quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

A Holanda está se tornando um narco-Estado?

"Nós definitivamente temos as características de um narco-Estado", diz Jan Struijs, presidente do maior sindicato policial da Holanda.
"Claro que não somos o México. Não temos 14.400 assassinatos. Mas se você olhar para a infraestrutura, a quantidade de dinheiro arrecadada pelo crime organizado, a economia paralela... Sim, temos um narco-Estado."
As palavras dele ecoam em uma sociedade que se chocou com um assassinato que foi muito além da bolha do submundo do crime.
A morte de Derk Wiersum pôs em evidência um equívoco comum na Holanda: a ideia de que os carteis de drogas matam apenas entre eles. Com 44 anos, pai de dois filhos, Wiersum foi morto a tiros na frente de sua esposa, do lado de fora de sua casa em Amsterdã, em setembro.

'ISSO É PARA NOS ASSUSTAR'
Wiersum era o advogado de uma testemunha da acusação, Nabil Bakkali, que havia se tornado informante em um caso contra dois dos suspeitos mais procurados da Holanda.
Os tiros em plena luz do dia, em um bairro tranquilo, foram vistos como um ataque à sociedade civil, à democracia e ao Estado de Direito.
"Isso é para nos assustar", alertou o promotor público Fred Westerbeke. "Devemos continuar a usar testemunhas-chave, caso contrário não conseguiremos avançar."

De repente, explodiram os temores do paraíso dos usuários de drogas se transformando em um porto para crimes relacionados às drogas e uma economia minada.
"Alguns incidentes nos últimos anos foram como um sinal", explica Wouter Loumans, cujo best-seller, Mocro Mafia, é uma história que mostra a ascensão de uma nova geração de criminosos em Amsterdã.
"Havia sinais de que eles poderiam transitar do submundo para o 'mundo superior', e agora isso aconteceu."
Loumans lista uma série de incidentes como evidência da escalada da brutalidade: dois meninos mortos em um tiroteio com fuzis AK-47, com balas ricocheteando nas paredes; uma mãe assassinada na frente dos filhos; uma cabeça decepada do lado de fora de uma cafeteria; o assassinato do irmão de uma testemunha, Reduan Bakkali; e o assassinato de Derk Wiersum.

O QUE É A 'MOCRO MAFIA'?
"É uma gíria de rua. Os jovens marroquinos se chamam 'Mocro'", diz Loumans, que escreveu o livro com Marijn Schrijver.
"Nós criamos o termo 'Mocro Mafia' para resumir o que era o livro. Agora vejo que eles usam nos relatórios da polícia. Mas não são apenas os marroquinos. São garotos que crescem em áreas de Amsterdã onde os turistas nunca vão."
"Não são canais, o Rijksmuseum, o museu Van Gogh. São os conjuntos habitacionais. Eles não têm as mesmas oportunidades. Eles são ambiciosos, estão procurando uma carreira no submundo."

'SOCIEDADE APODRECIDA'
Mesmo antes do assassinato de Wiersum, um relatório encomendado pelo prefeito de Amsterdã em agosto descreveu a capital como um "Valhalla (enorme salão, na mitologia nórdica) para criminosos que atuam no ramo das drogas".
A Holanda ainda não era um narco-Estado, mas corria o risco de se tornar um, advertiu o ministro da Justiça, Ferd Grapperhaus.
"Sabíamos que estava chegando", disse Jan Struijs. "Advogados, prefeitos, policiais, todos nós fomos ameaçados pelo crime organizado. Todos os alarmes soaram, mas os políticos foram ingênuos. Agora, os alicerces da nossa sociedade estão apodrecendo."

Alguns dias depois, outro advogado holandês, Philippe Schol, foi baleado na perna em um tiroteio enquanto passeava com seu cachorro perto de casa, do outro lado da fronteira com a Alemanha.
Uma pesquisa de opinião apontou que 59% das pessoas acreditavam que a Holanda é agora um narco-Estado, ou seja, um país cuja economia depende do comércio de drogas ilegais.
Parece irônico que, em uma nação burocrática que envia rapidamente um lembrete sobre imposto sobre cães ou multa por pagamento atrasado no estacionamento, os gângsteres permaneçam em liberdade e os tiroteios de gangues ocorram regularmente.

