sexta-feira, 12 de julho de 2024
terça-feira, 9 de julho de 2024
Revolução Constitucionalista de 1932 em São Paulo
O dia tornou-se feriado
estadual em 1997, com a aprovação da Lei 9.497 pela Assembleia Legislativa do
Estado de São Paulo (Alesp) e promulgada pelo ex-governador Mário Covas, que
instituiu o 9 de julho como Data Magna de São Paulo.
Outra causa do conflito foi a
ruptura da política do ‘café com leite’, a alternância de poder entre as elites
de Minas Gerais e São Paulo, que caracterizou a República Velha (1889-1930).
Indignados com a situação, setores da sociedade paulista passaram a promover
grandes mobilizações populares contra o governo, que se estendiam para outros
estados como Minas Gerais, Alagoas e Rio Grande do Sul.
No Rio de Janeiro, em 1931, o
Partido Comunista Brasileiro (PCB) organizou uma manifestação contra a
carestia, violentamente reprimida. O estopim da fase armada do levante foi uma
manifestação no dia 23 de maio de 1932, na Praça da República, onde ficava a
sede do governo do interventor nomeado por Vargas.
Foi nessa ocasião em que um
conflito após uma invasão a um escritório do Partido Popular Paulista deixou
mortos quatro estudantes: Mario Martins de Almeida, Euclydes Bueno Miragaia,
Dráusio Marcondes de Souza e Antônio Américo de Camargo Andrade, que passaram a
ser mártires do movimento, que adotou a sigla MMDC, com as iniciais dos nomes
dos estudantes. Um quinto manifestante morreu dias depois no hospital.
A rebelião armada estourou no
dia 9 de julho e voluntários começaram a se apresentar para engrossar o exército
a favor da causa paulista. As operações militares começaram no dia 12 de julho
com frentes de batalha nas divisas com o Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e
no litoral, com pelo menos 50 mil homens. Entretanto, o exército federal era
bem maior e melhor equipado, com cerca de 100 mil pessoas, e São Paulo acabou
perdendo o apoio dos outros estados, exceto do Mato Grosso.
A batalha durou três meses e
acabou com a rendição dos paulistas no dia 2 de outubro. Em maio de 1933, foram
realizadas eleições para a Assembleia Constituinte e, em novembro, foi
elaborada a Constituição brasileira, promulgada pelo presidente Getúlio Vargas,
em 1934.
POLÊMICAS
Segundo o historiador
Francisco Quartim de Moraes, as causas para que São Paulo se levantasse em uma
guerra civil contra o resto do país são, além de complexas, motivo de polêmica.
Moraes explicou que parte da oligarquia paulista, sobretudo aqueles que estavam
ligados ao Partido Republicano Paulista, buscavam a retomada do poder, quase
hegemônico, que exerceram durante toda a Primeira República.
“Esse poder foi colocado em
cheque pela Revolução de 1930. Também lhes motivava o medo de uma Revolução
Social mais radical. Outro grupo político, o Partido Democrático, havia apoiado
o movimento de 30, mas se sentia alijado dos rumos que o Governo Provisório
tomava. Durante a interventoria de João Alberto, nomeado para o cargo por
Getúlio Vargas, a crise se agudizou exponencialmente’, disse o historiador.
De acordo com Moraes, o novo
interventor, socialista e revolucionário, ex-comandante de um destacamento da
Coluna Miguel Costa-Luis Carlos Prestes, tomou uma série de medidas que
assustaram o poder político e econômico paulista. Entre elas, houve a
promulgação de leis trabalhistas e a tentativa de legalização do Partido
Comunista do Brasil no estado de São Paulo.
“Se no início a campanha
paulista se centrou no pedido da nomeação de um interventor ‘paulista e civil’
em oposição a João Alberto, que era pernambucano e militar, depois que Vargas
nomeou interventores paulistas e civis, como o próprio Pedro de Toledo, que
seguiu como governador de São Paulo mesmo durante o movimento armado iniciado
em 09 de julho, essa campanha perdeu o seu sentido”, diz o historiador.
Segundo ele, o mesmo ocorreu
com a campanha que dá nome oficial ao movimento, quando paulistas (e também
outras figuras de todo o país) clamavam pela reconstitucionalização do país. Se
em um primeiro momento essa campanha teve força e encontrou eco no pensamento de
muitos brasileiros, depois que Vargas promulgou o Código Eleitoral em 24 de
fevereiro de 1932, com medidas como o voto feminino, a justiça eleitoral e o
voto secreto, e depois marcou oficialmente, em 14 de maio de 1932, a data para
que ocorresse a constituinte de 1933-1934, essa argumentação perdeu a maior
parte de sua força.
“Ambas as datas são
anteriores ao levante de 9 de julho e, portanto, não podem ter sido resultado
da guerra civil. São Paulo buscava retornar à federalização garantida pela
constituição de 1891. Isso era explícito nos discursos e manifestos do
movimento paulista. Enquanto a Revolução de 30 havia tido um caráter
centralizador”, explicou.
