A Índia é um dos maiores fornecedores de marinheiros para a indústria de navegação. Explosão de casos do coronavírus no país levou à imposição de restrições a tripulantes indianos e à escassez de trabalhadores.
Portos globais agora estão
fechando as portas para tripulantes e navios indianos. As empresas exigem a
vacina de trabalhadores e marinheiros, trazendo más notícias para um setor
marítimo já sobrecarregado.
A situação é a mesma de
milhares de trabalhadores marítimos em toda a Índia que não conseguem sair do
país. Por outro lado, as autoridades marítimas também aconselharam a tripulação
indiana atualmente no mar a "desistir de desembarcar do navio" até
que a situação melhore.
CASO NO MARANHÃO:
Isso não evita problemas a
bordo das embarcações, como o ocorrido no Maranhão. Na segunda‑feira (17/05), havia
subido para 15 o número de tripulantes diagnosticados com covid‑9 dentro do
navio MV Shandong, fretado pela Vale para transportar minério de ferro e que
está ancorado na costa do estado brasileiro.
Em nota divulgada no sábado
(15/05) , a Secretaria de Estado da Saúde informou que um homem de
nacionalidade indiana, de 54 anos, fora internado em um hospital da rede
privada de São Luís com sintomas do novo coronavírus. O paciente é um dos
tripulantes do MV Shandong, que saiu da cidade do Cabo, na África do Sul, com
destino à capital maranhense.
O indiano começou a sentir os
sintomas da doença em 4 de maio e teve febre, sendo encaminhado em um helicóptero
para um hospital da rede privada na sexta-feira (14/05) . Segundo a Secretaria
de Estado da Saúde, 12 tripulantes infectados estavam sem sintomas e seguiam
isolados dentro da embarcação. Outros três tripulantes apresentaram sintomas e
foram internados no Hospital UDI, em São Luís.
SEM VACINAS PARA
TRABALHADORES ESSENCIAIS
"A questão principal é
que os marinheiros foram designados como trabalhadores essenciais, tanto em
nível nacional como em vários outros países, o que significa que o governo
deveria dar-lhes prioridade na vacinação", disse Abdulgani Serang,
secretário-geral do Sindicato Nacional dos Marinheiros da Índia. "Mas isso
não está acontecendo."
Ele disse que as autoridades
marítimas estabeleceram instalações de vacinação exclusivas para trabalhadores
marítimos em hospitais portuários em cidades como Mumbai, Calcutá e Kochi.
"O problema é que as vacinas simplesmente não estão disponíveis",
disse Serang.
Os cerca de 240 mil
marinheiros da Índia têm predominantemente entre 18 e 45 anos, uma faixa etária
que deveria receber as vacinas produzidas na Índia, Covishield (desenvolvida
pela empresa AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford e usada no
Brasil) e Covaxin (do laboratório Bharat Biotech), a partir de 1º de maio. Mas
a falta de estoques forçou as autoridades em muitos estados a adiar a
vacinação.
"Marinheiros indianos
não vacinados estão agora em desvantagem em comparação com pessoas de outras
nacionalidades que poderiam preencher seus empregos. Por exemplo, indonésios ou
chineses que tiveram prioridade na vacinação em seus próprios países",
disse Serang. "Não há proibição geral de tripulações indianas. Mas
proprietários de navios se preocupam em levá-los."
MEDO DE RÁPIDA DISSEMINAÇÃO
DE VARIANTE DA COVID-19
Portos como o de Cingapura e
Fujairah, nos Emirados Árabes Unidos, já proibiram a troca de tripulantes de
navios que viajaram recentemente a partir da Índia, dificultando a dispensa dos
marinheiros ao final dos contratos.
Segundo relatos, o porto
chinês de Zhoushan proibiu a entrada de qualquer navio ou tripulação que tenha
passado pela Índia ou Bangladesh, país que também enfrentou um aumento de casos
da doença nos últimos três meses.
