sábado, 20 de novembro de 2010

Retrato da educação: Aluna agride professor

A direção da escola informou que abriu investigação interna pra decidir se vai ou não punir a estudante

As cenas de violência aconteceram dentro de uma escola estadual, em Jacarezinho, no Paraná. A direção da escola informou que abriu investigação interna pra decidir se vai ou não punir a estudante.

Na escola, o assunto correu de boca em boca e de celular pra celular. Alunos mostram e falam que logo depois que aconteceu já foram distribuindo.

Casos de agressões dentro da escola costumam vir a público apenas por relatos das vítimas. Mas o de um colégio tem o reforço dramático de sons e imagens gravados com um celular por um aluno que estava no fundo da sala.

Professor -- fala como um bom ser humano!

Aluna -- você que é um cavalo, um jumento!

A aluna continua xingando o professor e, quando tudo parecia mais calmo, ela se levanta e atira a carteira em cima dele. O professor, de 47 anos, há 23 na profissão, diz que só havia pedido silêncio à aluna e que ela se exaltou. “Essa atitude não deve servir de exemplo”.

A aluna, de 17 anos, está no segundo ano do ensino médio e contínua frequentando as aulas. A direção da escola informou que abriu investigação interna pra decidir se vai ou não punir a estudante.Fonte: Gazeta do Povo - 20/11/2010 

Vídeo:


Comentário: É a educação políticamente correta  da esquerda. Puxa, ainda continua frequentando as aulas e o absurdo a escola ainda vai decidir se pune ou não a aluna?  Muito provável aplicará o Estatuto da Criança, ou melhor, o Manual da Impunidade. O estatuto alega que o jovem é vítima do sistema, da família, etc. Esse é o retrato da educação brasileira. O futuro da país está nas mãos   desses jovens,  educados conforme o Estatuto da Criança.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Brasil ultrapassa em outubro a marca de um celular por habitante

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A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) informou que o Brasil ultrapassou a marca de um celular por habitante.

São 194,4 milhões de acessos à telefonia móvel para uma população de 193,6 milhões de habitantes, segundo os últimos dados do IBGE.

Há, portanto, 1.004 celulares para cada 1.000 habitantes, a 8ª maior densidade de telefonia móvel do mundo. O maior desempenho é o da Rússia, que apresenta atualmente 1,62 celulares para cada 1.000 habitantes.

O Brasil fica acima de países como França, Estados Unidos e Japão no ranking de densidade de celular.

O Distrito Federal é quem mais se destaca, com 1,7 celular por pessoa. Em seguida vem São Paulo, com densidade de 1,2. Depois Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro, ambos com 1,1 celular por habitante.

Do total de acessos, 82,19% são celulares pré-pagos. A Vivo é empresa líder do mercado, com 30% de participação. Depois vem a Claro (25,6%), TIM (24,7%) e Oi (19,4%).

"O aumento do serviço de telefonia móvel representa segurança, conforto, acesso à informação, geração de empregos e facilidade em pagamentos eletrônicos", afirmou o presidente da agência, Ronaldo Sardenberg.

Pela ordem, após a Rússia, o ranking aponta Itália (1,43); Vietnã (1,38); Alemanha (1,37); Reino Unido (1,33); Espanha (1,21); e Tailândia (1,07).

Segundo Sardenberg, a Anatel trabalha para que a qualidade acompanhe a evolução do número de linhas. "Via qualidade e via competição que se baixam os preços", afirmou. Fonte: Folha.com - 18/11/2010

Comentário: Só é assim que o Brasil fica entre os melhores, no consumismo. Na educação entre o piores. Como o atual governo não se preocupou com a educação e o próximo parece que a educação é um objetivo  marginal, continuaremos com o modelo do Tiririca. Temos tudo, computador, internet, celular, carro, etc. Mas não temos biblioteca, livros, mas nóis não sabe ler direito.

Transporte urbano: ônibus ecológico chinês


 Uma grande preocupação  no planejamento do transporte urbano é como aumentar a velocidade do tráfego: colocando mais ônibus nas vias  aumentará o congestionamento  e piorará a qualidade do ar, a construção do metrô é mais caro e demorado.  Bem, aqui está uma alternativa rápida, mais barata, mais verde,  para iluminar a mente um pouco: o Straddling Bus,  exibido pela primeira vez na 13ª feira High-Tech Expo Internacional de Pequim, em maio deste ano.  

