Comentário: Na America Latina nunca li um discurso de
educação como estratégia de desenvolvimento. Acho que a educação não faz parte
da estratégia de desenvolvimento de uma Nação na America Latina. Ou
politicamente não é tão importante quanto a outros problemas. É mais fácil
investir em estádios de futebol como está ocorrendo no Chile e também no
Brasil, a população está esperando ansiosa o Campeonato Mundial e as
Olimpíadas. Os países que fixaram a educação como estratégia de
desenvolvimento estão colhendo os frutos agora, tais como, Coréia do Sul, China
, Índia, etc.
O discurso do presidente Obama é longo, mas vale
a pena ler. Para ele a educação é estratégica para o contínuo desenvolvimento
tecnológico dos Estados Unidos.
Discurso:
"Olá a todos. Como estão? Estou aqui com os
estudantes do Colégio Wakefield, em Arlington, Virgínia.
Estão conectados
também estudantes de todo o país, do jardim de infância ao ensino médio. Estou
feliz que todos vocês tenham conseguido se unir a nós hoje.
Eu sei que, para muitos, hoje é o primeiro dia
na escola. E, para aqueles que estão no jardim, começando o ensino fundamental
ou o ensino médio, é seu primeiro dia em uma escola nova, então é compreensível
que estejam um pouco nervosos. Eu imagino que haja ainda veteranos se sentindo
muito bem agora, já que falta só mais um ano. E, não importa qual seja sua
série, alguns estão, provavelmente, torcendo para que ainda fosse verão e para
que pudesse ter ficado na cama um pouquinho mais nessa manhã.
Eu conheço a sensação. Quando eu era jovem,
minha família viveu na Indonésia por alguns anos, e minha mãe não tinha
dinheiro para me mandar para a escola onde todas as crianças americanas
estudavam. Então ela decidiu que me daria aulas extras, de segunda a sexta, às
4h30. Eu não ficava feliz de acordar tão cedo. Muitas vezes, eu dormia bem ali,
em cima da mesa da cozinha. Mas, sempre que eu reclamava, minha mãe
simplesmente me dava um daqueles olhares e dizia 'isso também não é nenhum
piquenique pra mim, espertinho'.
Então, eu sei que alguns de vocês ainda estão se
acostumando a voltar à escola. Mas estou aqui hoje porque tenho algo importante
para discutir com vocês. Estou aqui porque eu quero falar com vocês sobre sua
educação e sobre o que se espera de todos nesse ano letivo.
Eu já dei muitos discursos sobre educação. E eu
já falei muito sobre responsabilidade. Eu falei sobre a responsabilidade de
nossos professores em inspirá-los e em incentivá-los a aprender. Eu falei sobre
a responsabilidade dos seus pais de garantir que vocês permaneçam na linha e
façam suas tarefas e não gastem todas as horas de seus dias na frente da TV ou
com o seu Xbox [um modelo de videogame].
Eu já falei muito sobre a responsabilidade do
seu governo de estabelecer padrões altos, dar apoio a professores e diretores e
se voltar para escolas que não estejam funcionando, onde os alunos não estejam
recebendo as oportunidades que merecem.
Mas, no fim das contas, podemos ter os mais
dedicados professores, os mais apoiadores pais e as melhores escolas do mundo e
nada fará diferença a não ser que vocês cumpram com as suas responsabilidades.
A não ser que vocês compareçam a essas escolas; prestem atenção nesses
professores, ouçam seus pais, avós e outros adultos; e apresentam o trabalho
duro necessário para terem sucesso.
E é nisso que eu quero focar: na
responsabilidade que cada um de vocês têm sobre a sua educação. Eu quero
começar com a responsabilidade que vocês têm sobre vocês mesmos. Todos vocês
têm algo em que são bons. Todos vocês têm algo a oferecer. E vocês têm uma
dívida consigo mesmos de descobrir o que é isso. Essa é a oportunidade que a
educação dá.
Talvez você possa ser um bom escritor --talvez
até bom o suficiente para escrever um livro ou artigos em um jornal--, mas você
pode não descobrir isso até escrever um trabalho para sua aula de inglês.
Talvez você possa ser o próximo inovador, ou um inventor --talvez até bom o
suficiente para inventar o próximo iPhone ou um novo remédio ou vacina-- mas
você pode não descobrir isso até fazer um projeto para sua aula de ciências.
Talvez você possa ser um prefeito, um senador ou um juiz da Suprema Corte, mas
você pode não descobrir até entrar em uma organização estudantil ou um time de
debates.
E não importa o que você
queira fazer com a sua vida --eu garanto que você vai precisar de educação.
Quer ser um médico, um professor, um policial? Quer ser enfermeiro, arquiteto,
advogado ou militar? Você vai precisar de uma boa educação para todas essas
carreiras. Você não pode deixar da escola e cair em um bom emprego. Você
precisa trabalhar para isso, treinar e aprender.
