quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Conhecimento científico na época do descobrimento do Brasil


O escrivão Pero Vaz de Caminha relata que, ao atracar em Santa Cruz, a esquadra de Cabral foi visitada por dois habitantes da terra, mancebos e de bons corpos, que se metiam em almadias, embarcações rústicas feitas de troncos de madeira atados entre si.
A cena é o encontro entre duas civilizações separadas por um enorme abismo de evolução científica e tecnológica. Enquanto as almadias estão entre as mais primitivas formas de navegação usadas pelo ser humano, as naus e as caravelas portuguesas são o que de mais avançado a arte de navegar produziu até hoje. Nossos navios levam a bordo instrumentos, cartas de navegação e conhecimentos desenvolvidos pelos mais importantes sábios da cristandade – matemáticos, astrônomos, cartógrafos, geógrafos, especialistas na construção de navios e uso de artilharia, vindos de diversos países.

Portugal está na liderança dos descobrimentos porque é o primeiro, entre os países contemporâneos, a transformar a pesquisa tecnológica e científica em política de Estado. É uma aventura que começou dois séculos atrás, com as primeiras e tímidas incursões ao mundo desconhecido, e se completou com a política de portas abertas a especialistas espanhóis, catalães, italianos e alemães, com o propósito de avançar os conhecimentos náuticos de nossos oficiais e marujos.

CARAVELAS
As caravelas são um prodígio da nossa tecnologia e a vanguarda das expedições. São navios velozes e relativamente pequenos. Uma típica caravela portuguesa tem de 20 a 30 metros metros de comprimento, de 6 a 8 de largura, 50 toneladas de capacidade e é tripulada por quarenta ou cinqüenta homens. Com vento a favor, chega a percorrer 250 quilômetros por dia. Utiliza as chamadas velas latinas, triangulares, erguidas em dois ou três mastros. Elas permitem mudar de curso rapidamente e, em ziguezague, velejar até mesmo com vento contrário. A grande vantagem das caravelas sobre os pesados navios mercantes utilizados no Mediterrâneo por genoveses e catalães é a versatilidade. Ideais para navegação costeira, podem entrar em rios e estuários, manobrar em águas baixas, contornar arrecifes e bancos de areia. E também zarpar rapidamente, no caso de um ataque imprevisto de nativos hostis.



NAUS
As naus são barcos maiores e mais lentos. A capitânia de Pedro Álvares Cabral é um navio de 250 toneladas e, ao partir, levava 190 homens. Elas são a ferramenta essencial no comércio já estabelecido com a África e no nascente intercâmbio com as Índias. Na longa viagem de ida, transportam produtos para a troca, provisões, guarnições militares, armas e canhões. Na volta, trazem as mercadorias cobiçadas pela Europa. Suas velas redondas são menos versáteis que as das caravelas, mas permitem uma impulsão muito maior com vento favorável. As caravelas, ao contrário das naus, levam pouca carga. Nem é necessário. Nessa época de grandes descobertas, a carga mais preciosa que elas podem transportar é a informação sobre as rotas marítimas e as terras recém-contatadas – um produto que não pesa nada, mas é vital para as conquistas no além-mar.

CONHECIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLOGIA
O grande mérito de Portugal não está na descoberta de novidades científicas, mas na assimilação de conhecimentos, recentes ou antigos, e sua aplicação com propósitos bem definidos, que é abrir rotas de comércio e agregar terras produtivas, onde não haja governo cristão, às propriedades da coroa. As técnicas que hoje permitem aos nossos navios cruzar o Mar Oceano, dobrar o Cabo da Boa Esperança e chegar às Índias são herança dos fenícios, dos egípcios, dos gregos e de várias outras civilizações antigas, guardadas e aprimoradas pelos mouros nos últimos séculos.

A vela latina, que equipa nossas caravelas, foi trazida pelos árabes do Oceano Índico, depois de conquistarem o Egito. O uso do compasso para anotar a direção e a trajetória do navio chegou ao Ocidente no começo do século XIII. A confecção de cartas náuticas os italianos também aprenderam dos árabes, um século atrás. O astrolábio, um revolucionário instrumento de localização utilizado pela esquadra de Cabral na Terra de Santa Cruz, existe desde a Antiguidade e foi recuperado pelos astrólogos medievais para observar, em terra, o movimento e a posição dos astros no firmamento. Mesmo a bússola, fundamental nos descobrimentos, já é usada no Mediterrâneo há muito tempo por genoveses, venezianos e catalães.