Num futuro próximo, o modelo deve ser colocado em uso piloto no distrito de  Mentougou em Pequim.

O modelo foi proposto pela empresa Shenzhen Hashi Future Parking Equipment Co. Ltd,  parece um trem de metrô ou trem  superfície urbana (LTR). Tem de 4 a 4,5 m de altura com dois níveis: no andar superior, embarque para passageiros, enquanto no nível inferior é uma passagem para veículos com altura inferior a  2 m.  

Alimentado por energia elétrica e solar, o ônibus pode acelerar até 60 km/h, transportando 1200-1400 passageiros,  sem interromper o trânsito de veículos.  Também custa cerca de 75 milhões de dólares para a construção do ônibus e um trajeto de 40 km que equivale apenas 10% da construção do metrô.  O ônibus pode reduzir os engarrafamentos em 20 a 30%. Fonte: China Hush - July 31st, 2010

Vídeo:

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Imigração Libanesa no Brasil completa 130 anos

Os libaneses constituem um grupo entre a grande imigração dos árabes no Brasil, a própria Embaixada do Líbano no Brasil inclui o fluxo migratório dos libaneses dentro das quatro fases que identifica para a imigração árabe no país. Segunda a Embaixada, os períodos são: de 1850 a 1900, quando tem início o processo imigratório destinado a várias regiões do país; de 1900 a 1918, quando a imigração já se encontra em processo avançado e é possível falar em colônias árabes no Brasil; e de 1918 a 1950, período que associa as duas fases finais e leva os libaneses mais para a região sul do país em decorrência do notório crescimento econômico.

Oficialmente, a Imigração Libanesa no Brasil começou em 1880, quatro anos após o Imperador Dom Pedro II ter visitado o Líbano. O fluxo de libaneses aumentou em fluxo contínuo nos períodos seguintes, não eram destinados a uma região específica do Brasil, mas sim ao local que encontravam melhores condições para viver.

Hoje são 7 milhões de libaneses e descendentes que vivem no país, quase o dobro da população inteira do Líbano, que não chega a 4 milhões.

A comunidade árabe brasileira é formada principalmente por sírios e libaneses, mas há imigrantes e descendentes de quase todas as nações árabes. Os imigrantes árabes e seus descendentes somam 6,5% da população brasileira.

Libaneses são chamados de turcos no Brasil

Por causa dos passaportes otomanos. Muitos imigrantes sírios e libaneses que chegaram ao Brasil antes do fim da Primeira Guerra, quando o Império Otomano foi desmembrado tinham o passaporte ou identidade turco-otomana.

Vídeo:


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Globalização e Democracia

Globalização significa muito mais que internacionalização. Significa que nenhuma instituição política, social ou religiosa é capaz de controlar um sistema econômico globalizado. Portanto, minha principal ideia é que a globalização significa o fim da sociedade. A diversidade dos atores é mais importante do que o sistema.

O que restou é o mercado puro. Vivemos agora em uma não sociedade, na qual as pessoas estão interessadas em coisas sem significado. Eliminar significados tem sido a aventura da Europa nos últimos 20 anos. Por exemplo, o desenvolvimento industrial sendo eliminado para dar lugar ao mercado financeiro: dinheiro pelo dinheiro.

Na vida privada, teorias românticas do século XIX deram lugar ao erotismo, à pornografia, ao sexo sem comunicação, emoção ou intenção. Interesse e desejo são a mesma coisa. Minha pergunta é se é possível reconstruir uma vida social a partir de nenhum elemento social, pois eles despareceram ao longo do caminho.

E é possível? Há esperança para a vida em sociedade?

O único movimento político realmente forte hoje é a ecologia. Pela primeira vez na História abandonamos a velha filosofia de Descartes ou Bacon de que a cultura domina a natureza. Pela primeira vez estamos preocupados em salvar a natureza sem destruir a civilização e vice-versa. Outra força antropológica pela qual tenho grande interesse é o movimento feminista. Mulheres em geral têm uma visão de sociedade que é o contrário do modelo masculino de tensão extrema, polarização. Mulheres buscam a conciliação em vez da oposição.

