quarta-feira, 24 de março de 2010

Hospital de Campanha da Marinha do Brasil no Chile


A Marinha do Brasil iniciou atendimentos médicos em seu Hospital de Campanha (HCamp), no último dia 6, para prestar apoio às vítimas do terremoto no Chile. O número de atendimentos alcançou, no dia 15 de março, a marca de 4.166 atendimentos, distribuídos da seguinte forma: consultas (2233); procedimentos (1346); exames laboratoriais (253); e exames de imagem (334).
De acordo com o Capitão-de-Fragata (Médico) Araújo, responsável pelo Hcamp, a maior dificuldade encontrada no Chile é o frio intenso. “O HCamp já entrou na rotina, continuamos a receber pacientes de alta complexidade e o frio é o nosso maior inimigo”. Devido ao frio, a preocupação dos médicos passa a ser os casos de infecção respiratória. “Estamos preocupados com o aumento dos casos de infecção respiratória, a temperatura está caindo dia-a-dia e vamos nos preparar para uma pré-triagem”, afirma o Capitão-de-Fragata Araújo.
O Oficial destaca, ainda, que foi prontificado um plano de evacuação do Hcamp, em que foram realizados alguns exercícios para fixar as rotas de fuga, em caso de um novo tremor. “Além disso, no sábado, tivemos um apagão de 3h e o comportamento da tripulação foi ótimo”, complementa.
O efetivo da Marinha do Brasil empregado na operação é de 102  militares, sendo 48 da área de saúde e 54 para o apoio, incluindo o destacamento de segurança constituído por Fuzileiros Navais. Fonte: Marinha do Brasil – 18/03/2010

