terça-feira, 9 de julho de 2024

Revolução Constitucionalista de 1932 em São Paulo


A Revolução Constitucionalista de 1932 de 1932 completa 92 anos nesta terça-feira (9), data considerada magna no estado de São Paulo por ter marcado o conflito armado entre forças paulistas que tinham por objetivo derrubar o governo de Getúlio Vargas. O militar gaúcho havia assumido a presidência do governo provisório nacional após um golpe de Estado decorrente da Revolução de 1930, contra o presidente eleito Júlio Prestes, representante da política paulista.

O dia tornou-se feriado estadual em 1997, com a aprovação da Lei 9.497 pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) e promulgada pelo ex-governador Mário Covas, que instituiu o 9 de julho como Data Magna de São Paulo.

Outra causa do conflito foi a ruptura da política do ‘café com leite’, a alternância de poder entre as elites de Minas Gerais e São Paulo, que caracterizou a República Velha (1889-1930). Indignados com a situação, setores da sociedade paulista passaram a promover grandes mobilizações populares contra o governo, que se estendiam para outros estados como Minas Gerais, Alagoas e Rio Grande do Sul.

No Rio de Janeiro, em 1931, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) organizou uma manifestação contra a carestia, violentamente reprimida. O estopim da fase armada do levante foi uma manifestação no dia 23 de maio de 1932, na Praça da República, onde ficava a sede do governo do interventor nomeado por Vargas.

Foi nessa ocasião em que um conflito após uma invasão a um escritório do Partido Popular Paulista deixou mortos quatro estudantes: Mario Martins de Almeida, Euclydes Bueno Miragaia, Dráusio Marcondes de Souza e Antônio Américo de Camargo Andrade, que passaram a ser mártires do movimento, que adotou a sigla MMDC, com as iniciais dos nomes dos estudantes. Um quinto manifestante morreu dias depois no hospital.

A rebelião armada estourou no dia 9 de julho e voluntários começaram a se apresentar para engrossar o exército a favor da causa paulista. As operações militares começaram no dia 12 de julho com frentes de batalha nas divisas com o Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e no litoral, com pelo menos 50 mil homens. Entretanto, o exército federal era bem maior e melhor equipado, com cerca de 100 mil pessoas, e São Paulo acabou perdendo o apoio dos outros estados, exceto do Mato Grosso.

A batalha durou três meses e acabou com a rendição dos paulistas no dia 2 de outubro. Em maio de 1933, foram realizadas eleições para a Assembleia Constituinte e, em novembro, foi elaborada a Constituição brasileira, promulgada pelo presidente Getúlio Vargas, em 1934.

POLÊMICAS

Segundo o historiador Francisco Quartim de Moraes, as causas para que São Paulo se levantasse em uma guerra civil contra o resto do país são, além de complexas, motivo de polêmica. Moraes explicou que parte da oligarquia paulista, sobretudo aqueles que estavam ligados ao Partido Republicano Paulista, buscavam a retomada do poder, quase hegemônico, que exerceram durante toda a Primeira República.

“Esse poder foi colocado em cheque pela Revolução de 1930. Também lhes motivava o medo de uma Revolução Social mais radical. Outro grupo político, o Partido Democrático, havia apoiado o movimento de 30, mas se sentia alijado dos rumos que o Governo Provisório tomava. Durante a interventoria de João Alberto, nomeado para o cargo por Getúlio Vargas, a crise se agudizou exponencialmente’, disse o historiador.

De acordo com Moraes, o novo interventor, socialista e revolucionário, ex-comandante de um destacamento da Coluna Miguel Costa-Luis Carlos Prestes, tomou uma série de medidas que assustaram o poder político e econômico paulista. Entre elas, houve a promulgação de leis trabalhistas e a tentativa de legalização do Partido Comunista do Brasil no estado de São Paulo.

“Se no início a campanha paulista se centrou no pedido da nomeação de um interventor ‘paulista e civil’ em oposição a João Alberto, que era pernambucano e militar, depois que Vargas nomeou interventores paulistas e civis, como o próprio Pedro de Toledo, que seguiu como governador de São Paulo mesmo durante o movimento armado iniciado em 09 de julho, essa campanha perdeu o seu sentido”, diz o historiador.

Segundo ele, o mesmo ocorreu com a campanha que dá nome oficial ao movimento, quando paulistas (e também outras figuras de todo o país) clamavam pela reconstitucionalização do país. Se em um primeiro momento essa campanha teve força e encontrou eco no pensamento de muitos brasileiros, depois que Vargas promulgou o Código Eleitoral em 24 de fevereiro de 1932, com medidas como o voto feminino, a justiça eleitoral e o voto secreto, e depois marcou oficialmente, em 14 de maio de 1932, a data para que ocorresse a constituinte de 1933-1934, essa argumentação perdeu a maior parte de sua força.