PRISÃO DOS MAIS PROCURADOS DA HOLANDA
Então, aconteceu uma importante prisão no Golfo nesta semana. Ridouan Taghi, de 41 anos, foi detido entrando em Dubai com uma identidade falsa e mantido sob um mandado de prisão internacional por suspeita de vários assassinatos e tráfico de drogas.
Descrito pela polícia como um dos "homens mais perigosos" do mundo, suspeita-se que ele tenha ordenado uma série de execuções, incluindo o assassinato de Derk Wiersum.
Os promotores holandeses imediatamente buscaram a extradição dele, antes de um grande julgamento de gangues marcado para março de 2020, e ele foi levado de avião para a Holanda na quarta-feira.
O "caso Marengo" envolve cinco assassinatos e uma série de tentativas de assassinato, incluindo o irmão do informante Nabil Bakkali.
Acredita-se que Ridouan Taghi estava morando em Dubai com sua esposa e seis filhos.
A polícia holandesa disse que sua prisão foi resultado de intensa cooperação internacional, e não de uma denúncia. Cem detetives estavam envolvidos no caso e o chefe da polícia, Erik Akerboom, disse que a prisão era "de grande importância para a Holanda".
"Taghi e seus cúmplices representam uma ameaça ao Estado de Direito. É muito importante para nós, como policiais, remover as ameaças", disse ele.
No dia seguinte, seis pessoas foram presas em diferentes pontos da Holanda por suspeita de lavagem de dinheiro, posse de drogas e armas de fogo.
Embora a prisão de Ridouan Taghi tenha sido um sucesso para as autoridades holandesas, Wouter Loumans duvida que isso impeça os mais jovens de aspirar a seguir seus passos.
"É uma questão de oportunidades na sociedade. Eles não são diferentes de banqueiros ou jornalistas, eles querem ganhar dinheiro. Se você não é um bom jogador de futebol ou não tem cérebro para sair daquele mundo, esse é seu meio. Não é apenas um problema relacionado às drogas, é um problema social."

QUAL É O TAMANHO DO PROBLEMA DAS DROGAS NA HOLANDA?
De certa forma, a Holanda criou o ambiente perfeito para o comércio de drogas.
Com sua extensa rede de transporte, suas leis e penalidades brandas sobre drogas, e sua proximidade com vários mercados lucrativos, tornou-se um local óbvio para o fluxo global de drogas.
O renomado escritor Roberto Saviano, que narra o mundo do crime organizado da Camorra, em Nápoles, acredita que a influência da máfia em Amsterdã é ainda pior.
"Existem clãs de todo o mundo, porque a Holanda é um dos portos de trânsito mais importantes. Eles sabem que quem controla a Holanda tem uma das artérias do mercado global de drogas", disse ele ao jornal Volkskrant.

MERCADO CLANDESTINO
Bilhões e bilhões de euros circulam nesse mercado clandestino. Estima-se que, apenas em 2017, € 18,9 bilhões (R$ 85,6 bilhões) em drogas sintéticas tenham sido produzidos na Holanda. O país é considerado um líder mundial na produção desses entorpecentes.
O chefe do sindicato da polícia, Jan Struijs, destaca a velocidade com que essas drogas são transportadas ao redor do mundo.
"No dia em que Donald Trump se tornou presidente, os primeiros comprimidos 'Trumpies' laranja de ecstasy foram encontrados em Schiphol. 24 horas depois já estavam à venda na Austrália", disse.
"Há muitos mexicanos ajudando a produzir metanfetamina na Holanda. Você vê um despejo de cocaína na Venezuela e no Suriname, vê preços muito baixos em Amsterdã, Liverpool e Manchester. (O dinheiro de) cada grama que você compra vai para o crime organizado e para financiar carteis de drogas."

