sábado, 25 de fevereiro de 2017

Unicórnio de Porcelana:Filme de curta metragem


 

Seis linhas de diálogo e três minutos de duração. Estas eram as únicas regras do concurso “Tell It Your Way”, realizado pela Philips.  Filme comovente

Comentário: Não existe muito diferença entre o nazismo e o que a esquerda latina prega hoje para os jovens. O pensamento único  O jovem não sabe o que é fascismo, nazismo, marxismo, etc. A política é um remake de filme com novas roupagens, mas procurando o mesmo resultado.

Insensato Mundo


Piscina em Suining, China, atrai centenas de moradores em 04 de julho de 2010. China tem a maior população do mundo, com 1,3 bilhões, ou um em cada cinco pessoas na Terra.

Indianos se reúnem para obter água de um enorme cisterna ou poço na vila de Natwarghad no estado ocidental de Gujarat em 2003. A Índia ainda tem a segunda maior população, 1,19 bilhões, com três nascimentos para cada morte.
A fachada de um prédio de apartamentos em Xangai, uma das cidades com maior  crescimento da China em áreas urbanas. A cidade tem cerca de 23 milhões de pessoas, ou o equivalente a oito maiores cidades dos Estados Unidos juntas.

Horário de rush em Taipei, capital de Taiwan. É notório por seu congestionamento de tráfego, mesmo usando motocicletas e scooters. Fonte: Big Picture Boston Globe

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

A utopia sufoca a educação de qualidade

Um dos males que assolam nossa educação é a esperança vã de pensadores e legisladores de que uma escola que mal consegue ensinar o básico resolva todos os problemas sociais e éticos do país. Eles criaram um sistema com um currículo imenso, sistemas de livros didáticos em que o objetivo até das disciplinas científicas é formar um cidadão consciente e tolerante. Responsabilizaram a escola pela formação de condutas que vão desde a preservação do meio ambiente até os cuidados com a saúde; instituíram cotas raciais e forçaram as escolas a receber alunos com necessidades especiais. A agenda maximalista seria uma maneira de sanar desigualdades e corrigir injustiças. O Brasil deveria questionar essa agenda.

 PRIMEIRA PERGUNTA: NOSSAS ESCOLAS CONSEGUEM DAR CONTA DESSE RECADO? A resposta é, definitivamente, não. Estão aí todas as avaliações nacionais e internacionais mostrando que a única igualdade que nosso sistema educacional conseguiu atingir é ser igualmente péssimo. Copiamos o ponto final de programas adotados nos países europeus sem termos passado pelo desenvolvimento histórico que lhes dá sustentação.

 SEGUNDA PERGUNTA: ESSE DESEJO EXPANSIONISTA FAZ BEM OU MAL AO NOSSO SISTEMA EDUCACIONAL? Será um caso em que mirar no inatingível ajuda a ampliar o alcançável ou, pelo contrário, a sobrecarga faz com que a carroça se mova ainda mais devagar? Acredito que seja o último. Por várias razões. A primeira é simplesmente que essas demandas todas tornam impossível que o sistema tenha um foco. Perseguir todas as ideias que aparecem – mesmo que sejam todas nobres e excelentes – é um erro. Infelizmente, a maioria dos nossos intelectuais e legisladores não tem experiência administrativa, e acredita ser possível resolver qualquer problema criando uma lei. No confronto entre intenções e realidade, a última sempre vence. A segunda razão para preocupação é que, com uma agenda tão extensa e bicéfala – formar o cidadão virtuoso e o aluno de raciocínio afiado e com conhecimentos sólidos –, sempre é possível dizer que uma parte não está sendo cumprida porque a prioridade é a outra: o aluno é analfabeto, mas solidário, entende? (Com a vantagem de que não há nenhum índice para medir solidariedade.) E, finalmente, porque quando as intenções ultrapassam a capacidade de execução do sistema o que ocorre é que o agente – cada professor ou diretor – vira um legislador, cabendo a ele o papel de decidir quais partes das inatingíveis demandas vai cumprir. Uma medida que deveria estimular a cidadania tem o efeito oposto: incentiva o desrespeito à lei, que é a base fundamental da vida em sociedade.

