sábado, 15 de outubro de 2011

O cabide de emprego na educação pública

Um artigo publicado na Veja, 10 de outubro, Gustavo Iochpe fez um estudo interessante sobre a proporcionalidade  existentes entre funcionários na educação, que tem a função de suporte e atividade principal , os professores , obteve os seguintes dados:

1- O número de professores está na casa dos 2 milhões há alguns anos.

2- A incógnita era o numero de funcionários existentes? O Inep, órgão do MEC responsável por avaliações e estatísticas, informou  que incluindo os professores, são mais de 5 milhões de funcionários na área da educação no Brasil, pouco mais de 4 milhões deles na rede pública.

O número é assustador, pelo gigantismo do número total – seus 5 milhões de membros fazem com que essa seja a quarta maior categoria profissional do Brasil, atrás apenas dos agricultores, vendedores e domésticas –, mas especialmente pelo fato de termos 3 milhões de funcionários longe da sala de aula, um número 50% maior do que o de professores.

3 – Ele comparou esse número funcionários  com dados europeus, OCDE

Nos países membros a relação entre funcionários e professores é de 0,43., isto é, um funcionário para cada 2 professores.

No Brasil, no setor público, essa relação é de 1,48, isto é, quase quatro funcionários para cada 2 professores.

Isso significa que, se o Brasil tivesse a mesma relação professor/funcionário dos países desenvolvidos, haveria 706.000 funcionários públicos no setor, em vez dos 2,4 milhões que temos.

Isso faz com que tenhamos 1,7 milhão de pessoas excedentes no sistema educacional, recebendo todo mês salários que vêm do nosso bolso. Se presumirmos que os funcionários recebem o mesmo salário médio que os professores (infelizmente não há dados oficiais a respeito do país todo, mas a conversa com alguns secretários da Educação me sugere que essa é uma hipótese válida), isso significa um desperdício de inacreditáveis 46 bilhões de reais, ou 1,3% do PIB, todo ano, o que certamente é mais do que todos os escândalos de corrupção da última década somados.

Conclusão:

A importância desse dado, porém, vai muito além da simples montanha de recursos que são desperdiçados. Ele ajuda a explicar algo ainda mais importante para o futuro do Brasil: a razão pela qual nossa educação vai tão mal.

1-O primeiro fator impactado por essa gastança é o salário do professor. Esse dado explica como o Brasil pode, ao mesmo tempo, investir tanto em educação e ter professores tão insatisfeitos com o seu rendimento. (A propósito, cruzando os dados da OCDE com o PIB brasileiro, o salário médio mensal do professor na rede pública é de 2262 reais. Cuidado com os discursos do pessoal que fala do "salário de fome".) Se se demitissem os funcionários excedentes e o salário deles fosse transferido aos professores, a remuneração destes aumentaria 73%, para 3906 reais mensais.

2-O segundo impacto é o poder político desse grupo. São 5 milhões de membros, a grande maioria sindicalizada e politizada.

3-A terceira realidade claramente descortinada por esses dados é a utilização política do setor de educação.  

4-A quarta conclusão é ainda mais séria. Ela diz respeito à relação entre gastos com educação e a qualidade do ensino ministrado. A maioria dos estudos sobre o tema demonstra não haver relação significativa entre o volume de recursos gastos em educação e a qualidade do ensino. No Brasil, onde a maior parte do gasto é canalizada para aumentar o número de profissionais na rede e dar melhor remuneração àqueles que já estão nela, não é de surpreender que o constante aumento de gastos no setor nos últimos dez anos tenha sido acompanhado de estagnação.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

WorldSkill 2011- Brasil fez bonito


Foram quatro dias de competição, que envolveu uma megaestrutura, 944 estudantes, 51 países quase 200 mil visitantes. O WorldSkills 2011 chegou ao fim, ontem, em Londres.

Na classificação geral, o Brasil ficou com a segunda colocação, atrás da Coreia do Sul. Passou na frente de países como EUA, Inglaterra, França, Alemanha e Finlândia.

Os estudantes também voltam da competição com uma reflexão e uma lição. Em nações desenvolvidas, o ensino médio integrado com o técnico é uma realidade e um caminho oferecido para que jovens concluam a educação básica com uma profissão. Além disso, a formação técnica tem-se mostrado necessária para diminuir o desemprego de países europeus, gerado pela crise econômica.

