sábado, 27 de dezembro de 2014

As vítimas das vítimas

Quando ouço falar em revisão da Lei da Anistia, fico enojado. Se ela for revista, minha mãe terá a chance de ver julgados os assassinos de meu pai?

A divulgação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade veio à tona no último dia 10 comovendo muitas pessoas, inclusive a presidente da República, Dilma Rousseff. Para minha família e eu, no entanto, a emoção se transformou em um misto de revolta e indignação. Esse documento não dedica um capítulo sequer às pessoas que, como meu pai, foram brutalmente assassinadas por terroristas de esquerda.

Meu pai, Cardênio Jayme Dolce, nasceu em Dom Pedrito (RS), em 1914. Ainda pequeno, mudou-se para Porto Alegre onde fez o Colégio Militar. Na década de 1930, foi morar no Rio de Janeiro, onde serviu na Escola Naval. Saiu da Marinha como aspirante porque não queria prosseguir na carreira militar, seu desejo era ser policial civil.

Foi da Polícia Civil até 1968, quando se aposentou como agente federal de primeira classe, cargo que hoje equivale ao de um delegado da polícia civil. Em 1969, começou a trabalhar como chefe de segurança da Casa de Saúde Dr. Eiras, instituição privada que atendia doentes mentais em Botafogo, no Rio.

Lá trabalhou até 2 de setembro de 1971, quando foi cruel e covardemente morto a tiros de metralhadora disparados por terroristas da ALN (Aliança Libertadora Nacional).

Na época eu tinha 10 anos e meus irmãos, 13, 12 e 8. O grupo terrorista invadiu a clínica onde ele trabalhava para roubar cerca de 100 mil cruzeiros, que seriam pagos aos funcionários. Para realizar o assalto, mataram meu pai e outros dois colegas, Silvino Amancio dos Santos e Demerval Ferreira. O enfermeiro Almir Rodrigues de Morais e o médico foram feridos.

Meus irmãos e eu nos tornamos quatro das 21 crianças que ficaram órfãs de pai depois da chacina promovida pelos terroristas da ALN.

Pouco tempo depois do atentado, soubemos pela televisão que havia sido feito um ataque terrorista à Casa de Saúde Dr. Eiras e que meu pai e outros colegas tinham sido baleados. Ou seja, fomos os últimos a saber do atentado.

Depois de 2 de setembro de 1971, nossa rotina se transformou completamente. Meu pai deixou algum patrimônio e uma boa pensão da polícia, mas, apesar disso, minha mãe teve que se desdobrar para sustentar meus três irmãos e eu.

Hoje, aos 79 anos, mamãe continua esperando um pedido de desculpas do Estado.

Minha família nunca entrou na Justiça, pois sabíamos que eram pequenas as chances de haver algum reparo. O dono da Casa de Saúde Dr. Eiras era Leonel Miranda, que tinha sido ministro da Saúde no governo do general Artur da Costa e Silva (1967-1969). Ele prometeu dar amparo às famílias das vítimas.

No final das contas, não fomos amparados por ninguém, nem pela Casa de Saúde Dr. Eiras nem pelo governo militar. Minha família recebeu apenas os direitos trabalhistas do meu pai. Só isso.

Dos terroristas que assassinaram meu pai, dois estão vivos: Sônia Hipólito, servidora da Câmara dos Deputados, e Flávio Augusto Neves Leão Salles, que vive hoje no Pará.

Minha família, apesar de todo o estrago que foi feito, hoje vive em paz. Eu espero apenas que não se faça a revisão da Lei da Anistia, como querem aqueles que defendem os terroristas de esquerda.

Meu pai não era agente da ditadura, não torturou ninguém, não caçou comunistas. Teve o azar de estar no lugar errado, na hora errada. Quando ouço alguém falar em revisão da Lei da Anistia, fico enojado. Se a lei for revista, minha mãe, aos 79 anos, terá a chance de ver julgados os assassinos de meu pai?

Folha de São Paulo - sexta-feira, 26 de dezembro de 2014-Jaime Edmundo Dolce, 53, é comerciante em Varginha (MG)

Comentário: Quase a maioria das gerações não sabe que a esquerda matou nada menos 120 pessoas, não vinculadas a política. A esquerda tem o refrão que sua luta foi apenas de resistência pacífica. Não existe memória histórica para as vítimas da esquerda e muito menos bolsa da ditadura,  a indenização capitalista. Em 13 anos, foram 40.300 pedidos de reparação a vítimas da ditadura. A  Comissão de Anistia aprovou 40.300 pedidos com indenizações que chegam a R$ 3,4 bilhões. Entre 2001 e 2013, 63% dos requerimentos receberam o aval da comissão e 37% foram rejeitados. 

