sábado, 28 de julho de 2018

O eclipse lunar com ‘lua de sangue’

A Terra se colocou entre o Sol e a Lua nesta sexta-feira, 27, ocasionando o eclipse lunar mais longo do século XXI. A fase total do fenômeno começou às 16h30 (horário de Brasília) e teve duração de uma hora e 42 minutos, já que a lua passou próxima ao centro da sombra terrestre. Durante essa fase, o satélite refletiu uma tonalidade avermelhada que lhe confere popularmente o nome de Lua de Sangue. Do Brasil, foi possível ver o fenômeno em algumas cidades, no fim da tarde. Para isso, foi preciso olhar para o horizonte, a leste.

O QUE É UM ECLIPSE
Um eclipse ocorre quando o Sol, a Terra e a Lua se alinham. Isso faz com que a Terra fique diretamente entre o Sol e a Lua, bloqueando a luz solar.
O fenômeno acontece porque a Lua entra na sombra criada pela Terra e deixa de ficar visível pois deixa de ser iluminada pela luz do Sol. Fontes: BBC Brasil e El País - Brasil 28 JUL 2018

        

Você acredita nos profetas digitais?

Cibergurus abominam era pré-internet e inventam teorias para explicar uma realidade que ainda faz pouco sentido prático

Como acontece em todas as eras, a da internet tem sua própria geração de gurus. São os “ciberteóricos” que sonham com um futuro eletrônico aperfeiçoável e anunciam preceitos sobre a necessidade de refazer o mundo. Como muitos que se revoltaram contra a religião, eles trazem não a paz, mas a espada. A mudança é inevitável. É preciso abandonar os velhos hábitos. Entretanto, os ciberteóricos pertencem a uma espécie peculiar de estilo: eles agitam e defendem uma revolução constante, que, no entanto, beneficiará principalmente as gigantes da tecnologia, diante de cuja imagem virtual eles se curvam.

O jargão dos ciberteóricos revela um ódio adolescente do mundo. Jay Rosen, famoso ciberguru do “futuro da notícia”, não perde uma oportunidade para menosprezar empresas editoriais associando-as ao termo “legado”, no sentido de sistema antiquado. Outro termo favorito dos ciberteóricos é “disrupt” (romper, desconstruir, em português). A maioria das pessoas acha a ideia irritante, mas para eles, quanto mais a tecnologia romper as práticas estabelecidas, mais emocionante ela se tornará.

Outro cibercharlatão, o jornalista Jeff Jarvis, escreveu no livro O Que o Google Faria?, de 2009: “A educação é uma das instituições que mais merecem ser desconstruídas”. (O tom de repúdio ressentido é típico.) Que forma deveria assumir esta subversão? A startup Coursera, por exemplo, promete transformar o ensino universitário, oferecendo trechos de aulas em vídeo e fazendo que os alunos deem notas para os trabalhos uns dos outros. Se você é um ciberteórico, este truque é um plano brilhante para alavancar o poder dos indivíduos. Se não for, é um plano brilhante para descarregar a maior parte do trabalho do ensino nas costas dos alunos.

Outra suposta qualidade do Coursera é o fato de ele ser “aberto”, como tudo agora deve ser. O cibercredo do “aberto” soa tão liberal e amigável que é fácil deixar de prestar atenção à sua hipocrisia. As grandes empresas de tecnologia, que são os exemplos preferidos dos ciberteóricos sobre a próxima ordem mundial, são tudo menos abertas. O Google não divulga seu algoritmo de busca; a Apple tem um notório sigilo sobre seus produtos; o Facebook costuma mudar as opções de privacidade dos usuários. Em busca do lucro, tais empresas constroem freneticamente utopias semiabertas de conteúdo proprietário.

O software de código aberto, no modelo do Linux, era o exemplo favorito do motivo pelo qual o conceito aberto predomina sobre o fechado. Entretanto, apesar dos sucessos admiráveis (particularmente na indústria), o software comercial e fechado ainda predomina. A maioria dos clientes sabe, por experiência própria, que o sistema Android dos celulares é customizado e fechado novamente pelas fabricantes.

“Ter oleodutos, funcionários, produtos ou mesmo propriedade intelectual não é mais a chave do sucesso”, escreveu Jarvis em 2009. “O sucesso está na abertura.” Qual é, neste momento, a empresa de maior valor de mercado do mundo? A Apple, que vende produtos físicos, guarda seu acervo de patentes e é tão “aberta” quanto o Fort Knox (posto militar do Exército dos Estados Unidos).