No entanto, o feminismo ainda não existe como força política. O sexismo domina. Já avançamos, mas as mulheres continuam tratadas como vítimas. Ninguém as menciona como alguém que faz coisas. São mais criativas que os homens, mas, por enquanto, aparecem como vítimas, principalmente da violência doméstica. A terceira força do que seria esta nova sociedade está no indivíduo, no direito a ter direitos, como dizia Hannah Arendt.

Ninguém sabe o que democracia significa hoje, cada um tem sua definição. Para mim, democracia é ampliar o acesso de todos a serviços e bens básicos, como educação e saúde, entre outras coisas. É possível reconstruir uma sociedade baseada em termos não sociais universais, tais como a ecologia e os direitos individuais. Sou um grande defensor da ideia de universalização. É fundamental reconhecer e garantir valores universais como, por exemplo, a liberdade religiosa. Recriar formas de vida coletiva e privada baseadas em princípios universais. Se viver mais um ano, penso em escrever um livro com minhas ideias a respeito dessa nova sociedade possível.

Fonte: Globo Online – 14/11/2010 - Alain Touraine, de 85 anos, sociólogo, diretor da École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris

A Proclamação da República

Proclamação da República - Nada mais é um feriado para curtir uma praia. Banhistas passeiam na Praia do Gonzaga, em Santos, litoral paulista, na manhã desta segunda-feira (15), feriado da Proclamação da República

- Assisti tudo e tudo, dizia-me o velho Joaquim Gonçalves, uma tarde em que conversávamos na varanda de sua casa em Santa Teresa. Conheço a proclamação da República como testemunha visual. Eu era, como ainda sou, republicano. Sabia de tudo e tudo acompanhei.

- Conte-me isso.

- A história da proclamação da República ainda por aí muito embrulhada. Contam-na sem a verdade exata,
apesar de ainda haver hoje vivas muitas das figuras principais do movimento. Quer ouvir-me?

- Com todo o prazer.

- No começo do mês de novembro de 1889 sentia-se que a Monarquia estava profundamente abalada. A propaganda da República havia chegado ao seu ponto culminante. Benjamin Constant, Quintino, Deodoro, Lopes Trovão, etc., eram os homens do dia. Para não me alongar começarei da véspera do célebre dia 15, em que o trono foi posto abaixo.

Ao anoitecer de 14, corria na rua do Ouvidor a notícia da prisão de Benjamin e de Deodoro. Dizia-se que o governo, considerando esses dois militares perigosos ao regímen, mandara-os encerrar numa fortaleza. O boato era falso. Tinha-o espalhado o major Sólon, com o intuito apenas de precipitar os acontecimentos. A coletividade republicana, com o boato, ferveu nas ruas, nas redações dos jornais e nos quartéis. Os batalhões sublevaram-se. Pela madrugada os chefes da propaganda tiveram que ser acordados em suas casas, para vir à rua comandar o movimento. Ao amanhecer de 15, a coluna revolucionária, tendo Benjamin à frente, descia a rua Visconde de Itaúna em direção ao Campo de Santana. Nas proximidades do gasômetro, Deodoro, que passava de carro, uniu-se à tropa. O velho marechal voltava do quartel do 1o regimento de cavalaria, onde não mais encontrara a força para comandar. Ao dobrar a rua Visconde de Itaúna para o campo de Santana, Deodoro salta do carro e monta o cavalo do alferes Eduardo Barbosa. Era já dia claro. A frente da coluna vai entrando no campo. No ângulo da estação da estrada de ferro estão colocados batalhões dos imperiais marinheiros e da polícia da corte que o governo ali mandara estacionar, para repelir a força revoltosa. O chefe revolucionário vai passando. Quer a polícia, quer os marinheiros não sabem o que fazer. Ele interpela-os violentamente:

- Então não fazem continência?

O major Valadão, que comandava a polícia, gritou um viva ao levante. O batalhão inteiro correspondeu-o.