domingo, 14 de março de 2010

Coisas de cachorro

Sábado, 13 de fevereiro, estava no estacionamento do supermercado colocando as compras no carro e tinha um carro ao lado. Uma mulher chegou com suas compras abriu o carro, começou a conversar com alguém no carro. Iniciou um  monólogo; Minha filhinha demorei? Está preocupada? Pensei, puxa deixou a filha pequena no carro. Continuei a colocar as compras no carro. Ela abaixou e pegou algo entre os braços e começou a embalar, como era noite, só notei quando virei e vi que era um cachorro.Ela abraçou afetuosamente o cachorro e colocou no chão e foi passear com ele. Na maioria das vezes o ser humano não tem uma relação de amizade ou de amor tão franca como esse episodio.  O cachorro está virando gente? Ou é um terapeuta do casal?
No prédio onde eu moro, conversar com o zelador  você sabe das coisas da comunidade do condomínio.  No condomínio você encontra com seu vizinho ou outros moradores apenas no elevador. No elevador o ser humano perde seu espaço territorial fica olhando para o chão ou  fica circunspeto ou falando no celular. Voltando no caso dos cachorros, o zelador disse-me um casal do prédio  separou-se e a briga da partilha era o cachorro. Outro caso, o marido disse para a mulher: Ou eu ou os cachorros? Obviamente a mulher preferiu os cachorros (quatro cachorros).  Pelo jeito o ser humano atual tem dois amigos fiéis o celular e o cachorro. Continuando a conversa com o zelador, hoje o zelador e as câmeras existentes no prédio, é o big brother, sabe de tudo, no prédio tem casal que sai de madrugada para passear com cachorros. Pensei se fosse com o filho pequeno chorando o casal disputaria par ou impar quem seria a vez para embalar a criança
Hoje em dia o cachorro de madame, ou melhor, do casal tem tudo, plano de saúde, hotelzinho, encontros amorosos  com pedigree, piscina, etc.
Lia no jornal recentemente uma  madame entrou na justiça pedindo dano moral, pois deixou a sua cachorrinha num hotelzinho e algum safado cachorrinho traçou a sua cachorrinha. Ela alegou que a sua cachorrinha ficou com trauma e ganhou indenização. Imagina se fosse com seu filho ou filha, como deixou acontecer? Não usou camisinha ou pílula? Quem vai cuidar da criança? É um drama familiar. Desconheço alguma ação por dano moral por descuido de gravidez? Cachorro é gente.
Outro dia passeando próxima a minha casa, na minha frente à direita um maltrapilho ou sem teto e  mais a frente o seu cachorro. No meu lado à esquerda na minha frente, duas garotas. Chegando próximo ao maltrapilho, as duas garotas conversando, comentam, vamos passar rápido, que coisa horrível esse maltrapilho. Eu acompanhando esse diálogo, mais a frente, as duas garotas passam ao lado do cachorro, comentam, coitadinho, deve estar passando fome. São coisas de cachorro?
Em São Paulo tem supermercado para animais monstruoso, tem de tudo. Por causa disso o cachorro cosmopolitano,  com teto de luxo, tem obesidade, diabetes, depressão, etc. Está virando gente. Tem até  psicólogo para cachorro. Tem até moda para cachorro. Até vestido para as núpcias. Estava esquecendo dos passeadores de cachorros, os dog‑walkers.
E as redes sociais dos cachorros  são mais eficientes do que as redes sociais virtuais humanas. As amizades são verdadeiras. Se você tem um cachorro, você tem a porta aberta para novas amizades. Os cachorros estão virando gente. Tem os cachorros famosos dos presidentes, Bush, Obama, etc.
Em São Paulo estima 7 humanos para cada cachorro, que equivale a população de cães com proprietários seja de cerca 1,5 milhão. É uma cidade canina. Só está faltando uma pizzaria ou churrascaria para cachorro. Quem habilita?
Vídeo: Rock da Cachorra - Eduardo Dusek
Troque seu cachorro por uma criança pobre (Baptuba, uap baptuba)
Sem parente, sem carinho, sem ramo, sem cobre (Baptuba, uap baptuba)
Deixe na história de sua vida uma notícia nobre
Troque seu cachorro (uauuu)
Troque seu cachorro (uauuu)
Troque seu cachorro (uauuu)
Troque seu cachorro (uauuu)
Troque seu cachorro por uma criança pobre
Tem muita gente por aí que está querendo levar uma vida de cão
Eu conheço um garotinho que queria ter nascido pastor-alemão
Esse é o rock de despedida pra minha cachorrinha chamada "sua-mãe"
É pra Sua-mãe (é pra Sua-mãe)
É pra Sua-mãe (é pra Sua-mãe)
É pra Sua-mãe (é pra Sua-mãe)
É pra Sua-mãe
Esse é o rock de despedida pra cachorra "Sua-mãe)
Seja mais humano, seja menos canino
Dê güarita pro cachorro, mas também dê pro menino
Se não um dia desse você vai amanhecer latindo, uau, uau, uau
Troque seu cachorro por uma criança pobre (Baptuba, uap baptuba)
Sem parente, sem carinho, sem ramo, sem cobre (Baptuba, uap baptuba)
Deixe na história de sua vida uma notícia nobre
Troque seu cachorro por uma criança pobre (Baptuba, uap baptuba)
Sem parente, sem carinho, sem ramo, sem cobre (Baptuba, uap baptuba)
Deixe na história de sua vida uma notícia nobre