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Dilma e o programa Minha Casa, Minha Vida Política

Finalmente a presidente entregou as chaves das casas  aos políticos contemplados . É o programa Minha Casa, Minha Vida Política. É o PAP, programa de aceleração dos políticos. Muitos políticos desejavam essas chaves. A inscrição obedeceu ao tamanho do partido e sua influencia no governo e fidelidade. Semper Fidelis ao governo. Ainda tem muitas chaves do programa Minha Casa, Minha Vida Política para serem distribuídas.

A presidente anunciou nesta terça-feira (23) a indicação de 13 ministros que vão compor o primeiro escalão em seu segundo mandato, que começa a partir de janeiro.

CONFIRA OS NOMES:

PT-Defesa – Jaques Wagner (Cota pessoal da presidente)

PSD--Cidades – Gilberto Kassab

PROS-Educação – Cid Gomes

PC do B-Ciência e Tecnologia – Aldo Rebelo

PMDB-Agricultura – Kátia Abreu

Portos – Edinho Araújo

Minas e Energia – Eduardo Braga

Aviação Civil – Eliseu Padilha

Pesca – Helder Barbalho

Turismo – Vinicius Lages

PRB-Esporte – George Hilton

Sem filiação-Igualdade Racial – Nilma Lino Gomes

Sem filiação-Controladoria-Geral da União – Valdir Simão

JÁ HAVIAM SIDO ANUNCIADOS:

Fazenda – Joaquim Levy

Planejamento – Nelson Barbosa

Banco Central – Alexandre Tombini

ESTÃO COTADOS:

Comunicações – Ricardo Berzoini (PT)

Relações Institucionais – Pepê Vargas (PT)

Direitos Humanos – Ideli Salvatti (PT)

Justiça - José Eduardo Cardozo (PT)

Secretaria-Geral da Presidência - Miguel Rossetto (PT)

Meio Ambiente - Izabella Teixeira (PT)

Aloizio Mercadante - Casa Civil (PT)

*Micro e Pequena Empresa - Guilherme Afif Domingos (PSD)

Desenvolvimento - Armando Monteiro (PTB)

Integração Nacional - Aguinaldo Ribeiro (PP)

Transportes – Antonio Carlos Rodrigues (PR)

INDEFINIDOS

Advocacia-Geral da União

Gabinete de Segurança Institucional

Relações Exteriores

Desenvolvimento Agrário

Cultura

Trabalho

Comunicação Social

Previdência Social

Assuntos Estratégicos

Políticas para as Mulheres

Vida familiar: Passa-me o sal

O vídeo mostra claramente o que acontece hoje em dia no ambiente familiar ou em outros ambientes,  as pessoas ficam conectadas online e acabam perdendo o convívio cotidiano com as pessoas, amigos, família. É mais fácil passar horas olhando a tela do smartphone, usufruindo momentos de descontração virtual  do que   conversando, olhando paras pessoas, dando risadas. Não existe o contato humano, a troca de idéias. Vivemos e interagimos coma realidade virtual e desconectamos da realidade real ou física. Praia, velório, você encontra pessoas conectadas. O tempo livre  na acepção da palavra praticamente não existe, a reflexão, o convívio, a amizade, a aventura, etc. A vida virtual  está se transformando num banco 24 horas ou ATM. 



domingo, 21 de dezembro de 2014

1969:Carlos Marighella está morto

Carlos Marighella está morto, enterrado numa cova rasa. Sua última batalha acabou com o mito de que os generais do terror eram perfeitos estrategistas.

Obs: Um pouco de história, para  entender o período da ditadura, onde a esquerda pegou em armas, sequestrou, assaltou, etc.  O artigo é extenso, mas vale a pena ler.

A surpresa, que Carlos Marighella considerava fundamental para o êxito de ações subversivas, foi a arma usada pelo DOPS de São Paulo para derrotá-la. Em seu "Mini¬Manual do Guerrilheiro Urbano", o homem apontado como a alma da escalada do terror no Brasil ensinava que "contra a surpresa o inimigo nada pode opor e rende-se perplexo ou é aniquilado". 