O Visconde de Ouro Preto, chefe do gabinete, tinha reunido no quartel do campo de Santana os generais do estado-maior do ministro da Guerra. Sabia que as forças revolucionárias marchavam para ali, e era urgente uma medida, urgentíssimo que se enviassem tropas para bater os rebeldes em caminho. Floriano Peixoto, o barão do Rio Apa, o visconde de Maracaju, todos os generais, dissuadiram-no. As forças do quartel não se podiam mover de maneira tão rápida.

E quando Deodoro se postou com os seus batalhões defronte da fachada do quartel, o visconde, nervoso, tornou a reunir os generais. Não se tomava medida alguma? Não se desajolavam aqueles homens dali? Não havia meios e forças para os pôr fora?

- Não, respondeu Floriano.

- Não, confirmou Maracaju.

- Não, foi também a resposta do barão.

Ouro Preto percebeu tudo. A revolta estava ramificada pelo quartel adentro, pelo exército inteiro. Não podia confiar numa só farda. Resistência não havia nenhuma possível.

E sentou-se para redigir o telegrama em que depôs nas mãos do Imperador, em Petrópolis, o pedido de demissão do gabinete.

Às 8 horas da manhã, Deodoro, terminando de dispor a tropa, vai colocar-se com Benjamin e com o seu estado-maior em frente ao portão central do quartel general. Quintino Bocaiúva chega, a cavalo, para unir-se às forças da revolução. Dentre a soldadesca, ao aparecer o jornalista, há brados, vivando a República. Deodoro, contrariado com os vivas, agita o braço e ordena silêncio.

Lá de dentro do quartel mandam-lhe dizer que a metralhadora que o governo ali colocara para combater a sublevação, está às suas ordens. Pouco depois o chefe do movimento conferencia com o brigadeiro Almeida Barreto, que volta a colocar-se à frente das forças do governo. Ordena ao tenente coronel Silva Telles que suba ao quartel para intimar o ministério, que lá dentro está reunido, a abandonar o seu posto. Minutos mais tarde Floriano Peixoto vem conferenciar com o marechal revolucionário.

São 9 horas da manhã. O governo lá em cima parece que se não decide a deixar o poder. Deodoro está impaciente, todos estão agitados. O velho soldado tem um gesto resoluto. Com o seu estado-maior e um piquete aproxima-se do portão, que se conserva fechado. O capitão Pedro Paulo abre as duas imensas portas de ferro. Deodoro entra a galope quartel adentro. Ao passar em frente à metralhadora que lhe tinham mandado oferecer, ordena ao oficial que a comanda:

- Tirem daqui este trambolho.

Segue em direção do 7o batalhão de infantaria, que ali está para combatê-lo, e manda a música tocar. Um capitão do 7o grita um viva ao velho marechal e a tropa inteira o aclama. Todas as forças que estão dentro do quartel vivam o chefe revolucionário. Há um ruído ensurdecedor de músicas e brados festivos.

Lá dentro, na sala em que está reunido o ministério, ouve-se tudo aquilo silenciosamente, trocando olhares. Ouro Preto acaba de verificar, com mais segurança, que não tem ninguém ao lado do governo. O próprio Floriano, com quem o ministério tanto contara, revelara-se um conspirador.

Passam-se alguns minutos dilaceradores.

No pé da escada aparece Deodoro com o seu cortejo. Os ministros esperavam-no. Ao entrar na sala, o velho soldado saúda ligeiramente com a cabeça a Maracaju:

- Adeus, primo Rufino!

A sala tinha-se enchido num segundo; militares, titulares, políticos, homens do povo e um único jornalista, o repórter da Gazeta de Notícias, rapaz que eu conhecia de vista.

Deodoro encaminha-se para o presidente do gabinete. Era um silêncio de esfriar. O chefe revolucionário, com uma eloqüência que ninguém lhe conhecia, começa a falar. Ali estava, à frente do exército, para vingar as injustiças inexplicáveis que o governo vinha fazendo ao soldado brasileiro.

- À armada também! repete Deodoro.