O plano genial do Coursera para “desconstruir” o ensino universitário pode ser aprendido numa palestra do TED (sigla para tecnologia, educação e desenvolvimento). São apresentações com a duração máxima de 18 minutos, com abundância de recursos, que oferecem ideias do tamanho de um nugget. Uma palestra do TED tem o formato de uma coleção de histórias reunidas sob um título ridiculamente simples, num vídeo que depois os entusiastas das redes sociais enviam aos amigos.

O título perfeito de uma apresentação TED é o recente Os Jogos que Podem lhe Dar Dez Anos a Mais de Vida, da ciberteórica da gameficação Jane McGonigal. O que poderia ser este jogo? Ligar um joystick a um pulmão de aço? Não, trata-se de um pequeno jogo online criado por ela chamado SuperBetter. Até o momento, não há estudos com grande número de pessoas que mostrem que o game faz você viver dez anos a mais.

REBANHO.
Os pensadores cibernéticos levaram a ideia de sabedoria coletiva para um lugar que mal se assemelha à realidade que conhecemos. Agora é possível propor seriamente que há ocasiões em que “a pessoa mais inteligente da sala é a sala”, como afirma o subtítulo do livro do teórico David Weinberger, Too Big to Know, publicado em janeiro. Segundo sua ideia estranhamente autodestrutiva, os livros são formas ultrapassadas de organização da “informação”, e o volume total das informações agora é tão esmagador que talvez admitamos que “a rede” saiba mais do que nós.

Se a tese fosse correta, o seu livro seria dispensável, porque um número aleatório de blogueiros poderia escrever coisas melhores. O livro é também tipicamente cibernético por conter um ódio pseudo-democrático a qualquer forma de especialização. “A internet”, proclama ele, “permite que os grupos desenvolvam mais ideias do que um indivíduo sozinho”. Assim como a escrita e a conversação, desde que foram criadas.

É surpreendente a frequência com que a Wikipedia é citada como paradigma de uma “criação do conhecimento” comunitária, considerando que a Wikipedia proíbe explicitamente a criação de conhecimento novo. Sua lei básica é “nenhuma pesquisa original”, com exceção da menção a “fatos” ou “ideias” que não tenham sido já divulgados em outros lugares. A obediência ao mandamento faz que a Wikipedia dependa de fontes citadas, incluindo artigos de jornais e de revistas acadêmicas, no que se refere ao “conhecimento” que ela contém. Isto não significa que a Wikipedia não tenha utilidade – longe disso –, mas não é um exemplo daquilo que se afirma com tanta frequência que ela seja.

Os ciberteóricos não ousam distinguir informação de conhecimento, porque isto exigiria que eles fizessem a triagem intelectual que o seu sucesso retórico exige que se evite. Um livro contém menos informações, em termos de bytes, do que um vídeo de um gatinho. E se você é um sábio cibernético, provavelmente desprezará os livros. Clay Shirky, autor de Lá Vem Todo Mundo, de 2008 – um manifesto coletivo que agora é considerado um exercício desesperado de apoio a serviços que já foram populares, como Flickr – escreveu no mesmo ano: “Ninguém lê Guerra e Paz. É muito longo, e não é tão interessante”. (Na verdade, segundo o Nielsen BookScan, Guerra e Paz vendeu em 2011 cerca de 17 mil cópias somente no Reino Unido).

Os livros são importantes para o tagarela cibernético em busca de projeção pessoal, mas de uma maneira diferente. Jarvis contou nos agradecimentos de sua publicação mais recente, Public Parts: “(Seth) Godin é o culpado por eu escrever livros. Um dia, ele me mandou sentar e falou que eu seria um tolo se não escrevesse um livro – e seria ainda mais tolo se achasse que o livro era o objetivo. Não, ele disse, o livro serviria para eu construir a minha reputação diante do público, e assim levaria a outras coisas. E foi o que aconteceu”. É isso: se você escreve um livro achando que o objetivo é o livro, você é tolo. A função exata de um livro é a de um cartão de visita que lhe abre portas e faz você ser convidado para lugares onde as coisas acontecem de verdade. Os que pensam que a literatura, o pensamento e a argumentação são em si objetivos nobres são tolos. É esta a afirmação do anti-intelectual ultramoderno.