São muitos os desafios científicos que os descobrimentos impuseram a Portugal. O maior deles, evidentemente, é sair ao mar alto e voltar para casa com segurança. Até pouco tempo atrás, a navegação se restringia aos portos europeus e da área em volta do Mediterrâneo, todos mapeados e bem conhecidos do mundo civilizado desde a época dos romanos. Navegava-se mais por experiência – que em Portugal chamamos de "conhecenças" – do que por instrumentos. O único tipo de carta náutica disponível até anos atrás eram os mapas do Mediterrâneo desenhados pelos italianos no século XII.

Conhecidos como carta-portulano, forneciam direções e distâncias aproximadas entre os principais portos europeus e africanos.
No começo, as navegações portuguesas pelo Mar Oceano foram relativamente simples, apesar do desafio de enfrentar o desconhecido: bastava ir bordejando a costa da África. Navegava-se apenas durante o dia, usando como referência pontos geográficos, como rios, golfos e montanhas. Quando era necessário navegar à noite, a referência era a estrela Polar, entre nós conhecida como Tramontana. Quanto mais alta a estrela estivesse no céu, mais longe da linha do Equador estaria o navio, na direção do Pólo Norte. As medições eram feitas a olho nu.

Depois foram aperfeiçoadas com o uso de um instrumento chamado quadrante. É um arco graduado, de 45 graus – equivalente a um quarto da esfera terrestre –, equipado com uma agulha e uma linha esticada por um peso de chumbo na ponta. Apontado para a Tramontana, o quadrante fornece a latitude exata em que se encontra o navio.

Quando os nossos marinheiros passaram a se aventurar mais longe da costa, tudo ficou mais difícil. Para fugir das calmarias do Mar Oceano, às vezes é preciso passar semanas sem avistar terra ou qualquer outro ponto seguro de referência. Além disso, ao se aproximar da linha do Equador, a Tramontana fica encoberta no horizonte. Sem ela, é impossível calcular a latitude com ajuda do quadrante. Foi para superar esse tipo de obstáculo que os reis portugueses se empenharam em buscar sábios em outros países.

Os sábios estrangeiros têm vindo a Portugal por duas razões. A primeira é a disposição da corte de oferecer-lhes postos de trabalho e status social que eles não tinham em outros reinos. De cientista em seu país de origem, esses astrônomos, matemáticos e cartógrafos passaram a trabalhar diretamente como conselheiros dos monarcas portugueses e com eles compartilhar a vida na corte. O segundo motivo é a comparativa tolerância religiosa dos portugueses. Mais inflexíveis, os monarcas espanhóis, precursores da idéia de expulsar judeus e mouros que não aceitassem abraçar o cristianismo, beneficiaram Portugal indiretamente. Os conselheiros que dom João II reuniu para desenvolver os conhecimentos náuticos são, em sua maioria, sábios judeus expulsos da Espanha em 1492.

BÚSSOLA E QUADRANTE

                     Quadrante
Um dos primeiros a trabalhar em Portugal foi um judeu convertido ao cristianismo trazido da Ilha de Maiorca para Sagres, em 1420, pelo infante dom Henrique, o Navegador. Mestre Jaime, cujo nome de nascimento era Jafuda Cresques, ficou conhecido como "o Judeu da Bússola". Cartógrafo e fabricante de instrumentos náuticos, acredita-se que tenha sido o primeiro a ensinar aos portugueses o uso da bússola, a agulha magnética que, protegida por uma cúpula de vidro e disposta sobre a rosa-dos-ventos, indica a direção do Pólo Norte e ajuda a identificar a posição percorrida pelo navio.





A bússola e o quadrante são muito úteis às navegações, mas a grande novidade a bordo dos nossos navios neste começo de século é o astrolábio. É um disco, metálico ou de madeira, de 360 graus no qual estão representados todos os astros do zodíaco. Desde a Antiguidade era usado em terra firme, para calcular a posição e o movimento dos astros no céu. O que os portugueses fizeram com a ajuda dos sábios estrangeiros foi simplificá-lo e adaptá-lo para uso em alto-mar. O astrolábio permite calcular a latitude pela passagem meridiana do Sol, ou seja, ao meio-dia, quando o astro se encontra no seu ponto mais elevado no céu. Para isso, é necessário enquadrar o raio solar em dois orifícios existentes no aparelho e, em seguida, fazer alguns cálculos matemáticos.

VANTAGEM TECNOLÓGICA

                Astrolábio
A vantagem tecnológica alcançada pelos portugueses nasceu não propriamente do uso do astrolábio, mas da simplificação desses cálculos. Até pouco tempo atrás, exigia-se para isso certo conhecimento de matemática e astronomia, um grande obstáculo para nossos marujos, dos quais a maioria é rude e iletrada. Outro problema é que os manuais de astronomia e navegação estavam escritos em hebraico, árabe ou latim. A principal tarefa dos conselheiros de dom João II foi reunir todo esse conhecimento, adaptá-lo para a navegação e traduzi-lo para o português, em linguagem acessível aos marujos. O resultado é um manual chamado "Regulamento do astrolábio e do quadrante para determinar cada dia a declinação, o deslocamento do Sol e a posição da estrela Polar". Dividido em cinco partes, ele contém instruções minuciosas sobre como determinar a latitude, com dezessete exemplos práticos em diferentes posições da esfera terrestre. Também ensina a registrar na carta náutica o caminho percorrido pelo navio. A última parte é um calendário de doze meses, sem indicação do ano. Esse calendário informa, para cada dia do ano, a posição do Sol na abóbada celeste.