Na noite de terça-feira da semana passada, 4 de  novembro, surpreendido numa armadilha, cercado por quase quarenta policiais, Marighella não se rendeu. E foi aniquilado. Dois tiros atingiram seu rosto, mais um no ventre. E outro - o mortal, segundo a perícia - na perna, perfurando a artéria temural e provocando intensa hemorragia, seguida de morte praticamente instantânea. Ele nem chegou a pegar sua arma. O tiroteio de cinco minutos foi travado entre os policiais e cerca de treze homens que compunham o esquema de segurança de Marighella. Esse esquema falhou. 

Seu mais eficiente guarda¬costas, "Gaúcho", não observou outro ensinamento do Mini-Manual: "O guerrilheiro urbano deve possuir uma grande capacidade de observação, estar muito bem informado de tudo, principalmente dos movimentos do inimigo". Antes de Marighella, "Gaúcho" percorreu a Alameda Casa Branca, onde estava montada a armadilha. Aproximou-se do carro onde Frei Fernando e o ex-Frei Ivo - nas mãos da polícia desde a semana anterior - esperavam Marighella. "Gaúcho" olhou dentro do outro, ocupado pelo delegado Sérgio Fleury, um investigador e duas investigadoras, que pareciam dois inofensivos casais de namorados. 

Chegou até a alguns metros de onde um grupo de policiais, como operários, fingiam entregar material numa construção. Não percebeu nada de anormal e deu o sinal de que tudo estava bem. Marighella então apareceu: moreno, bem alto, terno claro, camisa branca de riscas azuis, peruca de cabelos castanhos - seu único disfarce.

RESULTADO DOS ERROS - Sozinho e confiante, Carlos Marighella caminhou para o carro onde morreu. Repetia o erro de "Gaúcho" e de todo o seu esquema de segurança. A armadilha funcionava, deixando claro que as 23 prisões (Frei Fernando, ex-Frei Ivo, doze seminaristas dominicanos, dois jornalistas, sete outras pessoas) feitas em São Paulo e no Rio desde sexta-feira não haviam chegado ao conhecimento do líder maior do terrorismo. Terroristas menores, em São Paulo, aparentemente sabiam das prisões e estavam alertas. A notícia havia chegado até o Rio Grande do Sul. Sete horas antes da morte de Marighella e uma antes da invasão policial ao Seminário Cristo-Rei, na cidade de São Leopoldo, o seminarista dominicano Carlos Alberto Toledo Cristo, "Frei Beto", havia fugido. Ele era o encarregado de providenciar fugas de terroristas para o exterior. Marighella não sabia do que se passava e caminhava para o carro. Então, a encenação policial terminou.

 Do carro dos "namorados" saltou o delegado Fleury dando voz de prisão. Os "operários" deixaram os materiais de construção e mostraram suas armas. Marighella correu, o ex-Frei Ivo, sentado à direção, abriu-lhe a porta direita e o tiroteio começou. Ivo saiu pela porta esquerda, braços levantados; os homens da segurança de Marighella responderam ao fogo enquanto fugiam; Frei Fernando deitou-se no banco traseiro. Cinco minutos depois estava tudo acabado. 

Dois mortos: MarighelIa e o protético Friederich Rohmann, que nada tinha com o terrorismo. E dois feridos: o delegado Rubens Tucunduva, com um tiro na perna, e a investigadora Estela Borges Morato, com um tiro na testa (morreu na noite de quinta-feira). Na rua, o investigador Trailer, "namorado" de Estela, resumia a soma dos erros de Marighella: "O homem foi muito folgado. Marcar encontro quase no centro de São Paulo foi demais".

A ORIGEM DA MÍSTICA - O comentário reflete, de certo modo, uma mudança na forma de encarar as figuras do terror. Houve tempo em que os bem sucedidos assaltos a bancos, os atentados sem pistas creditavam aos terroristas a fama de serem homens dotados de astúcia e sangue-frio fora do comum. Em contrapartida, os órgãos de repressão pareciam envolvidos numa massa informe de informações contraditórias, lutando contra a precariedade de dados incompletos e inseguros. 