ONDE A HOLANDA SE ENCAIXA NO MAPA DAS DROGAS
Os "chefes" da droga da América do Sul começaram enviando seus produtos para a África Ocidental. As drogas foram para o norte por antigas linhas de contrabando do Marrocos, e os jovens marroquinos cujos pais haviam se mudado para a Holanda ainda tinham conexões familiares e rotas de migração para explorar.
Foi assim que a polícia alegou que Ridouan Taghi fez fortuna. Ele herdou ou "ganhou controle" de uma rota de contrabando e começou a traficar cocaína em vez de maconha - o que gerou mais dinheiro e violência.
Embora os líderes operem internacionalmente, a polícia teme que eles usem sua influência interna para "contratar" capangas cada vez mais jovens.
"A polícia entende, mas não tem como intervir", diz Jan Struijs. "Não são apenas os cortes no orçamento. As equipes de prevenção que trabalham com jovens também desapareceram. Então, os jovens estão no radar (dos chefões) e. de repente, os vemos cometendo assassinatos."
Mas isso significa que a Holanda se transformou em um narco-Estado?
"Não temos corpos pendurados nas pontes", afirma Wouter Loumans, "mas temos corrupção nos portos, violência contra advogados, ameaças a jornalistas. Definitivamente, isso é característico de um narco-Estado."
A economia holandesa pode não ser dependente ou definida pela indústria das drogas, mas essa indústria está exercendo uma influência crescente na sociedade. Fonte: BBC News, The Hague,- 19 December 2019

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Dez pontos principais do documento final da COP25

O acordo "Chile-Madri, hora de agir", firmado pelos quase 200 países que participaram da 25ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP25), estabelece as bases para ampliar a atuação contra a mudança climática.
A seguir, os dez pontos chaves do documento final, apresentado neste domingo (15/12), em Madri apesar dos muitos impasses entre os negociadores, prolongando o evento por quase dois dias a mais do que o inicialmente previsto.

MAIOR AMBIÇÃO
Um dos principais temas da COP25 foi a necessidade de os países serem mais ambiciosos no combate à mudança climática. Os compromissos assumidos até então foram considerados insuficientes, e o texto final contém o apelo que isso mude. O documento estabelece as bases para que na COP26, em 2020, os governos apresentem novos compromissos de redução de emissões.

PAPEL DA CIÊNCIA
O acordo da COP25 reconhece que as políticas climáticas devem ser permanentemente atualizadas com base nos avanços da ciência, "eixo principal" a orientar as decisões climáticas nacionais. Também destaca o papel do Painel Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática da ONU (IPCC) e lhe agradece pelos dois relatórios especiais publicados neste ano.

TRANSVERSALIDADE
A cúpula de Madri termina com o consenso de que a luta contra a mudança climática é uma questão transversal, que afeta âmbitos como mercado financeiro, ciência, indústria, energia, transporte e agricultura, entre outros. Ministros de vários países afirmaram que seus governos assumem a agenda climática como própria.

OCEANOS E USO DO SOLO
Esses dois pontos estiveram entre os mais debatidos no plenário. O Brasil tentou tirar ambos no texto final, foi muito criticado por outros países e acabou cedendo no fim. O acordo traz referências ao impacto dos oceanos e do uso dos solos no clima, em linha com um dos relatórios publicados pelo IPCC em 2019. Haverá uma reunião específica sobre o assunto em junho de 2020.

GÊNERO
Os representantes dos quase 200 países que estão em Madri chegaram a um acordo para aprovar um novo Plano de Ação de Gênero, que será mais uma vez revisado em 2025. O objetivo é ampliar a participação de mulheres nas negociações climáticas internacionais e promover seu papel como agentes da mudança rumo a um mundo livre de emissões.

FINANCIAMENTO DE PERDAS E DANOS
O acordo prevê a criação de diretrizes para o Fundo Verde do Clima para que, pela primeira vez, o órgão destine recursos às perdas dos países mais vulneráveis a fenômenos climáticos extremos. Essa era a principal reivindicação dos pequenos países insulares, que sofrem diariamente com os efeitos do aquecimento global.
O documento também pede que os países desenvolvidos aloquem recursos financeiros para ajudar os países em desenvolvimento. Além disso nasce a Rede de Santiago, que levará assistência técnica de organizações e especialistas a esses países vulneráveis.