A viagem de Cabral, pelo que se tem notícia, foi a primeira a fazer uso sistemático do astrolábio como instrumento de navegação – embora Vasco da Gama já tivesse testado o aparelho na precursora missão em que descobriu o caminho das Índias, há três anos. Uma prova da utilidade do astrolábio está na carta que Mestre João, o médico do rei e especialista em navegação embarcado na frota de Cabral, escreveu a dom Manuel. Ele conta que, no dia 27 de abril de 1500, segunda-feira, tomou a passagem meridiana do Sol na Terra de Santa Cruz e calculou a latitude local em 17 graus. Diz ter chegado a essa conclusão baseando-se nas "regras do astrolábio", referência ao manual de instruções. Na carta, Mestre João reclama da dificuldade de usar o instrumento em alto-mar, devido ao balanço do navio, mas encerra com um conselho: "Para o mar, melhor é dirigir-se pela altura do Sol, que não por nenhuma estrela; e melhor com o astrolábio, que não com quadrante nem outro nenhum instrumento". É assim que, na prática, vão se somando os conhecimentos tecnológicos que guiam a aventura dos descobrimentos.

INDÚSTRIA NAVAL
O crescimento da indústria naval transformou a paisagem do litoral português. Os dois maiores estaleiros funcionam em Lisboa e na cidade de Lagos, no Algarve, perto de Sagres. São formigueiros humanos, repletos de esqueletos de caravelas e naus em construção, que atraem gente de toda a Europa. O trabalho é dirigido pelos mestres carpinteiros, artesãos altamente especializados, cujo ofício é passado de pai para filho. São eles os encarregados de selecionar a madeira adequada para cada seção do navio. O carvalho para a quilha – a espinha dorsal dos barcos – é trazido do Alentejo, na fronteira com a Espanha. O pinheiro para o casco vem da costa do Atlântico, cujas florestas são reservas protegidas por lei. O lastro – peso necessário para manter o navio estável abaixo da linha-d'água – é feito de rochas. Nas expedições à África e, a partir de agora, também às Índias, as rochas são lançadas ao mar no porto de destino e substituídas pela carga de especiarias, que fazem o papel de lastro na viagem de volta.

OS ESTALEIROS ATRAEM GENTE DE TODA A EUROPA E MUDAM A ECONOMIA 
Também vital na construção dos navios é a disponibilidade de ferro e de material de vedação, como breu, estopa, alcatrão e cânhamo. A escassez desse tipo de suprimento obriga Portugal a gastar muito dinheiro com importação em outros países. O ferro de melhor qualidade vem das minas bascas, enquanto o cânhamo é produzido nas regiões de Bordéus e da Bretanha, na França. Apesar dos avanços nas técnicas de vedação, a inundação dos navios pela água do mar ainda é um grande problema nas viagens de longa distância. Nossos mestres construtores desenvolveram uma bomba de sucção, feita de madeira com anéis de ferro. Acionada manualmente por um marujo, essa bomba funciona dia e noite nas viagens oceânicas. Só assim é possível manter os barcos à tona.

Outra novidade incorporada à construção naval portuguesa recentemente é o seguro das embarcações. Antes de partir, cada navio contribui com 2% do valor de sua carga para o tesouro real. Em troca, viaja protegido contra perdas em guerras, tempestades e outras catástrofes naturais, e também contra taxas inesperadas em portos estrangeiros.

Uma contribuição decisiva para a aventura portuguesa nos mares foi dada, nos últimos anos, por um sábio judeu de origem espanhola. Abraham-ben-Samuel Zacuto, chamado Abraão Zacuto, é o autor de Almanaque Perpétuo, obra de astrologia que, adaptada ao uso náutico, se tornou fundamental nas expedições do descobrimento. Com 316 páginas e 56 tabelas, o almanaque de Zacuto fornece todas as informações necessárias para a determinação da latitude, incluindo as chamadas declinações, que são as diferentes posições do Sol no zodíaco a cada dia do ano. Redigido originalmente em hebraico, o almanaque foi traduzido para o latim por outro estudioso judeu, José Vizinho, médico do rei dom João II. Hoje, é um manual prático de orientação para nossos pilotos.