“Ambas as datas são anteriores ao levante de 9 de julho e, portanto, não podem ter sido resultado da guerra civil. São Paulo buscava retornar à federalização garantida pela constituição de 1891. Isso era explícito nos discursos e manifestos do movimento paulista. Enquanto a Revolução de 30 havia tido um caráter centralizador”, explicou.

Para Moraes, embora muitos autores indiquem que a reconstitucionalização seja um legado do movimento paulista de 1932, isso não condiz com a ordem dos fatos. “A reconstitucionalização do país já estava completamente estruturada, nos moldes em que ocorreu meses antes do início da guerra civil. O legado concreto de 1932 é a criação de um sentimento de identidade no povo paulista, o que hoje podemos chamar de paulistaneidade. Realçada todo 9 de julho e que teve no quarto centenário da cidade, em 1954, um momento chave com a criação do Obelisco do Ibirapuera”, finalizou o historiador. Fonte: Agência Brasil - São Paulo - Publicado em 09/07/2024  


domingo, 7 de julho de 2024

Como evitar que garrafinha d'água vire um poço de micróbios

Ter uma garrafinha d'água a tiracolo representa um benefício duplo: primeiro, o hábito garante um bom nível de hidratação, algo muito importante em termos de saúde; segundo, evita o consumo excessivo de materiais descartáveis, um ponto positivo em termos de sustentabilidade.

MAS VOCÊ JÁ PAROU PRA PENSAR NA HIGIENE DESSE UTENSÍLIO?

"Muita gente acredita que, como só vai água ali dentro, basta enxaguar na torneira, antes de encher, que a garrafinha já fica limpa", observa o médico Rodrigo Lins, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Mas isso está longe de representar a realidade, apontam as pesquisas: se não forem limpos, esses recipientes podem acumular muitos micro-organismos, como bactérias e fungos, que podem fazer mal à saúde.

Um levantamento realizado pela WaterFilterGuru, uma empresa especializada em controle de qualidade da água nos EUA, calculou que uma única garrafa reutilizável pode carregar cerca de 20,8 milhões de UFCs (Unidades de Formação de Colônias).

A UFC é uma medida que indica o número de micróbios viáveis, capazes de formar uma colônia, numa determinada superfície.

O estudo comparou o nível de contaminação de uma garrafinha com uma série de outros objetos que, a princípio, parecem muito mais sujos. Eles encontraram, por exemplo, uma média de 515 UFCs na superfície do assento de privadas — ou seja, a garrafinha tinha 40 mil vezes mais bactérias que o vaso sanitário.

Os números também foram significativamente menores no pote de ração de animais de estimação (1,4 milhão UFCs, em média), no mouse de computador (4 milhões) e na pia da cozinha (11 milhões).

Já um estudo publicado por especialistas da Universidade Henan, na China, concluiu que há um "nível extremamente alto de conteúdo bacteriano e um rápido crescimento microbiano" nesses utensílios.

Os autores estimam uma média de 75 mil bactérias a cada mililitro de água — e esses seres microscópicos podem se multiplicar e chegar a até 2 milhões/ml em apenas 24 horas.

Uma outra pesquisa, realizada na Universidade Purdue, nos EUA, coletou 90 garrafas e descobriu que cerca de 15% dos participantes nunca descartam a água que sobrou no fim do dia — e apenas acrescentam mais líquido no próximo uso.

O estudo do WaterFilterGuru também detectou alguns problemas de higiene: embora 42% dos participantes tenham declarado que lavam a garrafa pelo menos uma vez ao dia, 25% afirmaram que fazem a limpeza "poucas vezes por semana", enquanto 13% admitiram que essa faxina ocorre "poucas vezes por mês".

MAS QUAL O PERIGO DE USAR UMA GARRAFA SUJA? E COMO MANTÊ-LA SEMPRE LIMPA?

Um poço de bactérias?

As garrafas recebem bactérias das mais variadas fontes — como das mochilas onde são carregadas, por exemplo

Precisamos ter em mente que vivemos cercado de bactérias por todos os lados — e isso não é necessariamente uma coisa ruim (às vezes, é algo bem-vindo e vital para nossa própria sobrevivência).

E esses seres microscópicos podem "invadir" as nossas garrafinhas d'água das mais diversas maneiras.

A primeira e a mais óbvia delas acontece quando encostamos a boca no gargalo, para beber o líquido. Uma porção dos micróbios que colonizam pele, lábios, gengiva, dentes e língua — como os Staphylococcus e os Streptococcus — "pulam" para o utensílio e passam a se multiplicar nesse novo ambiente.

Algo parecido acontece quando usamos os dedos para pegar o recipiente ou desrosquear a tampa, para ter acesso à água. Nossas mãos estão em contato com uma série de outros objetos (maçanetas, botões de elevador, corrimão…) que também são manipulados por outros indivíduos.