sexta-feira, 12 de março de 2010

Chávez confia em 'Deus bolivariano' para chover

Venezuela sofre com racionamento de energia desde o início do ano, o que afeta setor econômico do país
Racionamento de energia, instalação acelerada de plantas térmicas e a "ajuda de Deus, porque Ele é bolivariano", são as apostas do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, para superar a grave crise de energia que ameaça a economia do país e pode prejudicar sua popularidade.
Chávez disse que tem fé que as chuvas chegarão e o nível das represas voltará ao normal. As hidreléticas fornecem cerca de 70% da energia elétrica venezuelana.
Chávez utiliza a classificação "bolivariano" como selo político para identificar as obras de sua revolução socialista, inspirada nos ideais de Simón Bolívar, herói da independência latino-americana da dominação espanhola no século 19. Ele chegou a mudar o nome do país para República Bolivariana da Venezuela.
Até agora, o plano do governo foi insuficiente para reduzir a demanda energética, apesar das ameaças de cortes no fornecimento a comércios e indústrias que não reduzirem seu consumo. O racionamento afeta algumas regiões e dura até 14 horas por semana.
"Ofereço minhas desculpas a todas as populações que estão sofrendo o racionamento elétrico. Mas o que venho dizendo desde o início do ano, tinha que fazê-lo, é como quando mandam a gente fazer dieta, (neste caso) uma dieta elétrica", afirmou em uma cerimônia transmitida pela televisão estatal.
Além de afetar a economia venezuelana, que no ano passado caiu em profunda recessão, a crise elétrica está prejudicando a popularidade de Chávez meses antes de eleições legislativas, nas quais seus aliados poderiam perder a ampla maioria que possuem na Assembleia Nacional.
Fonte:O Estado de São Paulo - quarta-feira, 10 de março de 2010
Comentário:
O professor Chavez  preocupou-se tanto com a America Bolivariana, esqueceu de seu país. Pelo jeito é mais fácil chover petróleo do que água. Como ele está confiscando tudo, se ele pudesse confiscaria o céu, a chuva por falta de abastecimento. Imagina a chuva bolivariana?
O ex-presidente de Honduras Manuel Zelaya foi nomeado principal assessor político da Petrocaribe, um programa liderado pela Venezuela que envia milhões de dólares por dia em petróleo para países mais pobres no Caribe e na América Central, a preços subsidiados. O aluno Zelaya está estagiando na escola bolivariana para saber onde ele errou?

quinta-feira, 11 de março de 2010

Lula e Bachelet


Lula
Bachelet
Popularidade
73%
80%
Politico
Esquerda sem ideologia
Esquerda ideológica
Populismo
carismático
Carismático
Governo
Aprovação abaixo da popularidade
Aprovação abaixo da popularidade
Influência na reeleição
A candidata tem potencial
Perdeu a eleição


Interessante na America Latina o presidente e governo são avaliados separadamente pela população. Se o presidente é carismático sua popularidade é elevada, mesmo tendo um governo com falhas de planejamento e execução. A figura do presidente na America Latina é o Salvador da Pátria,  pode ser centralizador, autoritário, mas sua imagem é  dissociada de seu governo pela ótica da população.
A presidente do Chile é carismática, envolve com a população, que é incomum no Chile. Criou um novo padrão político, falar com o povo sem a redoma de vidro. O novo presidente, Piñera segue o mesmo caminho. Para a população latina  esse contato corpo a corpo, mão a mão, percebe que o presidente é feita de carne e osso, faz parte da população. Ela não resolveu os grandes problemas sociais do país, continuando com as mesmas falhas dos presidentes anteriores. O terremoto abriu a cortina desse abismo social, em que o país gira em torno de Santiago. Em primeiro lugar Santiago, depois, depois, o restante do país. No fim do mandato mostrou fraqueza, que um líder não deve ter, demorou enviar os militares para as áreas de desastres, para controlar saques e roubos.  
Veja o exemplo do Lula é um hábil político, sabe manipular a platéia conforme seu grau de instrução. É o tipo orador com discurso de auto-ajuda. Ele transmite a empatia na acepção da palavra.
Nos EUA o presidente é o condutor da política de aspiração da sociedade. Não há separação da figura do presidente  e de sua política. Ele é o responsável pela condução da política e reflete muito na sua imagem o resultado de sua política.
Nos EUA a centralização do governo federal é limitada, contribuindo para a  desburocratização do Estado,   uma fiscalização maior da coisa pública, maior transparência , deve prestar conta  para própria sociedade civil organizada. Cada cidadão americano é fiscalizado e ele pode também fiscalizar. Essa interação  da cidadania possibilita a maior participação da população na política e principalmente  na sua região (cidade, estado). Com esse tipo de participação o cidadão americano tem maior noção de cidadania e direitos. 
Na América Latina por questão cultural e origem a democracia foi adaptada de uma aristocracia, com todos os defeitos. A essência da aristocracia é autoritária, centralizadora e com inúmeros privilégios. A democracia na América Latina foi formada do topo da pirâmide para baixo. Isto quer dizer, um terço da casta privilegiada (funcionários públicos, políticos, etc)   é mantida pelos dois terços da sociedade, O que significa na América Latina a democracia é centralizadora, populesca e caudilhesca. Veja o exemplo de Santiago e Brasília, são núcleos que os demais estados ou regiões giram em torno deles e eles são potencialmente dependentes para o desenvolvimento das regiões, cidades, comunidades. São os resquícios das respectivas  colonizações espanhola e portuguesa.  É uma mistura de feudalismo com democracia.
No sistema feudalismo a hierarquia consistia: Clero (padres, bispos, papa), Nobreza (reis, condes, senhores feudais, duques, cavaleiros), hoje (presidente, congresso, funcionário público, Servos (camponeses), hoje (sociedade). O sistema feudalismo era detentora de terras e arrecadava impostos dos camponeses. Se analisarmos os significados de sesmarias e capitanias hereditárias, ainda hoje, persistem com outro enfoque. A democracia na América Latina é isso.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Tecnologite