No Brasil, a oferta de ensino médio profissionalizante ainda é pequena e o preconceito contra esse nível de formação, grande. Ela começa a ganhar incentivos públicos, como o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), do governo federal, em tramitação no Senado, que pretende aumentar o número cursos técnicos.

Ainda que pouco incentivados, os estudantes brasileiros mostraram que quando o assunto é educação técnica conseguem competir de igual com países de primeiro mundo.

O país vencedor foi Coreia do Sul, com o Japão em terceiro. A delegação brasileira tinha 28 estudantes, em 25 ocupações técnicas.

Estudantes terão emprego garantido e bolsas de estudo

Com ou sem medalhas, todos os estudantes ganharam emprego no Senai. Eles ainda vão receber bolsa para estudar em qualquer faculdade particular do país ou continuar o estudo técnico em um curso no exterior. O anúncio foi feito, ontem, pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, que também estava em Londres.

Os estudantes começarão empregados como trainees e depois passarão a instrutores. Sobre as bolsas de estudo no exterior, a CNI tem parceria com instituições na Alemanha, Itália, EUA e França, por exemplo. O presidente ainda falou sobre a intenção de sediar o evento no Brasil, em 2017. Em 2013, será em Leipzig, na Alemanha, e em 2015, na Espanha.

Este ano o Brasil foi representado no WorldSkills por 28 estudantes, que competiram em 25 ocupações. Dos 28 estudantes brasileiros, 23 são do Senai e 5 do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac).

Os vencedores de 2011
Medalha de ouro
Guilherme Augusto Franco de Souza – desenho mecânico em CAD
Gabriel D’Espindula – eletrônica industrial
Willian Ramon de Souza – mecânica de refrigeração
Christian Alessi e Maicon Carlos Pasin – mecatrônica
Natã Miccael Barbosa – webdesing
Rodrigo Ferreira da Silva –  joalheria

Medalha de prata
Guilherme de Souza Vieira – design gráfico
Rodrigo da Silva Panifer – polimecânica
Paolo Haji de Carvalho Bueno – tecnologia da informação

Medalha de bronze
Thiago Guilherme de Carvalho – fresagem CNC
Lucas Landriny Filgueira – soldagem
Fonte: Diário Catarinense - 10 de outubro de 2011 

Comentário: A mídia em geral não noticiou esse feito brasileiro. Talvez esteja mais preocupado com o futebol, com esporte em geral, etc. Medalhas não existem apenas em competições esportivas, mas também  na educação na busca de conhecimento para o país . Devemos incentivar essa garotada com ensino técnico , com bolsas de estudos, com estágios e especialização no exterior. Temos descobrir o nosso Steve Jobs, o  nosso stay hungry and stay foolish. Temos estradas, mas faltam as estradas de  conhecimentos, de tecnologia. O Brasil obteve 6 medalhas de ouro, 3 de prata e duas de bronze.

sábado, 8 de outubro de 2011

Revalidação de diplomas médicos: Apenas 14% dos candidatos passarampara a segunda fase

Do total de 677 candidatos inscritos na primeira fase do exame nacional de revalidação de diplomas médicos (Revalida 2011), apenas 96 (14%) foram aprovados. Desses, 141 (21%) foram eliminados na prova escrita e 440 (65%) não conseguiram a pontuação mínima. O Revalida é aplicado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) para que universidades públicas conveniadas possam revalidar diplomas emitidos no exterior e permitir a atuação dos diplomados no Brasil.

Os aprovados na primeira fase vão fazer a prova prática de habilidades clínicas, que será aplicada nos dias 15 e 16 de outubro. O teste prático será aplicado apenas em Brasília, ao contrário da prova escrita, realizada também em Porto Alegre, Rio de Janeiro, Manaus, Campo Grande e Fortaleza. Cada participante será submetido a avaliação em dez situações clínicas. Fonte: Globo Online - 07/10/2011 

Comentário: A cada ano cresce o número de jovens brasileiros que estudam medicina em universidades de países vizinhos, onde a mensalidade é mais barata, mas, na volta ao Brasil, não conseguem registro para trabalhar. Na classe de uma faculdade de medicina na Bolívia em dia de prova, apenas um aluno era boliviano. Todos os outros eram brasileiros.

