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terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Alemanha está despreparada para combater o crime organizado

A criminalidade organizada é global e não conhece fronteiras, mas alguns países carecem de instrumentos para combatê-la. É um absurdo que nações não se unam para enfrentar juntas esse problema, escreve Anabel Hernández.
   
Como outros países da Europa, a Alemanha sofre ataque constante de vários grupos do crime organizado transnacional que se dedicam principalmente ao narcotráfico, introduzindo toneladas de drogas ilegais em território alemão, bem como grandes quantidades de dinheiro ilícito para que seja lavado na economia legal do país.

Ao contrário de países na América Central e na América do Sul, na Europa o crime organizado geralmente não é violento, não mata pessoas, não queima mulheres, bebês e crianças em seus veículos, não explode bombas. Ele não se deixa perceber; por não ser visível, há pouca consciência sobre sua periculosidade. A Espanha e a Holanda, por exemplo, vivem as consequências disso; a Alemanha também.

Uma das regiões onde a presença de tais organizações criminosas cresceu de maneira preocupante é a Renânia do Norte-Vestfália, um dos 16 estados alemães. Como na Espanha e na Holanda, um dos fatores que o tornam "atraente" é sua localização geográfica e seu desenvolvimento econômico.

O estado é vizinho à Holanda, um dos principais produtores de metanfetaminas do mundo, e à Bélgica. Através do rio Reno, ele tem conexão direta com o porto de Antuérpia. Sua forte economia produz mais de um quinto do PIB alemão e concentra mais de 17 milhões de habitantes, o que representa um mercado consumidor em potencial para os traficantes de drogas. Segundo fontes ligadas à Justiça e à segurança pública, é por essa região que a maior parte das drogas entra na Alemanha.

CRIME ORGANIZADO NA EUROPA
Em 2013, a Europol havia identificado 3,6 mil grupos de crime organizado na Europa; em 2018, a agência detectou ao menos 5 mil. O Relatório Mundial sobre Drogas, publicado em 2019 pelas Nações Unidas, informou sobre uma pesquisa realizada em 73 cidades da Europa, focada na análise de urina em busca de sinais de anfetaminas, cocaína, ecstasy e metanfetaminas.
Segundo os resultados do estudo, na Alemanha foi detectado o maior uso de metanfetaminas, ao lado de Holanda e Bélgica. As três cidades com maior consumo foram Erfurt, Chemnitz e Dresden.

Como outras nações da União Europeia, a Alemanha não possui instrumentos para combater organizações criminosas que traficam e distribuem drogas no país e efetuam operações de lavagem de dinheiro.

Quando, em 2011, a 'Ndrangheta, da Calábria, na Itália, assassinou seis pessoas em Duisburg, na Renânia do Norte-Vestfália, acendeu-se um sinal de alerta que ao longo dos anos se tornou um sinal vermelho. Foi um ajuste de contas entre clãs que operam na Alemanha.
Naquela época, as autoridades asseguraram que não haviam detectado "nenhuma atividade mafiosa". Hoje, o secretário de Justiça do estado, Peter Biesenbach, junto a promotores e autoridades policiais, tem como missão enfrentar organizações criminosas que operam em seu território: italianas, mexicanas e turcas, entre outras.

CARTÉIS MEXICANOS
Chama atenção dos investigadores o fato de que, quando conseguem deter "testemunhas colaboradoras", estas se mostram abertas a falar sobre as operações da 'Ndrangheta, mas quase nunca dos cartéis mexicanos, porque mesmo entre os criminosos eles são considerados os mais violentos. Através dessa difusão do terror, os cartéis mexicanos crescem mais rapidamente.
Principalmente o Cartel de Sinaloa, que é o mais antigo e mais experiente nesse ramo criminal.

GRUPO DE TRABALHO ANTIMÁFIA
No início de novembro, Biesenbach e uma equipe de colaboradores participaram em Palermo, na Sicília, de um grupo de trabalho antimáfia, chefiado pelo procurador-geral Roberto Scarpinato. Este é membro do primeiro pool mundial de especialistas criado na Itália nos anos 1980 para lutar de maneira especializada contra uma forma de crime organizado que eles chamavam de "máfia" e que estava se expandindo na Sicília, confrontando o Estado, assumindo o controle do cotidiano de seus cidadãos, distorcendo os valores sociais.