MERCADOS DE CARBONO

A regulação dos mercados de carbono foi um dos principais objetivos e dos tópicos mais debatidos da conferência. Inicialmente incluído no documento, o tema acabou de fora do texto final por falta de acordo e será discutido outra vez na próxima edição da COP25. Muitas delegações nacionais consideraram melhor não ter acordo do que firmar um pacto ruim.

MULTILATERALISMO
O multilateralismo e a cooperação internacional foram pontos destacados pela ministra espanhola da Transição Ecológica, Teresa Ribera. Para ela, a COP25 é uma reafirmação desses valores para resolver um desafio global como a mudança climática: "Embora em contextos globais complexos, a COP25 não deixou a agenda climática cair, num momento fundamental para a implementação do Acordo de Paris. Pelo contrário, exibiu um multilateralismo ativista."

SOCIEDADE E TRANSIÇÃO JUSTA
A importância da dimensão social foi reconhecida na COP25, com os países concordando que os seres humanos devem estar no centro da resposta à crise climática. Nesse sentido, o acordo diz ser imperativo que a transição para um mundo livre de emissões seja justa, promovendo criação de empregos decentes e de qualidade.

NOVO CICLO
O documento final também reconhece a importância dos atores não governamentais na ação climática e os convida a ampliar as ações para combater o problema. A existência de um marco de governança global como o Acordo de Paris abre um novo ciclo, e faz com que a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas não seja apenas um fórum para fixar regras. Fonte: Deutsche Welle-15.12.2019

domingo, 22 de dezembro de 2019

A rescisão de 310 milhões de reais do funcionário Marcelo Odebrecht

O funcionário celetista Marcelo Bahia Odebrecht, ex-presidente do grupo fundado por seu avô, foi demitido nesta sexta-feira por justa causa. Na prática, já havia perdido o cargo quando foi obrigado a renunciar em dezembro de 2015, após ser preso na Operação Lava Jato. Agora perde também o salário de 115.000 reais mensais e todos os benefícios — advogados, motoristas, secretários, assessores, seguranças — que a empresa garantiu, inclusive, durante os dois anos em que esteve preso, após ser condenado por corrupção.
O empresário de 51 anos, no entanto, sai com 310 milhões de reais, dos quais 240 milhões já foram pagos pela companhia, fruto de um acordo feito com a empresa para que ele aceitasse assinar a delação premiada com o MPF. Além de uma participação minoritária de 2,79%, que lhe garante alguma presença nos negócios do grupo, via Kieppe, holding da família controladora.

Em nota, a Odebrecht informa que o “desligamento do funcionário” atendeu à recomendação feita em outubro deste ano pelos monitores externos independentes do Ministério Público Federal (MPF) e do Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DoJ), que atuam na empresa há dois anos e meio. A “recomendação” tinha até o dia 31 de dezembro deste ano para ser acatada. Dos herdeiros, apenas Mauricio Odebrecht, o irmão mais novo de Marcelo, permanece no conselho da companhia.
A recomendação dos monitores foi de que nenhuma pessoa sem um “programa de ação” definido — basicamente uma tarefa que justifique sua contratação —, permanecesse no quadro de funcionários. Este era o caso de Marcelo, que, conforme o acordo de leniência, estava impedido de ter qualquer atuação na companhia. Apesar disso, quando teve sua pena progredida para o regime semiaberto, em setembro deste ano, voltou a frequentar a sede da Odebrecht em São Paulo. Dos 77 delatores da empresa, os monitores haviam autorizado a permanência de 19 no dia a dia dos negócios. Hoje apenas nove ainda trabalham na empresa.

Internamente, no entanto, a presença de Marcelo causava incômodo. O acirramento da crise familiar dos Odebrecht, que se arrasta desde o começo das investigações da Lava Jato, foi um fator determinante na decisão. Marcelo nunca concordou com as decisões tomadas pelo pai, Emílio, para salvaguardar a empresa. Mesmo preso, negava a possibilidade de fazer delação, uma medida defendida por seu pai, que conseguiu escapar da prisão.

