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Passado o primeiro impacto das inundações que destruíram dezenas de cidades em Alagoas e em Pernambuco, a solidariedade e os recursos oficiais deram lugar ao descaso. Numa reportagem exibida no último domingo pelo programa Fantástico, da Rede Globo, o médico Drauzio Varela fez uma síntese dramática do sofrimento enfrentado por milhares de desabrigados, que se amontoam em locais úmidos, tomados pela lama, na maioria das vezes sem acesso a água potável. E fez um alerta que precisa sensibilizar autoridades e políticos em geral: a população das cidades afetadas nos dois estados do Nordeste precisa mais do que agasalhos, cestas básicas e ajuda misericordiosa. Precisa, acima de tudo, e com urgência, de técnicos de saúde pública que disponham de recursos necessários para evitar o agravamento do quadro. Se as providências não forem tomadas logo, o sofrimento de quem já perdeu muito pela força das enchentes pode ter apenas começado.
O alerta mais inquietante de quem tenta fazer o possível para salvar vidas na região é de que o período de incubação de doenças típicas nessas situações está mais ou menos na metade. Isso significa que os casos já registrados tendem a aumentar e que as autoridades sanitárias deveriam se preocupar em mandar mais do que apenas medicamentos para os enfermos. Se não houver a alocação imediata também de recursos humanos para atender os prejudicados, as piores consequências da tragédia poderão não se restringir à perda de familiares, de amigos, da casa, de escolas, de postos de saúde e da infraestrutura, incluindo aí toda a rede de tubulações de esgoto.
Os relatos sobre a situação enfrentada neste momento pelos flagelados revelam a predominância de casos de diarreia, vômitos, infecções respiratórias, desidratação associada a picadas de animais e lesões de pele – todos esses problemas de saúde preocupantes quando ocorrem em massa. Daqui para a frente, se não forem tomadas as devidas providências, o maior risco passa a ser o de doenças potencialmente graves, como a leptospirose, cuja transmissão se favorece pela proliferação de ratos. A ameaça é real, porque os flagelados passam o dia sobre o lodo, além de usar as águas barrentas para fazer a higiene pessoal e para lavar a própria roupa. Em muitas regiões, as crianças chegam a brincar sobre o lixo, por falta de opção, o que tende a agravar ainda mais as consequências na área de saúde pública.
O governo federal, tão preocupado em auxiliar outros países em dificuldades, não pode permitir que os brasileiros sejam negligenciados dessa forma, como se constata no Nordeste. É preciso uma reação imediata, que leve à alocação imediata na área de recursos médicos, capaz de impedir que quem ficou sem nada no plano material acabe se defrontando também com a deterioração da própria saúde, por absoluta falta de iniciativa do poder público.
Fonte: Diário Catarinense - 13 de julho de 2010
Comentário:
Enquanto o nosso Forest Gump, o Contador de história, viajou pelo continente africano, foi seu último giro pela África, antes de deixar o mandato. Foram seis países, em 10 dias de viagem. Até o fim do seu governo, terá ido à África em 11 ocasiões e visitado 24 países diferentes - o presidente brasileiro que mais vezes esteve no continente com pouco mais de 50 países.
E o que fez governo? Quase nada, se não fosse as Forças Armadas, bombeiros, ajuda humanitária, em resgatar, levar mantimentos, amparar os necessitados, sem coordenação. Eles estão perdidos, não há plano de emergência. Criticaram tanto os EUA na tragédia do Haiti com decisões rápidas de emergência. Essa é a diferença entre um país que está preparado para tragédia e outro que pretende durante a tragédia elaborar um plano. Enquanto isso visando a liderança mundial, ter uma voz ativa, o Brasil é uma dos maiores doadores aos países pobres, 5 bilhões de dólares.