FALTAM INTERCEPTAÇÃO E INFILTRAÇÃO.
De acordo com conversas informais com membros da delegação alemã, Berlim tem três desvantagens para lidar com esse tipo de crime organizado: do ponto de vista cultural, é difícil para os alemães entenderem como são e como operam essas organizações.
O crime de associação criminal foi introduzido na legislação apenas em 2017, mas faltam outras reformas legais que facilitem a investigação dessas organizações. Há escassez de instrumentos legais mais fortes para a investigação de suas operações e de seu patrimônio: faltam interceptação e infiltração.
Outro fator negativo para o combate legal a essas organizações criminosas é que a lei criminal alemã é feita para punir crimes cometidos por indivíduos, não pelo crime organizado.
Crime organizado investe em países com menos riscos legais

LEI DE "PREVENÇÃO PATRIMONIAL"
Na década de 1980, o Estado italiano criou uma lei de "prevenção patrimonial" que permite confiscar bens quando há suspeita de origem ilegal, sem a necessidade de provar um crime específico. A legislação permite o confisco de bens quando se evidencia uma desproporção entre o patrimônio e os lucros declarados ao Fisco.
Segundo investigações da Justiça italiana, desde a adoção dessa lei, organizações criminosas como 'Ndrangheta, Cosanostra e La Camorra não deixam mais ativos ilegais na Itália, porque há uma alta probabilidade de serem confiscados.
É por isso que esses capitais migram para outros países, como a Alemanha, onde há falta de conhecimento do problema, de legislação correspondente e de treinamento específico de agentes da lei. São ativos sangrentos cuja geração custou milhares de vidas humanas no México, mas também são capitais perversos que só conhecem as regras de seus próprios benefícios sem nenhuma ética, consciência ou responsabilidade social.

CRIME ORGANIZADO É GLOBAL
Nos dois anos em que me aprofundei no modelo italiano de combate ao crime organizado, comparando-o também com outros esforços, incluindo o americano, o estilo italiano de enfrentar a máfia aparece, certamente, como um modelo que demonstrou sua eficácia: prenderam e condenaram centenas de membros de grupos mafiosos, mas também políticos, servidores públicos, comerciantes, empresários e profissionais que se aliaram a tais grupos do crime organizado.
Mas o modelo chega a um limite, o mesmo enfrentado pelo México, Espanha e Holanda: o crime organizado é global, não conhece fronteiras, interage rompendo barreiras.

O crime organizado transnacional sabe como se conectar globalmente, compartilhando seus ativos, infraestrutura e capital para crescer junto e contornar as fronteiras nacionais. É um absurdo que países do mundo não se unam pelo menos numa base continental para enfrentar essa ameaça com uma política comum e meios legais coordenados, compartilhando inteligência, infraestrutura e recursos. Fonte: Deutsche Welle-11.12.2019

sábado, 28 de dezembro de 2019

Despreparada para a era digital, a democracia está sendo destruída

Quando Martin Hilbert calcula o volume de informação que há no mundo, causa espanto. Quando explica as mudanças no conceito de privacidade, abala. E quando reflete sobre o impacto disso tudo sobre os regimes democráticos, preocupa.
"Isso vai muito mal", adverte Hilbert, alemão de 39 anos, doutor em Comunicação, Economia e Ciências Sociais, e que investiga a disponibilidade de informação no mundo contemporâneo.
Segundo o professor da Universidade da Califórnia e assessor de tecnologia da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, o fluxo de dados entre cidadãos e governantes pode nos levar a uma "ditadura da informação", algo imaginado pelo escritor George Orwell no livro 1984.

Vivemos em um mundo onde políticos podem usar a tecnología para mudar mentes, operadoras de telefonia celular podem prever nossa localização e algoritmos das redes sociais conseguem decifrar nossa personalidade melhor do que nossos parceiros, afirma.

Com 250 'likes'; o algoritmo do Facebook pode prever sua personalidade melhor que seu parceiro

Hilbert conversou com a BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, sobre a eliminação de proteções à privacidade online nos EUA, onde uma decisão recente do Congresso, aprovada pelo presidente Donald Trump, facilitará a venda de informação de clientes por empresas provedoras de internet.