As bactérias ainda podem estar nas bolsas e nas mochilas onde a garrafa é transportada, nos armários da academia, na mesa de trabalho, na pia da cozinha…

Uma vez no recipiente, esses micróbios formam colônias e passam a se multiplicar em progressão geométrica, caso não sejam controladas pelas limpezas frequentes — por isso que elas podem passar de 75 mil/ml para 2 milhões/ml em apenas 24 horas, como estimado pelo estudo chinês.

O ambiente úmido, com boa temperatura e escuro (no caso das garrafas de plástico ou alumínio) também representa um cenário ideal para muitas espécies de fungos.

Nos casos em que a higiene está muito atrasada, é possível ver a olho nu o resultado dessa "festa" microscópica: a água ganha alguns detritos, que geralmente decantam no fundo da garrafa, e surgem manchas verdes ou pretas na tampa ou em regiões de difícil acesso, como bocais e canudos.

MAS DAÍ VEM A QUESTÃO: TER CONTATO COM ESSE MATERIAL REPRESENTA ALGUM RISCO À SAÚDE?

A resposta depende de uma série de fatores, apontam os especialistas.

"Nós precisamos levar em conta que temos dez vezes mais bactérias do que células no nosso corpo", explica Lins, que também é presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro.

"A depender da quantidade e dos tipos de micro-organismos ingeridos, nosso sistema imunológico dá conta dessa demanda sem maiores problemas", complementa ele.

Em alguns casos — quando o número de micróbios na garrafinha está muito elevado, por exemplo — o dono do utensílio pode apresentar alguns sintomas gastrointestinais mais leves, como enjoos e vômitos.

A pessoa também pode estar com o azar de ter a garrafinha colonizada por uma bactéria mais barra-pesada, capaz de provocar infecções graves ou difíceis de tratar com os antibióticos comuns.

Há também aqueles que são alérgicos aos fungos e ao mofo. Neles, o uso de um reservatório de água cheio desses micro-organismos pode causar reações, com o aparecimento de congestão nasal, náusea, dor de cabeça, fadiga, entre outros incômodos.

O microbiologista Jorge Timenetsky, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), explica que alguns grupos são mais vulneráveis — e, portanto, precisam ter mais atenção com a higiene dos objetos de uso pessoal.

"É o caso de crianças pequenas, idosos ou indivíduos com algum comprometimento do sistema imunológico", lista ele.

LIMPEZA DIÁRIA

,Lavar a garrafa uma vez ao dia é suficiente para controlar o crescimento de micro-organismos, dizem especialistas

MAS COMO FAZER UMA BOA FAXINA NA GARRAFINHA D'ÁGUA, SEM EXAGEROS OU NEURAS?

A primeira recomendação dos especialistas tem a ver com a frequência. "Idealmente, é preciso lavar cada vez que fizer uso", resume Lins.

"Fazer a limpeza uma vez ao dia, ao chegar em casa, é o suficiente", concorda Timenetsky.

Para controlar o crescimento de bactérias, basta usar água e sabão — os mesmos produtos que você usa para lavar o resto da louça.

"Também é importante usar escovas para fazer a remoção mecânica dos micro-organismos", acrescenta o professor do ICB-USP.

Depois, deixe secar por um tempo antes de encher com água para um novo ciclo de hidratação.

Os pesquisadores também sugerem não compartilhar o objeto com outras pessoas — cada um deve ter sua própria garrafinha — e não preencher o vasilhame com outros líquidos, como sucos, isotônicos e refrigerantes — eles carregam nutrientes que podem "turbinar" as colônias de micróbios.

E SERÁ QUE O MATERIAL UTILIZADO NA FABRICAÇÃO DAS GARRAFINHAS PODE INFLUENCIAR O NÍVEL DE CONTAMINAÇÃO? ALUMÍNIO, PLÁSTICO OU VIDRO TRAZEM VANTAGENS OU DESVANTAGENS?

De acordo com os especialistas, a escolha depende da preferência de cada pessoa, já que esses compostos têm características similares do ponto de vista do acúmulo de seres microscópicos.

O estudo da Universidade Purdue, citado no início da reportagem, descobriu que as garrafinhas de vidro coletadas para o experimento tinham uma menor taxa de micro-organismos em comparação com aquelas feitas de alumínio.

Timenetsky sugere evitar recipientes com ranhuras ou partes ásperas, pois elas podem reter uma quantidade maior de material orgânico.

Já Lins contra‑indica utensílios que tenham partes de madeira (o que é incomum nesses casos). "Além disso, quanto mais simples eles forem, mais fácil será a limpeza", acrescenta ele.

Ou seja: copos e garrafas com bicos, canudos e outras estruturas pequenas não chegam a ser contra‑indicados, mas exigem uma atenção maior na hora da higiene.

Pode ser necessário comprar escovas pequenas e flexíveis para alcançar essas partes menores, que são quase impossíveis de limpar com uma esponja comum. Fonte: BBC News Brasil em Londres-21 junho 2024