E continuou. Estava doente, estava de cama, mas ao saber que os seus camaradas queriam que dirigisse aquele movimento, teve forças para levantar-se do leito. Não era homem que temesse perigos, pois só temia a Deus. As afrontas que o exército, e também a armada, - acrescentou ao novo aparte de Benjamin - vinham sofrendo do governo chegavam ao seu termo. Estava ali para não mais consenti-las. Não se compreendia que homens políticos, que só cuidavam de interesses pessoais, maltratassem os soldados, os verdadeiros, os únicos defensores da pátria. Ele, que ali estava falando, crescera e se fizera, não pisando as pedras das ruas do Rio de Janeiro, mas nos campos de batalha, ao zunir das balas e ao troar dos canhões. Tinha serviços que o visconde, como simples político, nunca podia compreender e avaliar. Durante três dias e três noites, para aludir ao acaso a uma passagem da sua vida militar, combatera no Paraguai, dentro de um lodaçal, com água pelos joelhos. Eram serviços que lhe davam direito a chefiar o levante que tinham por fim acabar com as diminuições que se faziam à honra do exército.

- Está o ministério deposto, conclui. Vamos organizar outro, de acordo com as indicações que vou levar ao Imperador. Os ministros podem retirar-se.

E apontando o visconde:

- Menos o senhor e menos o ministro da Justiça, que ficarão presos, a fim de que, sejam deportados para a Europa.

E passeando pela sala, no meio do silêncio geral:

- O visconde é teimoso, mas eu sou muito mais teimoso que o visconde.

Ouro Preto ouve tudo silenciosamente, sem um gesto, numa impassibilidade de nobreza ofendida, agitando o trancelim do pincenê. E, quando Deodoro não tem mais nada que dizer, fala:

- Não é só no campo da batalha que se serve à pátria e por ela se fazem sacrifícios. Estar aqui ouvindo as suas palavras, neste momento, não é menos penoso que passar alguns dias e noites num pantanal.

E antes que o outro retruque:

- Fico ciente do que resolveu a meu respeito. É o vencedor, pode fazer o que lhe aprouver. Submeto-me à força.

Até ali não se tinha ouvido uma só palavra, a mais vaga alusão à República. O que havia era justamente o contrário, era a declaração de Deodoro de que ia levar ao Imperador as indicações para o novo ministério, que ia organizar com os seus companheiros do movimento.

- Depois disso continuou o velho Joaquim Gonçalves, Deodoro retirou-se para a sua residência. Estava seriamente doente. Tinha estado de cama nos dias anteriores e da cama se levantara para chefiar o movimento.

Ao chegar à porta de casa, ali mesmo no Campo de Santana n. 99, fraquejavam-lhe as pernas e doía-lhe o corpo. Aquilo fora uma imprudência para a sua saúde.

Para subir as escadas de sua casa teve que apoiar-se aos ombros de dois homens.

A esposa, dona Marianinha, veio recebê-lo à porta do quarto e, vendo-o naquele abatimento, alarmou-se, mandando fechar imediatamente a cancela da rua. Ali não lhe entraria ninguém para visitar o marido!

Nas rodas republicanas a decepção era horrível. O movimento tinha sido feito com o fim único de derribar o trono e, em momento nenhum, Deodoro falara em República. Sempre aquela história da deposição do ministério!

Que se devia fazer? Aproveitar o levante para dar a República como proclamada? Não seria perigoso? Não seria impossível?

As ligações de Deodoro com o Imperador eram as mais estreitas e o monarca talvez tivesse meios de dominar o velho soldado, invocando a sua antiga fidelidade.

Naquela situação de mãe de S. Pedro é que se não podia ficar. Seria o ridículo estrondoso, a vergonha irremediável.

Estavam os republicanos reunidos no campo da Aclamação n. 17, no Instituto dos Cegos, que Benjamin Constant dirigia.

Para muitos deles, o trono estava logicamente derrubado. Que importava que o chefe da insurreição não tivesse aludido à República, se a insurreição fora, um movimento de republicanos?!

Havia necessidade de tomar-se uma medida pronta e decisiva. E que medida seria essa? O manifesto da República, a única.

Mas ninguém se decidia. Os propagandistas olhavam-se, entreolhavam-se, aos grupos, cochichando. O cair da tarde ia enchendo a sala de sombras.

Benjamin levantou-se. Estava visivelmente fatigado das vigílias da noite anterior e das impressões violentas daquele dia. Levantou-se e, encaminhando-se para uma das portas, disse com um bocejo:

- Estou muito cansado, vou tomar um banho morno.