Os esquemas contra o terror, praticamente, eram acionados somente depois de uma ação subversiva. As investigações se processavam com excessivo número de organismos policiais, sem coordenação geral. Os terroristas se aproveitavam dessa circunstância, tornando-se cada vez mais ousados. Chegaram ao requinte de promover ações simultâneas, verdadeiras operações de guerrilha. Em maio, dois bancos foram assaltados ao mesmo tempo, por dezesseis terroristas, na Rua Piratinga, uma das mais movimentadas de São Paulo. Foi uma manobra estrategicamente sem falhas. 

Oito homens entraram num banco, sete no outro, enquanto um só garantia a cobertura: era o ex-Capitão Carlos Lamarca, pela primeira vez reconhecido num assalto, temido pela sua pontaria (foi campeão de tiro do II Exército e costumava se distrair matando ratos com tiros na cabeça). No assalto, exibiu sua habilidade: quando o guarda-civil Orlando Pinto Saraiva, correndo, se aproximava do local, Lamarca disparou dois tiros certeiros com seu revólver 38, um na nuca, outro no queixo. Além de ousados, os terroristas davam a impressão de estarem bem informados.

Em junho, na cidade de Osasco, próximo de São Paulo, assaltaram, também ao mesmo tempo, dois bancos que dispunham de sistema conjugado de alarme (se um fosse assaltado, o outro ficaria sabendo imediatamente). O ataque simultâneo neutralizou esse sistema. Além de bem informados, pareciam solidamente estruturados. As prisões penosamente conseguidas não conduziam aos verdadeiros chefes. Geralmente os presos eram simples executores, ignoravam a identidade dos planejadores. As próprias autoridades admitiam estar lutando contra um inimigo poderoso.

O FIM - Desde a semana passada, no entanto, as opiniões são diferentes. A morte de Carlos Marighella, se não significa o fim do terrorismo, põe por terra pelo menos a impressão de uma estrutura sólida e imbatível da subversão. Em todo o país, as declarações de autoridades policiais, militares e de políticos revelam essa tendência otimista para o combate ao terror. Alguns são radicais em seu otimismo, como o General Sílvio Corrêa de Andrade, chefe da Polícia Federal em São Paulo. Para ele, a morte de Marighella representa um tiro de misericórdia no terrorismo. Em Minas, no saguão do DOPS, uma cruz vermelha foi riscada sobre a foto de Marighella num cartaz de terroristas procurados, com a explicação embaixo: "falecido". 

Os agentes mineiros afirmam que a subversão perdeu sua liderança consciente e passará a agir isoladamente, "sem o comando de um homem tarimbado e experiente na luta clandestina. Vai se entregar a atos isolados até ser totalmente desarticulada pelo esquema repressivo". No Congresso, o Deputado Padre Medeiros Neto quebrou a tradição de fazer elogio póstumo de seus ex-companheiros da Constituinte de 1946. Limitou-se a comentar: "O Marighella até que era um homem afável, mas a sua morte deverá contribuir para esfriar o terrorismo no Brasil. Pois ele representava o suporte ideológico, justamente o mais importante".

A INVERSÃO DA TÁTICA - Sérgio Paranhos Fleury, 36 anos, e Rubens Cardoso de Mello Tucunduva, 40 anos, os delegados que comandaram o cerco a Marighella, têm fama de "homens duros", que gostam de comandar as ações pessoalmente. Usaram sua experiência no combate a marginais comuns. Para eles, a motivação política era secundária. Um assalto a banco, praticado por terrorista, deveria ser investigado como um assalto comum. O terrorista que roubasse um automóvel deveria ser procurado como qualquer "puxador". A tática usada no cerco de Marighella, segundo um delegado do DOPS, foi a mesma empregada normalmente na captura de marginais: "Quando a gente prende um malandro, ladrão ou assassino, enfim um bandido, e a gente sabe que ele tem um companheiro, obrigamos o preso a nos levar até o barraco onde o outro mora. O bandido vai lá, bate na porta, o outro pergunta 'Quem é?', e o bandido responde 'Sou eu'. O camarada abre a porta e entram dez policiais junto com o bandido".

Agindo assim, Fleury e Tucunduva conseguiram uma média ótima no combate a terroristas: em cada dez saídas, sete eram proveitosas. Mas não são eles os únicos responsáveis por esses êxitos. Existe toda uma reformulação feita no DOPS paulista a partir do mês de agosto. Com a mudança do secretário da Segurança (desde então, o secretário é o General Viana Moog), a diretoria do DOPS passou ao delegado Benedito Nunes Dias, parente do ex-Ministro da Justiça Gama e Silva. Foi ele quem escolheu todos os policiais que trabalham atualmente no DOPS, preferindo homens novos, que tivessem vontade de fazer carreira dentro da polícia (todos os que participaram do cerco a Marighella serão promovidos). 