E isso não é importante
só para a sua vida e o seu futuro. O que você faz com sua educação decidirá
nada menos que o futuro desse país. O que você está aprendendo na escola hoje
irá determinar se nós, como nação, poderemos enfrentar nossos maiores desafios
no futuro.
Você vai precisar do conhecimento e da
habilidade de resolver problemas que você aprende em ciências e em matemática
para curar doenças como o câncer e a Aids, para desenvolver novas tecnologias
de energia e para proteger nosso ambiente. Você vai precisar das ideias e do
pensamento crítico que ganha com história e estudos sociais para combater a
pobreza e a miséria, crime e discriminação, e fazer nossa nação mais justa e
mais livre. Você vai precisar da criatividade e inventividade que você
desenvolve em todas as suas aulas para abrir novas empresas que criação nossos
empregos e impulsionarão nossa economia.
Nós precisamos que cada
um de vocês desenvolve seus talentos, habilidades e intelecto para que vocês
ajudem a resolver nossos problemas mais difíceis. Se vocês não fizerem isso, se
vocês saírem da escola, vocês não desistem apenas de si mesmos, mas do nosso
país.
Eu sei que nem sempre é fácil ir bem na escola.
Eu sei que muitos de vocês têm desafios em suas vidas pessoais que podem
dificultar o foco nas tarefas. Eu entendo. Eu sei como é isso. Meu pai deixou a
minha família quando eu tinha 2 anos, e fui criado por uma mãe solteira que, às
vezes, sofria para pagar as contas e nem sempre podia dar as coisas que outras
crianças tinham. Houve épocas em que eu senti falta de ter um pai na minha
vida. Houve épocas em que eu me sentia solitário e desajustado.
Então, nem sempre eu estive tão focado quanto
deveria. Eu fiz algumas coisas das quais eu não me orgulho, e tive mais
problemas do que deveria. E minha vida podia ter, facilmente, ido pelo pior
caminho. Mas eu tive sorte. Eu tive muitas segundas chances e tive a
oportunidade de ir para a faculdade e para o curso de direito, e seguir meus
sonhos. Minha mulher, nossa primeira-dama, Michelle Obama, tem uma história
parecida. Nenhum dos nossos pais tinham ido à faculdade, e eles não tinham
muito. Mas eles trabalharam duro, e ela trabalhou duro e frequentou as melhores
escolas desse país.
Alguns de vocês podem não ter essas vantagens.
Talvez vocês não tenham adultos em suas vidas que deem o apoio de que precisam.
Talvez alguém na sua família perdeu o emprego e não há dinheiro. Talvez vocês
vivam em uma vizinhança onde não se sentem seguros ou tenham amigos que os
pressionam a fazer coisas que não são certas.
Mas, no fim das contas, as circunstâncias da sua
vida --como vocês é, de onde você veio, quanto dinheiro você tem, o que
acontece na sua casa-- não são desculpa para negligenciar suas tarefas de casa
ou ter um mau comportamento. Não há desculpa para responder ao seu professor,
para matar aulas, para deixar a escola. Não há desculpa para não tentar.
Onde você está agora não
precisa determinar onde você vai acabar. Ninguém escreveu seu destino pra você.
Aqui na América você escreve o seu destino. Você faz o seu futuro. É isso que
jovens como vocês estão fazendo todos os dias, em todo o país.
Jovens como Jazmin Perez, de Roma, no Texas.
Jazmin não falava inglês quando ela chegou à escola. Quase ninguém da cidade
dela foi à faculdade, e os pais dela também não. Mas ela trabalhou duro, tirou
boas notas, ganhou uma bolsa na Universidade Brown, e está agora na faculdade,
estudando saúde pública, em vias de se tornar a Dra. Jazmin Perez.
Estou pensando em Andoni Schultz, de Los Altos,
na Califórnia, que luta contra um câncer no cérebro desde os 3. Ele passou por
todo tipo de tratamento e cirurgia, e um deles atingiu sua memória, então ele
levava muito mais tempo --centenas de horas extras-- para fazer as lições de
casa. Mas ele nunca se sentiu mal, e está indo para a faculdade neste outono.
E há ainda Shantell Steve, da minha cidade,
Chicago, em Illinois. Mesmo passando de um abrigo para outro nas piores
vizinhanças, ela conseguiu um emprego no centro de saúde da comunidade; iniciou
um programa para manter os jovens longe das gangues; e agora está a caminho de
concluir o ensino médio com mérito e passar à faculdade.
Jazmin, Andoni e Shantell não são diferentes de
nenhum de vocês; Eles enfrentaram desafios em suas vidas, assim como vocês. Só
que eles se recusaram a desistir. Eles assumiram toda a responsabilidade por
sua própria educação e estabeleceram metas. E eu espero que todos vocês façam o
mesmo.
É por isso que, hoje,
estou pedindo que cada um de vocês estabeleça suas próprias metas de educação e
faça tudo que puder para alcançá-las. Sua meta pode ser simples como fazer sua
tarefa e prestar atenção na aula ou reservar um pedaço do dia para ler um
livro. Talvez você decida se envolver em uma atividade extracurricular ou ser
voluntárioem sua comunidade. Talvez você decida defender crianças que estão sendo
provocadas ou agredidas por causa daquilo que são ou de suas aparências porque
você, como eu, acredita que toda criança merece um ambiente seguro para estudar
e aprender. Talvez você decida cuidar melhor de si para ficar mais pronto a
aprender.