Natural de Salamanca, a cidade do saber na Espanha, Zacuto teve de partir depois da expulsão dos judeus pelos reis católicos, em 1492. Imediatamente foi convidado a trabalhar em Portugal como conselheiro de dom João II e, depois, de dom Manuel. Deu instruções pessoais a Vasco da Gama antes da partida da expedição que descobriu o caminho das Índias. Zacuto pertence a uma linhagem de astrólogos que costumavam passar dias e noites observando o céu na tentativa de prever, no movimento dos astros, o destino do ser humano. Hoje, com o avanço da pesquisa científica, a astrologia vai sendo relegada ao terreno das superstições, pelo menos entre os ilustrados. Sem ela, no entanto, a humanidade não teria acumulado tantos conhecimentos sobre os astros, de vital importância para as navegações portuguesas.Fonte: Veja - VEJA, 1° de julho- edição 1501

Comentário:
Já naquela época, o saber e o conhecimento científico eram estratégicos e usados como tecnologia em navegação, com finalidade de  abrir rotas de comércio e anexar terras produtivas as propriedades da coroa portuguesa. Hoje na essência continua a mesma coisa, países com domínio da tecnologia e conhecimento científico dominam o comércio exterior. O Brasil ainda não percebeu que a educação é estratégica  para impulsionar o país para as rotas do competitivo comércio exterior.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Relacionamentos

Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos (relacionamentos) são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol.
Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal.
Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.
EXPLICO-ME.
Para começar, uma afirmação de Nietzche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele:
 “Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta:
‘Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até sua velhice ?’
Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.” (…)

A música dos sons ou da palavra – é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer.
Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: “Eu te amo…”

Barthes advertia: “Passada a primeira confissão, ‘eu te amo’ não quer dizer mais nada.”
É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética.

O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola.
Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir sua cortada – palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de interromper, derrotar.
O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.

O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca.
Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la.
Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado.

Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra – pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir… E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos…

A bola: são nossas fantasias, idéias, sonhos sob a forma de palavras.
Conversar é ficar batendo sonho prá lá, sonho prá cá… Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão… O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.

Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração.
O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres.
Bola vai, bola vem – cresce o amor…

Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim..
Fonte: Rubem Alves- psicanalista, educador, teólogo e escritor brasileiro, é autor de livros e artigos abordando temas religiosos, educacionais e existenciais, além de uma série de livros infantis
Comentário: Hoje o relacionamento prevalece na fluidez da internet. A internet é o divã dos internautas. 

MBAs descobrem o pensamento crítico

Há uma década, Roger Martin, diretor da Escola Rotman de Administração, da Universidade de Toronto (Canadá), teve uma epifania. A liderança da escola primária do seu filho havia lhe pedido para se reunir com a diretora, que estava se aposentando, a fim de descobrir como replicar as lições dela. Ele descobriu que a diretora prosperara ao pensar por meio de prioridades conflitantes e opções em potencial, em vez de se aferrar a qualquer estratégia pré-planejada -a mesma abordagem adotada pelo sócio-gerente de um bem-sucedido escritório internacional de advocacia da cidade.

"O momento 'eureca' foi quando pude extrair um elo entre um astro da advocacia voltado para os bancos de investimentos e uma diretora de escola primária", lembra Martin. "Pensei: 'Puxa vida, em situações completamente diferentes, essa gente está pensando de modos muito semelhantes, e pode haver algo de especial com esse padrão de pensamento'."

Essa sacada levou Martin a defender uma ideia então considerada radical no ensino de negócios: que os alunos precisavam aprender a sempre pensar crítica e criativamente, assim como precisavam aprender finanças e contabilidade. Precisavam aprender a abordar problemas a partir de muitas perspectivas e combinar várias abordagens para encontrar soluções inovadoras.

Em 1999, poucos compartilhavam dessa opinião nos EUA. Mas, uma década e um cataclismo econômico depois, as coisas mudaram. "Acho que há uma sensação de que as pessoas precisam afiar as suas habilidades de raciocínio, seja questionando premissas ou examinando problemas a partir de múltiplos pontos de vista", diz David Garvin, professor da Escola de Negócios de Harvard e coautor, com Srikant Datar e Patrick Cullen, de um livro ainda inédito sobre o tema.

Aprender a pensar de forma crítica é algo historicamente associado ao ensino das artes liberais, não a um currículo de administração, assim que essa alteração representa uma mudança de dimensão tectônica para os dirigentes do ensino de negócios. Martin chega a descrever seu objetivo como uma espécie de "MBA em artes liberais".