"Há muita volatilidade e
incerteza. As regras estão mudando o tempo todo", disse Rajesh Unni,
fundador e CEO do Synergy Group, uma empresa de gerenciamento de navios com
sede em Cingapura. "A maioria dos armadores com quem conversamos diz que é
muito arriscado fazer uma troca de tripulação com indianos."
Sua empresa congelou
temporariamente todas as mudanças de tripulação da Índia. Unni disse que os
marinheiros vindos da Índia estavam testando positivo para covid-19, apesar da
quarentena e de testes negativos antes do embarque. Há também receios sobre uma
variante mais transmissível, a B.1.617, que supostamente está por trás da
aceleração do surto explosivo da Índia.
No início deste mês, as
autoridades de saúde da França identificaram a variante entre marinheiros
doentes a bordo de um petroleiro que tinha ido para a Índia. Sem condições de
conduzir a embarcação, que foi rebocada até o porto de Le Havre, os homens
foram colocados em isolamento em um hotel.
Recentemente, a autoridade
portuária da África do Sul anunciou que 14 tripulantes filipinos a bordo de um
navio de carga da Índia para Durban foram colocados em quarentena depois de
terem testado positivo para covid-19. O engenheiro-chefe do navio morreu de
ataque cardíaco.
"O desafio é que os
testes não são confiáveis, a variante é mais mortal e se espalha como um
incêndio. Pode infectar todo o navio, basicamente imobilizando a
embarcação", disse Unni.
SUBSTITUIR TRIPULANTES
INDIANOS NÃO É FÁCIL
Com um número crescente de
portos e aeroportos fechando as portas aos trabalhadores marítimos da Índia,
as empresas de navegação dizem que isso afeta as mudanças de tripulação. Várias
empresas estão buscando temporariamente marinheiros de outras nações para
substituir os tripulantes indianos.
"Mas não é tão fácil
quanto parece. Certos segmentos, como os petroleiros de gás e óleo, têm
exigências muito específicas quanto à competência e níveis de
experiência", disse Carl Schou,
chefe executivo da Wilhelmsen, um intermediador norueguês. "A maioria das
pessoas bem qualificadas vem da Índia. Assim, de repente, perdemos nossa fonte
mais importante de especialistas. Encontrar a tripulação certa que corresponda
aos critérios exatos é um problema e tanto."
MARINHEIROS CONFINADOS EM
SEUS NAVIOS
Apesar dos problemas causados
pela emergência sanitária na Índia, poucos acreditam que ela terá qualquer
impacto imediato no movimento dos navios mercantes que transportam cerca de 90%
do comércio global.
"Os navios não estão
parando por causa de problemas com mudanças de tripulação. Alguns navios podem
atrasar, mas isso não terá impacto na rede ou na cadeia de abastecimento",
observa Adhish Alawani, porta-voz da Maersk, maior empresa de transporte de
contêineres do mundo, que possui um pool de 4 mil marinheiros indianos.
"A preocupação é que
esta é mais uma crise humana, em que os trabalhadores marítimos permanecem a
bordo por um período muito mais longo do que o previsto no contrato, porque
eles não podem desembarcar e voar para casa", disse ele.
No ano passado, o fechamento
de fronteiras e as restrições de viagens causadas pela pandemia fizeram com que
cerca de 400 mil marinheiros ficassem presos em navios indefinidamente,
causando fadiga e problemas de saúde mental e de segurança.
Executivos de navegação dizem que a única saída é os marinheiros serem priorizados na vacinação global. "Em todo o mundo, há cerca de 1,6 milhão de marinheiros, e talvez isso signifique um dia de produção para um desses fabricantes de vacinas", disse Schou. "Em apenas um dia você poderia vacinar todos os marinheiros, que são tão importantes para o comércio global e para manter o mundo funcionando." Fonte: Deutsche Welle – 18.05.2021
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