Para Moraes, embora muitos autores indiquem que a reconstitucionalização seja um legado do movimento paulista de 1932, isso não condiz com a ordem dos fatos. “A reconstitucionalização do país já estava completamente estruturada, nos moldes em que ocorreu meses antes do início da guerra civil. O legado concreto de 1932 é a criação de um sentimento de identidade no povo paulista, o que hoje podemos chamar de paulistaneidade. Realçada todo 9 de julho e que teve no quarto centenário da cidade, em 1954, um momento chave com a criação do Obelisco do Ibirapuera”, finalizou o historiador. Fonte: Agência Brasil - São Paulo - Publicado em 09/07/2024
domingo, 7 de julho de 2024
Como evitar que garrafinha d'água vire um poço de micróbios
Ter uma garrafinha d'água a tiracolo representa um benefício duplo: primeiro, o hábito garante um bom nível de hidratação, algo muito importante em termos de saúde; segundo, evita o consumo excessivo de materiais descartáveis, um ponto positivo em termos de sustentabilidade.
MAS VOCÊ JÁ PAROU PRA PENSAR
NA HIGIENE DESSE UTENSÍLIO?
"Muita gente acredita
que, como só vai água ali dentro, basta enxaguar na torneira, antes de encher,
que a garrafinha já fica limpa", observa o médico Rodrigo Lins, consultor
da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Mas isso está longe de
representar a realidade, apontam as pesquisas: se não forem limpos, esses
recipientes podem acumular muitos micro-organismos, como bactérias e fungos,
que podem fazer mal à saúde.
Um levantamento realizado
pela WaterFilterGuru, uma empresa especializada em controle de qualidade da
água nos EUA, calculou que uma única garrafa reutilizável pode carregar cerca
de 20,8 milhões de UFCs (Unidades de Formação de Colônias).
A UFC é uma medida que indica
o número de micróbios viáveis, capazes de formar uma colônia, numa determinada
superfície.
O estudo comparou o nível de
contaminação de uma garrafinha com uma série de outros objetos que, a
princípio, parecem muito mais sujos. Eles encontraram, por exemplo, uma média
de 515 UFCs na superfície do assento de privadas — ou seja, a garrafinha tinha
40 mil vezes mais bactérias que o vaso sanitário.
Os números também foram
significativamente menores no pote de ração de animais de estimação (1,4 milhão
UFCs, em média), no mouse de computador (4 milhões) e na pia da cozinha (11
milhões).
Já um estudo publicado por
especialistas da Universidade Henan, na China, concluiu que há um "nível
extremamente alto de conteúdo bacteriano e um rápido crescimento
microbiano" nesses utensílios.
Os autores estimam uma média
de 75 mil bactérias a cada mililitro de água — e esses seres microscópicos
podem se multiplicar e chegar a até 2 milhões/ml em apenas 24 horas.
Uma outra pesquisa,
realizada na Universidade Purdue, nos EUA, coletou 90 garrafas e descobriu que
cerca de 15% dos participantes nunca descartam a água que sobrou no fim do dia
— e apenas acrescentam mais líquido no próximo uso.
O estudo do WaterFilterGuru
também detectou alguns problemas de higiene: embora 42% dos participantes
tenham declarado que lavam a garrafa pelo menos uma vez ao dia, 25% afirmaram
que fazem a limpeza "poucas vezes por semana", enquanto 13% admitiram
que essa faxina ocorre "poucas vezes por mês".
MAS QUAL O PERIGO DE USAR UMA
GARRAFA SUJA? E COMO MANTÊ-LA SEMPRE LIMPA?
Um poço de bactérias?
As garrafas recebem
bactérias das mais variadas fontes — como das mochilas onde são carregadas, por
exemplo
Precisamos ter em mente que
vivemos cercado de bactérias por todos os lados — e isso não é necessariamente
uma coisa ruim (às vezes, é algo bem-vindo e vital para nossa própria
sobrevivência).
E esses seres microscópicos
podem "invadir" as nossas garrafinhas d'água das mais diversas
maneiras.
A primeira e a mais óbvia
delas acontece quando encostamos a boca no gargalo, para beber o líquido. Uma
porção dos micróbios que colonizam pele, lábios, gengiva, dentes e língua —
como os Staphylococcus e os Streptococcus — "pulam" para o utensílio
e passam a se multiplicar nesse novo ambiente.
Algo parecido acontece quando
usamos os dedos para pegar o recipiente ou desrosquear a tampa, para ter acesso
à água. Nossas mãos estão em contato com uma série de outros objetos
(maçanetas, botões de elevador, corrimão…) que também são manipulados por
outros indivíduos.
As bactérias ainda podem
estar nas bolsas e nas mochilas onde a garrafa é transportada, nos armários da
academia, na mesa de trabalho, na pia da cozinha…
Uma vez no recipiente, esses
micróbios formam colônias e passam a se multiplicar em progressão geométrica,
caso não sejam controladas pelas limpezas frequentes — por isso que elas podem
passar de 75 mil/ml para 2 milhões/ml em apenas 24 horas, como estimado pelo
estudo chinês.