"O desejo das artes liberais", diz, é produzir "pensadores holísticos que pensem amplamente e tomem essas importantes decisões morais". "Eu tenho o mesmo objetivo", agregou.
Com poucas exceções, a instrução tradicional nas escolas de administração envolve disciplinas separadas, como finanças, marketing e estratégia, com ênfase em métodos e análises quantificáveis. Embora alguns já valorizassem o que uma formação em artes liberais poderia oferecer, a visão dominante era de que esses elementos não tinham lugar nas escolas profissionais de administração.

Mas, antes mesmo da reviravolta financeira do ano passado, os executivos de um mercado global em constante mutação começaram a valorizar gestores capazes de pensar de forma mais perspicaz por meio de diversos sistemas, culturas e disciplinas. A crise financeira salientou essas preocupações -nas escolas de negócios e no próprio mundo dos negócios.
Como resultado disso, várias escolas de negócios proeminentes têm reavaliado e, em alguns casos, redesenhado seus MBAs nos últimos anos.

E, embora poucos falem explicitamente em adotar a abordagem das artes liberais para a administração, muitas das mudanças estão levando as escolas de negócios para um território mais tradicionalmente associado às artes liberais: as abordagens multidisciplinares, a compreensão de perspectivas e contextos históricos e globais, um maior foco na liderança e na responsabilidade social e, sim, em aprender a pensar criticamente.
Há dois anos, por exemplo, a Escola de Pós-Graduação em Negócios da Universidade Stanford, da Califórnia, fez uma abrangente mudança curricular que dava mais ênfase a perspectivas multidisciplinares e à compreensão de contextos culturais. O currículo obrigatório do primeiro trimestre, por exemplo, agora inclui uma aula chamada "O Contexto Global da Gestão e da Liderança Estratégica". Alunos de primeiro ano têm uma disciplina chamada "Pensamento Crítico e Analítico".

John J. Fernandes, presidente e executivo-chefe da Associação para o Avanço das Faculdades de Negócios, estima que apenas 25% das escolas filiadas estejam fazendo mudanças curriculares significativas com foco naquilo que ele chama de "a criação de líderes mais sustentáveis". Mas ele espera chegar a 75% em dez anos.
Garvin acha que há "um imperativo de mudança". "A esta altura", disse ele, "as forças por uma mudança são reais, a necessidade de mudança é real, e os projetos já estão em andamento".
Fonte: Folha de São Paulo - São Paulo, 08 de março de 2010 

Comentário: A essência e origem da Universidade é o pensamento crítico. No Brasil as universidades e faculdades tornaram-se shopping center de ensino. A maioria vai lá para passear e pegar o diploma.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

O Futuro do Trabalho

Primeiro a Reengenharia (fazer mais com menos), depois a Globalização (abertura de fronteiras internacionais) e agora as Inovações Tecnológicas (informática e robotização), responsáveis pelo grande avanço na sociedade, têm sido responsáveis pelo grande enxugamento dos postos de trabalho e, por conseguinte, pelos grandes índices de desemprego estrutural. O cenário no mundo do trabalho nos apresenta uma nova realidade: o fim do emprego formal.

Segundo estimativas, em um futuro próximo apenas 25% da população economicamente ativa conseguirá registro na carteira de trabalho. Isso significa que os 75% da população economicamente ativa restante deverá trabalhar como autônomos e oferecendo algum produto ou serviço à sociedade para, em troca, garantir seu sustento.
A verdade é que a estabilidade no emprego está em extinção. O mundo empresarial que está para vir não prevê mais a segurança do trabalho que tiveram antigamente os nossos pais, os nossos avós.

No novo mundo do trabalho, a tendência geral é o auto-emprego, isto é, cada um tendo que gerar seu próprio trabalho, ser agente do seu próprio negócio, patrão de si mesmo.
José Pastore, sociólogo e professor da USP especialista em relações do trabalho e desenvolvimento institucional, afirma que “O mercado de trabalho foi dividido em dois mundos: o do emprego, com carteira assinada, e o do trabalho. O segundo está em alta. Você que é jovem,  entenda que, no mundo moderno, o emprego formal não é a única maneira de ganhar a vida nem será a mais abundante daqui para a frente.”

No novo mundo o trabalhador será empregado em algumas ocasiões e trabalhador autônomo na maioria das vezes. O seu salário poderá ser formado de uma parte fixa e outra variável, conforme os resultados do negócio ou, ainda, comissionado, isto é, todo o seu salário dependerá do que foi produzido ou vendido. Isso não significa obstáculo, incapacidade ou fracasso pessoal – o trabalho no novo mundo será assim mesmo: nada será permanente ou estável.