Antes da era da internet a conexão era com os livros. Navegávamos nos sonhos virtuais do pensamento. Ler significa atribuir, é construir um significado para o texto lido. Uma leitura sem compreensão não é leitura, é sem fundamento. Ler é compreender, e se isto não ocorre, a pessoa está parando na etapa de decodificação do sinal gráfico. Para que uma leitura seja eficiente, é preciso que haja interação entre o leitor e o texto lido. Essa era conexão com o mundo. Era a conexão da palavra com o pensamento. Era o mundo do conhecimento
Quem são os Baby Boomers eletrônicos? A geração Baby Boomer são aquelas pessoas que nasceram na era da internet. É a geração interessado na transmissão de informações. É geração que está com tudo mundo, mas está com ninguém.
É a geração de jovem multitarefa, predomina o audiovisual, ouve musica e consegue manter  conversas em paralelo através do sistema de mensagens instantâneas com várias pessoas. É o fast food eletrônico. Tudo tem de ser instantâneo. A informação atropela o pensamento. O livro físico é o atraso, pois o pensamento cadencia as conexões com palavras e o livro virtual, isto é, na página virtual, você  pode pular ou abrir várias. Não há conexão com o pensamento. A informação predomina na fluidez das palavras. Esse tipo de informação é o santo Graal, é o elixir da vida dessa geração. É a geração on-line. É o radar humano ligado 32 horas.
Onde você olha alguém está conectado on-line
Alguém está falando no celular
Alguém está usando o computador
Alguém está navegando na internet
Ou fazendo tudo isso simultaneamente
É a rede social, a comunicação virtual está tão próxima, torna-se a comunicação real tão distante. Tudo tem de ser rápido e descartável. E a vida real  está virando um pagina virtual  É o crack eletrônico. Parece um filme em 3D, que prevalece a interação e a fluidez da palavra. A ação prevalece sobre o pensamento. Não há tempo para pensar. Esse tipo de informação, parece um allien, um elemento estranho que penetra no corpo humano, alimenta dele e o conduz. Estamos perdendo o senso crítico e a arte de sonhar. Sonhar é como um novelo de lã, cheio de labirinto e surpresa. O sonho da internet é instantâneo e linear. E o senso crítico é a busca do questionamento, confronta motivos, busca descobrir a verdade. É o observador crítico da sociedade.que exige pausa, raciocínio, que a informação eletrônica não o permite.   
Receita Médica para Tecnologite :
Indicações:
Para pessoas com tecnologia a flor da pele. Com tendências a procurar on e off em tudo o que vê. Pessoas que sonham com botões e quando acordam, se vêem mandando Mensagem SMS para algum ser da mesma espécie. Para aqueles que tendem a procurar tela touch screen em tudo que vê.(Flavio Pucci)
Na maioria  das vezes resulta em uma condição de falta de emoção típica de dirigir as relações interpessoais, em que permanece em um ambiente protegido, como a de seu quarto.
Ela também pode causar transtorno Dependência da internet caracterizada pela necessidade compulsiva de usar a Web, pela instabilidade de humor e desconforto físico e mental, um sentimento irreal de onipotência e ausência de limites espacial-temporal
Posologia: tomar uma dose por semana de nostalgia, por exemplo, ler livros, conversar ou bater papo fisicamente. Superdosagem: três vezes por semana. Não existe efeito colateral.

