O Panamá celebrou ontem, 15 de agosto, o centenário do canal interoceânico, uma façanha humana que transformou o comércio marítimo mundial e hoje encara o desafio de modernizar-se para competir diante das novas exigências da economia globalizada.
O Canal do Panamá, maravilha da engenharia moderna e por onde passa 5% do comércio marítimo mundial, completa cem anos entre caminhões carregados de pedras, gruas e retroescavadeiras que trabalham em sua monumental ampliação, em plena concorrência com dois projetos rivais. No dia 15 de agosto de 1914, um barco, o Ancón, cruzava pela primeira vez a rota que, após o fracasso dos franceses, foi aberta pelos Estados Unidos ao longo de 80 quilômetros na parte mais estreita da geografia da América. O velho sonho de unir os oceanos Pacífico e Atlântico se tornava realidade.
OBRA REDUZIU DISTÂNCIAS, TEMPOS E CUSTOS DO TRANSPORTE MARÍTIMO: Evitando milhares de quilômetros até Cabo de Hornos, o canal panamenho transformou a navegação e o comércio mundial: reduziu distâncias, tempos e custos de transporte de mercadorias entre os centros de produção e consumo. Primeiro, ele permitiu aos Estados Unidos mover sua frota militar e o comércio entre suas costas leste-oeste, depois favoreceu a Europa e a Ásia nos anos 50 e 60 quando o Japão se tornou potência industrial, e nos últimos 25 anos abriu as portas do mercado da América Latina para países como a China.
Há 100 anos o Canal é tratado como um relógio. Os panamenhos sentem uma responsabilidade frente ao mundo, por isso ele deve ser modernizado para se ajustar ao comércio internacional, comenta o analista Ebrahim Asvat.
AMPLIAÇÃO: Um século depois, trabalhadores com capacetes e coletes escavam, montam comportas e levantam muros com toneladas de concreto para permitir a passagem de gigantes pós-Panamax, navios de mais de 12 mil contêineres, o triplo de carga dos que atualmente atravessam a via.
A expansão, no valor de US$ 5,25 bilhões, começou em 2007 e em 2009 teve início sua principal obra, um terceiro conjunto de comportas construídas por um consórcio internacional liderado pela empresa espanhola Sacyr. A ampliação seria inaugurada no ano do centenário, mas sofreu atrasos com greves e disputas por custos adicionais milionários que a Sacyr exige da Autoridade do Canal (ACP).
ECONOMIA E GERAÇÃO DE EMPREGOS: 10 mil empregos são gerados pela gigantesca marítima passagem no país. Além disso, o canal dinamiza negócios e serviços (6% do PIB) que fazem da economia panamenha uma das mais fortes da América Latina (cresceu 8,4% em 2013).
14 mil barcos cruzam por ano o Canal do Panamá. As embarcações vêm principalmente de Estados Unidos, China, Chile e Japão, carregadas de mercadorias, petróleo, carros, grãos ou passageiros, em uma rota que envolve 1.700 portos em 160 países.
CONSTRUÇÃO SE LIGA À HISTÓRIA DO PAÍS: As histórias do Canal e do Panamá como país independente se confundem. Em 1881, o francês Ferdinand de Lesseps, construtor do Canal de Suez, tentou abrir a rota, mas fracassou por problemas de engenharia, financeiros e pelas doenças tropicais, que mataram mais de 20 mil trabalhadores.
Depois de promoverem a separação da Colômbia, os Estados Unidos receberam do nascente Estado panamenho o aval para fazer um canal, pagaram aos franceses US$ 40 milhões por direitos e o construíram de 1904 a 1914. Instalaram ainda bases militares e um enclave com governo próprio em terras das quais havia obtido a perpetuidade. Décadas de luta nacionalista levaram em 1977 aos tratados assinados pelo líder panamenho Omar Torrijos e pelo presidente americano Jimmy Carter, que entregaram ao Panamá o Canal no dia 31 de dezembro de 1999.
RETORNO:Desde então, a via forneceu ao Estado panamenho US$ 10 bilhões de dólares, mais do que em 85 anos sob propriedade americana. A ampliação triplicará os atuais ganhos em US$ 1 bilhão ao ano. “No centenário estou orgulhoso de fazer parte da história e trabalhar para o Canal do meu país”, disse Héctor Peralta, que trabalha nas obras que ampliarão o canal. Gazeta do Povo - 16/08/2014
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