É bem mais fácil, a gente não tem vestibular. A gente vai pagar, mais ou menos, seis vezes menos do que se pagaria no Brasil (Pedro Adler)

- Só na minha faculdade, podemos falar em seis mil estudantes brasileiros em Cochabamba, Santa Cruz e Cobija - afirma o vice-reitor da Universidad Técnica Cosmos (Unitepc), José Teddy.  Fonte: Globo 06/06/2011

Obs: No Estado de São Paulo tem 25 escolas de Medicina, que formam anualmente em média 2.600 médicos. Só na Bolívia tem 6 mil estudantes de medicina. Barbaridade!!

O que mais se encontra na internet é propaganda dos nossos hermanos, MEDICINA SEM VESTIBULAR NA BOLÍVIA, ARGENTINA E CUBA. Educação virou propaganda.

Todos eles têm um sonho ser doutor, mas  com facilidade. Sempre com uma desculpa, o jeitinho brasileiro, não fiz um bom ensino médio, não estudei, etc. Mas tenho um sonho desde criança ser doutor. Bom, barato, com diploma boliviano. Fizeram do estudo uma recreação. Agora procura facilidade para obter diploma do curso superior.

Nas escolas aprenderam nada de esforço, punição nem pensar, portanto recompensas perderam o sentido. Em muitas escolas não se deve mais falar em "reprovação, reprovado", pois isso pode traumatizar o aluno, marcá-lo desfavoravelmente. Então, por que estudar, por que lutar, por que tentar? (Lya Luft).

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Steve Jobs: discurso durante a formatura em Stanford em 2005

Discurso muito bonito e é uma  lição de vida.

Comentário: Há pessoas que nascem com um dom especial, aquele toque de mágica,  do conhecimento, do saber, etc.

Como é  interessante a sociedade americana, que enaltece o empreendedor, o vencedor,  aquele que oferece algo a mais a sociedade. Veja o exemplo, do Steve Jobs, não se graduou em curso superior, muito provável teve uma boa base do ensino médio, freqüentou o campus universitário, característica americana e fundou a jóia da computação a Apple.  Ele foi um líder  que gerenciava o sonho. Todos os lideres têm  a capacidade de criar um ponto de vista convincente, que leve as pessoas  para um novo lugar e a habilidade de transformar essa visão em realidade (Warren Bennis). A sociedade americana não tem muito preconceito quanto às mentes brilhantes, veja a simplicidade dele no discurso, tomando água no gargalo da garrafa, se fosse na América  Latina teria ao lado dele um garçom, com luvas brancas com uma bandeja de prata e copos de cristal.

A expressão stay hungry and stay foolish no final do discurso  foi retirado do Catálogo Whole Earth, que é um catálogo de conhecimento e de recursos disponíveis para os adeptos de uma forma de vida diferentes dos padrões de consumo em vigor naquela época. O  catalogo funcionaria como se fosse uma internet para pesquisa e obtenção de informações.

Na  capa da última edição desse catálogo tem essa expressão, com uma foto de uma estrada. É a época da contracultura, É a época da  quebra de paradigmas. A estrada significa  a busca de desafios, que a pessoa tem de ter curiosidade de percorrê-la  até encontrar o seu significado. Naquela época a estrada significava, pegar a estrada e encontrar o seu próprio lugar no mundo

Então, stay hungry e stay foolish pode  significar:

Permaneça curioso, permaneça com a mente aberta

 

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Brasil coloca 31 universidades entre as cem melhores da América Latina

O Brasil tem a Universidade de São Paulo (USP) no topo das melhores universidades da América Latina e ainda conta com 31 instituições de ensino superior entre as cem melhores do ranking divulgado nesta terça-feira (4) pela QS (Quacquarelli Symonds), do Reino Unido.

Este é o primeiro ranking que reúne apenas as universidades latino-americanas elaborado pela QS, uma organização internacional de pesquisa educacional que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação.

A USP lidera com 100 pontos, a pontuação máxima. Em segundo lugar está a Pontificia Universidade Católica do Chile (99,6 pontos). Outra universidade brasileira, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) está em terceiro (94,7). A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) aparece em 10º lugar, e a Universidade de Brasília (UnB) em 11º.

Nas cem primeiras do ranking aparecem 31 universidades do Brasil. Em seguida estão Argentina (19), México (15), Chile (14), Colômbia (8), Venezuela (4), Peru (3), Costa Rica, Cuba, Porto Rico, Equador e Uruguai (1).

