Pesquisa divulgada pela ONU mostra que metade da população mundial acredita que os homens são melhores líderes políticos do que as mulheres. Entre os brasileiros, quase 85% têm algum preconceito contra o sexo feminino.
O
preconceito contra as mulheres continua profundamente enraizado em grande parte
do mundo e praticamente não diminuiu na última década, mostra um estudo
divulgado na segunda‑feira (12/06) pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD).
Quase
nove em cada dez pessoas têm algum tipo de preconceito contra as mulheres e uma
em cada quatro pessoas aceita o fato de um homem bater em uma mulher, de acordo
com o relatório.
Metade
da população mundial acredita que os homens são melhores líderes políticos do
que as mulheres e 40% que são melhores líderes do setor empresarial. Apenas 27%
acreditam que é essencial para a democracia que as mulheres tenham os mesmos
direitos que os homens, 46% acham que os homens têm mais direito a um emprego e
28% consideram que a universidade é mais importante para homens do que para
mulheres.
Mesmo
em lugares onde os níveis de educação são mais elevados, as mulheres continuam
ganhando, em média, 39% menos do que os homens.
Os
dados compilados dizem respeito a 80 países, que representam 85% da população
mundial, e foram coletados entre 2017 e 2022.
QUASE
85% DOS BRASILEIROS TÊM PRECONCEITO
Segundo
o levantamento, 84,5% dos brasileiros têm pelo menos um tipo de preconceito contra
as mulheres. Em média, mais de 75% dos entrevistados têm preconceitos em
questões de violência e direito de decisão sobre ter filhos.
Por
outro lado, pouco mais de 9% avaliam que o estudo universitário é importante
apenas para os homens. Sobre a participação feminina na política, a pesquisa
aponta que mais de 39% dos entrevistados acreditam que mulheres não desempenham
este papel tão bem quanto os homens.
Além
disso, 31% dos brasileiros acham que homens têm mais direito a vagas de
trabalho ou são melhores em cargos executivos.
SINAIS
DE ESTAGNAÇÃO
Em
nível mundial, de acordo com o PNUD, o levantamento sugere que o progresso nos
últimos anos foi baixo, apesar de movimentos importantes pelos direitos das
mulheres, como o MeToo.
Em
média, a parcela de mulheres como chefes de estado ou chefes de governo tem se
mantido em torno de 10% desde 1995, e no mercado de trabalho as mulheres ocupam
menos de um terço dos cargos gerenciais.
Se
comparados com os dados recolhidos entre 2010 e 2014 em 38 países, verifica-se,
em geral, uma estagnação.
Por
exemplo, a porcentagem de pessoas com algum preconceito contra as mulheres
melhorou ligeiramente, de 86,9% para os 84,6%.
Contudo,
existem exceções: em alguns países, o número de pessoas que não tem qualquer
preconceito em relação ao gênero aumentou significativamente.
É o
caso da Alemanha, onde o número de inquiridos com pelo menos um preconceito
caiu de 56% para 37% na última década, do Japão, onde caiu de 72% para 59%, e
no Uruguai, onde baixou de 77% para 61%.
Em
outros casos, porém, houve retrocessos: na Rússia o número de pessoas com ao
menos um preconceito contra as mulheres subiu de 87% para 91%, na Coreia do Sul
de 85% para 90% e no Chile de 74% para 80%.
EXEMPLOS
POSITIVOS
Os
autores do relatório afirmam que a permanência destes preconceitos explica o
recente avanço dos movimentos contra a igualdade de gênero e, em alguns países,
o aumento das violações dos direitos humanos.
O
PNUD sublinhou ainda que, sem avanços nos direitos das mulheres, é impossível
progredir em questões de desenvolvimento, numa altura em que muitos indicadores
neste âmbito estão a cair.
"As
normas sociais que afetam os direitos das mulheres são também prejudiciais para
a sociedade em geral, travando a expansão do desenvolvimento humano",
disse, em comunicado, o diretor do Gabinete do Relatório do Desenvolvimento
Humano do PNUD, Pedro Conceição.
Para
o PNUD, os governos têm um papel fundamental na mudança das normas sociais.
Exemplo disso é a alteração na regulamentação da licença parental em muitos
lugares, que ajudou a modificar a percepção que existe sobre as
responsabilidades de cuidar da família. Outro exemplo foram reformas laborais,
que alteraram as crenças sobre as mulheres e o trabalho.
"Um ponto importante para começar é reconhecer o valor econômico do trabalho de cuidado não remunerado. Isso pode ser uma forma muito eficaz de desafiar as normas de gênero em torno da forma como o trabalho de cuidado é visto. Em países com os maiores níveis de preconceito de gênero contra as mulheres, estima-se que as mulheres despendem acima de seis vezes mais tempo do que os homens em trabalho de cuidado não remunerado", afirma a diretora da Equipe de Gênero do PNUD global, Raquel Lagunas. Fonte: Deutsche Welle – 13.06.2023 - há 21 horas
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