Seu sonho, ao assumir a diretoria do DOPS, era localizar Marighella. Mas a reforma do DOPS é apenas parte de um esquema maior, de âmbito nacional, para o combate ao terror. Esse esquema determinava a centralização dos órgãos repressivos e orientava-os para que assumissem a ofensiva. A estrutura terrorista, até então sólida, começaria a sofrer infiltrações profundas. Desde 1967, quando Carlos MarighelIa montou a Frente de Libertação Nacional, suas idéias de subversão violenta geraram uma série de grupos ativos. Uma de suas preocupações essenciais, expressa no "Mini-Manual", era manter-se na ofensiva: "Como se sabe, a defensiva é a morte para nós, que somos inferiores ao inimigo em potência de fogo, não dispomos de recursos nem da força do poder e não temos como nos defender de um ataque concentrado". 

O receio de Marighella começou a se confirmar. Na ofensiva, os órgãos de repressão foram acumulando informações de um modo racional. Antes de partir para uma ação, cada informação era analisada pelos serviços de inteligência policias e das Forças Armadas. Representando 80% da eficiência de um trabalho, a informação ajudou decididamente no cerco de Vila Cosmos, no Rio de Janeiro, e na armadilha preparada contra Marighella. 

Em São Paulo, a Operação Bandeirante, organização criada pelo comando do II Exército com a função exclusiva de prender terroristas e subversivos, tinha um caráter mais ou menos autônomo. Mas recebe e continua recebendo grande quantidade de informações da Guanabara, onde se localiza o cérebro das ações antiterroristas, representado principalmente pelo Serviço Secreto do Exército, Centro de Informações do Exército (CIE) e Centro de Informações da Marinha (Cenimar). Uma participação menos ativa neste cérebro é a do Centro de Informações da Aeronáutica, que colabora mais com o fornecimento do transporte aéreo. 

Apoiando todos esses órgãos existe ainda o Serviço Nacional de Informações. Em Minas funciona o mesmo entrosamento policial-militar, sustentado pelo serviço de rádio da Polícia Militar, que funciona dia e noite e, em meia hora, pode deslocar tropas para qualquer ponto do Estado. Assim, fecha-se o que o "Mini-Manual" de Marighella chama de "triângulo de sustentação do sistema estatal brasileiro e de dominação norte-americana no Brasil", representado por Rio, São Paulo e Belo Horiwnte, e indicado como um dos objetivos principais da ação do guerrilheiro urbano.

AS DERROTAS DO TERROR - Bem informados, os órgãos de repressão foram somando vitórias, principalmente em São Paulo e no Rio (em Minas Gerais, desde janeiro, o terrorismo já estava desarticulado e os outros Estados não sofreram a ação sistemática de grupos terroristas). Vários "aparelhos" - casas ou apartamentos usados como esconderijos - foram eliminados, num trabalho freqüentemente facilitado pelas falhas dos próprios terroristas. O aluguel da casa onde ficou o Embaixador Charles Burke Elbrick, seqüestrado em setembro, foi pago com cheque de um dos seqüestradores. 

A casa, muito grande, era habitada por uma só pessoa, a única mulher do grupo. Os vizinhos, pensando que ela estivesse montando uma casa suspeita, denunciaram. No seqüestro, a terceira falha: alguém do grupo fez comentários a respeito, num bar de Ipanema, e o Exército acabou sabendo. Em São Paulo, o terror cometeu outros pecados. Uma série de prisões teve início a partir do momento em que os terroristas foram buscar dois carros (um Volks e um Corcel) abandonados numa rua da cidade depois de um assalto a banco.

Um por um, foram cometidos os "sete pecados do guerrilheiro urbano", enumerados por Carlos Marighella: 1) inexperiência, que leva a deixar pistas; 2) vangloriar-se de suas ações, espalhando-as aos quatro ventos; 3) envaidecer-se, tornar-se cego pelos êxitos obtidos; 4) exagerar suas forças, querer fazer aquilo que não pode; 5) precipitação, não ter paciência; 6) atacar o inimigo quando este está assanhado; 7) agir na base da improvisação.