O coronel Jaime Benévolo, que estava sentado a dois passos, ergueu-se de súbito, atravessando-se-lhe à frente, tomando-lhe a passagem numa energia surpreendente:

- Não! O senhor não toma banho nenhum. Vamos, sim, redigir o manifesto da República e organizar o ministério!

Benjamin caiu em si. Realmente era preciso fazer-se alguma coisa. Era quase noite e nada ainda se tinha feito para firmar o caráter do movimento.

E veio sentar-se à mesa. Os camaradas de propaganda cercaram-no. Redigiu-se o manifesto, lavraram-se as nomeações.

Aquilo devia ser levado a Deodoro para ser assinado. Com os papéis na mão, Benjamin perguntou no meio da sala:

- Quem leva isto ao velho?

Jaime Benévolo adiantou-se:

- Eu!

E partiu. Era já noite fechada.

À porta do chefe revolucionário a luta foi tremenda. Estava fechada a cancela, ninguém a podia transpor. Eram ordens de dona Marianinha. Benévolo teve que empregar violência para chegar ao quarto do enfermo. Deodoro, numa crise de dispnéia, sofria, com a esposa ao lado, a agitar-lhe uma ventarola.

Jaime Benévolo expôs-lhe a situação. O velho soldado repeliu o manifesto e os decretos de nomeação dos ministros. Não, não! Ele não faria aquilo.

O emissário, porém, não era homem de esmorecer. Pintou impressionantemente o ridículo que ia cair sobre a cabeça dos militares e sobre toda a propaganda republicana. Embora ele, Deodoro, não tivesse falado em República, todo o mundo sabia que aquilo era um levante de republicanos. Já corria pela cidade que a República havia sido proclamada...

- Não! não! repetia o velho. O ministério já não existe; amanhã vou falar ao Imperador.

Benévolo não se dava por vencido. Amanhã, quando se soubesse que a revolta conseguira apenas derribar o ministério, e não o trono, como era o desejo de todos, ninguém levaria a sério o exército. E o ridículo maior cairia sobre ele, Deodoro, como o chefe da tropa. Ninguém conseguiria convencer o país de que o movimento não tinha sido feito para proclamar a República...

Ou por se ter convencido, ou por se ter cansado, Deodoro começou a amolecer. Benévolo insistia. Mostrava a necessidade de aproveitar-se a vitória para um feito grandioso, mostrava o glorioso papel que o velho militar teria na história do futuro. Àquela hora, no paço, o Imperador cercado dos seus estava a organizar o ministério sob a indicação de Ouro Preto.

- Mas é o Ouro Preto quem vai indicar o seu substituto? perguntou o marechal escandalizado.

- É! Já indicou o Silveira Martins!

Deodoro ergueu-se. O ministério de Silveira Martins seria a mesma coisa que o de Ouro Preto! O soldado, o verdadeiros defensor da pátria, continuaria diminuído, humilhado... Não era possível! Era um abuso! E falou, falou, falou. E quando, com um novo acesso de dispnéia, acabou de falar, Benévolo passou-lhe às mãos os papéis.

- Uma pena, pediu o velho para dentro.

Trouxeram-lhe a pena e o tinteiro. Assinou a proclamação da República e a nomeação dos primeiros ministros do novo regímen.

Nas rodas monárquicas o desnorteamento não era menor. Chamado com urgência de Petrópolis, d. Pedro II descera, para o paço cercado das figuras eminentes da monarquia.

Ouro Preto apresentou-lhe a demissão do ministério. E como o Imperador lhe pedisse a indicação do seu substituto, o visconde lembrou o nome de Silveira Martins. Ficou assentado que Silveira Martins chefiaria o novo gabinete.

Era já noite e ninguém, no paço, imaginava que o golpe daquela manhã tivesse fins republicanos. Unicamente a deposição do ministério.

A não ser a entrada e saída das grandes figuras da monarquia, nada havia de anormal nas vizinhanças do paço. Às 9 da noite entrou o conselheiro Saraiva para falar ao Imperador, e só saiu às 11. Até essa hora não se tinha podido reunir o Conselho de Estado. Só depois das 11, o Conselho se reuniu. D. Pedro nada sabia ainda do manifesto de Deodoro. O conselheiro Andrade Figueira pô-lo então a par de tudo. Acabava de saber pelo seu genro, o major-de-engenheiros Roberto Trompowsky, que os propagandistas haviam conseguido que Deodoro transformasse a revolta numa vitória da República. Estava proclamado o novo regímen.

