Até agora, nem o Google, nem a Amazon nem a Apple foram
transparentes ao explicar quem escuta as conversas dos usuários com os
assistentes eletrônicos. Mas isto pode começar a mudar devido às revelações dos
últimos meses sobre esse assunto. A Apple suspendeu o programa de escuta de conversas
dos usuários com a Siri, como antecipa o site especializado em tecnologia
TechCrunch. A empresa de Cupertino (Califórnia) afirmou a essa revista
eletrônica que reverá o processo para determinar se o assistente escuta as
consultas corretamente ou se é ativado por engano, e permitirá aos usuários que
optem por participar ou não desse programa.
"Estamos comprometidos em proporcionar uma grande
experiência com a Siri, ao mesmo tempo em que protegemos a privacidade do
usuário. Enquanto levamos a cabo uma revisão exaustiva, suspendemos o programa
global de qualificação da Siri. Além disso, como parte de uma futura
atualização de software, os usuários poderão escolher o participar desse
programa", diz a Apple em nota.
A Apple, que tem como bandeira o direito à privacidade de
seus clientes, levou quase três meses para admitir ao jornal que contratava
esses transcritores. Foi na semana passada, quando este jornal revelou que a
empresa da maçã mantinha colaboradores na Espanha para escutar conversas
privadas dos usuários em vários idiomas, entre eles o francês e o alemão.
"Estes áudios não se relacionam em nenhum momento com os usuários e são
ouvidos e analisados para melhorar o que a máquina entende, para entender
sotaques e formas diferentes de falar”, disse uma fonte da Apple na ocasião.
A escuta de gravações privadas é realizada através de uma
empresa terceirizada. Os revisores se encarregam de analisar conversas privadas
e solicitações feitas ao assistente virtual dos aparelhos Apple. Deparam-se,
conforme relatam, com gravações de todo tipo: desde “buscas e pedidos normais à
Siri até muitas barbaridades”.
Embora os gigantes tecnológicos insistam em que os
assistentes só são ativados quando um comando é pronunciado, às vezes eles
começam a funcionar por engano. "Cheguei a escutar até duas vezes pessoas
fazendo sexo. Às vezes, começa a gravação por acidente e não percebem”,
recordavam os agora ex-revisores da Apple.
AMAZON E GOOGLE
O caso da Apple não é uma exceção. Amazon e Google também
contam com pessoas que escutam diariamente conversas aleatórias com o objetivo
de melhorar o sistema. E também custaram a admitir a prática – só o fizeram
depois que a informação havia sido divulgada. Depois do vazamento de
aproximadamente mil gravações no começo de julho, o Google interrompeu esses
programas e admitiu que "especialistas em linguagem" contratados pela
firma ouvem aproximadamente 0,2% das conversas que os usuários mantêm com seu
assistente virtual. Enquanto isso, nem a Samsung nem a Microsoft confirmaram a
prática.
Vários especialistas em privacidade criticam a falta de
transparência e o potencial risco de que as empresas tracem um perfil preciso
de cada usuário. Borja Adsuara, advogado especialista em direito digital,
lançava há alguns meses a seguinte pergunta: “O que é mais perigoso: que uma
pessoa de vez em quando se conecte ao seu assistente e escreva a conversa, ou
que haja uma inteligência artificial que reúna tudo o que você diz e seja
possível saber até com que se preocupa?”. Para ele, é secundário que os áudios
sejam escutados por pessoas. O grande problema “é que muitos que usam os
assistentes não sabem que estão sendo gravados”, porque não leem as políticas
de privacidade.
Para Jorge Campanillas, diretor de proteção de dados e
especialista em privacidade da Iurismatica Advogados, de Madri, é importante
estar ciente de que, seja mediante um algoritmo ou uma pessoa, as empresas
estão tendo acesso a essas conversas. “As máquinas e pessoas estão escutando o
que fazemos a todo momento, neste caso pelos assistentes de voz, mas sem nos
esquecermos que o mesmo se faz no nossos e-mails em serviços gratuitos, já que
o leem para depois nos mostrar publicidade a respeito, ou no Facebook, que
também tem uma grande quantidade de pessoas para decidir se finalmente a
plataforma publicará a fotografia que nós mesmos postamos”. Fonte: El País - 02
AGO 2019 - 09:23 BRT
Comentário:
Isso lembra o livro 1984, de George Orwell, as teletelas –
aparelhos instalados nas casas, ruas e salas de trabalho, que captavam toda
forma de movimento, som e expressão.
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