Segundo Cláudia Giunta, fundadora e criadora do modelo de negócio da empresa General Motors (GM) do Brasil, “a mistura de pessoas com formações diferentes, sejam funcionários, sejam trabalhadores temporários, faz parte dos novos tempos”

Tom Peters, celebrado escritor e guru secular do mundo dos negócios, faz a seguinte afirmação sobre o futuro do trabalho: “Não existem mais empregos para a vida inteira. Empregos estáveis em grandes empresas são coisa do passado. A carreira média das pessoas provavelmente abarcará duas ou três “ocupações” e meia dúzia de empregadores. A maioria de nós passará longos períodos da carreira realizando algum tipo de trabalho autônomo . Resultado líquido: estamos por nossa conta, pessoal. Isso não é teoria. Já é uma realidade

Se por um lado o emprego é “coisa do passado”, por outro surgem novos modos de trabalhar: por projetos, por produtividade, por comissão, contrato temporário, consultoria, facção, freelancer, estágio remunerado, diarista etc. Já se reconhece nessas novas formas de trabalhar oportunidades de geração de renda e melhoria da qualidade de vida. Muita gente já descobriu esse novo caminho: viver sem patrão.

Para Ricardo Neves, consultor de empresas e escritor, “Provavelmente, os jovens do meio do século XXI estarão mais confortáveis num mundo onde o emprego, da forma como o entendemos, restará apenas de forma marginal.”

A estabilidade do emprego fixo acabou, é coisa do passado. O trabalhador cristão precisa encarar essa nova realidade. O crente em Jesus precisa ter uma visão ampliada do que é trabalho. Trabalho é mais que um “emprego”. Trabalho é forma de geração de renda existente.
Concluímos o seguinte: no século XXI não há desemprego, o que há é o fim do emprego formal; o trabalho não desaparecerá, estará mais em alta do que nunca.
Fonte: O Futuro do Trabalho por Roberto Marques

Comentário:
O artigo é interessante, mas não concordo,  não há trabalho para todos. A oferta e demanda de profissionais estão em desequilíbrios.
O mercado mundial mudou, estamos na era do conhecimento tecnológico, não há necessidade de ter tantas fábricas e empregos  como antigamente. Existe uma reorganização industrial onde o excedente de mão de obra  não há como ser aproveitado, acrescido com crescimento demográfico e imigrações. Esse é grande problema da maioria dos países, não há emprego para toda  a  população. Cada vez mais a indústria utiliza menos mão de obra para fabricar um produto, gerando um excedente de mão de  obra cada vez maior. O crescimento do PIB de qualquer país não é suficiente para gerar novos empregos  para os trabalhadores que estão entrando no mercado de trabalho e os demais que perderam empregos que estão procurando.  E com mais um agravante,  novos países que antigamente não fazia parte do comercio mundial, tornaram-se fornecedores desse comércio afetando os demais países tradicionais, substituindo-os na produção de produtos 

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Bombardeio de Dresden

Entre 13 e 15 de fevereiro de 1945, ataques aliados mataram 25 mil pessoas e destruíram a cidade à beira do rio Elba. Violência da operação é até hoje motivo de discussões.

Durante décadas, o número de mortos nos bombardeios de Dresden nas vésperas do fim da Segunda Guerra Mundial, entre 13 e 15 de fevereiro de 1945, foi motivo de intensas especulações. Alguns estimavam o número em 70 mil, enquanto os mais realistas asseguravam que ele não passava de 35 mil.

Em 2004, uma comissão interdisciplinar foi criada pelo governo da cidade para acabar com a discussão. Em 2010, ela entregou seu relatório, chegando à conclusão que os ataques tiraram a vida de 25 mil pessoas.

Em 13 de fevereiro de 1945, 245 quadrimotores Avro Lancaster da quinta frota de bombardeiros britânicos decolaram em direção à cidade à beira do rio Elba, que contava então 630 mil habitantes e abrigava um número estimado de centenas de milhares de refugiados.

Estratégica e economicamente, Dresden era irrelevante para o desenrolar da guerra, cujo desfecho já era previsível no início de 1945.

DESTRUIÇÃO EM 23 MINUTOS
Às 21h39, as sirenes antiaéreas soaram na cidade. Cerca de 3 mil bombas explosivas de alta capacidade e 650 mil bombas incendiárias choveram sobre a "Florença do Elba", como Dresden era conhecida por sua beleza arquitetônica e por seus tesouros culturais. Tudo isso em apenas 23 minutos.

O centro da cidade virou um mar de chamas. O brilho era tão intenso que pilotos britânicos relataram que, já a 320 quilômetros de distância e 6.700 metros de altitude, era possível ver Dresden em chamas. O calor atingiu temperaturas tão altas que era capaz de derreter vidro nos porões. Duas ondas de ataques britânicos e uma subsequente de bombardeiros dos EUA arrasaram cerca de 15 quilômetros quadrados da cidade.