Aquela notícia faz prolongar a reunião. O Imperador parece não acreditar na queda do trono. Em vez de Silveira Martins, resolve confiar a chefia do gabinete ao conselheiro Saraiva. São quase duas da madrugada. Saraiva, chamado com urgência, vem imediatamente. Aceita o gabinete, mas em primeiro lugar precisa saber as intenções de Deodoro. Vai escrever-lhe uma carta e, pela resposta, saberá se é verdade ou não que ele proclamou a República.

Senta-se e escreve ao chefe revolucionário, comunicando-lhe que estava encarregado de organizar o novo ministério, mas que o não queria fazer sem com ele entender-se. E conclui convidando-o a vir ao paço no dia seguinte.

O major Trompowsky, a pedido do sogro, vai levar a carta a Deodoro, no campo da Aclamação. São três da manhã. À porta do proclamador há guardas. O major consegue ser levado ao quarto do novo chefe de Estado. Deodoro lê a carta. Nada tem que responder. Já havia proclamado a República!.

- Proclamei-a sem sangue, sem desacato à família imperial, para evitar que mais tarde ela fosse feita de modo contrário.

E o velho Joaquim Gonçalves concluiu:

- Foi assim que se fez a República. Eu vi tudo. Eu sabia de tudo.

Fonte: Academia Brasileira de Letras -  (Contos da história do Brasil, 1921.)

Comentário: Não é por causa disso que falta à Nação, a coesão de valores pátrios, que existem nas demais Nações que se formaram  em guerras. A Proclamação da República  não houve luta e/ou manifestações da sociedade, apenas a oligarquia política e militar participaram. A independência do Brasil foi proclamada sem luta e também a República. Derrubaram o  Império para criar posteriormente a primeira ditadura durante a República. Essa influência  de poder entre a oligarquia civil e militar predomina  até hoje. É a democracia feudal, eu mando, eu desmando, eu faço, eu desfaço, etc.  

domingo, 14 de novembro de 2010

Revival: The Swingle Singers

Há poucos amantes da música no mundo que não tenham ouvido o nome The Swingle Singers. Desde o lançamento de seu demolidor álbum de estréia, Jazz Sébastien Bach em 1963, esse grupo "a cappella de oito vozes apresentou-se em todos os continentes e nos palcos mais famosos do mundo, mantendo por cerca de quatro décadas um nível de popularidade internacional que supera de longe os sonhos de seu fundador, o americano Ward Swingle.

Assim sendo, seu programa inclui normalmente algum tributo ao grupo original francês, com o tradicional Bach suingado. As platéias também irão divertir-se com composições e arranjos mais modernos, realçados por coreografia e iluminação fascinantes. O instigante é que, independente do repertório, o som permanece inconfundivelmente Swingle Singers. O que define este grupo único não é o pessoal, nem mesmo a escolha da música, mas o som íntimo, próximo do microfone, quase instrumental que deslumbra o mundo anos a fio.

O nome Swingle Singers tornou-se sinônimo de incrível virtuosismo, sintonia e agilidade vocal, impecável excelência e entretenimento de alto nível. No mundo da música "a cappella", o grupo sempre foi e continua sendo reverenciado por todos os que acompanharam sua trajetória. Custa-se a acreditar que tudo começou como um exercício de leitura à primeira vista, para quebrar a monotonia dos "backing vocals" dos anos sessenta.

Oito cantores de sessões de jazz baseados em Paris um dia cantaram em cima de música para cravo de Bach e descobriram nela um suingue natural. Sem alterar qualquer nota da partitura, eles utilizaram o "scatt" e o fraseado do jazz, acrescentaram uma seção rítmica e persuadiram a gravadora Phillips a fazer um registro deles como brinde natalino para a família e amigos. Eles jamais poderiam cogitar o patamar de fama a que esta gravação os elevaria. Fonte: Almanaque virtual

Vídeo: J S Bach Concerto in F Major largo 1969