SUPERCOMPARTILHAMENTO.
 Alguns poderiam considerar um fracasso dos ciberteóricos o fato de o mundo que conhecemos hoje ter tão pouco a ver com as descrições deles. As pessoas ainda leem romances russos; o mercado de massa não foi substituído por “nichos” (basta perguntar à autora de Cinquenta Tons de Cinza, E.L. James). O aberto não é o modelo predominante de sucesso empresarial da internet. O New York Times hoje tem cerca de 600 mil assinantes digitais, embora os dogmáticos cibernéticos jurassem que o acesso pago nunca funcionaria.

No artigo O Que a Mídia Pode Aprender com o Facebook, Jarvis fala que os jornais deveriam imitar o modelo de Mark Zuckerberg: “A produção é cara. O compartilhamento não é caro e é escalável. O Facebook logo atenderá um bilhão de pessoas com uma equipe equivalente à de um grande jornal”. Faça os leitores se encarregarem da maior parte ou de todo o trabalho e, pronto! O legado da mídia (a ultrapassada) é transformado na mídia social que dá dinheiro.

Com a mídia “social” ocorre o mesmo que com o conceito de compartilhamento: os cibernéticos adotaram um termo plausível e deram um significado novo e instrumental. Social hoje implica uma técnica comercial para convencer usuários a revelar mais informações aos anunciantes sobre suas “redes” de amizade e de contatos comerciais, e para “conectar” usuários a determinadas marcas por meio do botão “curtir” – e logo, como sugerem experimentos do Facebook, haverá um botão “querer”.

Mesmo a leitura de livros – se é que persistir – precisará ser transformada em “leitura social”, como se os livros não fossem já produtos sociais. Entretanto, não importa se os cibergurus estão equivocados a respeito do presente, porque seu valor equivale mais ao de um Nostradamus sem fios. O cibermaníaco idealiza um ciberfuturo perfeito e declara que ele já chegou, ou é tão vago a respeito da data que talvez jamais possa ser refutado. O título de uma recente palestra no TED de Clay Shirky é um exemplo deste presságio que não pode ser desmentido: Como a Internet Transformará (Algum Dia) o Governo.

Os ciberteóricos em geral poderiam talvez ser tolerados como inócuos futuristas, não fosse que muitos deles, pela influência do seu trabalho de consulta e pelos seus palanques virtuais, neste momento estão preocupados em promover um vandalismo cultural. Tudo o que cheirar a coisa ultrapassada da era pré-digital terá de ser derrubado, “rompido” e refeito à sagrada imagem do Google e da Apple, com a exceção de uma maior abertura para as sondagens digitais sobre o oligopólio das companhias de internet. Vida longa para o compartilhamento, a leitura social, o trabalho voluntário de um estudante ou os participantes da “comunidade” online de uma empresa, e a entrega dos seus documentos às megacorporações que exploram dados e controlam a “nuvem”.

Os ciberteóricos adoram aplicar o adjetivo “inteligente” a si mesmos e aos colegas, mas, como grupo, eles são os modelos de anti-intelectuais mais destacados dos nossos dias – pequenos revolucionários da tela de toque e do Twitter.

MARTELADAS NOS GURUS

TUDO É ABERTO
O termo é amigável, mas também é hipócrita: as empresas que representam a filosofia, como  Google, Apple e Facebook têm posturas dúbias.

A EDUCAÇÃO JÁ ERA
Jeff Jarvis diz que a educação tem de  ser  desconstruída - mas isso acaba deixando a maior parte do trabalho para os alunos.

O FIM DA MÍDIA
Jay Rosen, guru do "futuro da notícia". diz que o atual sistema editorial é antiquado. Mas o NY Times  tem 600 mil assinantes pagos

TED
As conferências apresentam ideias do "do tamanho de um nugget": ou seja, "ideias fast food", que depois os entusiastas das  redes sociais enviam aos amigos.

INTERNET INTELIGENTE
O  teórico cibernético David Weinberger diz que os livros são ultrapassados e a " internet sabe mais do que nós.

CROWD SOURCING
A Wikipedia  prega que produz conhecimento coletivamente, mas depende de  fontes e pesquisas de outros lugares.

