O
presidente da Petrobras, Pedro Parente, pediu demissão do cargo na manhã de sexta-feira (1º/06), durante uma reunião com o presidente Michel Temer, no
Palácio do Planalto. A demissão foi comunicada pela Petrobras por meio de fato
relevante divulgado ao mercado financeiro.
Parente
vinha enfrentando críticas devido à sua política de combustíveis. Colocada em
prática em julho de 2017, ela determinou que os preços de derivados de petróleo
comercializados pela empresa poderiam acompanhar diariamente as oscilações
internacionais da cotação do óleo cru.
Com
a alta do petróleo no mercado externo, a gasolina e o diesel sofreram mais de
uma centena de reajustes no período. Os aumentos acabaram alimentando a
insatisfação social no Brasil e deram impulso à greve de caminhoneiros que
paralisou o país.
Nos
últimos dias, pedidos de demissão de Parente vinham se multiplicando no meio
político. As críticas partiram até mesmo de membros da base aliada.
Em
sua carta de demissão, entregue a Temer, Parente disse que sua permanência na
Petrobras "deixou de ser positiva e de contribuir para a construção das
alternativas que o governo tem pela frente".
"A
greve dos caminhoneiros e suas graves consequências para a vida do País
desencadearam um intenso e por vezes emocional debate sobre as origens dessa
crise e colocaram a política de preços da Petrobras sob intenso
questionamento", escreveu Parente.
Em
comunicado, a Petrobras anunciou que o Conselho de Administração da estatal
indicou Ivan Monteiro para a presidência interina da empresa. O engenheiro é o
atual diretor executivo da Área Financeira e de Relacionamento com Investidores
e acumulará as duas funções.
Monteiro
começou a trabalhar na estatal junto com o ex-presidente Aldemir Bendine,
nomeado pela então presidente Dilma Rousseff. Alvo de investigação na Operação
Lava Jato, Bendine perdeu o cargo. Monteiro, porém, permaneceu na estatal. Ele
já passou pelo Banco do Brasil e em diversas instituições do mercado
financeiro.
TRAJETÓRIA
E CRISE
Parente
assumiu a presidência da Petrobras em maio de 2016 com a missão de recuperar a
empresa, que acumulava prejuízos bilionários e vinha perdendo valor de mercado
por causa das políticas de subvenções de combustíveis promovidas pelo governo
Dilma Rousseff e escândalos de corrupção.
A
nomeação agradou o mercado. Temer se comprometeu a deixar para trás o
intervencionismo na empresa que marcou o governo Dilma e garantir independência
a Parente. A nova política ajudou a rechear os cofres da empresa, que viu seu
valor de mercado se recuperar. Há apenas duas semanas, Temer afirmou que
"salvou a vida" da Petrobras ao garantir que a empresa pudesse fixar
preços sem interferência do governo.
No
entanto, o Planalto não parece ter levado em conta o impacto social dessa
política e a possibilidade de altas sucessivas do petróleo, ainda mais num país
tão dependente do transporte rodoviário – em que mais de 60% da carga
transportada depende de caminhões.
Nos
últimos 11 meses, o valor do diesel que abastece os caminhões acabou saltando
56% na bomba. Caminhoneiros passaram a se queixar do valor e de reajustes
frequentes – algumas vezes até cinco por semana. Empresários começaram a
apontar que tanta flutuação impedia qualquer previsibilidade no planejamento.
Diante
da força da greve, que paralisou o país a partir de 21 de maio, a política de
preços naufragou. Parente anunciou no dia 23 de maio que a Petrobras iria
reduzir o valor do diesel em 10% por 15 dias. Segundo ele, não houve pressão do
governo.
Mas
investidores não acreditaram. Diante do temor de que a empresa havia retornado
aos dias de interferência política, os papéis da Petrobras desabaram.
O
governo ainda decidiu ampliar as medidas e anunciou que os reajustes do diesel
vão agora ser mensais e que o governo vai bancar as subvenções, completando a
desmoralização de Parente. No domingo passado, o ministro de Minas e Energia,
Moreira Franco, disse que tal "colchão" de compensação para a
Petrobras pode virar uma política permanente.
A
empresa acabou perdendo 173 bilhões de reais do seu valor de mercado, anulando
boa parte do trabalho de recuperação dos últimos dois anos. Nos últimos dias,
membros do governo afirmaram que saída de Parente não estava na pauta do
Planalto, mas analistas apontavam que era apenas uma questão de tempo para que
o executivo deixasse o cargo.
Após
o anúncio da saída do presidente, as ações da Petrobras sofreram nova queda de
11,5% nesta sexta-feira. Fonte: Deutsche Welle – 01.06.2018
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