domingo, 7 de março de 2010

A decepcionante visita de Lula

Minha capacidade de indignação política atenua-se um pouco nos meses do ano que passo na Europa. Suponho que a razão disso seja o fato de que, lá, vivo em países democráticos nos quais, independentemente dos problemas de que padecem, há uma ampla margem de liberdade para a crítica, e a imprensa, os partidos, as instituições e os indivíduos costumam protestar de maneira íntegra e com estardalhaço quando ocorrem episódios ultrajantes e desprezíveis, principalmente no campo político.
Entretanto, na América Latina, onde costumo passar de três a quatro meses ao ano, esta capacidade de indignação volta sempre, com a fúria da minha juventude, e me faz viver sempre temeroso, alerta, desassossegado, esperando (e perguntando-me de onde virá desta vez) o fato execrável que, provavelmente, passará despercebido para a maioria, ou merecerá o beneplácito ou a indiferença geral.
Na semana passada, experimentei mais uma vez esta sensação de asco e de ira, ao ver o risonho presidente Lula do Brasil abraçando carinhosamente Fidel e Raúl Castro, no mesmo momento em que os esbirros da ditadura cubana perseguiam os dissidentes e os sepultavam nos calabouços para impedir que assistissem ao enterro de Orlando Zapata Tamayo, o pedreiro pacifista da oposição, de 42 anos, pertencente ao Grupo dos 75, que os algozes castristas deixaram morrer de inanição - depois de submetê-lo em vida a confinamento, torturas e condená-lo com pretextos a mais de 30 anos de cárcere - depois de 85 dias de greve de fome.
Qualquer pessoa que não tenha perdido a decência e tenha um mínimo de informação sobre o que acontece em Cuba espera do regime castrista que aja como sempre fez. Há uma absoluta coerência entre a condição de ditadura totalitária de Cuba e uma política terrorista de perseguição a toda forma de dissidência e de crítica, a violação sistemática dos mais elementares direitos humanos, de falsos processos para sepultar os opositores em prisões imundas e submetê-los a vexames até enlouquecê-los, matá-los ou impeli-los ao suicídio. Os irmãos Castro exercem há 51 anos esta política, e somente os idiotas poderiam esperar deles um comportamento diferente.
DESCARAMENTO
Mas de Luiz Inácio Lula da Silva, governante eleito em eleições legítimas, presidente constitucional de um país democrático como o Brasil, seria de esperar, pelo menos, uma atitude um pouco mais digna e coerente com a cultura democrática que teoricamente ele representa, e não o descaramento indecente de exibir-se, risonho e cúmplice, com os assassinos virtuais de um dissidente democrático, legitimando com sua presença e seu proceder a caçada de opositores desencadeada pelo regime no mesmo instante em que ele era fotografado abraçando os algozes de Zapata.
O presidente Lula sabia perfeitamente o que estava fazendo. Antes de viajar para Cuba, 50 dissidentes lhe haviam pedido uma audiência durante sua estadia em Havana para que intercedesse perante as autoridades da ilha pela libertação dos presos políticos martirizados, como Zapata, nos calabouços cubanos. Ele se negou a ambas as coisas.
Não os recebeu nem defendeu sua causa em suas duas visitas anteriores à ilha, cujo regime liberticida sempre elogiou sem o menor eufemismo.
Além disso, este comportamento do presidente brasileiro caracterizou todo o seu mandato. Há anos que, em sua política exterior, ele desmente de maneira sistemática sua política interna, na qual respeita as regras do estado de direito, e, em matéria econômica, em vez das receitas marxistas que propunha quando era sindicalista e candidato - dirigismo econômico, estatizações, repúdio dos investimentos estrangeiros, etc. -, promove uma economia de mercado e da livre iniciativa como qualquer estadista social-democrata europeu.