Confira os principais trechos da entrevista:

BBC: QUAL É SUA OPINIÃO SOBRE A DECISÃO DO CONGRESSO DOS EUA DE DERRUBAR REGRAS DE PRIVACIDADE NA INTERNET?
Martin Hilbert: Os provedores de internet buscam permissão para coletar dados privados dos clientes há muito tempo - incluindo o histórico de navegação na web - e compartilhar com terceiros, como anunciantes e empresas de marketing.
Um provedor de internet pode ver suas buscas na internet - se, por exemplo, você assiste Netflix ou Hulu. Essa informação é valiosa, porque poderiam orientar sua publicidade a residências que usam seus serviços.
Enquanto isso parece ser um ato grave, liberado pelo novo governo dos EUA, há que reconhecer que nos últimos 30 anos os órgãos reguladores das telecomunicações nos EUA se afastaram de uma de suas metas originais: o benefício da sociedade. E se moveram no sentido de favorecer as empresas.

BBC: OS PROVEDORES DE INTERNET DIZIAM QUE AS REGRAS NÃO SE APLICARAM A GRANDES COLETORES DE DADOS COMO FACEBOOK OU GOOGLE. COMO VÊ ESSE ARGUMENTO?
Hilbert: Tem certa razão. Mas há uma diferença: para o Facebook, seu negócio são os dados que tem, trata-se de uma empresa de dados. A questão é se classificamos ou não os provedores de internet como provedores de dados.
Muitos provedores de telecomunicações inclusive estão começando a vender dados. Por exemplo: uma operadora de telefonia celular sabe onde você está em cada segundo. Então também podem vender essa informação? É preciso redefinir esses diferentes âmbitos. O órgão regulador precisa estar preparado e encontrar um equilíbrio em cada país.

BBC: ISSO MOSTRA A DIFICULDADE DE PROTEGER A PRIVACIDADE HOJE?
Hilbert: A pergunta certa é que privacidade as pessoas querem. E a verdade é que as pessoas não estão tão preocupadas. O que ocorreu depois de todas as revelações de Edward Snowden? Nada. Disseram: "Não é bom que vejam minhas fotos íntimas". E no dia seguinte continuaram. Ninguém foi protestar.

BBC: CONSIDEREMOS UMA PESSOA ADULTA QUE HOJE USA UM CELULAR, UM COMPUTADOR. QUANTA INFORMAÇÃO PODE SER COLETADA SOBRE ESSA PESSOA?
Hilbert: No passado, a referência de maior coleção de informação era a biblioteca do Congresso americano. E hoje em dia a informação disponível no mundo chegou a tal nível que equivale à coleção dessa biblioteca por cada 15 pessoas.
Há um monte de informação por aí, e ela cresce rapidamente: se duplica a cada dois anos e meio. A última fez que fiz essa estimativa foi em 2014. Agora deve haver uma biblioteca do Congresso dos EUA por cada sete pessoas. E em cinco anos haverá uma por cada indivíduo.

Há uma nova avaliação sobre como interpretar a privacidade. E as gerações jovens têm um conceito totalmente diferente do que é privacidade ou não.

Se colocássemos toda essa informação em formato de livros e os empilhássemos, teríamos 4,5 mil pilhas de livros que chegariam até o Sol. Novamente, isso era há dois anos e meio. Agora seriam 8 ou 9 mil pilhas chegando ao Sol.
E a informação que você produz cresce basicamente no mesmo ritmo: estima-se que haja 5 mil pontos de dados disponíveis para análise por morador dos EUA. São coisas que deixamos no Facebook, por exemplo. O volume de dados que deixamos de verdade é difícil de estimar, porque é quase um contínuo: você tem o celular consigo a cada segundo e deixa uma pegada digital. Então cada segundo está registrado por diversas empresas.

BBC: PODE DAR EXEMPLOS?
Hilbert: Sua operadora de celular sabe onde você está graças a seu celular. O Google também sabe, porque você tem Google Maps e Gmail no seu telefone. E cada transação que faz com seu cartão de crédito é um ponto de dados, cada curtida no Facebook. Inclusive pode haver registros de como você movimenta o mouse ao usar a internet.