 TERCEIRA PERGUNTA: MESMO QUE TODAS ESSAS NOBRES INTENÇÕES FOSSEM EXEQUÍVEIS, SUA EXECUÇÃO CUMPRIRIA AS ASPIRAÇÕES DE SEUS MENTORES, CONSTRUINDO UM PAÍS MENOS DESIGUAL? Eu diria que não apenas não cumpriria esses objetivos como iria na direção oposta. Deixe-me dar um exemplo com essas novas matérias inseridas no currículo do ensino médio – música, sociologia e filosofia. A lógica que norteou a decisão é que não seria justo que os alunos pobres fossem privados dos privilégios intelectuais de seus colegas ricos. O que não é justo, a meu ver, é que a adição dessas disciplinas torna ainda mais difícil para os pobres se equiparar aos alunos mais ricos nas matérias que realmente vão ser decisivas em sua vida. A desigualdade entre os dois grupos tende a aumentar. A triste realidade é que, por viverem em ambientes mais letrados e com pais mais instruídos, alunos de famílias ricas precisam de menos horas de instrução para se alfabetizar. É pouco provável que um aluno rico saia da 1ª série sem estar alfabetizado, enquanto é muito provável que o aluno pobre chegue ao 3° ano nessa condição. O aluno rico pode, portanto, se dar ao luxo de ter aula de música. Para nivelar o jogo, o aluno pobre deveria estar usando essas horas para se recuperar do atraso, especialmente nas habilidades basilares: português, matemática e ciências. É o domínio dessas habilidades que lhe será cobrado quando ingressar na vida profissional. Se esses pensadores querem a escola como niveladora de diferenças, se a diferença que mais impacta a qualidade de vida das pessoas é a de renda, e se a fonte principal de renda é o trabalho, então precisamos de um sistema educacional que coloque ricos e pobres em igualdade de condições para concorrer no mercado de trabalho. O que, por sua vez, presume uma educação desigual entre pobres e ricos, fazendo com que a escola dê aos primeiros as competências intelectuais que os últimos já trazem de casa. Estou argumentando baseado em uma lógica supostamente de esquerda (digo supostamente porque, nesse caso, é transparente que as boas intenções dos revolucionários de poltrona só aprofundam as desigualdades que eles pretendem diminuir).

 O mercado de trabalho valoriza mais as habilidades cognitivas e emocionais não porque os nossos empregadores sejam mesquinhos, mas porque, em um mercado competitivo, precisam remunerar seus trabalhadores de acordo com sua produtividade. Essa é a lógica inquebrantável do sistema de livre-iniciativa. Não adianta pedir ao gerente de recursos humanos que seja "solidário" na hora da contratação e leve em conta que os candidatos à vaga vêm de origens sociais diferentes, porque se o recrutador selecionar o funcionário menos competente, o mais certo é que em breve ambos estejam solidariamente no olho da rua. Não conheço nenhum estudo que demonstre o impacto de uma educação filosoficamente inclusiva sobre o bem-estar das pessoas. Mas há vários estudos empíricos sobre a desigualdade no Brasil. O que eles informam é assustador: o fator número 1 na explicação das desigualdades de renda é, de longe, a desigualdade educacional. Ao criarmos uma escola sobrecarregada com a missão de não apenas formar o brasileiro do futuro mas corrigir as desigualdades de 500 anos de história, nós nos asseguramos de que ela se tornará um fracasso. A escola não pode fracassar, pois é a alavanca de salvação do Brasil.