SUPERCOMPARTILHAMENTO
Social hoje é uma técnica comercial para que as pessoas revelem mais informações pessoais nas redes. Até a leitura se transformou em "leitura social".
Fonte: O Estado de S. Paulo-03/03/2013,Steven Poole, News Statesmen

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Brasil fica em 64º lugar em ranking mundial de inovação

O Brasil ocupou o 64º lugar no ranking mundial de inovação tecnológica. Isso porque o país ganhou cinco posições em relação ao ano anterior, quando ficou em 69º na listagem mundial.

O índice é calculado pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual e tem como parceiro nacional a Confederação Nacional da Indústria (CNI).

A LIDERANÇA DO RANKING;
■ Suíça, seguida por Países Baixos (Holanda), Suécia, Reino Unido, Cingapura, Estados Unidos, Finlândia, Dinamarca, Alemanha e Irlanda.

ENTRE OS PAÍSES DE RENDA MÉDIA-ALTA, O DESTAQUE FOI;
■ China, seguida por Malásia, Bulgária, Croácia e Tailândia. O Brasil foi classificado nesta categoria, ocupando a 15ª posição neste grupo. Dentro da região latino-americana, o país ficou na 6ª colocação.

Entre os de renda média-baixa, os mais bem posicionados foram Ucrânia, Vietnã e Moldávia.Já nos países de renda baixa, alcançaram melhor desempenho Tanzânia, Ruanda e Senegal.

INSUMOS E CONDIÇÕES INSTITUCIONAIS
O Brasil subiu no ranking quando considerados os chamados insumos de inovação, ficando na 58ª posição. Neste indicador, são levados em consideração itens como instituições, capital humano, pesquisa, infraestrutura e sofisticação de mercado e negócio. No ano anterior, havia ficado em 60º lugar.

Os melhores índices registrados no país foram nos quesitos de gastos em educação (23º colocado), investimento em pesquisa e desenvolvimento (27º), dispêndio de empresas em P&D (22º) e qualidade das universidades (27º). Os autores também destacaram a capacidade de absorção de conhecimento (31º), pagamentos em propriedade intelectual (10º), importações de alta tecnologia (23º) e escala de mercado (8º).

Já os pontos fracos foram apontados pelo relatório nas instituições (82º), ambiente de negócios (110º), facilidade de abertura de negócios (123º), graduados em engenharias e ciências (79º), crédito (104º) e a formação de capital bruto (104º).

PRODUTOS E INOVAÇÃO
Nos produtos da inovação, o Brasil está no 70º lugar. Nessa categoria são considerados produtos científicos e tecnológicos e indicadores relacionados a eles, como patentes e publicações em revistas e periódicos acadêmicos. Ainda assim, o índice subiu em relação ao ano anterior, quando o país ficou na 80ª colocação.

No índice de eficiência de inovação, o Brasil pulou para a 85ª posição - da 100ª no ano anterior. Esse indicador mede o quanto um país consegue produzir tecnologia frente aos insumos, condições institucionais e estrutura de capital humano e pesquisa de que dispõe. Fonte: Inovação Tecnológica - Agência Brasil -  12/07/2018

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Ser jovem hoje é pior do que antes, e pode piorar

Se formos considerar alguns dos principais desafios atuais —entre os quais a mudança do clima, a dívida pública e o mercado de trabalho—, uma conclusão óbvia emergirá: ser jovem hoje é relativamente pior do que era há um quarto de século. No entanto, na maioria dos países, a dimensão geracional é notável pela ausência, no debate político. Cinquenta anos atrás, as pessoas falavam com frequência, e falavam alto, do "conflito de gerações". Hoje, esse conflito se tornou invisível. Isso é ruim para os jovens, para a democracia e para a justiça social.

Vamos começar pela mudança no clima. Contê-la requer mudança de hábitos e investimento em redução de emissões para que as futuras gerações tenham um planeta habitável. O alarme foi acionado pela primeira vez em 1992, na Conferência Eco 92, no Rio de Janeiro, mas ao longo dos últimos 25 anos pouco foi feito para conter as emissões. E o progresso depois do histórico acordo quanto à mudança do clima obtido em dezembro em Paris dificilmente será rápido, porque a premissa do acordo é postergar os grandes esforços. O assentimento universal às propostas só foi obtido pela aceitação de atraso ainda maior.