BBC: MAS ESSA INFORMAÇÃO NÃO ESTÁ REUNIDA EM APENAS UM LUGAR OU POR UMA EMPRESA. ATÉ QUE PONTO PODEMOS SER PREVISÍVEIS PARA UMA EMPRESA QUE COLETA DADOS SOBRE NÓS?
Hilbert: Vou dar vários exemplos. Seu telefone te mostra quantas chamadas fez. A operadora deve coletar essas informações para processar sua conta. Eles não se preocupam com quem e o que falou. É apenas a frequência e duração de suas chamadas, algo conhecido como metadados. Com isso é possível fazer uma engenharia reversa e reconstruir um censo completo de um país com cerca de 80% de precisão: gênero, famílias, renda, educação.
Se tenho informação mais detalhada - por exemplo, se a operadora registra seus deslocamentos por meio das conexões às antenas. É possível prever com até 95% de precisão onde você estará em dois meses, e em que hora do dia.

Você tem o celular consigo a cada segundo e deixa uma pegada digital; cada segundo está registrado por diversas empresas

Passemos ao Facebook, que tem um pouco mais de informação, Há, por exemplo, as "curtidas", o que você gosta e quando. Pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, fizeram testes de personalidade com pessoas que franquearam acesso a suas páginas pessoais no Facebook, e estimaram, com ajuda de um algoritmo de computador, com quantas curtidas é possível detectar sua personalidade.

Com cem curtidas poderiam prever sua personalidade com acuidade e até outras coisas: sua orientação sexual, origem étnica, opinião religiosa e política, nível de inteligência, se usa substâncias que causam vício ou se tem pais separados. E os pesquisadores detectaram que com 150 curtidas o algoritmo podia prever sua personalidade melhor que seu companheiro. Com 250 curtidas, o algoritmo tem elementos para conhecer sua personalidade melhor do que você.

BBC: PARA QUE ESSA INFORMAÇÃO É USADA?
Hilbert: Para uma empresa de marketing ou um político em busca de votos, é algo muito interessante. Com o chamado big data (análise de grandes volumes de dados oriundos do uso de internet) também elevamos muito o poder de previsão das Ciências Sociais. Desenvolver um algoritmo de inteligência artificial pode custar milhões de dólares. Mas uma vez criado pode ser aplicado a todos. Então é algo que está sendo empregado rapidamente em outros países.
A operadora de celular Telefônica, bastante ativa na América Latina, trabalhou muito em previsão de localização. E até já começou a vender esse tipo de informação. Então caso você queria abrir uma empresa em alguma capital da América Latina para vender gravatas. você paga e te dizem em que hora e onde os homens caminham. E você fica sabendo em qual saída do metrô deve instalar sua loja.

BBC: A questão é o quão perigoso é tudo isso, essa forma como estão coletando dados que permitem fazer previsões sobre os indivíduos e a sociedade em geral.
Hilbert: Uma tecnologia é apenas uma ferramenta. Pode-se usar um martelo para coisas boas, como erguer uma casa, mas também para matar alguém. Nenhuma tecnologia é tecnologicamente determinada, sempre é socialmente construída.
Não me preocupo tanto com o comércio ou com a economia. Quem não está preparada para esta transparência brutal entre cidadão e representante é a democracia representativa.

BBC: POR QUÊ?
Hilbert: Porque a democracia representativa, como a inventaram nos EUA, é um processo de filtrar informação. Há 250 anos era impossível consultar todas as pessoas e as pessoas tampouco estavam informadas. Então os "pais fundadores" da nação americana inventaram um filtro de informação que chamaram de representação: ter representantes que em seu nome deliberam e definem o que serve à sociedade. Rompemos isso completamente.

Os representantes hoje podem ter acesso a tudo o que os cidadãos fazem. E os cidadãos podem ditar a vida dos representantes, com tuítes e outros recursos. A democracia representativa não está preparada para isso.

É o que vemos agora, com a última eleição nos EUA e como o novo presidente usa as mídias sociais - é parte dessa confusão em que estamos.

É preciso refletir e reinventar a democracia representativa. Caso contrário, ela pode facilmente se converter em ditadura da informação. E atentem que a visão mais antiga da sociedade da informação é de 1948, quando George Orwell publicou seu livro 1984. A visão era de uma ditadura da informação.