Uma nova metodologia foi desenvolvida após uma extensa consulta com as universidades da região e com o Conselho Acadêmico  Consultivo internacional da QS. O ranking utiliza sete indicadores distintos: reputação acadêmica (30%), reputação de empregabilidade (20%), estudantes da faculdade (10%), profissionais com doutorado (10%), artigos publicados (10%), citações por artigo (10%) e impacto na internet (10%).

Impulsionado pelo aumento do investimento público em educação, o Brasil emplacou 65 universidades entre as 200 primeiras da lista, quase o dobro do México (35) e muito mais do que Argentina e Chile (25 cada).

Nesta primeira edição do ranking regional, o QS se baseou em critérios específicos da América Latina, como a proporção de professores com doutorado, a produtividade de pesquisas per capita e a presença na internet, assim como pesquisas existentes.

Ranking completo: http://www.topuniversities.com/university-rankings/latin-american-university-rankings/2011

Fonte: G1 - 04/10/2011

Comentário: Os estudantes Brasil-latinos que criticam tanto as universidades brasileiras  devem refletir suas críticas. Entre as cem melhores universidades o Brasil participa com 31 e entre as duzentas melhores  com 65.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Steve Jobs, fundador da Apple morre



Morreu nesta quarta-feira (5) aos 56 anos o empresário Steven Paul Jobs, criador da Apple, do estúdio de animação Pixar e pai de produtos como o Macintosh, o iPad, o iPhone e o iPad.

Idolatrado pelos consumidores de seus produtos e por boa parte dos funcionários da empresa que fundou em uma garagem no Vale do Silício, na Califórnia, e ajudou a transformar na maior companhia de capital aberto do mundo em valor de mercado, Jobs foi um dos maiores defensores da popularização da tecnologia. Acreditava que computadores e gadgets deveriam ser fáceis o suficiente para ser operados por qualquer pessoa, como gostava de repetir em um de seus bordões prediletos era "simplesmente funciona" (em inglês, "it just works"), impacto que foi além de sua companhia e ajudou a puxar a evolução de produtos como o Windows, da Microsoft.

A luta de Jobs contra o câncer desde 2004 o deixou fisicamente debilitado nos anos de maior sucesso comercial da Apple, que escapou da falência no final da década de 90 para se transformar na maior empresa de tecnologia do planeta. Desde então, passou por um transplante de fígado e viu seu obituário publicado acidentalmente em veículos importantes como a Bloomberg.

Foi obrigado a lidar com a morte, que temia, como a maioria dos americanos de sua geração, desde os dias de outubro de 1962 que marcaram o ápice da crise dos mísseis cubanos. "Fiquei sem dormir por três ou quatro noites porque temia que se eu fosse dormir não iria acordar", contou, em 1995, ao museu de história oral do Instituto Smithsonian.

"Ninguém quer morrer", disse, posteriormente, em discurso a formandos da universidade de Stanford em junho de 2005, um feito curioso para um homem que jamais obteve um diploma universitário. "Mesmo as pessoas que querem ir para o céu não querem morrer para chegar lá. E, por outro lado, a morte é um destino do qual todos nós compartilhamos. Ninguém escapa. É a forma como deve ser, porque a morte é provavelmente a melhor invenção da vida. É o agente da vida. Limpa o velho para dar espaço ao novo."

A melhor invenção da vida, nas palavras do zen-budista Jobs, deixa a indústria da tecnologia órfã de seu "homem-zeitgeist", ou seja, o empresário que talvez melhor tenha capturado a essência de seu tempo. Jobs apostou na música digital armazenada em memória flash quando o mercado ainda debatia se não seria mais interessante proteger os CDs para fugir da pirataria.

Ele acreditou que era preciso gastar poder computacional para criar ambientes gráficos de fácil utilização enquanto as gigantes do setor ainda ensinavam usuários a editar o arquivo "AUTOEXEC.BAT" para configurar suas máquinas. Ele viu a oportunidade de criar smartphones para pessoas comuns ao mesmo tempo em que o foco das principais fabricantes era repetir o sucesso corporativo do BlackBerry.

Sob o comando de Jobs, a Apple dizia depender muito pouco de pesquisas de mercado. “Não dá para sair perguntando às pessoas qual é a próxima grande coisa que elas querem. Henry Ford disse que, se tivesse questionado seus clientes sobre o que queriam, a resposta seria um cavalo mais rápido", afirmou, em entrevista à revista "Fortune" em 2008. Em 2010, quando perguntado sobre quanto a Apple havia gasto com pesquisa com consumidores havia sido feito para a criação do iPad, Jobs respondeu que "não faz parte do trabalho do consumidor descobrir o que ele quer. Não gastamos um dólar com isso."