 O tipo de escola pública que queremos é uma discussão em última instância política, e não técnica. É legítimo, embora estúpido, que a maioria dos brasileiros prefira uma educação que fracasse em ensinar a tabuada mas ensine bem a fazer um pagode. Acrescento apenas uma indispensável condição: que a população seja informada, de modo claro e honesto, sobre as consequências de suas escolhas. Quais as perdas e os ganhos de cada caminho. O que é, aí sim, antidemocrático e desonesto é criar a ilusão de que não precisamos fazer escolhas, de que podemos tudo e de que conseguiremos obter tudo ao mesmo tempo, agora. Infelizmente, é exatamente isso que vem sendo tentado. Nossas lideranças se valem do abissal desconhecimento da maioria da população sobre o que é uma educação de excelência para vender-lhe a possibilidade do paraíso terreno em que professores despreparados podem formar o novo homem e o profissional de sucesso. Essa utopia, como todas as outras, acaba em decepção e atraso. Essa pretensa revolução, como todas as outras, termina beneficiando apenas os burocratas que a implementam. Fonte: Gustavo Ioschpe, Veja - 09/04/2012

China estipula regra de máximo de duas moscas por banheiro público

Banheiros públicos de Pequim terão que seguir novas regras determinadas pela prefeitura da capital
Os banheiros públicos de Pequim poderão ter somente duas moscas cada, de acordo com novas regras aprovadas pela prefeitura da capital da China.

A regra curiosa faz parte de um novo esforço do governo local para melhorar as condições de limpeza das instalações que, embora estejam presentes em grande número, são alvo de críticas pelas más condições de higiene.

Outras determinações incluem detalhes sobre mau cheiro e frequência de limpeza das lixeiras, mas não há indicação de como o governo pretende fiscalizar e penalizar os responsáveis pela manutenção dos banheiros.

Outra novidade inclui a instalação de placas de sinalização em chinês e inglês e um maior controle sobre os anúncios publicitários colocados nos banheiros, que não poderão obstruir seu uso. Fonte: BBC Brasil - Atualizado em  23 de maio, 2012

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Os conselhos sobre liderança

Os conselhos sobre liderança do autor do livro O Monge e o Executivo

O consultor James C. Hunter atraiu empresários, executivos e estudantes para sua palestra em Porto Alegre, RS.
Ele vendeu, apenas no Brasil, mais de 2 milhões de unidades de sua mais famosa obra, O Monge e o Executivo, um mix de gestão de pessoas com boas doses de auto-ajuda e religiosidade.

Confira alguns dos conselhos de Hunter que prenderam a atenção da platéia:
1) Pergunte a si mesmo: que tipo de chefe eu sou? Eu gostaria de ser meu funcionário? Você é o chefe que gostaria de ter? Pense no chefe que você gostaria e seja exatamente isso. Essa regra resume tudo. Certamente, ele será um bom ouvinte, terá paciência, respeito, caráter. A regra é básica e conhecida há muitos anos: não faça aos outros o que não gostariam que fizessem a você.

2) Uma boa notícia é que existem muitos livros que ensinam a ser grandes líderes. A má notícia é que isso não resolve o seu problema. As pessoas esperam por um pó mágico, um livro ou um powerpoint que simplesmente as tornem melhores. Você vai ter que mudar, colocar tudo em prática.

3) O líder precisa dar o que as pessoas precisam, não necessariamente o que elas querem. O que elas querem e o que precisam talvez não sejam o mesmo. Os melhores chefes têm de identificar o que seus colaboradores precisam e dar isso a eles.

4) Liderar não tem nada a ver com gerenciar. Conheço muitos executivos e gestores que sabem ler balanços, analisar contas e a estrutura. Isso é gerenciar. Liderar é diferente. É inspirar as pessoas, é deixar a sua marca.

5) Liderança é a marca que você deixa nas pessoas, na empresa em que você trabalha. Pense se a empresa é pelo menos um pouco melhor porque vocês estão lá. Você é do tipo que pega as coisas e as deixa como estão ou as melhora?

6) Um líder não nasce feito. Não é DNA. Liderança é habilidade que se desenvolve. Se você tem consciência de que é uma habilidade e que para isso precisa se desenvolver constantemente, e que isso implica mudar, está no caminho certo.

