Houve época em que os céticos diziam que buscar minérios no fundo do mar era como procurar riqueza na lua. Mas não mais.
Exploradores descobriram depósitos ricos em ouro, prata, cobre e outros minerais no leito dos mares do mundo. E países, empresas e empreendedores correm para reivindicar direitos sobre as reservas.
Motivados pela diminuição dos recursos encontrados em terra, além dos preços recordes do ouro e outros metais, os prospectores vêm içando amostras do fundo do mar e analisando depósitos avaliados em trilhões de dólares.
"Temos tido sucesso extremo", disse Tom Dettweiler, falando sobre a prospecção feita por sua empresa, a Odyssey Marine Exploration, de Tampa, Flórida.
Ambientalistas estão preocupados, dizendo que os riscos da mineração no mar ainda não foram suficientemente pesquisados. O setor mineiro reage com estudos, garantias e conferências otimistas.
Novos robôs, sensores e outros equipamentos vêm abrindo o campo. Navios mergulham equipamentos exploratórios e perfuradoras que vão até o leito do mar. A China, o Japão e a Coreia do Sul estão fazendo trabalhos de prospecção nos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico. E empresas privadas como a Odyssey já reivindicaram o direito de exploração de centenas de áreas nas zonas vulcânicas que cercam Fiji, Tonga, Vanuatu, a Nova Zelândia, as ilhas Salomão e Papua-Nova Guiné.
A Autoridade Internacional do Leito Oceânico (International Seabed Authority), um organismo pouco ativo das Nações Unidas sediado na Jamaica e que é responsável pelos direitos minerais em alto mar, uma área que seus dirigentes costumam caracterizar como 51% da superfície da Terra, vem sendo inundada de pedidos relativos a sulfetos.
Se os preços dos metais subirem, disse Dettweiler, "um depósito que vale US$ 1 bilhão poderá passar a valer US$ 100 bilhões".
No passado, cientistas pensavam que a principal fonte de riqueza no fundo do mar estava em canteiros de pedras do tamanho de batatas das quais era possível extrair metais comuns, como ferro e níquel. Nos anos 1960, empreendedores tentaram içar essas pedras para a superfície, mas o trabalho nunca valeu a pena em função dos altos custos de exploração, recuperação e transporte.
As coisas começaram a mudar em 1979 com a descoberta dos chamados "fumantes negros": montes e torres sulfurosos dos quais jorra água quentíssima. Descobriu-se que os fumantes estão presentes em todos os 74 mil quilômetros de fissuras vulcânicas que cingem o leito oceânico global, como costuras numa bola de beisebol.
Hoje, as minas em terra frequentemente não dispõem de depósitos ricos de cobre, um metal que faz parte do cotidiano moderno, sendo usado em tudo, desde canos até computadores. Muitos minérios comerciais têm concentrações de apenas 0,5%. Mas os exploradores do fundo do mar já encontraram purezas de 10% ou mais.
Os candidatos a mineradores do fundo do mar registraram a primeira reivindicação de território 15 anos atrás, quando a Nautilus Minerals ganhou o direito de explorar cerca de 5.000 km2 do leito oceânico de Papua-Nova Guiné, um trecho rico em montes de minério vulcânico conhecidos como sulfetos maciços.
No ano passado, a Nautilus ganhou o direito de explorar por 20 anos um depósito rico no sudoeste do Pacífico. Os montes estão a uma profundidade de 1,6km.
Críticos dizem que a mineração pode ser perigosa para os estoques de peixes, os moradores das ilhas e os ecossistemas. Um grupo internacional, a Campanha contra a Mineração no Fundo do Mar, observou que os sítios vulcânicos abrigam centenas de espécies ainda desconhecidas.
Em maio de 2010, quando a autoridade do leito oceânico adotou normas para a prospecção, o representante da China cadastrou seu país no mesmo dia.
No ano passado, a China assinou um contrato com o órgão pelos direitos exclusivos sobre os sulfetos em uma área de 10 mil km2, aproximadamente o tamanho de Porto Rico, a mais de três quilômetros de profundidade no oceano Índico.
A Rússia ingressou na corrida em 2011, e a França e a Coreia do Sul, em maio deste ano. Recentemente, Seul também fechou um contrato para a prospecção de sulfetos nas águas de Fiji.
O oceanógrafo John R. Delaney, da Universidade de Washington, disse que a ameaça de danos ambientais decorrentes da exploração mineral do leito oceânico se deve menos aos projetos de países desenvolvidos que aos projetos nas águas territoriais de ilhas do Pacífico. "Esses países do Pacífico estão mais preocupados com suas economias que com o meio ambiente", ponderou.
Georgy Cherkashov, presidente da Sociedade Internacional de Minérios Marinhos, minimizou as preocupações ambientais. "O primeiro a chegar leva", disse. Para ele, as manobras para ganhar controle dos locais mais promissores representam "a última fronteira do mundo". Fonte: Folha de São Paulo - 23 de julho de 2012