Dada a imensa inércia inerente ao efeito estufa, a distância entre comportamento responsável e irresponsável começará a resultar em diferença nas temperaturas dentro de apenas um quarto de século, e consequências graves surgirão dentro de apenas 50 anos. Qualquer pessoa que tenha mais de 60 anos hoje mal perceberá a diferença entre os dois cenários. Mas o destino da maioria dos cidadãos que hoje tenham menos de 30 anos será afetado de maneira fundamental. Com o tempo, o prazo adicional para ação obtido pelas gerações mais velhas terá de ser pago pelas mais novas.

Considere a dívida, a seguir. Desde 1990, a dívida pública cresceu em cerca de 40% do Produto Interno Bruto (PIB) na União Europeia e nos Estados Unidos (e muito mais no Japão). Dadas as taxas de juro quase zero, o arrasto que isso acarreta para as rendas é quase zero, por enquanto; mas, porque a inflação virtualmente inexiste e o crescimento é anêmico, houve uma estabilização no endividamento. Com isso, a redução de dívidas demorará mais do que se imaginava depois da crise financeira mundial, o que privará as gerações futuras do espaço fiscal de que necessitariam para investir em ações quanto ao clima ou na contenção de ameaças à segurança.

Os futuros aposentados representam outra forma de dívida. Os sistemas de repartição (pay as you go) em vigor em muitos países são gigantescos esquemas de transferência intergeracional. É fato que todos contribuem enquanto estão trabalhando, e todos se tornam beneficiários na aposentadoria. Em um estado estático ideal, os regimes de aposentadoria não redistribuiriam renda de faixa etária a faixa etária. Como dizem os especialistas, esses regimes seriam neutros do ponto de vista geracional.

Mas a geração baby boom (as pessoas nascidas da metade dos anos 40 à metade dos anos 60) contribuiu pouco para o sistema de aposentadorias em regime de repartição, porque o crescimento econômico, o tamanho da população e a baixa expectativa de vida de seus pais tornavam fácil financiar as aposentadorias. Todos esses fatores agora entraram em reversão: o crescimento se desacelerou, a geração baby boom forma uma anomalia demográfica que pesa sobre seus filhos, e a expectativa é de que suas vidas sejam longas.

Os países nos quais reformas foram introduzidas cedo nos sistemas de aposentadoria conseguiram limitar o fardo que recai sobre os jovens e manter um equilíbrio razoavelmente justo entre as gerações. Mas os países nos quais as reformas foram postergadas permitiram que esse equilíbrio coloque os jovens em posição desvantajosa.

Por fim, considere o mercado de trabalho. Ao longo dos 10 últimos anos, as condições pioraram consideravelmente para os novos ingressantes, em muitos países. O número de jovens classificados como "nem empregados e nem estudando ou em treinamento" (NEET) é de 10,2 milhões nos Estados Unidos e de 14 milhões na União Europeia. Além disso, muitas das pessoas que ingressaram recentemente no mercado de trabalho vêm sofrendo de baixa segurança no emprego e de períodos repetidos de desemprego. Na Europa continental, especialmente, os trabalhadores jovens são os primeiros a sofrer durante as desacelerações econômicas.

Quanto a todas essas questões - clima, dívida, aposentadorias e emprego -, as gerações mais jovens se saíram relativamente pior do que as mais velhas, nos desdobramentos dos últimos 25 anos. Um símbolo revelador é que muitas vezes a pobreza é maior entre os jovens do que entre os idosos. Isso deveria ser uma questão política importante, com implicações significativas para as finanças públicas, proteção social, política tributária e regulamentação do mercado de trabalho. E reforça o imperativo de reanimar o crescimento por meio de políticas que estimulem a produtividade.

Mas o novo conflito de gerações teve pouco efeito político direto. Mal é mencionado no debate eleitoral e em geral não resultou no surgimento de novos partidos ou movimentos. Em lugar disso, a distinção entre as gerações se faz presente na participação eleitoral.

Nas mais recentes eleições legislativas dos Estados Unidos, o comparecimento dos eleitores mais jovens foi de menos de 20%, ante 50% para os eleitores mais velhos. Tendências semelhantes são observáveis em outros países. A despeito da crescente incerteza que enfrentam, os cidadãos mais jovens se envolvem muito menos com a política eleitoral do que era o caso entre seus pais e avós quando tinham a mesma idade.
Essa disparidade entre as gerações em termos de comparecimento às urnas explica por que os políticos se preocupam mais com os velhos do que com os jovens. Mas nas sociedades que estão envelhecendo, quanto mais os jovens se abstiverem de votar, mais as decisões dos legislativos e governos serão distorcidas em seu desfavor.

