Depois de esticar a decisão oficial até o último momento
possível, o Partido dos Trabalhadores (PT) confirmou nesta terça-feira o
ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad como seu candidato à Presidência da
República. Haddad assume o lugar do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na
cabeça da chapa petista, com a tarefa de levar o partido ao segundo turno e de
mostrar aos eleitores que é o verdadeiro herdeiro político do ex-metalúrgico,
preso há cinco meses condenado em Curitiba condenado por corrupção e lavagem de
dinheiro e, por isso, impedido de concorrer com base na Lei da Ficha Limpa. A
troca ocorre no último dia do prazo dado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
para que o partido indique o substituto de Lula, cuja inelegibilidade foi
declarada em 1º de setembro.
A unção de Haddad como candidato presidencial ocorreu em uma
reunião da Executiva nacional do PT na capital paranaense. "Levamos a
candidatura de Lula até o limite possível", afirmou ao EL PAÍS um membro
da Executiva do PT. A decisão oficial do partido foi anunciada na porta da Polícia
Federal em Curitiba. Um dos fundadores do PT, o advogado Luiz Eduardo
Greenhalgh, leu uma carta escrita por Lula, em que o ex-presidente afirmou que
teve que tomar uma decisão no limite imposto pela Justiça. "Eu sei que um
dia a verdadeira Justiça será feita e será reconhecida minha inocência. E nesse
dia eu estarei junto com o Haddad para fazer o Governo do povo e da esperança.
Nós todos estaremos lá, juntos, para fazer o Brasil feliz de novo", disse
ele, na carta. "Fernando Haddad será Lula para milhões de Brasileiros",
complementou. "Até a vitória."
Oficialmente, a campanha do ex-prefeito paulista dará a
largada oficial na quarta, com uma reunião da coordenação da candidatura em São
Paulo. Haddad terá como vice Manuela D'Ávila, do PCdoB, a principal sigla
aliada na coligação. A operação de substituição do maior líder petista pelo
ex-ministro da Educação vem sendo conduzida diretamente da sala do prédio da
Polícia Federal onde o ex-presidente está detido. Nesta segunda-feira, Haddad esteve
por duas ocasiões com Lula e cancelou sua participação num ato político em São
Paulo que estava previsto para a noite. Dormiu em Curitiba e, na manhã desta
terça-feira, se encontrou de novo com o ex-presidente. Deixou a prisão com a
carta, posteriormente projetada em um telão da reunião da Executiva.
A decisão coloca um fim no imbróglio da candidatura petista,
que nos últimos dias focou em tentar suspender a decisão da Justiça Eleitoral
que declarou o ex-presidente inelegível ou em tentar, ao menos, adiar o prazo
limite da sucessão. Os advogados do petista usavam como base para os pedidos a
decisão do Comitê de Direitos Humanos da ONU para que o Brasil garanta os
direitos políticos de Lula até o trânsito em julgado de sua sentença.
Mas, como era previsto pelo próprio partido, não houve
sucesso. Com isso, o PT foi obrigado a desencadear a sucessão, sob pena de
descumprir uma decisão da Justiça, o que abriria a brecha para que toda a chapa
presidencial fosse questionada e, eventualmente, cassada.
A demora em indicar o nome petista viável para concorrer as
eleições dividiu o partido. A ala de Haddad esperava que isso ocorresse antes,
mas havia resistência de outra parte da sigla, especialmente ligada à
presidenta da sigla Gleisi Hoffmann que acreditava que era preciso insistir no
nome de Lula, para mostrar que o ex-presidente não havia sido abandonado — eles
também avaliavam que, assim, a transferência de votos poderia acontecer mais
facilmente.
A demora também desagradou parte dos aliados. Um integrante
da cúpula do PCdoB criticou a demora na definição.. "Minha avaliação, que
é compartilhada por muitos no partido, é de que essa demora foi um erro
grave", afirmou. Ainda de acordo com ele, essa indefinição em uma eleição
de "tiro curto", devido ao pouco tempo de campanha, ajuda a
"pulverizar os votos de Lula entre candidatos do campo da esquerda",
disse, citando Ciro Gomes. Mesmo a melhora no desempenho do ex-prefeito na
última pesquisa Datafolha não foi vista como um resultado "ótimo":
"Temos pouquíssimo tempo para crescer, perdemos um tempo precioso". El País - Curitiba 12 SET 2018
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