O comandante da operação de destruição de Dresden, da qual participaram centenas de pilotos britânicos e americanos, era Arthur Harris, comandante-em-chefe da Royal Air Force (RAF) e o homem do primeiro-ministro Winston Churchill para o bombardeio da Alemanha nazista, um instrumento de guerra visando desmoralizar o inimigo.

ARTHUR "THE BUTCHER" HARRIS
"Sem hobbies, nunca leu um livro, não gostava de música, vivia para o seu trabalho." Essa foi uma das mais curtas definições do militar Harris, até hoje uma figura polêmica.

Harris era o antibritânico. A cortesia tão peculiar a seus compatriotas era coisa estranha para ele, uma pessoa rude e propensa a ofensas. Muitos o chamavam simplesmente "The Butcher", o açougueiro.

No período entre as duas grandes guerras, Harris descobriu sua paixão pelo combate aéreo. Foi comandante de esquadrão da RAF no Paquistão e no Iraque, onde voava, ele mesmo, frequentemente. Tinha preferência pelo emprego de bombas incendiárias contra os curdos e árabes, pondo em chamas suas casas cobertas de palha. Ele adorava o efeito da guerra quando visto do alto.

Assim como muitos oficiais das forças aéreas, também fora do Reino Unido, Harris acreditava na superioridade militar dos bombardeios. Já em 1943, prometeu levar a Alemanha à capitulação somente a partir do ar, sem o uso de tropas terrestres. Um ano depois, em 1944, Harris afirmava que 45 das 60 maiores cidades alemãs estavam destruídas, incluindo Colônia e Hamburgo. Era hora de dar cabo do restante, reivindicava. Isso incluia Dresden.

COOPERAÇÃO COM OS SOVIÉTICOS
Alguns historiadores veem o bombardeio de Dresden como parte de uma crescente cooperação militar entre as potências ocidentais e a União Soviética, nos estágios finais da Segunda Guerra. Desde o final de 1944, a ofensiva aliada contra a Alemanha ia a passos lentos na frente ocidental, enquanto o Exército Vermelho avançava rapidamente no leste. Diante disso, Churchill, pouco antes da Conferência de Yalta, determinou que fosse verificado se "Berlim e outras grandes cidades do leste da Alemanha não deveriam ser consideradas objetivos que valessem particularmente a pena".

Tudo isso para impressionar Moscou. Stalin estava desconfiado. Durante anos, ele havia exigido das potências ocidentais a abertura de uma segunda frente. Outra teoria diz que, como os soviéticos já haviam garantido o leste da Alemanha para si, mesmo antes da Conferência de Yalta, britânicos e americanos extravasaram sua ânsia de destruição sobre Dresden e outras cidades da região.

Mas, teorias à parte, Dresden estava nos planos de Harris. E houve avisos bem antes do 13 de fevereiro. Notícias divulgadas pelas rádios dos aliados e jornais afirmavam que cada cidade alemã poderia se tornar um alvo da linha de frente. Além disso, Dresden era ponto de junção de estradas e linhas ferroviárias, tanto no eixo leste-oeste como norte-sul. E Dresden era considerada, pelos aliados, um possível refúgio de Hitler e dos nazistas no caso de Berlim e Leipzig serem desligadas como linhas de abastecimento.

Dresden estava, portanto, no foco, e Churchill era mais do que alguém que apenas tolerava o impiedoso modo de bombardeiro de seu estrategista de aviação Harris. Pouco antes de morrer, este chegou a dizer que a destruição de Dresden "foi considerada na época uma necessidade militar por pessoas que eram muito mais importantes do que eu".

O Exército Vermelho, comandado pelo marechal Jukov, estava em fevereiro de 1945 a apenas 80 quilômetros a leste de Dresden, quando bombardeiros britânicos e americanos quiseram dar aos soviéticos um sinal de cooperação contra a Alemanha de Hitler.

"Uma barbárie como essa jamais seria feita pelo Exército soviético", disse mais tarde Jukov. E, mesmo na Inglaterra, o bombardeio de Dresden ainda é questão controversa. Em 1992, quando "Bomber Harris" ganhou uma estátua de bronze de 2,70 metros no centro de Londres, a rainha o chamou de "líder inspirador", enquanto centenas de manifestantes gritavam "genocida, genocida". Fonte: Deutsche Welle - Data 13.02.2015

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Quinze minutos de fama

Andy Warhol profetizou que no futuro todo mundo teria direito pelo menos 15 minutos de fama, com certeza não tinha idéia das dimensões da indústria que estava inaugurando. A profecia contagiou o planeta através de um vírus que se entrincheirou na corrente sanguínea da humanidade, especialmente na dos mais jovens, tornando-se resistente a qualquer investida de médicos, pais de santo, curandeiros e que tais.