É verdade que os pais em geral não são egoístas. Ajudam os filhos com dinheiro e propriedades doados em regime privado. Mas só aqueles que disponham de renda e patrimônio podem oferecer assistência significativa. O resultado de negligenciar os jovens coletivamente e apoiá-los de forma privada representa desigualdade social em escala maciça.

Como resolver as distorções geracionais no sistema política é uma questão crucial para todas as democracias. Existem soluções: voto obrigatório, limitação no número de mandatos que um político pode exercer e parlamentos da juventude ou órgãos especiais para examinar questões intergeracionais, por exemplo. Mas essas medidas são ou difíceis de implementar ou apenas moderadamente efetivas diante da magnitude dos desafios.

As tendências atuais são claramente insustentáveis, em termos políticos e sociais. O que é incerto é quando e como os jovens reconhecerão esse fato e se farão ouvir. Fonte: Folha de São Paulo - 06/02/2016, Jean Pisani-Ferry, professor da Escola Hertie de Administração Pública, em Berlim,

sábado, 21 de julho de 2018

Rastros de informações que seu computador sabe sobre você

Nossos computadores pessoais são como armazéns em que acumulamos todo tipo de coisas: desde fotos da infância e vídeos com os amigos até músicas marcantes e textos íntimos. As máquinas guardam tudo isso em arquivos compostos por uns e zeros, um código de dígitos binários (bits) que eles são capazes de compreender e traduzir imediatamente.

COMBINAÇÕES
As combinações diferentes de bits criam arquivos de tamanhos diferentes: oito bits fazem um byte; 1.000 bytes são um kilobyte; 1.000 kilobytes formam um megabyte; 1.000 megabytes, um gigabyte; e 1.000 gigabytes recebem o nome de um terabyte.
E todos esses bytes armazenados em um disco rígido permanecem ali para sempre - a não ser que você o destrua ou que ele seja danificado.

MAS COMO DESCOBRIR O QUE NOSSO COMPUTADOR SABE SOBRE NÓS?
A BBC investigou quanto é possível descobrir sobre uma pessoa analisando apenas o interior de seu computador.
Durante três meses, um casal de Lincolnshire, no leste da Inglaterra, recebeu um laptop para usar no dia a dia.
Depois desse período, o especialista em informática forense Thomas Moore se encarregou de revisar os dados dentro da máquina. E os resultados foram... "inquietantes", segundo ele.
"Não sei qual é o nome dessas pessoas, mas consegui descobrir uma grande quantidade de coisas sobre sua identidade e seu estilo de vida", disse à BBC.

'PERTURBADOR'
Moore extraiu os cookies - registros de visitação de sites - e outras informações públicas disponíveis na memória da máquina.
Cookies são arquivos pequenos enviados por sites e armazenados no navegador, que registram dados sobre nós. Esses programas "espiões" coletam informações-chave para a publicidade online, especialmente no que diz respeito aos anúncios exibidos de forma personalizada para cada usuário.
Os cookies "contam" às marcas e empresas como nos comportamos na internet para que possam exibir propaganda de acordo com nossos gostos e interesses.
Usando só esses dados, o especialista criou um perfil de cada usuário do laptop. "Sabemos que essas pessoas vivem em Lincolnshire, no Reino Unido", afirma.
"Também conseguimos saber que eles são politicamente ativos e têm interesse especial em questões europeias, sobretudo no Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia)."
"E sabemos que eles têm interesse se hospedar em casas (pelo site) AirBnB e que estão cotando preços para uma viagem ao País de Gales, à pedreira de Penrhyn, para praticar tirolesa", afirma Moore.
O especialista também descobriu que o casal possui cartões de crédito do banco britânico Egg Bank (que só funciona pela internet), que é cliente da empresa de telefonia EE e que assiste a programas de televisão como The Cleveland Show(uma série de animação) e I'm a Celebrity... Get Me Out of Here! (um reality show).
Usando apenas os dados remanescentes no computador, Moore também descobriu que o casal tem uma filha adolescente que gosta de festas e que a família tem um BMW. Há também um segundo carro na casa, um Ford S Max, que está precisando de um limpador de para-brisa novo.
"Sabemos também que eles têm um gato e são compradores bastante espertos", disse o especialista, enquanto o casal assentia, impressionado.
Praticamente todos os dados que ele conseguiu estavam corretos. Em apenas três meses, o computador havia armazenado 3.100 cookies - 25% dos quais eram de rastreamento publicitário (os chamados "cookies de seguimento").
Esses arquivos permitem a terceiros identificar tendências e direcionar campanhas a usuários específicos.