E, nesse sentido, espero que todos lavem muito
as mãos e fiquem em casa quando não estiverem se sentindo bem, para evitar que
as pessoas peguem gripe neste outono e inverno.
O que quer que decida fazer, eu quero que você
se comprometa. Quero que você realmente trabalhe nisso. Eu sei que, às vezes,
você acha, pela TV, que pode ser rico e bem-sucedido sem trabalhar duro --que seu
passaporte para o sucesso é ser cantor de rap ou estrela de basquete ou de um
reality show quando a probabilidade é que você nunca seja nada disso.
A verdade é que ser
bem-sucedido é difícil. Você não vai gostar de todas as disciplinas que
estudar. Você não vai se apegar a todos os professores. Nem todas as tarefas
vão parecer relevantes para sua vida nesse minuto. E você não vai,
necessariamente, se dar bem em tudo da primeira vez que tentar.
Tudo bem. Algumas das pessoas mais bem-sucedidas
do mundo são aquelas que tiveram mais fracassos. O primeiro 'Harry Potter' de
JK Rowling foi rejeitado 12 vezes antes de ser finalmente publicado. Michael
Jordan foi cortado do time de basquete de sua escola e perdeu centenas de jogos
e errou milhares de lançamentos durante a carreira. Uma vez ele disse: 'Eu
falhei muitas e muitas vezes na minha vida. E por isso eu venci.'
Essas pessoas venceram
porque elas entendem que você não pode deixar seus fracassos definirem quem
você é --você precisa é deixar que eles te ensinem. Você precisa deixar que
eles te ensinem o que fazer diferente da próxima vez. Se você se meter em
confusão, não significa que você seja um arruaceiro, mas que precisa se
esforçar mais para se comportar. Se você tirar uma nota ruim, não significa que
seja burro, mas que precisa estudar mais.
Ninguém nasce sendo bom
nas coisas. Você fica bom trabalhando muito. Você não é um atleta da primeira
vez que joga um esporte novo. Você não acerta todos os tons da primeira vez em
que canta uma música. Você precisa treinar. É o mesmo na escola. Você pode ter
que resolver um problema de matemática algumas vezes antes de acertar, ou ler
algumas vezes antes de entender, ou fazer alguns rascunhos em um papel antes de
ter algo bom o suficiente para apresentar.
Não tenha medo de fazer
perguntas. Não tenha medo de pedir ajuda quando precisar. Eu faço isso todos os
dias. Pedir ajuda não é sinal de fraqueza, é sinal de força. Mostra que você
tem a coragem de admitir que não sabe de algo e de aprender uma coisa nova.
Encontre um adulto em quem confie --um pai, um
avô ou um professor, um treinador ou um conselheiro-- e peça a eles para te
ajudar a continuar na linha e alcançar suas metas.
E mesmo quando você
estiver sofrendo, mesmo quando estiver desencorajado, quando sentir que os
outros desistiram de você --não desista de você mesmo. Por que quando você
desiste de você mesmo, você desiste do seu país.
A história da América não tem pessoas que
desistiram quando as coisas se complicaram, mas sim pessoas que continuaram,
que tentaram com mais empenho, que amaram o país tanto que não podiam fazer
menos do que o melhor.
É a história de estudantes que sentaram onde
vocês se sentam, há 250 anos, e enfrentaram uma revolução e fundaram essa
nação. Estudantes que sentaram onde vocês se sentam, há 75 anos, e superaram a
Grande Depressão e ganharam a guerra mundial; que lutaram pelos direitos civis
e puseram o homem na lua. Estudantes que sentaram onde vocês se sentam, há 20
anos, e fundaram o Google, o Twitter e o Facebook e mudaram o modo como nos
comunicamos uns com os outros.
Então, hoje, eu quero perguntar a vocês, qual
será sua contribuição? Quais problemas você vai resolver? Quais descobertas
você vai fazer? O que um presidente que estará aqui em 20 ou 50 anos falará
sobre o que vocês fizeram por esse país?
Suas famílias, seus professores e eu faremos
tudo que pudermos para assegurar que vocês tenham a educação de que precisam
para responder essas perguntas. Eu estou trabalhando duro para consertar suas
salas de aulas e comprar os livros, equipamentos e computadores de que precisam
para aprender.
Mas vocês têm que fazer sua parte também. Então
espero que vocês levem a sério este ano. Espero que vocês deem o melhor de si
em tudo que fizerem. Espero coisas grandes de cada um de vocês. Não nos
decepcionem --não decepcionem a sua família, o seu país nem você. Façam com que
todos fiquem orgulhosos. Eu sei que vocês podem.
Obrigado. Deus os abençoe e Deus abençoe a
América."
Folha Online - 08/09/2009