A fama, até então uma entre muitos sonhos do ser humano, passou a ser uma obsessão endossada pelo grande ícone da cultura pop do século passado. Entre um indivíduo famoso e um anônimo estabeleceu-se uma relação singular de natureza distanciada e hierárquica. Os famosos passaram integrar uma elite de referência capaz de ditar valores sociais, e o culto da fama passou a refletir a outra face do grande prêmio: o castigo do anonimato e da marginação social. Foi como se o mundo tivesse se dividido em duas castas, os que atuam e os que observam, embora ambos façam parte do mesmo espetáculo orquestrado pelos meios de comunicação.

A fama hoje é uma construção da comunicação. Heróis e mitos, antigos símbolos da excelência, modulam as celebridades da atualidade convertidas em produtos de consumo através de rituais comunicativos. Os meios de comunicação tornaram-se indústrias de fabricação da fama, ingrediente fundamental na formação da opinião pública e de um potente mercado de canibalismo humano. A mídia promove a exposição de indivíduos capazes de atrair a atenção pública. A profissionalização da fama equivale a um projeto de vida que expressa uma ideologia e uma realidade concreta.

Uma vez estabelecida no mercado, à celebridade passa a dedicar-se à prática, sempre rentável, do “eutretenimento”, ou seja, a capacidade de explorar a própria vida como divertimento público. O efeito mais óbvio do “eutretenimento” são esses personagens que têm seus dramas e amores pessoais transformados pela mídia em telenovelas e em seguida transformam-se a si mesmos em lucrativos empresários de seus dramas e aventuras, em vez de voltar ao anonimato.

Os profissionais do mundo da fama provocam reconhecimento, entusiasmo, respeito. Tudo o que fazem tem valor como publicidade. São reconhecidos com facilidade e deixam suas impressões digitais na história coletiva. O famoso é uma espécie de marionete, entertainer teledirigido que atrai audiências e as mantém cativas num sistema que premia o individualismo e a competição.

A expressão fama agora se situa como um processo transversal decisivo dentro da opinião pública e como fronteira social baseada na relevância na arena midiática. A fama é um prêmio que se mede em visualização e isto, hoje em dia, significa dinheiro. O herói midiático –aquele que materializa a frase “o que não se vê é como se não existisse”– supera a dimensão de auto-afirmação e se introduz num espaço onde sua persona e suas habilidades são um produto econômico, sujeito a leis de mercado, que vende espaços midiáticos.

Dito isto, a ninguém deveria estranhar que as novas gerações tendam a equiparar seres humanos com produtos comerciais e a sociedade com um gigantesco supermercado, apesar das conseqüências desastrosas que já se podem notar. Por exemplo, o ser humano tratado como kleenex: usar e descartar. Exagero? Fantasia? Pode ser. Mas, com uma fantasia dessas, quem precisa da realidade?  Fonte: Marco Lacerda

Comentário:É a pura realidade. Se você ainda espera pelos seus quinze minutos de fama, não precisa mais esperar. Conheça as redes sociais, Youtube, internet, selfies, etc,  pode revolucionar sua vida.

Mercearia Paraopeba

Quando assisti este documentário, lembrei do filme americano, Conduzindo Miss Daisy (Driving Miss Daisy   passado numa cidade do interior. Aquele ar de interior.
Mercearia lembra o período da minha infância quando passava férias da casa da minha avó.  Era as  Vendas do Interior, onde tem um pouquinho de tudo. É o lugar de bater papo, colocar a conversa em dia, comprar, etc.

É um tipo de comércio que persiste no interior onde a confiança e a amizade, prevalecem. É o comércio  de compra e venda, de troca de produto por produto. É o comércio comunitário da vizinhança em que predomina o relacionamento humano. Hoje o comercio é impessoal, típico da sociedade atual.

Esta mercearia além de ser típica, vai mais além, os proprietários preocupam com os clientes, ou melhor, com os amigos. Eles atuam como se fosse um investidor de micro-crédito (acho que estou escrevendo difícil). Preocupam em melhorar a vida de algumas pessoas, efetuando parcerias, eles entram como fornecedores de matéria prima (ingredientes) e as pessoas escolhidas entram com o seu conhecimento para produzir doces, salgados, etc. Com esses  recursos estas pessoas, por pouco que seja, consegue melhorar sua condição de vida. Olha os termos atuais, responsabilidade social, parceria, cauda longa, principio de pareto,  todos esse termos exóticos, a mercearia a executa de maneira simples. O que esse vídeo transmite  é gostar do que faz.

A Mercearia Paraopeba existe há quatro gerações, na Rua João Pessoa 110, em Itabirito (MG).
É um vídeo que deveria passar nas Universidades,  para que os estudantes descobrissem  que os modismos de marketing, já existiam muito antes, com simplicidade e objetividade. E principalmente a relação humana do comércio com a comunidade. Parabéns para os idealizadores deste documentário.