QUE DADOS SEU COMPUTADOR ARMAZENA?
Enquanto você navega na internet, o navegador e os cookies que ficam registrados nele gravam:
■ Seu endereço de IP (número que identifica seu computador);
■ Seu provedor de internet, sua velocidade de conexão;
■ A quantidade de bateria que sua máquina tem a cada momento;
■ A orientação do seu computador (através dos dados do giroscópio - sensores que informam a direção na qual os aparelhos eletrônicos estão se movendo);
■ O sistema operacional que você usa e também os dados sobre seu processador;
■ A resolução de sua tela e outras especificações de hardware.

PARA ALÉM DOS DADOS TÉCNICOS, A MÁQUINA TAMBÉM REGISTRA OS SEGUINTES DADOS PESSOAIS:
■Sua localização - e, por consequência, a casa em que você vive (geralmente, um endereço aproximado bastante certeiro);
■ O idioma que você fala (ou, ao menos, no qual escreve);
■ Seu cartão de crédito (se você tiver o número registrado ou salvo para algum site);
■ As redes sociais que você visita;
E tudo o mais que as páginas de internet que você visita revelarem sobre sua vida familiar, seus costumes, se você tem filhos, se tem carro (e qual), os filmes e séries que vê... a lista pode ser maior de acordo com o uso que você faça do dispositivo. Fonte: BBC Brasil - 3 junho 2018

domingo, 15 de julho de 2018

Azul é a cor mais quente

Gigante nos últimos 20 anos, França muda hierarquia do futebol com geração que promete ainda mais
Há 20 anos, ninguém deixa tantos rivais no chão quanto a França

Ao levantar a taça de campeão da Copa da Rússia neste domingo (15), em Moscou, o goleiro Hugo Lloris repetiu com sucesso uma missão que, 20 anos atrás, em 1998, foi designada a seu atual treinador, Didier Deschamps. Dois capitães que simbolizam uma nova era: a França subiu de patamar e entrou, definitivamente, no restrito rol das seleções mais vencedoras do futebol mundial.

Nas últimas duas décadas, a França foi o país que mais chegou a finais de Copa, com os dois títulos e o vice de 2006, nos pênaltis. Alguns vexames apareceram no caminho, é verdade, como por exemplo duas eliminações em fases de grupos (2002 e 2010) e problemas internos como a discriminação racial e um caso de chantagem entre jogadores. Agora bicampeã mundial, está na mesma escala de importância de Argentina e Uruguai na história da competição.

Chegar ao título com o elenco mais jovem deste Mundial, com média de 26 anos, apenas reforça a impressão de que a atual base da seleção tem força e talento suficientes para manter o nível de competitividade pelos próximos anos. A firmeza da dupla de zaga Varane e Umtiti, a segurança de Kanté, a ousadia de Mbappé e as habilidades de Griezmann e Pogba. A França foi coroada na Rússia e pode, quem sabe, repetir o feito no Qatar.Fonte: UOL, 16 de julho de 2018

sábado, 7 de julho de 2018

Patrocinadores: entenda o que isso significa para Adidas e Nike

Patrocinadores não são conhecidos por serem fãs apaixonados por futebol, mas muitos perderam a calma na última sexta-feira, quando Lionel Messi e Cristiano Ronaldo se despediram da Copa 2018 na Rússia. Antes, já haviam lamentado a saída prematura da Alemanha, ainda na primeira fase.

As seleções de Argentina e Portugal foram eliminadas do torneio nas oitavas de final e, assim, deixaram a competição dois dos principais "garotos propaganda" que estavam na Copa e ajudavam a divulgar a Adidas e a Nike.

Artilheiros e donos de cinco troféus Bola de Ouro cada - eles se alternam na premiação desde 2008 -, tanto o argentino Messi, atacante do Barcelona, quanto Cristiano Ronaldo, jogador do Real Madrid, estão entre os jogadores mais bem pagos do mundo e veem as suas respectivas contas bancárias inflar graças aos contratos de patrocínio.