Mas, quando se trata do exterior, o presidente Lula se despe de suas vestimentas democráticas e abraça o comandante Chávez, Evo Morales, o comandante Ortega, ou seja, com a escória da América Latina, e não tem o menor escrúpulo em abrir as portas diplomáticas e econômicas do Brasil aos sátrapas teocráticos integristas do Irã.
O que significa esta duplicidade? Que Lula nunca mudou de verdade? Que é um simples mascarado, capaz de todas as piruetas ideológicas, um político medíocre sem espinha dorsal cívica e moral? Segundo alguns, os desígnios geopolíticos para o Brasil do presidente Lula estão acima de questiúnculas como Cuba, ou a Coreia do Norte, uma das ditaduras onde se cometem as piores violações dos direitos humanos e onde há mais presos políticos.
O importante para ele são coisas mais transcendentes como o Porto de Mariel, que o Brasil está financiando com US$ 300 milhões, ou a próxima construção pela Petrobrás de uma fábrica de lubrificantes em Havana. Diante de realizações deste porte, o que poderia importar ao "estadista" brasileiro que um pedreiro cubano qualquer, e ainda por cima negro e pobre, morresse de fome clamando por ninharias como a liberdade? Na verdade, tudo isto significa, infelizmente, que Lula é um típico mandatário "democrático" latino-americano.
Quase todos eles são do mesmo feitio, e quase todos, uns mais, outros menos, embora - quando não têm mais remédio - praticam a democracia no seio dos seus próprios países, mas, no exterior, não têm nenhuma vergonha, como Lula, em cortejar ditadores e demagogos, porque acham, coitados, que desta maneira os tapinhas amistosos lhes proporcionarão uma credencial de "progressistas" que os livrará de greves, revoluções e de campanhas internacionais acusando-os de violar os direitos humanos.
Como lembra o analista peruano Fernando Rospigliosi, em um artigo admirável: "Enquanto Zapata morria lentamente, os presidentes da América Latina - entre eles o algoz cubano - reuniam-se no México para criar uma organização (mais uma!) regional. Nem uma palavra saiu dali para exigir a liberdade ou um melhor tratamento para os mais de 200 presos políticos cubanos." O único que se atreveu a protestar - um justo entre os fariseus - foi o presidente eleito do Chile, Sebastián Piñera.
De modo que a cara de qualquer um destes chefes de Estado poderia substituir a de Luiz Inácio Lula da Silva, abraçando os irmãos Castro, na foto que me revoltou o estômago ao ver os jornais da manhã.
Estas caras não representam a liberdade, a limpeza moral, o civismo, a legalidade e a coerência na América Latina. Estes valores estão encarnadosem pessoas como Orlando Zapata Tamayo, nas Damas de Branco, Oswaldo Payá, Elizardo Sánchez, a blogueira Yoani Sánchez, e em outros cubanos e cubanas que, sem se deixarem intimidar pelas pressões, as agressões e humilhações cotidianas de que são vítimas, continuam enfrentando a tirania castrista. E se encarnam ainda, em primeiro lugar, nas centenas de prisioneiros políticos e, sobretudo, no jornalista independente Guillermo Fariñas, que, enquanto escrevo este artigo, há oito dias está em greve de fome em Cuba para protestar pela morte de Zapata e exigir a libertação dos presos políticos.
O curioso e terrível paradoxo é que no interior de um dos mais desumanos e cruéis regimes que o continente conheceu se encontrem hoje os mais dignos e respeitáveis políticos da América Latina.
Fonte: O Estado de São Paulo - Domingo, 07 de Março de 2010 - Mario Vargas Llosa

