Mas, será assim tão fácil identificar um caso de bullying?
Especialistas garantem que sim. Para tanto, a agressão deve reunir quatro
características: a intenção do autor em ferir o alvo, a repetição da agressão,
a presença de um público espectador e a concordância do alvo com relação à
ofensa. Em outras palavras: discussões ou brigas pontuais entre alunos não são
bullying. Conflitos entre aluno e professor também não.
E mais: o bullying físico, aquele que engloba violência como
socos, chutes e empurrões, é o de mais fácil identificação. Mas existem outros
sete tipos: psicológico, moral, verbal, sexual, social, material e virtual.
Meninos praticam (e sofrem) mais bullying físico. Meninas, moral.
Quem sofre bullying, não importa o tipo, tende a apresentar
um comportamento típico: no recreio, permanece isolado do resto do grupo ou
próximo a adultos que podem protegê-lo das investidas do agressor. Em sala de
aula, fala pouco, falta muito e tira notas baixas. Nas atividades em grupo, é
sempre o último a ser escolhido. Em casa, quando está perto da hora de ir para
a escola, costuma se queixar de dor de cabeça, enjoo ou tontura.
POR QUE SERÁ?
"Em geral, as crianças não relatam seu sofrimento por
medo ou vergonha. Por essa razão, a identificação precoce por pais ou
professores é de suma importância", avalia Barbosa Silva.
COMO RESPONDER
Vigora no país desde o dia 9 de fevereiro de 2016 uma lei
que obriga as escolas a combater o bullying.
O Programa de Combate à Intimidação Sistemática determina
que equipes pedagógicas sejam capacitadas para desenvolver ações de prevenção e
solução do problema, e que pais e familiares sejam orientados para identificar
vítimas e agressores. Estabelece também que sejam realizadas campanhas
educativas e fornecida assistência psicológica, social e jurídica a todos os
envolvidos.
"Na prática, o combate ao bullying não melhorou em
nada. O que as escolas fazem é dar palestras para os alunos, passar redação
sobre o tema e ponto final. A capacitação dos educadores continua muito fraca
e, sem ela, nada vai mudar", avalia a psicóloga Valéria Rezende da Silva,
autora do livro Bullying Não É Brincadeira.
Mas não basta capacitar os professores. A maioria deles já
sabe distinguir entre brincadeira e perseguição, zoeira e ameaça, trolagem e
intimidação. É preciso também engajar os pais e responsáveis na vida escolar de
seus filhos, na opinião da psicopedagoga Maria Irene Maluf, diretora da
Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp).
"Precisamos desfazer a ideia de que o bullying é um
problema para os professores resolverem. Na maioria das vezes, ele começa fora
dos muros escolares", ressalta Maluf.
Soluções para o problema existem, afirma a pedagoga Cléo
Fante, autora de Fenômeno Bullying: Como Prevenir a Violência nas Escolas e
Educar para a Paz. O mais famoso programa antibullying do mundo talvez seja o
finlandês KiVa - acrônimo de "Kiusaamista Vastaan", que significa
"Contra o Bullying", em livre tradução.
Diferentemente de outras metodologias, que focam o combate e
a prevenção na figura da vítima e do agressor, o KiVa parte da premissa que,
quando não faz nada, o espectador endossa a ação do agressor. "Em vez de
apoiarem os praticantes de bullying ou de se omitirem de ajudar as vítimas, as
testemunhas são orientadas a intervir, melhorando o convívio escolar",
explica Fante.
O KiVa foi criado em 2009 depois que um estudante de 18 anos
invadiu sua escola na cidade de Jokela, em Tuusula, e matou oito pessoas.
Segundo levantamento com 30 mil alunos de 7 a 15 anos, o
modelo pedagógico, desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Turku,
chegou a erradicar o bullying em até 80% das escolas e a reduzir sua prática em
outras 20%. Não por acaso, já foi exportado para mais de 20 países da Europa e
América do Sul. Fonte: BBC Brasil - 25 outubro 201