Apesar de não terem se enfrentado no Mundial na Rússia, os dois há anos rivalizam dentro e fora de campo. Mas a disputa entre não é maior que a briga entre Adidas e Nike, as duas marcas gigantes do esporte que patrocinam Messi e Cristiano Ronaldo, respectivamente.

Para as duas patrocinadoras, a Copa do Mundo é mais que vender produtos oficiais. É também uma ótima oportunidade para expor suas marcas. Isso significa que o desempenho dos atletas bancados pelas empresas e de seus respectivos times é crucial para os negócios.

RENDIMENTO E IMAGEM
"A maior parte da estratégia da Adidas e da Nike foca em patrocinar times e jogadores que podem sair como vencedores do torneio, na tentativa de associar o nome delas ao sucesso e ganhar o máximo de exposição para crescer no futuro", diz o consultor de marketing esportivo Amir Somoggi.

POR TRÁS DA DISPUTA DAS DUAS MARCAS ESTÁ MUITO DINHEIRO.
Em 2014, a Adidas declarou ter vendido cerca de US$ 2,5 bilhões em produtos relacionados ao futebol, impulsionada pelo bom desempenho de seus patrocinados na Copa do Mundo no Brasil. No mesmo ano, a Nike anunciou um aumento de 23% no lucro liquido durante a competição.
A Copa do Mundo no Brasil foi a primeira em que a Nike derrotou a Adidas na disputa por patrocínio. Dos 32 times que disputaram o Mundial em território brasileiro, 12 vestiam Nike e dez usaram Adidas.
Mas, no final, foi a gigante alemã, que é parceira oficial da Fifa e responsável pelas bolas e pelos produtos oficiais da Copa do Mundo, que levou mais vantagem naquela competição já que a Argentina e a Alemanha, ambas patrocinadas pela Adidas, disputaram a final.

TAÇAS CONQUISTADAS
Desde 1998, seleções patrocinadas pela Adidas conquistaram três taças.
Até o momento, a Nike só "ganhou" uma Copa, com o Brasil em 2002.

Mas, na Rússia, a situação parecia estar se invertendo. A Adidas patrocina 12 times e a Nike, dez - no entanto, a empresa americana diz que 60% dos jogadores usam suas chuteiras.
De acordo com a CIES Football Observatory, que conduz pesquisas sobre futebol, 132 dos 200 jogadores mais valiosos que disputam a Copa calçam chuteiras da Nike, comparado com 59 da Adidas.

CONTRATOS MILIONÁRIOS
A lista incluiu Cristiano Ronaldo, que assinou um contrato vitalício com a Nike no valor de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 3,8 bilhões no câmbio atual).
Exibir a marca de uma empresa no uniforme de uma seleção de um país não é barato. A Nike paga cerca de US$ 50 milhões para a Federação Francesa de Futebol por um acordo até 2026, e dezenas de milhões para a Inglaterra e o Brasil.
O acordo da Alemanha com a Adidas é de US$ 58 milhões e com a Espanha, US$ 47 milhões. Já o contrato com a Argentina é bem menor: US$ 11 milhões.

FRUSTRAÇÃO ALEMÃ
A eliminação da Alemanha, ainda na fase de grupos, foi uma péssima notícia para a Adidas, que tinha visto a venda de camisas oficiais da seleção alemã disparar. Em 2002, por exemplo, a empresa vendeu 8,6 milhões de camisas e, em 2014, esse número chegou a 14,2 milhões - vendidas a um preço médio de US$ 66.
Dos 16 times que se classificaram para as oitavas, Brasil, Croácia, Inglaterra, França, Portugal vestem Nike. Já a Argentina, Bélgica, Colômbia, Japão, México, Espanha, Suécia e os donos da casa, a Rússia, usam Adidas.

Por sua vez, a Puma, empresa alemã fundada pela mesma família responsável pela Adidas, patrocina o Uruguai e a Suíça. A Dinamarca é patrocinada pela Hummel.
Com Cristiano Ronaldo fora da Copa, a Nike investe, no campo individual, as esperanças de exposição e faturamento em nomes como Neymar, o inglês Harry Kane e o francês Kylian Mbappé.

Já a Adidas ficou sem muitas opções no campo individual, depois que o alemão Mesut Özil e o egípcio Mohammed Salah foram eliminados. A empresa ainda tem como patrocinados o francês Paul Pogba e o Uruguaio Luis Suárez, além do brasileiro Gabriel Jesus. Fonte: BBC News - 2 de julho de 2018