Nem sempre esta habilidade garantiu o sucesso da Apple, como na primeira versão da Apple TV, computador adaptado para trabalhar com central multimídia que não conseguiu um volume de vendas relevantes. Mas Jobs conseguia minimizar os fracassos: no caso da Apple TV, ele dizia que se tratava de um "hobby", um projeto pessoal que não fazia tanta diferença nos planos da empresa.

Perfeccionista e workaholic, Jobs gostava de controlar todos os pontos da produção da Apple, resistindo, inclusive, à decisão de terceirizar gradativamente a fabricação dos produtos da companhia para fabricantes chineses - plano proposto e executado pelo agora novo comandante da companhia, Tim Cook, e que se mostrou acertado.

Conhecido como um “microgerente”, nenhum produto da Apple chegava aos consumidores se não passasse pelo padrões Jobs de qualidade e de excentricidade. Isso incluía, segundo relatos, o número de parafusos existentes na parte inferior de um notebook e a curvatura das quinas de um monitor. No dia do anúncio de que Jobs estava deixando o comando da Apple, Vic Gundotra, criador do Google Plus, contou que recebeu uma ligação do presidente da Apple no domingo para pedir que fosse corrigida a cor de uma das letras do ícone do atalho do Google no iPhone.

Na busca por produtos que fossem de encontro com seu padrão de qualidade pessoal, Jobs era criticado em duas frentes. Concorrentes e boa parte dos consumidores que tentavam fugir da chamado "campo de distorção da realidade" criado pela Apple reclamavam das diversas decisões que faziam dos produtos da companhia um "jardim fechado", incompatíveis com o resto do mundo e restritos a normas que iam além de restrições tecnológicas. Tecnicamente sempre foi possível instalar qualquer programa no iPhone, mas a Apple exige que o consumidor só tenha acesso aos programas aprovados pela companhia.

Internamente, entre alguns de seus funcionários, deixou a imagem de "tirano". Alan Deutschman, autor do livro “The second coming of Steve Jobs", afirma que, ao lado do "Steve bom", o mago das apresentações tão aguardadas pelo didatismo e capacidade de aglutinar o interesse do consumidor, também existia o “Steve mau”, um sujeito que gostava de gritar, humilhar e diminuir qualquer pessoa que lhe causasse algum tipo de desprazer.

Ao jornal “The Guardian”, um ex-funcionário que trabalhou na Apple por 17 anos comparou a convivência com Steve com à sensação de estar constantemente na frente de um lança-chamas. À revista “Wired”, o engenheiro Edward Eigerman afirmou: “mais do que qualquer outro lugar onde já trabalhei, há uma grande preocupação sobre demissão entre os funcionários da Apple”. A mesma publicação contou que o diretor-executivo não via problemas em estacionar sua Mercedes na área da empresa reservada aos deficientes físicos -- às vezes, ele ocupava até dois desses espaços.

Jobs também sempre precisou de um "nêmesis", um inimigo que ele satanizava e ridicularizava em público como contraponto de suas ações na Apple. O primeiro alvo foi a IBM, com quem disputou o mercado de computadores pessoais principalmente no início dos anos 80. Depois, a Microsoft, criadora do MS-DOS e do Windows. Mais recentemente, Jobs vinha mirando o Google, gigante das buscas na internet cujo presidente chegou a fazer parte do conselho de administração da Apple, e que investiu no mercado de sistemas para smartphones com o Android. Jobs ordenou que a Apple lutasse, mesmo que judicialmente, contra o programa que ele considerava um plágio do iOS, coração do iPhone e do iPad.

Sucesso empresarial de Jobs

Foram o mouse e o ambiente gráfico os inventos que chamaram a atenção de Jobs na fatídica visita ao laboratório da Xerox em Palo Alto, em 1979. É uma das histórias mais contadas e recontadas do Vale do Silício, e as versões variam entre acusações de espionagem industrial à simples troca pela Apple de patentes que a Xerox não teria interesse em desenvolver por ações da companhia, que abriria seu capital no ano seguinte.

Fato é que a equipe de Jobs voltou da visita encantada com a metáfora do "desktop" utilizada pelo Xerox Alto. A integração entre ícones representando cada uma das funções do computador, acessadas por meio de uma seta comandada por um mouse, foi a base do Apple Lisa e, posteriormente, do Macintosh.