sábado, 6 de março de 2010

Tsunami: Falha de comunicação

Geofísico americano teve dificuldades para alertar Chile e países vizinhos sobre terremoto

“O governo demorou muito para reagir. Quando se produz uma crise, o tempo de resposta é muito importante e, neste caso, foi demasiadamente longo. Não sei se por falta de informação ou por erro de análise, mas o certo é que, a princípio, tentaram nos fazer acreditar que nada tinha acontecido” assegura Antonio Cobelo, vice-reitor de ordenação acadêmica da Universidade Antonio de Nebrija e doutor em Ciências da Informação. Afundamento do  petroleiro “Prestige” na Espanha
 Victor Sardiña e a tsunami disputaram corrida no sábado: enquanto as ondas corriam o Pacífico do Chile ao Japão, o geofísico alertava todos os países do caminho. O cientista do Instituto de Estudos Oceânicos e Atmosféricos dos EUA estranhou a dificuldade para se comunicar com várias nações, inclusive o Chile. O americano, que falou ao GLOBO de Honolulu, no Havaí, garante: apesar dos prejuízos provocados pelo mar, o estrago poderia ser muito maior.
O terremoto no Chile foi às 3h34m. A que horas o senhor entrou em contato com a Marinha local?
VICTOR SARDIÑA: Mandamos o primeiro alerta sobre o terremoto 11 minutos depois. É necessário um certo tempo para que o sismo seja detectado por uma das quatro estações que temos na costa chilena, assim como para determinar a localização do epicentro. Ficamos espantados com a magnitude do terremoto - a primeira medida que tivemos era de 8,5 graus na escala Richter. Como o potencial para que uma tsunami fosse gerada era muito grande, tentamos imediatamente falar também com o Peru, que poderia ser atingido pelas ondas entre três e seis horas depois.
Como foi o contato com estes países?
SARDIÑA: Houve problemas de comunicação. Um colega meu, que também estava de plantão, tentou falar com a Marinha chilena, mas não conseguiam entendê-lo. Como falo espanhol, peguei o telefone para perguntar se eles receberam o alerta que havíamos mandado sobre a tsunami. Repeti esta mensagem umas duas ou três vezes, porque a ligação era transferida. Pedi enfaticamente para me avisarem caso tivessem qualquer confirmação de tsunami, o que eles fizeram algum tempo depois.
E com o Peru?
SARDIÑA: Certamente eles receberam nossa mensagem, mas ninguém atendeu as ligações. Talvez por ainda ser muito cedo, não conseguimos contato telefônico com muitos países das Américas do Sul e Central. Mas todos receberam o alerta.
Houve demora do Chile para confirmar a tsunami?
SARDIÑA: A verdade é que, em determinadas regiões, a população teria um tempo mínimo para reagir. Talcahuano (um dos principais portos do Chile, a 20 quilômetros de Concepción) foi atingida por uma onda de 2,3 metros às 6h53m. Na prática, a população teria apenas cinco minutos para se proteger. Já a Ilha de Juan Fernández teria mais tempo para tomar providências. Não sei se a Marinha chilena pensou que as primeiras ondas não fossem uma tsunami. Foi um comportamento incomum, porque trata-se de um país com grande histórico de atividades sísmicas e que tem ótimos profissionais.
Este foi o sexto maior terremoto já registrado. O senhor esperava que viesse acompanhado de ondas maiores?
SARDIÑA: Se pensarmos na magnitude do terremoto e em sua proximidade da costa, não seria absurdo ter uma onda de dez metros. Mas não podemos nos prender à ideia de que, para haver destruição, é preciso ter ondas gigantes como as vistas nas tsunamis de 2004. Talcahuano foi devastada com ondas de menos de 2,5 metros. E a massa d'água movida pelo sismo chegou, menos de 22 horas depois, ao Japão. É, portanto, uma força considerável.
Japão e Havaí prepararam-se bastante para as ondas, mas a tsunami mal foi vista em seus litorais...
SARDIÑA: No Havaí, as ondas tiveram um metro de altura. No Japão, um pouco menos. É o suficiente para provocar prejuízos nos portos e nas zonas costeiras. Ainda é muito difícil estimar o tamanho que terão as ondas, mas nosso trabalho é alertar para qualquer evento com potencial para causar um estrago.
Que lição o Chile pode tirar deste terremoto?
SARDIÑA: Talvez o centro de monitoramento possa rever alguns procedimentos para nos responder mais rapidamente. O importante é que tivemos sorte: a tsunami poderia ser muito maior.
Fonte:Globo Online - 02/03/2010