Marcelo começou a trabalhar na Odebrecht logo após se formar no curso de engenharia civil, em 1992. Atuou como engenheiro júnior na construção de prédios em Salvador e depois nas obras da hidrelétrica do rio Corumbá, em Goiás. Inicialmente, de forma anônima. Em meio ao exército de engenheiros da empresa, não utilizava o sobrenome famoso para evitar o assédio aos herderios. Mas já no começo do milênio decidiu lutar por uma posição de liderança nos negócios, o que não agradou ao pai, que preferia uma sucessão profissional. Foi seu avó, o fundador Norberto Odebrecht, então com 82 anos de idade, que alçou Marcelo ao comando da construtora com apenas 34 anos, enquanto Emílio assumia o conselho de administração.


A Marcelo sempre se atribuiu o crescimento exponencial da Odebrecht, o que o novo presidente, Ruy Sampaio, contesta. “Ele recebeu uma empresa com quatro áreas de negócios e, em seu projeto de poder, aumentou para 17. Ele queria, a qualquer custo, ser o maior empresário da América do Sul. Este projeto de poder, que usou corrupção, nos trouxe a isso”, disse em entrevista ao Valor. Sampaio ingressou na companhia em 1985 e passou pelos anos dourados — a partir de 2009, quando Marcelo assume os negócios —, na diretoria da Kieppe, controladora da empresa, que também se beneficiou da corrupção. Fonte: El País - São Paulo - 20 DEC 2019 

sábado, 21 de dezembro de 2019

Economia informal cresce pelo 5º ano seguido no país

A economia informal avançou pelo 5º ano consecutivo no Brasil, segundo o Índice de Economia Subterrânea (IES), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO) e pelo Ibre/FGV. A chamada "economia subterrânea" movimentou R$ 1,12 trilhão ao longo do ano – o equivalente a 17,3% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, e semelhante ao PIB de países como Suécia e Suíça.
A alta, de acordo com as entidades, é reflexo da crise econômica, iniciada em meados de 2014 e que reduziu o mercado de trabalho e a participação do setor formal da economia. No mercado de trabalho, por exemplo, a informalidade bateu recorde, atingindo 41,2% em outubro.
O indicador foi criado em 2003 para medir a chamada economia subterrânea, que consiste na produção e comercialização de bens e serviços que não é reportada oficialmente ao governo, e leva em conta tanto a sonegação quanto o descumprimento de regulamentações trabalhistas e previdenciárias.


Com a nova alta registrada este ano, o indicador é o maior desde 2010, quando a economia informal equivalia a 17,6% do PIB.

Para Edson Vismona, presidente do Etco, para reverter esse quadro é necessária uma sólida recuperação do ambiente econômico e a melhora do relacionamento do fisco com o contribuinte, "simplificando procedimentos para os cidadãos que querem pagar seus impostos e autuando duramente os que estruturam sua atividade para sonegar impostos".

Alta do PIB
No terceiro trimestre deste ano, o PIB brasileiro cresceu 0,6% em comparação com o anterior, segundo dados divulgados no início do mês pelo IBGE – o equivalente a R$ 1,842 trilhão. Com isso, no acumulado em 12 meses a alta foi de 1%. Fonte: G1-18/12/2019

Comentário:
Segundo dados do trimestre encerrado em julho/2019,  divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),  o número de trabalhadores informais na população ocupada atingiu 38,683 milhões de brasileiros; número de desempregados  atingiu 12,4 milhões em outubro
Obs: Pessoas desalentadas - que desistiram de procurar emprego, não entra na estatística de desemprego e nem a população fora da força de trabalho.
Dados do INSS; 55 milhões de trabalhadores formais; 20,3 milhões de trabalhadores aposentados, 10,7 milhões de pensionistas do INSS. A conta futura não fechará.
Com esse dado o Balanço Previdenciário; trabalhador formal mais contribuições sociais, o resultado é um desiquilíbrio futuro da Previdência. Cada trabalhador na informalidade significa um contribuinte a menos para o sistema, fora os desempregados e desalentados.. Isso em escala produz consequências graves financeiros para o sistema previdenciário, provocando efeito dominó na sustentação do próprio programa. Existe um problema grave. Os próximos governos terão de descascar esse abacaxi.  É um vulcão social previdenciário.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Geração floco de neve: SnowFlake

