Autoridades de 50 países participam da solenidade no antigo
campo de concentração na Polônia, em meio a temores pelo aumento do
antissemitismo. "Precisamos tomar cuidado para que não volte a acontecer",
diz sobrevivente.
Mais de 200 sobreviventes do Holocausto e delegações de mais
de 50 países se reuniram nesta segunda-feira (27/01) no antigo campo de
concentração nazista de Auschwitz-Birkenau, na Polônia, para marcar o 75º
aniversário de libertação do local, no fim da Segunda Guerra Mundial. A
cerimônia ocorre em meio a temores de vários países em relação ao crescente
antissemitismo.
Dezenas de sobreviventes, acompanhados de filhos, netos,
bisnetos e outros familiares, atravessaram o portão de ferro com a inscrição
Arbeit macht frei ("o trabalho liberta"), pelo qual as vítimas
passavam antes de serem assassinadas.
Muitos usavam gorros e lenços listrados de azul e branco,
simbolizando os uniformes usados pelos prisioneiros. O presidente polonês, Andrzej
Duda, também participou da caminhada e depositou flores perto do "muro da
morte".
"Precisamos forjar o futuro do mundo com base em uma
compreensão profunda do que aconteceu há mais de 75 anos no coração da Europa e
no que as testemunhas oculares continuam nos relatando", escreveu Duda em
comunicado divulgado antes do evento.
"A verdade sobre o Holocausto não deve morrer. Não
cessaremos nossos esforços para fazer o mundo se lembrar desse crime. Para que
nada disso aconteça novamente."
Mais de 1 milhão de pessoas, a maioria judias, foram mortas
pelos nazistas em Auschwitz. Cerca de 900 mil foram assassinadas em câmaras de
gás logo após a chegada ao campo.
CAMPO DE CONCENTRAÇÃO DE AUSCHWITZ
Soldados soviéticos entraram no campo de concentração de
Auschwitz em 27 de janeiro de 1945. Encontraram ali prisioneiros em condições
precárias, sem forças para andar. Além de resgatá-los, os militares levaram
também caixas de documentos do campo.
Assim, pastas com fichas de prisioneiros, chamadas de
"livros da morte", foram preservadas, mas o conteúdo delas só seria
revelado em 1991, após o fim da União Soviética.
A busca por novas informações sobre o Holocausto foi
constante ao longo das últimas sete décadas. Nesta segunda (27), celebra-se o
aniversário de 75 anos da liberação de Auschwitz, complexo onde mais de 1
milhão de pessoas foram mortas, centenas de milhares foram condenadas a
trabalhos forçados e que se tornou símbolo da luta para evitar novos
genocídios.
A existência dos campos de concentração para judeus já era
citada pela imprensa americana e britânica a partir de 1942, mas, em meio ao
noticiário da Segunda Guerra, com suas batalhas diárias em várias frentes, o
assunto aparecia de modo lateral.
A partir de 1944, conforme os Aliados avançavam em direção a
Berlim, os campos de concentração foram descobertos pelo caminho. Os soldados
encontram pilhas de corpos queimados, valas comuns e prisioneiros muito
doentes.
No entanto, relatos e imagens feitas pelos correspondentes
de guerra sofreram controle por parte dos governos. Na França, por exemplo,
autoridades não queriam alarmar as famílias sobre o destino dos parentes
enviados a combates.
Essa postura mudaria radicalmente a partir de 12 de abril de
1945. Naquele dia, o general americano Dwight Eisenhower, comandante dos
Aliados na Europa, visitou o então recém liberado campo de Ohrdruf, na
Alemanha.
Ali, Eisenhower ficou chocado ao ver pilhas de corpos com
tiros na cabeça, entre outras cenas fortes, e decide retirar todas as
restrições à divulgação dos fatos. Além disso, convida congressistas e
jornalistas a visitar os campos.
Houve então uma apuração detalhada, com registros em fotos e
filmes, que seria usada nos julgamentos de Nuremberg. Os depoimentos durante as
audiências, realizadas a partir do final de 1945, trouxeram novos detalhes sobre
as atrocidades. Na época, livros com relatos de prisioneiros começaram a ser
lançados.
Depois de Nuremberg, foi criado o conceito de crimes contra
a humanidade, como saída para uma questão: muitos oficiais nazistas tentaram se
defender dizendo que apenas seguiam ordens. A mudança na lei internacional
passou a permitir a responsabilização dos executores de extermínios em massa,
sem subterfúgios.
Nos anos 1960, houve um novo julgamento de nazistas, e novos
fatos. A partir de 1970, historiadores israelenses buscam mudar a forma como se
registra a memória do que ocorreu.
"Passou-se a valorizar mais as histórias individuais,
em vez de citar os grandes números. No lugar de mostrar uma pilha de sapatos,
conta-se a história de um par e de quem foi seu dono", explica Carlos
Reiss, coordenador-geral do Museu do Holocausto de Curitiba.
Nas últimas décadas, conforme o prazo de sigilo de
documentos oficiais de vários países expirava, historiadores vão desvendando
como várias nações e instituições se comportaram em relação ao Holocausto.
Fonte: Folha de São Paulo, Deutsche
Welle-27.01.2020
Nenhum comentário:
Postar um comentário