EQUILÍBRIO DE FORÇAS - A inversão de táticas, provocando a sucessão de derrotas parciais dos terroristas, demonstra que o esquema de repressão está agora, pelo menos, emparelhado com o do terror. Até agosto, os choques diretos entre as duas forças eram raros, sistematicamente evitados pelos terroristas. A partir de então, os órgãos repressivos passaram a buscar seus inimigos, forçando-os a um combate aberto. Na sexta-feira, o DOPS paulista fez uma trégua em sua luta, para enterrar a investigadora Estela Borges Morato. Delegados e investigadores levaram o corpo para o cemitério de Campo Grande, em Santo Amaro, debaixo de forte chuva (que um investigador, falando de improviso, junto ao túmulo, chamou de "lágrimas de Deus"). Os terroristas, porém, não pensaram em trégua. 

Na mesma sexta-feira, três homens, armados de fuzis-metralhadoras, assaltaram a Kombi de um banco, na Freguesia do Ó. Deixaram o motorista -que estava desarmado - a pé e levaram dinheiro (NCr$ 40.000,00). Esse assalto reforça o ponto de vista das autoridades, como o secretário da Segurança da Guanabara, General Luís França de Oliveira, para quem a morte de Marighella está longe de representar uma vitória definitiva "nesta guerra de proporções continentais". 

Os policiais cariocas, tanto da DOPS como da Polícia Federal, observam que as organizações terroristas, divididas em pequenos grupos estanques, dissidências ideológicas e diferentes linhas de ação, não podem ser destruídas com a morte de um único líder, por mais importante que seja. Mesmo divididos, os grupos do terror seguiam as idéias e os planos de outros homens, além de Marighella. Ele era o líder mais importante, o único que reunia qualidades indispensáveis para comandar a subversão violenta. Tinha longa experiência de luta clandestina, possuía habilidade política e era um homem de ação, que inspirava confiança em seus comandados.

OS HERDEIROS DO TERROR - Agora, quem tem condições para substituir Carlos Marighella e tentar o que ele não conseguiu - a união das várias facções? O primeiro nome que surge é o do ex-capitão Carlos Lamarca. O delegado David Hazan, do DOPS mineiro, considera-o "inexperiente, despreparado para a luta clandestina. Não está acostumado a viver nos subterrâneos da subversão". Mas, segundo informações de vários órgãos de segurança, Lamarca teria conseguido, justamente em Minas, reunir em torno de si dois grupos então desfalcados com as prisões de muitos de seus membros: Comando de Libertação Nacional (Colina) e Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Da união nasceu a Vanguarda Armada Revolucionária "Palmares". Pelo menos no momento, porém, Lamarca não poderia assumir a liderança. Há informações seguras de que está no Uruguai, para onde fugiu levando o dinheiro arrecadado em assaltos a bancos. 

Não se sabe se ele foi para ficar ou para encontrar-se com Joaquim Câmara Ferreira, o "Velho", ou "Toledo", braço direito de Carlos Marighella. Este é o segundo nome que surge em todas as considerações a respeito do novo líder do terror. Fugiu para o Uruguai na semana passada, levado pelo seminarista dominicano "Frei Beto", que primeiro o escondeu no Seminário Cristo-Rei, em São Leopoldo. Toledo é considerado o lntelectual do comunismo violento. Acompanhou Marighella em todas as dissidências abertas no movimento comunista brasileiro, sempre partidário de uma radicalização. Foi ele quem elaborou o plano do seqüestro do Embaixador Charles Burke Elbrick, considerado o mais arrojado de todos os planos do terror. 

O episódio do seqüestro serviu inclusive para marcar algumas divergências entre ele e seu chefe. Toledo achava que a união das esquerdas, inclusive a ortodoxa russa, era a solução para a guerra revolucionária no Brasil. Marighella discordava, apontando a linha cubana como a única solução para o movimento revolucionário. Quando soube que Toledo, fazendo prevalecer a sua posição, organizou a lista dos subversivos a serem trocados pelo embaixador americano, incluindo Gregório Bezerra (da linha ortodoxa russa), Marighella não se conteve e chamou-o de "insubordinado, que não respeitava mais a idéia do chefe".