7) Para ser melhor é preciso praticar. Ninguém aprende a nadar ou jogar golfe lendo um livro. Aprende nadando, jogando golfe. Se leu meu livro e acha que já melhorou, não investiu bem o seu dinheiro. Pratique, faça embaixadinhas e aprenda a jogar. Fonte: Zero Hora – 17 de março de 2010

Comentário:
No livro Sun Tzu, a arte da guerra transposta para o mundo dos negócios, relaciona as qualidades  de um líder:
1-Desenvolver seu caráter, não apenas sua imagem
2-Liderar por ações, não apenas por palavras
3-Compartilhar as vicissitudes dos funcionários, não apenas seus triunfos
4-Motivar emocionalmente, não  apenas materialmente
5-Atribuir missões, claramente definidas a todos, evitando-a a sobreposição e confusão de missões
6-Fazer sua estratégia  impelir sua organização e não  o contrário
Nota-se como é difícil  encontrar um líder empresarial ou político com esses predicados?

Conhecimento científico na época do descobrimento do Brasil


O escrivão Pero Vaz de Caminha relata que, ao atracar em Santa Cruz, a esquadra de Cabral foi visitada por dois habitantes da terra, mancebos e de bons corpos, que se metiam em almadias, embarcações rústicas feitas de troncos de madeira atados entre si.
A cena é o encontro entre duas civilizações separadas por um enorme abismo de evolução científica e tecnológica. Enquanto as almadias estão entre as mais primitivas formas de navegação usadas pelo ser humano, as naus e as caravelas portuguesas são o que de mais avançado a arte de navegar produziu até hoje. Nossos navios levam a bordo instrumentos, cartas de navegação e conhecimentos desenvolvidos pelos mais importantes sábios da cristandade – matemáticos, astrônomos, cartógrafos, geógrafos, especialistas na construção de navios e uso de artilharia, vindos de diversos países.

Portugal está na liderança dos descobrimentos porque é o primeiro, entre os países contemporâneos, a transformar a pesquisa tecnológica e científica em política de Estado. É uma aventura que começou dois séculos atrás, com as primeiras e tímidas incursões ao mundo desconhecido, e se completou com a política de portas abertas a especialistas espanhóis, catalães, italianos e alemães, com o propósito de avançar os conhecimentos náuticos de nossos oficiais e marujos.

CARAVELAS
As caravelas são um prodígio da nossa tecnologia e a vanguarda das expedições. São navios velozes e relativamente pequenos. Uma típica caravela portuguesa tem de 20 a 30 metros metros de comprimento, de 6 a 8 de largura, 50 toneladas de capacidade e é tripulada por quarenta ou cinqüenta homens. Com vento a favor, chega a percorrer 250 quilômetros por dia. Utiliza as chamadas velas latinas, triangulares, erguidas em dois ou três mastros. Elas permitem mudar de curso rapidamente e, em ziguezague, velejar até mesmo com vento contrário. A grande vantagem das caravelas sobre os pesados navios mercantes utilizados no Mediterrâneo por genoveses e catalães é a versatilidade. Ideais para navegação costeira, podem entrar em rios e estuários, manobrar em águas baixas, contornar arrecifes e bancos de areia. E também zarpar rapidamente, no caso de um ataque imprevisto de nativos hostis.



NAUS
As naus são barcos maiores e mais lentos. A capitânia de Pedro Álvares Cabral é um navio de 250 toneladas e, ao partir, levava 190 homens. Elas são a ferramenta essencial no comércio já estabelecido com a África e no nascente intercâmbio com as Índias. Na longa viagem de ida, transportam produtos para a troca, provisões, guarnições militares, armas e canhões. Na volta, trazem as mercadorias cobiçadas pela Europa. Suas velas redondas são menos versáteis que as das caravelas, mas permitem uma impulsão muito maior com vento favorável. As caravelas, ao contrário das naus, levam pouca carga. Nem é necessário. Nessa época de grandes descobertas, a carga mais preciosa que elas podem transportar é a informação sobre as rotas marítimas e as terras recém-contatadas – um produto que não pesa nada, mas é vital para as conquistas no além-mar.

CONHECIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLOGIA
O grande mérito de Portugal não está na descoberta de novidades científicas, mas na assimilação de conhecimentos, recentes ou antigos, e sua aplicação com propósitos bem definidos, que é abrir rotas de comércio e agregar terras produtivas, onde não haja governo cristão, às propriedades da coroa. As técnicas que hoje permitem aos nossos navios cruzar o Mar Oceano, dobrar o Cabo da Boa Esperança e chegar às Índias são herança dos fenícios, dos egípcios, dos gregos e de várias outras civilizações antigas, guardadas e aprimoradas pelos mouros nos últimos séculos.

A vela latina, que equipa nossas caravelas, foi trazida pelos árabes do Oceano Índico, depois de conquistarem o Egito. O uso do compasso para anotar a direção e a trajetória do navio chegou ao Ocidente no começo do século XIII. A confecção de cartas náuticas os italianos também aprenderam dos árabes, um século atrás. O astrolábio, um revolucionário instrumento de localização utilizado pela esquadra de Cabral na Terra de Santa Cruz, existe desde a Antiguidade e foi recuperado pelos astrólogos medievais para observar, em terra, o movimento e a posição dos astros no firmamento. Mesmo a bússola, fundamental nos descobrimentos, já é usada no Mediterrâneo há muito tempo por genoveses, venezianos e catalães.

São muitos os desafios científicos que os descobrimentos impuseram a Portugal. O maior deles, evidentemente, é sair ao mar alto e voltar para casa com segurança. Até pouco tempo atrás, a navegação se restringia aos portos europeus e da área em volta do Mediterrâneo, todos mapeados e bem conhecidos do mundo civilizado desde a época dos romanos. Navegava-se mais por experiência – que em Portugal chamamos de "conhecenças" – do que por instrumentos. O único tipo de carta náutica disponível até anos atrás eram os mapas do Mediterrâneo desenhados pelos italianos no século XII.

Conhecidos como carta-portulano, forneciam direções e distâncias aproximadas entre os principais portos europeus e africanos.
No começo, as navegações portuguesas pelo Mar Oceano foram relativamente simples, apesar do desafio de enfrentar o desconhecido: bastava ir bordejando a costa da África. Navegava-se apenas durante o dia, usando como referência pontos geográficos, como rios, golfos e montanhas. Quando era necessário navegar à noite, a referência era a estrela Polar, entre nós conhecida como Tramontana. Quanto mais alta a estrela estivesse no céu, mais longe da linha do Equador estaria o navio, na direção do Pólo Norte. As medições eram feitas a olho nu.

Depois foram aperfeiçoadas com o uso de um instrumento chamado quadrante. É um arco graduado, de 45 graus – equivalente a um quarto da esfera terrestre –, equipado com uma agulha e uma linha esticada por um peso de chumbo na ponta. Apontado para a Tramontana, o quadrante fornece a latitude exata em que se encontra o navio.

Quando os nossos marinheiros passaram a se aventurar mais longe da costa, tudo ficou mais difícil. Para fugir das calmarias do Mar Oceano, às vezes é preciso passar semanas sem avistar terra ou qualquer outro ponto seguro de referência. Além disso, ao se aproximar da linha do Equador, a Tramontana fica encoberta no horizonte. Sem ela, é impossível calcular a latitude com ajuda do quadrante. Foi para superar esse tipo de obstáculo que os reis portugueses se empenharam em buscar sábios em outros países.

Os sábios estrangeiros têm vindo a Portugal por duas razões. A primeira é a disposição da corte de oferecer-lhes postos de trabalho e status social que eles não tinham em outros reinos. De cientista em seu país de origem, esses astrônomos, matemáticos e cartógrafos passaram a trabalhar diretamente como conselheiros dos monarcas portugueses e com eles compartilhar a vida na corte. O segundo motivo é a comparativa tolerância religiosa dos portugueses. Mais inflexíveis, os monarcas espanhóis, precursores da idéia de expulsar judeus e mouros que não aceitassem abraçar o cristianismo, beneficiaram Portugal indiretamente. Os conselheiros que dom João II reuniu para desenvolver os conhecimentos náuticos são, em sua maioria, sábios judeus expulsos da Espanha em 1492.