O ambiente úmido, com boa
temperatura e escuro (no caso das garrafas de plástico ou alumínio) também
representa um cenário ideal para muitas espécies de fungos.
Nos casos em que a higiene
está muito atrasada, é possível ver a olho nu o resultado dessa
"festa" microscópica: a água ganha alguns detritos, que geralmente
decantam no fundo da garrafa, e surgem manchas verdes ou pretas na tampa ou em
regiões de difícil acesso, como bocais e canudos.
MAS DAÍ VEM A QUESTÃO: TER
CONTATO COM ESSE MATERIAL REPRESENTA ALGUM RISCO À SAÚDE?
A resposta depende de uma
série de fatores, apontam os especialistas.
"Nós precisamos levar em
conta que temos dez vezes mais bactérias do que células no nosso corpo",
explica Lins, que também é presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do
Rio de Janeiro.
"A depender da
quantidade e dos tipos de micro-organismos ingeridos, nosso sistema imunológico
dá conta dessa demanda sem maiores problemas", complementa ele.
Em alguns casos — quando o
número de micróbios na garrafinha está muito elevado, por exemplo — o dono do
utensílio pode apresentar alguns sintomas gastrointestinais mais leves, como
enjoos e vômitos.
A pessoa também pode estar
com o azar de ter a garrafinha colonizada por uma bactéria mais barra-pesada,
capaz de provocar infecções graves ou difíceis de tratar com os antibióticos
comuns.
Há também aqueles que são
alérgicos aos fungos e ao mofo. Neles, o uso de um reservatório de água cheio
desses micro-organismos pode causar reações, com o aparecimento de congestão
nasal, náusea, dor de cabeça, fadiga, entre outros incômodos.
O microbiologista Jorge
Timenetsky, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo
(ICB-USP), explica que alguns grupos são mais vulneráveis — e, portanto,
precisam ter mais atenção com a higiene dos objetos de uso pessoal.
"É o caso de crianças
pequenas, idosos ou indivíduos com algum comprometimento do sistema
imunológico", lista ele.
LIMPEZA DIÁRIA
,Lavar a garrafa uma vez
ao dia é suficiente para controlar o crescimento de micro-organismos, dizem
especialistas
MAS COMO FAZER UMA BOA FAXINA
NA GARRAFINHA D'ÁGUA, SEM EXAGEROS OU NEURAS?
A primeira recomendação dos
especialistas tem a ver com a frequência. "Idealmente, é preciso lavar
cada vez que fizer uso", resume Lins.
"Fazer a limpeza uma vez
ao dia, ao chegar em casa, é o suficiente", concorda Timenetsky.
Para controlar o crescimento
de bactérias, basta usar água e sabão — os mesmos produtos que você usa para
lavar o resto da louça.
"Também é importante
usar escovas para fazer a remoção mecânica dos micro-organismos",
acrescenta o professor do ICB-USP.
Depois, deixe secar por um
tempo antes de encher com água para um novo ciclo de hidratação.
Os pesquisadores também
sugerem não compartilhar o objeto com outras pessoas — cada um deve ter sua
própria garrafinha — e não preencher o vasilhame com outros líquidos, como
sucos, isotônicos e refrigerantes — eles carregam nutrientes que podem
"turbinar" as colônias de micróbios.
E SERÁ QUE O MATERIAL
UTILIZADO NA FABRICAÇÃO DAS GARRAFINHAS PODE INFLUENCIAR O NÍVEL DE
CONTAMINAÇÃO? ALUMÍNIO, PLÁSTICO OU VIDRO TRAZEM VANTAGENS OU DESVANTAGENS?
De acordo com os
especialistas, a escolha depende da preferência de cada pessoa, já que esses
compostos têm características similares do ponto de vista do acúmulo de seres
microscópicos.
O estudo da Universidade
Purdue, citado no início da reportagem, descobriu que as garrafinhas de vidro
coletadas para o experimento tinham uma menor taxa de micro-organismos em comparação
com aquelas feitas de alumínio.
Timenetsky sugere evitar
recipientes com ranhuras ou partes ásperas, pois elas podem reter uma
quantidade maior de material orgânico.
Já Lins contra‑indica
utensílios que tenham partes de madeira (o que é incomum nesses casos).
"Além disso, quanto mais simples eles forem, mais fácil será a
limpeza", acrescenta ele.
Ou seja: copos e garrafas com
bicos, canudos e outras estruturas pequenas não chegam a ser contra‑indicados,
mas exigem uma atenção maior na hora da higiene.
Pode ser necessário comprar
escovas pequenas e flexíveis para alcançar essas partes menores, que são quase
impossíveis de limpar com uma esponja comum. Fonte: BBC News Brasil em Londres-21 junho 2024