Uma
'sociedade viciada em Estado', com uma cultura de 'desigualdade' e
'desonestidade institucionalizada'. Para o ministro Luís Roberto Barroso, do
Supremo Tribunal Federal (STF), esses são os três principais problemas ainda
enfrentados pelo Brasil.
Em
palestra no Brasil Forum UK- evento no Reino Unido organizado por estudantes
brasileiros no sábado, 5 de maio, Barroso
elencou os principais desafios do país e avanços alcançados nos últimos 30
anos, desde que a Constituição Federal entrou em vigor.
No
rol de "desafios" a serem enfrentados, ele citou "a permanente
dependência e onipresença do Estado". Para o ministro, atualmente
"qualquer projeto no Brasil depende do Estado, de financiamento do BNDES,
da Caixa Econômica ou da ajuda do prefeito."
"Criamos
uma sociedade viciada no Estado. Temos que expandir a sociedade civil. Essa
presença excessiva do Estado gera uma cultura de compadrio e favorecimento que
está por trás do loteamento de cargos públicos", afirmou.
Após
a palestra, perguntado por jornalistas onde ele acredita que o Estado deve
"recuar", o ministro não quis responder.
O
segundo problema citado por Barroso é o que chamou de 'patrimonialismo'. De
acordo com o ministro, o Brasil herdou da colonização portuguesa uma
dificuldade em "separar o capital público do privado".
"Essa
é uma disfunção que ainda não superamos. Ainda temos, no Brasil, elites
extrativistas que conduzem o país apropriando-se do espaço público para
repartir em feudos e loteamentos."
A
confusão entre o público e privado teria gerado, conforme o ministro, uma
"cultura fisiológica de desonestidade institucionalizada". Barroso
afirmou que, embora haja uma "corrupção sistêmica", a sociedade
brasileira tem tido "a coragem" de não mais varrer para debaixo do
tapete.
"A
corrupção no Brasil não foi produto de um conjunto de falhas individuais, é uma
corrupção sistêmica e endêmica que envolve estatais, agentes públicos,
privados, membros do Executivo, do Legislativo", disse, avaliando que a
corrupção não é um "fenômeno de um partido ou governo".
'CADA
UM QUER SUA PRISÃO ESPECIAL'
Por
fim, Barroso argumentou que ainda existe no país uma "cultura histórica de
desigualdade", com setores reivindicando privilégios, como foro
privilegiado para políticos e prisão especial.
"Ainda
vivemos um país em que, talvez pelo fruto da escravidão, há a crença de que
ainda existem superiores e inferiores. Criamos cultura em que cada um quer
imunidade tributária, quer seu foro privilegiado, seu carro oficial e sua
prisão especial", exemplificou.
Entre
os "avanços", Barroso mencionou o fato de a democracia no Brasil
estar vigorando sem "rupturas". Ele disse que o impeachment da
ex-presidente Dilma Rousseff foi um "trauma", mas que não representou
uma violação da lei e da Constituição.
"Sei
que o impeachment foi um trauma, mas é preciso fazer distinção entre a dimensão
política e institucional. Do ponto de vista político, as pessoas podem ter
diferentes visões e eu mesmo tenho a minha visão crítica, que eu não posso
manifestar. Mas, do ponto de vista jurídico-institucional, seguiu-se o que
estava previsto na Constituição."
'UNIVERSIDADE
PÚBLICA NÃO DÁ RETORNO'
Durante
a palestra, Barroso defendeu aumentar as fontes de financiamento das universidades
públicas brasileiras. Para ele, essas instituições são "caras" e não
dão o retorno esperado à sociedade.
Ele
defendeu, por exemplo, que as universidades possam buscar recursos vendendo
projetos, prestando serviços à sociedade e recebendo doações de ex-alunos e
empresários.
"Outro
problema a universidade pública. Ela custa caro e dá baixo retorno. O Estado
brasileiro não tem dinheiro suficiente para bancar uma universidade pública com
a qualidade que o Brasil precisa", afirmou, destacando, porém, que não é a
favor de privatizar essas universidades.
"A
universidade tem que ser capaz de auto-sustentabilidade, prestar serviços com à
sociedade, e obter filantropia. Já há ricos suficientes no Brasil. Eles dão
dinheiro a Harvard e a Yale."
Para
o ministro, o foco do investimento público em educação deve ser o ensino
básico. "A universidade publica é muito importante, mas o Estado tem
obrigações também com o ensino básico e a universidade tem que ser capaz de
arrecadar legitimamente recursos. Não é privatização e arrecadar
dinheiro", afirmou durante a palestra.
CANDIDATURA
Barroso
também foi perguntado por jornalistas se pensa em se candidatar a algum cargo
eletivo.
"Em
nenhum momento. Sou juiz e minha ideia é servir ao país como juiz. Se eu me
seduzir por essa ideia (candidatura), desautoriza tudo o que eu faço",
respondeu. Fonte: BC Brasil em Londres-05/05/2018
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