quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Thiago Braz voou

O ouro de Thiago Braz é marcado pela ousadia. O primeiro brasileiro a ser campeão olímpico no salto com vara - feito conquistado na segunda-feira (15), no Engenhão - só conseguiu a façanha porque não se contentou com a prata e colocou o sarrafo 11 cm acima do seu recorde pessoal. Se ele teve condições de fazer isso, é porque no fim de 2014 ele saiu do lugar comum e mudou de país. Abandonou os treinos com Élson Miranda, técnico de Fabiana Murer, e foi parar em Fórmia, na Itália, longe de família e amigos.

Tudo por apostar que valia a pena trocar o conforto e a segurança da sua casa no Brasil pelo desafio de trabalhar integralmente com Vitaly Petrov, o ucraniano que mudou a história do esporte. Foi ele, no fim da década de 1980, que guiou o compatriota Sergei Bubka a 35 quebras de recorde na carreira. Vinte anos depois, ele levou a russa Yelena Isinbayeva a dominar a modalidade no feminino.

Não é coincidência que os dois maiores saltadores da história tenham o mesmo técnico. Só que ao trocar o Brasil pela Itália rendeu dores de cabeça para o brasileiro. Elson, seu antigo técnico, fez críticas públicas ao ex-pupilo e a Petrov, de quem era parceiro. Thiago sofreu em silêncio, acumulou maus resultados e respondeu na hora certa. A ousadia rendeu o quinto ouro do atletismo brasileiro na história e um recorde olímpico. Aos 22 anos, na hora decisiva, ele teve a força mental e a técnica para ocupar o espaço que separava seu histórico do maior título de todos. E não tem dúvida ao ser perguntado se conseguiria o feito sem Petrov:

Acredito que não. De todos os treinadores que passaram comigo, o mais refinado foi o Vitaly, ao meu ver. Eu arrisquei todas as minhas fichas no Vitaly. Eu poderia não estar no atletismo caso não tivesse resultado com ele

Thiago Braz, que não tivera tempo de saltar com o forte temporal, deixou para começar suas tentativas a partir de 5,65 m. Era a mesma marca escolhida pelo francês Lavillenie. O brasileiro superou a marca com facilidade e, apesar de uma falha, também passou pelos 5,75 m. A partir daí, a disputa ficou entre cinco atletas e a medalha ganhava contornos de realidade.

Thiago Braz ultrapassou os 5,85 m na primeira tentativa. Com as falhas do polonês Piotr Lisek e do tcheco Jan Kudlicka, só sobraram três na competição: ele, o favorito Lavillenie e o americano Sam Kendricks. O pódio agora era garantido: só faltava saber a cor da medalha.

Thiago superou os 5,93 m em sua segunda tentativa. Já era o melhor salto em estádio aberto (algumas competições são disputadas em locais fechados) da sua vida: o anterior foi em Baku (Azerbaijão), quando atingiu 5,92 m, em 2015. O americano falhou, e a prata estava assegurada - até aquele momento - no peito do brasileiro.

A disputa, então, era com o francês. E Lavillenie seguia o roteiro dos favoritos: saltou os 5,98 m. A torcida brasileira vaiava cada tentativa do rival. O locutor tentava contê-los com pedidos de silêncio. Os franceses, em grande número, já comemoravam seu provável campeão.

O inesperado, o incrível aconteceu. Thiago Braz correu para saltar sobre uma barreira de 6,03 m, algo que ele nunca havia sequer tentado, e venceu. Os franceses botaram as mãos na cabeça em descrédito, os brasileiros explodiram. Era o recorde olímpico. Lavillenie ainda teve mais um salto, tentando 6,08 m, e falhou.

Thiago entrou como a terceira melhor marca do ano na final, era campeão olímpico. Uma dessas histórias para botar em moldura de ouro no museu da história dos Jogos. Fonte: UOL Olimpiadas - 15.08.2016 

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