BÚSSOLA E QUADRANTE

                     Quadrante
Um dos primeiros a trabalhar em Portugal foi um judeu convertido ao cristianismo trazido da Ilha de Maiorca para Sagres, em 1420, pelo infante dom Henrique, o Navegador. Mestre Jaime, cujo nome de nascimento era Jafuda Cresques, ficou conhecido como "o Judeu da Bússola". Cartógrafo e fabricante de instrumentos náuticos, acredita-se que tenha sido o primeiro a ensinar aos portugueses o uso da bússola, a agulha magnética que, protegida por uma cúpula de vidro e disposta sobre a rosa-dos-ventos, indica a direção do Pólo Norte e ajuda a identificar a posição percorrida pelo navio.





A bússola e o quadrante são muito úteis às navegações, mas a grande novidade a bordo dos nossos navios neste começo de século é o astrolábio. É um disco, metálico ou de madeira, de 360 graus no qual estão representados todos os astros do zodíaco. Desde a Antiguidade era usado em terra firme, para calcular a posição e o movimento dos astros no céu. O que os portugueses fizeram com a ajuda dos sábios estrangeiros foi simplificá-lo e adaptá-lo para uso em alto-mar. O astrolábio permite calcular a latitude pela passagem meridiana do Sol, ou seja, ao meio-dia, quando o astro se encontra no seu ponto mais elevado no céu. Para isso, é necessário enquadrar o raio solar em dois orifícios existentes no aparelho e, em seguida, fazer alguns cálculos matemáticos.

VANTAGEM TECNOLÓGICA

                Astrolábio
A vantagem tecnológica alcançada pelos portugueses nasceu não propriamente do uso do astrolábio, mas da simplificação desses cálculos. Até pouco tempo atrás, exigia-se para isso certo conhecimento de matemática e astronomia, um grande obstáculo para nossos marujos, dos quais a maioria é rude e iletrada. Outro problema é que os manuais de astronomia e navegação estavam escritos em hebraico, árabe ou latim. A principal tarefa dos conselheiros de dom João II foi reunir todo esse conhecimento, adaptá-lo para a navegação e traduzi-lo para o português, em linguagem acessível aos marujos. O resultado é um manual chamado "Regulamento do astrolábio e do quadrante para determinar cada dia a declinação, o deslocamento do Sol e a posição da estrela Polar". Dividido em cinco partes, ele contém instruções minuciosas sobre como determinar a latitude, com dezessete exemplos práticos em diferentes posições da esfera terrestre. Também ensina a registrar na carta náutica o caminho percorrido pelo navio. A última parte é um calendário de doze meses, sem indicação do ano. Esse calendário informa, para cada dia do ano, a posição do Sol na abóbada celeste.

A viagem de Cabral, pelo que se tem notícia, foi a primeira a fazer uso sistemático do astrolábio como instrumento de navegação – embora Vasco da Gama já tivesse testado o aparelho na precursora missão em que descobriu o caminho das Índias, há três anos. Uma prova da utilidade do astrolábio está na carta que Mestre João, o médico do rei e especialista em navegação embarcado na frota de Cabral, escreveu a dom Manuel. Ele conta que, no dia 27 de abril de 1500, segunda-feira, tomou a passagem meridiana do Sol na Terra de Santa Cruz e calculou a latitude local em 17 graus. Diz ter chegado a essa conclusão baseando-se nas "regras do astrolábio", referência ao manual de instruções. Na carta, Mestre João reclama da dificuldade de usar o instrumento em alto-mar, devido ao balanço do navio, mas encerra com um conselho: "Para o mar, melhor é dirigir-se pela altura do Sol, que não por nenhuma estrela; e melhor com o astrolábio, que não com quadrante nem outro nenhum instrumento". É assim que, na prática, vão se somando os conhecimentos tecnológicos que guiam a aventura dos descobrimentos.

