Os oposicionistas mantém diálogo com o governo Mubarak. Porém sua situação é delicada: além de muito fragmentados, alguns não foram até hoje reconhecidos oficialmente como partido. Quem está negociando o futuro do Egito?
Em um ponto todos os grupos oposicionistas do Egito são unânimes: o presidente tem que renunciar, o quanto antes, melhor. Mas aí terminam os pontos em comum, pois cada facção tem suas próprias noções sobre o Egito pós-Hosni Mubarak.
Diversos pequenos grupos fragmentados se uniram na Coalizão Nacional pela Mudança, liderada por Mohamed El Baradei: sua intenção é amalgamá-los em um governo da unidade nacional. Em várias ocasiões, ele também se propôs como sucessor de Mubarak, ainda que só seja durante um período de transição.
"Sempre digo: minha luta mais importante é para que meu país encontre o caminho da democracia. Se isso ocorrer, e meu povo quiser que eu me candidate, não o desapontarei. Mas essa não é minha prioridade."
O Ocidente encara o antigo diplomata de ponta como candidato preferencial. Porém no próprio Egito, não é necessariamente assim que ele é visto. Aqui, El Baradei é acusado de ter passado os últimos meses quase exclusivamente no estrangeiro. E ele não está apto a apresentar um programa político de verdade.
Irmandade Muçulmana
A Irmandade Muçulmana poderá assumir um papel importante na fase de transição. Embora oficialmente proibida por Mubarak, ela compõe o maior grupo de oposição e, até hoje, o mais bem organizado. O grupo de fundo religioso conta com a simpatia da população – entre outros motivos, por manter escolas, hospitais e outras instalações sociais.
Porém o politólogo egípcio Hamed Abdel Samad não acredita que a Irmandade Muçulmana sairia vencedora de um pleito democrático. Pois, embora ela seja capaz de mobilizar cerca de 1 milhão de eleitores, no passado somente entre 6 e 7 milhões de egípcios compareceram às urnas, ou seja, apenas 10% do eleitorado potencial.
"Num Egito democrático, um volume muito maior de jovens irá votar, e eles certamente não optarão pelos islâmicos, mas sim por partidos com concepções e programas políticos e econômicos sólidos. E assim, a percentagem do eleitorado da Irmandade encolherá."
"Basta!"
Representantes do assim chamado "Movimento Kefaya" – criado já em 2005, a partir de protestos contra Mubarak – também participam das negociações com o vice-presidente Omar Suleiman. Entretanto o Kefaya – que em árabe significa "Basta!" – não é uma corrente política com um programa partidário claramente definido. Ele aglutina, antes, o protesto nas ruas, como explica Henner Fürtig, do Instituto Giga, em Hamburgo.
"Trata-se de jovens da classe média urbana, os mesmos que agora definem a face global da multidão na praça Tahrir. Gente muito jovem, a camada da sociedade ainda denominada 'geração Facebook' pela mídia. Mas, justamente, eles não tiveram como se organizar de verdade."
Eleições democráticas, mais liberdades civis e a derrubada das leis do estado de emergência, que vigoram desde 1981: são essas as exigências do Movimento Kefaya.
Perigo de eleições precipitadas
Outras facções oposicionistas igualmente perseguem metas liberais, como o Partido Wafd ou o progressista Partido Unitário Tagammu. Porém nas últimas três décadas elas cultivaram uma fama mais para inglória, como pseudo-oposição a Mubarak.
"Esses partidos estão essencialmente desacreditados, pois todo egípcio sabe que papel representaram, e ninguém espera qualquer impulso real em direção ao novo. O único partido que destoa um pouquinho desse padrão é o 'Ghad', que quer dizer 'amanhã'. Ele tentou se libertar um pouco desse ditado, nos últimos anos, mas tampouco constitui um partido de massa", analisa Henner Fürtig.
A oposição do Egito ainda se encontra em formação. Durante 30 anos, ela foi impedida de produzir estruturas, programas ou cabeças pensantes importantes, capazes de dar um rosto e uma voz à sede de liberdade. Por isso, o especialista do Instituto Giga é contra precipitar agora as eleições livres no país.
"Para que realmente se construa uma democracia representativa, necessita-se de partidos politicamente fortes, é preciso haver a possibilidade de também formar a vontade política. Deve-se partir do princípio que, primeiro, as leis do estado de emergência têm que ser anuladas, depois é necessária uma nova Constituição. E nessa fase de transição tem-se que permitir que a população egípcia dê forma à sua vontade política, inclusive em estruturas partidárias. Antes disso, é difícil pensar-se em eleições." Fonte: Deutsche Welle - 07/02/2011
Comentário: Foi a melhor análise que eu li até agora. Todos recomendam democracia ao Egito, um país desde a sua proclamação (1953) vive uma ditadura peculiar. A democracia no estilo ocidental cairá como pretexto para o islamismo político. Os protestos no Egito não atingiu a dois por cento da população e não são tão representativos para a população egípcia, de quase 80 milhoes. Nessa fragmentação política o que deve mais sobressair é o partido mais coeso e que tem mais objetivos políticos, que é a Irmandade Muçulmana, que numa eleição poderá receber apoio de fora (Irã). A religiao predominante é islã sunita, para quase 90% da população. A democracia irá conviver com a religião? A democracia requer pluralismo de pensamento e a religião exige o monoteísmo político. Como se diz: Os jovens fazem a guerra e os velhos a política.
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