O termo, que ganhou popularidade no meio político, se refere aos jovens adultos que não admitem ser contrariados e está até no dicionário
Não é fácil ouvir um não, receber críticas ou aceitar que o outro pense de modo diferente do seu. Mas tudo isso é essencial para que os relacionamentos cresçam de forma saudável. Parece conteúdo de um livro de autoajuda? Talvez.
Embora o tema esteja, de fato, se tornando cada vez mais frequente nos exemplares que chegam às livrarias de todo o mundo, o público ao qual eles tentam falar parece nem perceber que é com ele. No último ano, recebeu até nome: geração floco de neve — ou os jovens adultos que não aceitam ser contrariados.
A professora universitária Myrian del Vecchio tem percebido novos “integrantes” dessa população de poucos anos para cá na sala de aula. “Não devemos rotular uma geração, mas esta parece ter uma sensibilidade muito aflorada. Tenho alunos de 19, 20 anos, que não aceitam críticas, deixam de fazer trabalhos porque dizem estar deprimidos ou têm receio de enfrentar determinadas tarefas”, conta.

Um exemplo: na disciplina de redação, do curso de jornalismo da UFPR, Myrian costuma compartilhar leituras jornalísticas com a turma. São textos de autores renomados, como Eliane Brum (uma das mais premiadas jornalistas brasileiras) e Truman Capote, do clássico livro-reportagem “A Sangue Frio”.
Em geral, o conteúdo das obras é denso (tratam de temas como assassinatos, pobreza extrema, doenças mentais), mas essencial de ser abordado. E, segundo Myrian, muitos alunos não suportaram as leituras, ou se negaram a fazer os exercícios sobre as obras. “É claro que isso não se aplica à maioria, mas a realidade dura tem chocado bastante. Só que, querendo ou não, isso faz parte do jornalismo”, diz.
A psicanalista Juliane Kravetz explica que é comum algumas situações gerarem angústia, mas é importante tentar enfrentá-las. “Se torna um problema quando a pessoa passa a usar sua sensibilidade ou sintoma de depressão para mascarar algo que realmente pode ajudar em seu crescimento pessoal”, afirma.

ORIGEM DO TERMO É POLÍTICA
O termo ganhou popularidade há pouco mais de um ano no meio político, quando partidários da direita passaram a se referir à oposição como “pobres flocos de neve” durante as polêmicas acaloradas sobre o Brexit e as eleições norte-americanas (que tiveram como protagonistas Donald Trump e Hillary Clinton).
Mas bastou pouco tempo para que a crítica logo ultrapassasse as barreiras políticas e fosse adotada ao vocabulário dos cidadãos mundo afora.
O Dicionário Collins foi o primeiro a adotar o termo à lista de palavras do ano no início de novembro de 2016. Em seguida, o de Cambridge também acrescentou o significado de “geração floco de neve” em seu material.
Para Ulisses Natal, coordenador adjunto do curso de psicologia da PUCPR, estas são formas de traduzir as relações sociais e pessoais da modernidade. “É o espelho de como está a sociedade.”

O CULPADO É SEMPRE O OUTRO
Não é fácil admitir o próprio erro ou aceitar uma opinião contrária porque essas são questões que afetam o ego. Basta surgir uma situação que desperte um conflito de crenças (ou mesmo que desafie as potencialidades do indivíduo) para que os dedos em riste tomem o lugar da autoavaliação.
 “É muito fácil colocar a culpa no outro, mas é essencial refletir sobre as próprias frustrações de forma racional. A nota baixa que você recebeu é mesmo culpa do professor? Tem problema se alguém não concorda com o que você diz?”, questiona Natal.
Para ele, a raiz do problema está na falta de frustrações sofridas durante a infância. “As crianças precisam se frustrar. Quando os pais dizem sim para tudo, elas crescem achando que ninguém deve lhes impor limites”, diz.
Mas há esperança. Os dois especialistas são unânimes sobre como lidar com a frustração na vida adulta: o único modo é entender mais de si mesmo. “É preciso entender que a satisfação não precisa ser completa. Quando se tem a plenitude, não há mais nada a ser buscado”, afirma Kravetz.