A DUPLA NO COMANDO - Além de Toledo e Lamarca, os outros nomes apontados são os de Leonel Brizolla e Onofre Pinto. Em seus discursos no tempo em que era deputado federal, Brizolla já defendia soluções violentas para os problemas nacionais. Por isso, desde a Revolução de 64, seu nome sempre surge quando se fala em movimentos para a retomada violenta do poder. O general Luís França de Oliveira, respondendo a uma pergunta sobre os rumos da subversão, disse que "seu foco atualmente está localizado no Sul. E é alimentada (a subversão) de fora das nossas fronteiras". 

A afirmação continha uma insinuação clara à pessoa de Leonel BrizolIa, exilado no Uruguai. Onofre Pinto, atualmente banido em Cuba, é lembrado por ter sido o criador da VPR e o doutrinador de Lamarca. Na verdade, a possibilidade de Brizolla ou Onofre Pinto assumir a liderança é bastante remota. A Brizolla são debitados os fracassos de duas tentativas de guerrilha rural: uma no Sul, comandada pelo ex¬Coronel Jefferson Cardim de Alencar, e outra em Minas, na serra de Caparaó. Tais fatos o tornam desacreditado entre as esquerdas do Brasil. Quanto a Onofre Pinto, a distância geográfica parece ser o principal obstáculo para que venha a assumir imediatamente o lugar deixado por Marighella. 

Resta, então, a hipótese considerada mais viável de Lamarca e Toledo dividirem a liderança. Seria uma forma de reeditar a dupla Toledo-Marighella, onde o terrorista morto era o homem de ação, enquanto Toledo planejava. Mas se dúvidas existem quanto ao novo líder, há a certeza de que a luta vai continuar. Como dizia um delegado do DOPS de São Paulo, "entre os terroristas e a polícia, o que se vê é uma partida de xadrez. Acabamos de derrubar uma torre, um bispo ou talvez a dama dos terroristas. Mesmo o pior jogador prevê, no mínimo, três jogadas adiante. Agora, eles vão dar um lance de bispo ou peão. Pode ser um seqüestro ou um atentado a bomba". Mas a posição das peças no tabuleiro ainda não permite prever o xeque-mate. Fonte: Veja - 12 de novembro de 1969

sábado, 20 de dezembro de 2014

Comissão Nacional da Farsa

A palavra 'Anistia' tem a mesma raiz de 'amnésia'. É, para fins políticos, 'esquecimento', não 'absolvição'

A revisão da Lei da Anistia é uma aberração jurídica. Uma comissão oficial da verdade é, por definição, uma comissão da mentira oficial. Serve a causas políticas, a grupos ideológicos de pressão e à consolidação de mistificações convenientes. Só não serve aos fatos.

Ainda que a Lei 6.683, a da Anistia, fosse "autoanistia", seu fundamento foi incorporado pela Emenda Constitucional nº 26, que convocou a Constituinte. Está lá, com todas as letras, no parágrafo 1º do artigo 4º: "É concedida, igualmente, anistia aos autores de crimes políticos ou conexos (...)". Na proposta original, a anistia excluía os crimes de sangue. Foram as esquerdas que cobraram que ela fosse "ampla, geral e irrestrita". Sei porque eu fazia parte dos grupos de pressão.

Há mais. A Comissão Nacional da Verdade foi instituída por uma lei, igualmente aprovada pelo Congresso, a 12.528. Lê-se no artigo 6º: "Observadas as disposições da Lei nº 6.683, de 28 de agosto de 1979, a Comissão Nacional da Verdade poderá atuar (...)". Qualquer que fosse o trabalho da comissão, o pressuposto era a anistia.

Mais um pouco. O artigo 1º dessa lei estabelece que a comissão deve "examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos" praticadas de "18 de setembro de 1946 até a data da promulgação" da Constituição. Mas a turma se dedicou apenas aos crimes havidos a partir de 1964. A todos os crimes?

Não! Os humanistas decidiram que alguns cadáveres não merecem nem sepultura histórica. Os assassinatos cometidos por terroristas não ocuparam o tempo dos donos da verdade. Segundo eles, são 434 os mortos e desaparecidos. As 120 pessoas eliminadas pelo terrorismo viraram esqueletos descarnados também de memória. Como? Não são 120? Isso é papo de milico? Por que os valentes da comissão não investigaram?

Pais de família inocentes sumiram do mapa dos fatos. Contumazes assassinos, como Marighella e Lamarca, ocupam o panteão dos heróis. Esse relatório é um lixo moral. Mais uma vez, a turma mandou a lei à breca: o inciso 3º do artigo 3º determina que a comissão se ocupe de crimes cometidos também "na sociedade", não só nos aparelhos de Estado.

