O presidente do Egito, Hosni Mubarak, de 82 anos, renunciou ao cargo nesta sexta-feira (11), após um governo de quase 30 anos e que era contestado desde 25 de janeiro por grandes manifestações populares.
O anúncio da renúncia foi feito pelo recém-nomeado vice-presidente do Egito, Omar Suleiman, em um curto pronunciamento na TV estatal. Mubarak entregou o poder ao Exército, disse Suleiman.
Os crescentes protestos que derrubaram Mubarak deixaram mais de 300 mortos e 5.000 feridos. Eles começaram em 25 de janeiro, inspirados pela queda do presidente da Tunísia, e tiveram impulso na internet, que comemorou a queda do ditador.
Ainda não havia detalhes sobre como ocorrerá a transferência. O Exército anunciaria um comunicado detalhando a transição.
O ministro da Defesa, Mohamed Hussein Tantawi, deve ser o chefe do Alto Conselho Militar que tomaria o controle do país, segundo fontes militares.
O conselho iria derrubar o gabinete de ministros de Mubarak, fechar as duas casas do Parlamento e governar diretamente com a Corte Constitucional, segundo a TV Al Arabiya.
O país tem eleições presidenciais marcadas para setembro.
A notícia da renúncia, exigida pelos manifestantes, foi imediatamente celebrada com festa nas ruas do Cairo e das outras grandes cidades do Egito.
Por volta das 18h locais (14h de Brasília), na lotada Praça Tahrir, que foi o centro nervoso dos protestos, manifestantes cantavam: 'o povo derrubou o governo'.
Manifestantes se abraçavam, e algumas pessoas desmaiaram de emoção.
O oposicionista Muhamed ElBaradei, uma das principais figuras dos protestos, disse que o Egito "esperou por décadas" por este dia. Ele afirmou esperar que povo e Exército governem juntos durante o período de transição.
A chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, disse que respeitava a decisão de Mubarak e pediu diálogo para a formação de um governo de "base ampla" no país.
Mubarak havia partido pouco antes para o balneário de Sharm el Sheij, no Mar Vermelho, a 400 km do Cairo, informou Mohammed Abdellah, porta-voz de seu partido, o Nacional Democrático.
Ele, que tem uma residência no balneário, saiu em meio a mais um dia de grandes protestos de rua.
Na véspera, Mubarak havia anunciado a transferência de seus poderes a Suleiman, mas reafirmou que ficaria no governo até as eleições marcadas para setembro, em um processo gradual de transição.
Isso não satisfez os oposicionistas.
O governo da Suíça anunciou que vai congelar os possíveis bens de Mubarak no país, segundo a chancelaria. Mais cedo nesta sexta-feira, o Exército havia soltado nota prometendo levantar o estado de emergência sob o qual o país vive desde 1981, "assim que as circunstâncias atuais terminassem", em uma aparente demonstração de apoio à transição proposta por Mubarak.
Em Al Arish, no Sinai, confronto entre manifestantes e a polícia deixou um morto e 20 feridos.
Discurso
Na véspera, Mubarak frustrou os manifestantes que esperavam sua renúncia imediata e confirmou, em discurso na TV, que pretende continuar no governo até setembro, à frente da transição de poder. Ele também disse que iria transferir poderes ao seu vice.
Sameh Shoukr, embaixador do Egito nos EUA, explicou que Mubarak transferiu todos os poderes da presidência para seu vice, mas permanece do chefe de Estado "de jure" (de direito).
O embaixador disse que esta versão lhe foi contada pelo próprio Suleiman.
A decisão de Mubarak de ficar durante a transição irritou ainda mais a população local. Milhares de pessoas passaram a noite na praça Tahrir. Em um discurso de tom patriótico, Mubarak afirmou que a transição no Egito em crise vai ocorrer "dia após dia" até as eleições presidenciais marcadas para setembro. Ele prometeu proteger a Constituição durante todo o processo.
Mubarak disse que propôs emendas aos artigos 76, 77, 88, 93 e 189, e cancelou o 179, que dava poderes extras ao governo em caso de combate ao terrorismo.
O presidente afirmou que iria transferir poderes a Suleiman, segundo a Constituição, mas não esclareceu quando, até que ponto ou de que maneira isso ocorreria.
Em discurso posterior ao de Mubarak, Suleiman, -que já vinha liderando as negociações com a oposição- se comprometeu a tentar fazer "uma transição pacífica de poder" e pediu que os manifestantes acampados no Cairo voltem para casa.
'Saída honrosa'
O deputado trabalhista israelense Benjamin Ben Eliezer afirmou nesta sexta que Mubarak comentou com ele, em uma conversa por telefone na noite de quinta-feira, pouco antes de seu discurso à nação, que estava buscando uma "saída honrosa".
"Ele sabe que acabou, que é o fim do caminho. Só me disse uma coisa pouco antes de seu discurso, que procurava uma saída", afirmou Ben Eliezer à rádio militar. Ben Eliezer, que até recentemente foi ministro do Comércio e da Indústria, é considerado o dirigente israelense mais próximo de Mubarak, a quem visitou em várias ocasiões. Fonte: Do G1, com agências internacionais-11/02/2011
Comentário: O perigo é a religião predominar na política, a política teocrática. É outra forma de ditadura fundamentalista. O islamismo não admite pluralismo de pensamento e é a verticalização da religião com todos os aspectos da atividade humana, política, social, etc.
Quer queira ou não a democracia ocidental atual com seu materialismo, seu liberalismo social confronta com o islamismo. A democracia derruba toda estrutura social que é a base do islamismo. Se der certo a democracia no Egito, o Ocidente criou a Nova Cruzada Democrática contra o Islamismo. É o rastilho explosivo no mundo árabe.
A festa acabou, agora, vem à realidade, os egípcios estão preparados para a democracia? O que torna a democracia forte são as concessões da sociedade para que ela possa tornar uma democracia representativa, com pluralismo de pensamento, partidos politicamente fortes, sem radicalismo religioso, etc
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