NARCISIMO?
A dificuldade em admitir o próprio erro ou aceitar críticas construtivas, segundo a psicanalista, é uma forma de narcisismo exacerbado. “As pessoas falam muito de diversidade [de opiniões], mas caem em um discurso vazio, porque não aceitam ser contestadas”, comenta.
Já a professora não enxerga essa mudança como um sintoma do personagem do mito grego, que morreu ao ficar obcecado com a própria beleza. “Vejo como um receio, uma autodefesa. A gente tem que ir quebrando aos poucos essa capa protetora em que esses jovens se envolveram. Pode levar um tempo, mas acredito no amadurecimento durante o processo. Fonte: Gazeta do Povo -alterado em: 6 de dezembro de 2017.

COMENTÁRIO:

Geração floco de neve (do inglês Generation Snowflake) é um neologismo do idioma inglês usado para caracterizar os jovens adultos da década de 2010 como sendo mais propensas a se ofenderem e menos resistentes do que as gerações anteriores, ou como sendo emocionalmente muito vulneráveis para lidar com pontos de vista discordantes dos seus. O termo é considerado depreciativo. A expressão provavelmente se originou nos Estados Unidos  e entrou em uso mais amplo no Reino Unido em 2016. Fonte: Wikipédia

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Reino Unido: Partido Conservador ganha com ampla maioria

Com a maioria, os conservadores aumentaram significativamente seu poder, o que deve, inclusive, facilitar a aprovação do projeto de Johnson para o Brexit e garantir que o Reino Unido deixe a União Europeia em 31 de janeiro de 2020.

Para obter a maioria, um partido precisa de 326 assentos. Antes de ser dissolvido no dia 6 de novembro, o Parlamento tinha 298 conservadores e 243 trabalhistas.

O resultado foi considerado devastador para o Partido Trabalhista, que perdeu em uma série de locais historicamente ligados aos trabalhistas e só manteve alguns assentos graças a vitórias bastante apertadas.

Por outro lado, o Partido Nacional Escocês (SNP) comemorou um número de cadeiras acima do previsto em pesquisas. Das 59 vagas disponíveis na Escócia, o SNP obtinha, até às 5 horas locais, 48 vagas, superando as 35 que ocupava antes destas eleições.

O bom desempenho do partido da primeira-ministra Nicola Sturgeon - que tem entre suas propostas a realização de um novo plebiscito para independência do país - custou inclusive a cadeira de Jo Swinson, líder do Partido Liberal Democrata.

"A Escócia enviou uma mensagem muito clara - não queremos um governo Boris Johnson, não queremos deixar a UE", afirmou Sturgeon. "Os resultados no resto do Reino Unido são sombrios, mas sublinham a importância da Escócia ter uma escolha. Boris Johnson tem um mandato para tirar a Inglaterra da UE, mas ele deve aceitar que eu tenho um mandato para dar à Escócia uma escolha para um futuro alternativo", acrescentou.

BREXIT
Com a ampla maioria conquistada por seu partido nestas eleições, Johnson fica em uma posição muito mais confortável para conseguir promover a saída do Reino Unido da União Europeia em 31 de janeiro de 2020, como sempre prometeu.
Seu projeto não deverá enfrentar mais as mesmas dificuldades de antes para obter aprovação perante um Parlamento predominantemente conservador e a tendência é que avance rapidamente.
Mas a saída no dia 31 de janeiro, porém, caso aconteça, será apenas o primeiro passo oficial do Brexit.
Ainda é necessário negociar um acordo comercial com a União Europeia, e o prazo final para isso é 30 de junho de 2020.
A partir daí, dois cenários são possíveis: com um acordo fechado, ele precisa ser ratificado, um processo que pode levar meses, mas garante uma saída organizada. Sem o acordo, pode ter início a extensão de um período de transição que duraria até dois anos – algo que Johnson já descartou – ou uma saída sem acordo. Fonte: G1-13/12/2019