Com o "Mac", enfim, Jobs conseguiu colocar em prática a visão de que havia desenvolvido em parceria com o amigo e sócio Steve Wozniak, responsável pela criação das soluções técnicas que fizeram dos primeiros computadores da Apple máquinas que mudaram o cenário da computação "de garagem" que vinha se desenvolvendo nos Estados Unidos nos anos 70. Agora, 8 anos após a fundação da empresa, Jobs e "Woz" apresentavam um computador que não era feito para "o restante de nós".

"Algumas pessoas acreditam que precisamos colocar um IBM PC sobre cada escrivaninha para melhorarmos a produtividade. Não vai funcionar. As palavras mágicas especiais que você precisa aprender são coisas como 'barra Q-Z'. O manual para o WordStar, processador de texto mais popular, tem 400 páginas. Para escrever um livro, você precisa ler um livro - e um que parece um mistério complexo para a maioria das pessoas", afirmou Jobs em entrevista publicada pela Playboy americana de fevereiro de 1985.

Na frase, Jobs demostra que queria enfrentar a IBM, gigante nascida no início do século e que, depois de dominar o mercado de servidores corporativos, queria tomar também o setor de computadores pessoais. Para ele, as máquinas da IBM eram feitas "por engenheiros e para engenheiros", e havia a necessidade de criar algo para o "restante", ou, como diria a famosa campanha "Pense diferente" da Apple de 1997, um computador para "os loucos, os desajustados, os rebeldes (..), as peças redondas encaixadas em buracos quadrados".

Saída da própria empresa

Mas o sucesso do Mac - que viria posteriormente a impulsionar a adoção de ambientes gráficos até mesmo entre os computadores da IBM (com o Windows, criado pela Microsoft) - não evitou que Jobs acabasse demitido de sua própria companhia. As disputas internas entre equipes que queriam investir no mercado corporativo e as que apostavam apenas no consumidor fizeram com que John Sculley, vindo da Pepsi à convite do próprio Jobs, convencesse o conselho de administração de que era hora da empresa se livrar de seu fundador.

Durante a década em que esteve fora, Jobs fez dois investimentos que acabaram, de maneiras diferentes, alavancando o mito em torno de seu "toque de midas". No primeiro, pagou US$ 10 milhões pela problemática divisão de computação gráfica da LucasFilm, empresa de George Lucas responsável por franquias do cinema como Star Wars e Indiana Jones. A nova empresa foi batizada de Pixar, e após emplacar sucessos como “Toy story”, “Vida de inseto”, “Monstros S.A.” e “Procurando Nemo”, acabou sendo adquirida pela Disney por US$ 7,4 bilhões em 2006. No processo, Jobs se transformou no maior acionista individual da companhia de Mickey Mouse.

O outro investimento foi a semente não apenas do retorno de Jobs à Apple, mas teve relação direta com o surgimento da World Wide Web, invenção que impulsionou o crescimento da internet no mundo. Com a NeXT, Jobs desenvolveu computadores poderosos indicados para o uso educacional e desenvolvimento de programas. Um terminal NeXT foi usado por Tim Berners-Lee como o primeiro servidor de web do mundo, em 1991. Em dezembro de 2006, a Apple adquiriu a NeXT, manobra que serviu para incorporar tecnologias ao grupo e trazer Jobs de volta para o comando da companhia.

O retorno de Jobs marca o início de uma era de crescimento para a Apple incomum na história do capitalismo americano. A sequência de sucessos - alguns atrelados a mudanças no paradigma de mercados importantes - inclui o MacBook, o tocador digital iPod, a loja virtual iTunes, o iPhone e o iPad. A maioria destes produtos veio de ideias impostas pelo próprio Jobs. À revista “Fortune”, em 2008, Jobs falou sobre sua tão aclamada criatividade - "sempre aliada ao trabalho duro", como ele mesmo enfatizou. "Não dá para sair perguntando às pessoas qual é a próxima grande coisa que elas querem. Henry Ford disse que, se tivesse questionado seus clientes sobre o que queriam, a resposta seria um cavalo mais rápido."

Nesta segunda passagem, Jobs reforçou ainda o legado de um empresário ímpar, que impunha uma visão holística na criação, desenvolvimento e venda de seus produtos, Do primeiro parafuso ao plástico que embalaria a caixa de cada aparelho, passando por custo, publicidade, estratégia de vendas. Fonte: G1, em São Paulo-05/10/2011