onde tinha. Aí entrou no carro e levou ela ao Campo da Tuca. Minha irmã nunca tinha ido ao Campo da Tuca. Eu já tinha ido atrás dela na Vila Jardim, Conceição, no Humaitá, onde já havia localizado ela em recaídas anteriores. Mas não havia pista nenhuma. Eu recebi uma segunda ligação de uma mulher dizendo que a minha irmã estava no Campo da Tuca e não seria liberada. Aí eu liguei para o delegado Zucco, mas ele já estava lá.

ZH – Como ficou o estado dela com esse episódio?

Mãe – Ela está muito desesperada, sofrendo muito porque recaiu com o filho. Foi uma coisa na qual ela botou em risco a vida do filho dela. Ela chorava muito.

Irmão – Nas outras vezes, ela não entrava na casa dos traficantes. Ela fumava no carro. A psiquiatra disse que quando ela acordar e se der conta de que ficou três dias fumando crack com o filho, vai sofrer demais. Ela já está com uma vergonha enorme, diz que quer sumir.

ZH – Como foi no cativeiro?

Irmão – Ela chorava, pedia para ligar para a mãe dela, e eles davam uma pedra e diziam “toma aí, fuma pra te acalmar”. Para ela não criar problemas. Queriam ainda, como eles sabiam que o carro havia sido apreendido, que ela fosse com eles liberar o carro. Mas ela disse que não iria sair. Por isso deixaram ela telefonar para mim.

ZH – Como será o futuro?

Mãe – Eu vou ter cuidado com o meu neto, porque hoje eu sou mais mãe dele do que a minha filha, e ele tem essa predisposição para o vício devido a o que aconteceu. Ele traz a parte biológica da mãe. Eu tenho essa preocupação com o meu neto, que tem de ser muito bem cuidado. Quando ele começar a sair de casa, vou ter de ver quem são os amigos dele, aonde ele vai. Isso eu aprendi a duras penas. Enquanto eu viver, vou ter 20 olhos em cima dele.

Irmão – Vamos retomar o tratamento com força e dar todo amor à minha irmã.

Fonte: Zero Hora - 18/06/2011 

Comentário: Enquanto o STF ficou na filigrana jurídica em que a manifestação da droga é liberdade de expressão, o depoimento dessa mãe e filho revela o poder de destruição de uma família por  droga. É muito difícil  dissociar a Marcha da maconha ou da droga, da apologia de fumar maconha e sua visibilidade na mídia. A marcha em si já é uma propaganda da maconha. Vivemos na era da comunicação digital, somos bombardeados por informações a todo instante, na web, como e-mail, sites de notícias, redes sociais através do celular, blogs, fotos, etc.Esse tipo de manifestação cria curiosidade no adolescente., principalmente num país cheio de abismo social.