INDÚSTRIA NAVAL
O crescimento da indústria naval transformou a paisagem do litoral português. Os dois maiores estaleiros funcionam em Lisboa e na cidade de Lagos, no Algarve, perto de Sagres. São formigueiros humanos, repletos de esqueletos de caravelas e naus em construção, que atraem gente de toda a Europa. O trabalho é dirigido pelos mestres carpinteiros, artesãos altamente especializados, cujo ofício é passado de pai para filho. São eles os encarregados de selecionar a madeira adequada para cada seção do navio. O carvalho para a quilha – a espinha dorsal dos barcos – é trazido do Alentejo, na fronteira com a Espanha. O pinheiro para o casco vem da costa do Atlântico, cujas florestas são reservas protegidas por lei. O lastro – peso necessário para manter o navio estável abaixo da linha-d'água – é feito de rochas. Nas expedições à África e, a partir de agora, também às Índias, as rochas são lançadas ao mar no porto de destino e substituídas pela carga de especiarias, que fazem o papel de lastro na viagem de volta.

OS ESTALEIROS ATRAEM GENTE DE TODA A EUROPA E MUDAM A ECONOMIA 
Também vital na construção dos navios é a disponibilidade de ferro e de material de vedação, como breu, estopa, alcatrão e cânhamo. A escassez desse tipo de suprimento obriga Portugal a gastar muito dinheiro com importação em outros países. O ferro de melhor qualidade vem das minas bascas, enquanto o cânhamo é produzido nas regiões de Bordéus e da Bretanha, na França. Apesar dos avanços nas técnicas de vedação, a inundação dos navios pela água do mar ainda é um grande problema nas viagens de longa distância. Nossos mestres construtores desenvolveram uma bomba de sucção, feita de madeira com anéis de ferro. Acionada manualmente por um marujo, essa bomba funciona dia e noite nas viagens oceânicas. Só assim é possível manter os barcos à tona.

Outra novidade incorporada à construção naval portuguesa recentemente é o seguro das embarcações. Antes de partir, cada navio contribui com 2% do valor de sua carga para o tesouro real. Em troca, viaja protegido contra perdas em guerras, tempestades e outras catástrofes naturais, e também contra taxas inesperadas em portos estrangeiros.

Uma contribuição decisiva para a aventura portuguesa nos mares foi dada, nos últimos anos, por um sábio judeu de origem espanhola. Abraham-ben-Samuel Zacuto, chamado Abraão Zacuto, é o autor de Almanaque Perpétuo, obra de astrologia que, adaptada ao uso náutico, se tornou fundamental nas expedições do descobrimento. Com 316 páginas e 56 tabelas, o almanaque de Zacuto fornece todas as informações necessárias para a determinação da latitude, incluindo as chamadas declinações, que são as diferentes posições do Sol no zodíaco a cada dia do ano. Redigido originalmente em hebraico, o almanaque foi traduzido para o latim por outro estudioso judeu, José Vizinho, médico do rei dom João II. Hoje, é um manual prático de orientação para nossos pilotos.

Natural de Salamanca, a cidade do saber na Espanha, Zacuto teve de partir depois da expulsão dos judeus pelos reis católicos, em 1492. Imediatamente foi convidado a trabalhar em Portugal como conselheiro de dom João II e, depois, de dom Manuel. Deu instruções pessoais a Vasco da Gama antes da partida da expedição que descobriu o caminho das Índias. Zacuto pertence a uma linhagem de astrólogos que costumavam passar dias e noites observando o céu na tentativa de prever, no movimento dos astros, o destino do ser humano. Hoje, com o avanço da pesquisa científica, a astrologia vai sendo relegada ao terreno das superstições, pelo menos entre os ilustrados. Sem ela, no entanto, a humanidade não teria acumulado tantos conhecimentos sobre os astros, de vital importância para as navegações portuguesas.Fonte: Veja - VEJA, 1° de julho- edição 1501

Comentário:
Já naquela época, o saber e o conhecimento científico eram estratégicos e usados como tecnologia em navegação, com finalidade de  abrir rotas de comércio e anexar terras produtivas as propriedades da coroa portuguesa. Hoje na essência continua a mesma coisa, países com domínio da tecnologia e conhecimento científico dominam o comércio exterior. O Brasil ainda não percebeu que a educação é estratégica  para impulsionar o país para as rotas do competitivo comércio exterior.