Como levar a sério uma "Comissão da Verdade" que não respeita nem o texto legal que a criou e que ignora que a Lei da Anistia, como condição da Constituinte, foi referendada por um Congresso eleito livremente? Como levar a sério uma "Comissão da Verdade" que elimina da história a verdade dos cadáveres que não interessam à causa?

De resto, há a decisão já tomada pelo Supremo, assegurando a higidez da Lei da Anistia. Segundo o ministro Luís Roberto Barroso, dado a alegorias de mão em matéria de constitucionalismo, o tribunal deve se debruçar de novo sobre a questão, depois que a Corte Interamericana de Direitos Humanos --certamente ignorando a aprovação da Emenda 26-- censurou a Lei 6.683 porque seria "autoanistia". Eu não sabia que a Corte Interamericana é tribunal revisor do STF. Que besteira!

"Anistia" tem a mesma raiz de "amnésia". É, para fins políticos e penais, "esquecimento", o que não é sinônimo de "perdão", "absolvição" ou apagamento da memória narrativa. Para tanto, é preciso ter honestidade intelectual para contar a história dos mortos de modo a não servir aos interesses de vivaldinos. Fonte: Folha de São Paulo - 12 de dezembro de 2014 - Reinaldo Azevedo

Inauguración del edificio de la Unasur

Nueve de los 12 presidentes de la Unión de Naciones Sudamericanas (Unasur) inauguraron  oficialmente la sede del edificio, que tiene el nombre del expresidente de Argentina Néstor Kirchner.

La edificación, de 20.000 metros cuadrados y 17.000 metros adicionales de construcción exterior (tres espejos de agua, áreas verdes), está ubicada en la Ciudad Mitad del Mundo, en el norte de Quito.

Los mandatarios de Perú, Ollanta Humala; de Chile, Michelle Bachelet; y de Uruguay, José Mujica, que este jueves participaron en Guayaquil en el traspaso de la presidencia de la Unasur de Surinam a Uruguay, retornaron el mismo día a sus países.

 “En la Unasur somos 400 millones de personas en 17 millones de kilómetros cuadrados. Con solo unirnos podríamos conformar la economía más grande del mundo con una reserva de hidrocarburos para los próximos 100 años. Nos podemos unir para no depender de préstamos externos”, les dijo el presidente de Ecuador, Rafael Correa, a sus colegas y delegaciones oficiales de Venezuela, Colombia, Argentina, Surinam, Guyana, Bolivia, Paraguay y Brasil, en su discurso de inauguración, que tuvo un retraso de más de dos horas.

 “Unidos, como bloque, seremos nosotros los que impondremos las condiciones al capital internacional, por eso es urgente la creación de la corte de arbitraje sudamericana, tener una moneda común. El sistema de pagos es el principal instrumento de hegemonías”, insistió.

Más de 40 delegaciones oficiales asistieron al evento, donde las reuniones de los jefes de estado se desarrollaron a puerta cerrada. El acto de inauguración concluyó con un festival artístico, que se extendió por casi tres horas.  

LA CONSTRUCCIÓN: Entre mano de obra directa e indirecta fueron alrededor de 1.200 trabajadores, quienes, junto a niños de escuelas del sector y migrantes participaron del corte de cinta como acto simbólico de inauguración.

La ejecución de la obra demandó mucha tecnología y se contrató técnicos extranjeros y nacionales para revisar los planos, para supervisar los procesos de soldadura, los disipadores sísmicos, agregó el exministro, quien asistió a la inauguración de la sede, pero –según dijo- no fue invitado al acto de corte de cinta.

La sede de Unasur tiene cinco plantas y dos subsuelos. Son 20.000 metros de construcción y 17.000 de exteriores, 55 metros de largo tiene el volado del edificio.

El edificio está enclavado en medio de paisajes desérticos de la zona de San Antonio de Pichincha, una población 12 kilómetros al norte de la capital, más conocida por el monumento a la mitad del mundo. Ecuador construyó la estructura a un costo de 43,5 millones de dólares. Fuentes: El Nuevo Herald y La Hora - 6 de Diciembre de 2014

Comentário: Joãosinho Trinta dijo una verdad: Pueblo le gusta lujo. Quien le gusta miseria es intelectual.Sólo 52 empleados trabajarán en la Unasur. El edifício costó 43,5 millones de dolares.