Se alguém dissesse isso há dez anos, certamente seria contestado pela maioria que acreditava que a internet era democracia pura e liberdade. Mas hoje pessoas começam a entender a necessidade de atuação rápida. A democracia não está preparada para a era digital e está sendo destruída.

Estamos num processo que (o economista austro-americano Joseph) Schumpeter chamou de destruição criativa. E não teremos nenhuma criatividade, porque não há proposta de como fazê‑la de modo diferente. Não há uma saída, e isso preocupa.

BBC: PODE DAR EXEMPLOS PRÁTICOS DESSA DESTRUIÇÃO?
Hilbert: (O ex-presidente americano Barack) Obama entende muito bem de big data. Depois do caso Snowden muitos perguntaram porque Obama nada fez. Bom, porque ele também o usou muito.
A maior despesa da campanha de Obama em 2012 não foi para comerciais de TV: criou-se um grupo de 40 engenheiros recrutados em empresas como Google, Facebook, Craigslist, e que incluiu até jogadores profissionais de pôquer. Pagou milhões de dólares para o desenvolvimento de uma base de dados de 16 milhões de eleitores indecisos: 16 milhões de perfis com diferentes dados: tuítes, posts do Facebook, onde vivem, o que assistiam na TV.

É preciso reinventar a democracia representativa. Caso contrário, ela facilmente se converte em ditadura da informação
Quando a campanha conhecia suas preferências, se um amigo seu no Facebook dava uma curtida na campanha de Obama, a equipe ganhava acesso à página desse amigo e passava e enviar mensagens.
E conseguiram mudar a opinião de 80% das pessoas alcançadas desta maneira. Com isso, Obama ganhou a eleição. È como uma lavagem cerebral: não mostra a informação, apenas o que querem escutar.

BBC: COMO O BIG DATA ESTÁ ALTERANDO AS FORMAS DE GOVERNAR?
Hilbert: O representante político tem muita informação sobre você, mas o inverso também é verdade. Veja o presidente Trump, que muitas vezes reage em tempo real ao que as pessoas dizem. É como alguém se convertesse em uma marionete do que recebe pela TV ou pelo Twitter.

A ideia do mandato representativo, como criado pelos "pais fundadores" dos eua, era: confiamos em você como pessoa e você lidera e toma decisões em nosso nome. Agora os políticos medem sua popularidade no facebook e mudam o discurso ao vivo para ajustá-lo aos comentários do twitter. Isso não é a ideia que foi desenhada. Os grandes presidentes não se guiaram por populismo: eles lideraram.

BBC: TERIA UMA PROPOSTA DE SOLUÇÃO PARA ESSE PROBLEMA?
Hilbert: A história mostra que é preciso mudar as instituições. Não é possível controlar quem tem dados e quem não tem. Pode-se criar instituições e determinar que algumas informações serão abertas ao público. Por exemplo: os partidos políticos devem declarar as doações que recebem. Mas vão abrir os dados das pessoas?
Abrir também não é a solução, Mas é preciso discutir muito esse assunto. E as pessoas não discutem.
Também é preciso mudar a tecnologia. A tecnologia não é algo que cai do céu. Há muitas oportunidades. Numa entrevista de emprego, por exemplo, a inteligência artificial poderia ser muito mais neutra do que um gerente de recursos humanos que possa discriminar alguém inconscientemente. Poderíamos abandonar padrões muito antigos e criar o futuro que queremos.
Fonte: BBC Mundo em Nova York-9 abril 2017

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

A Holanda está se tornando um narco-Estado?

"Nós definitivamente temos as características de um narco-Estado", diz Jan Struijs, presidente do maior sindicato policial da Holanda.
"Claro que não somos o México. Não temos 14.400 assassinatos. Mas se você olhar para a infraestrutura, a quantidade de dinheiro arrecadada pelo crime organizado, a economia paralela... Sim, temos um narco-Estado."
As palavras dele ecoam em uma sociedade que se chocou com um assassinato que foi muito além da bolha do submundo do crime.
A morte de Derk Wiersum pôs em evidência um equívoco comum na Holanda: a ideia de que os carteis de drogas matam apenas entre eles. Com 44 anos, pai de dois filhos, Wiersum foi morto a tiros na frente de sua esposa, do lado de fora de sua casa em Amsterdã, em setembro.

'ISSO É PARA NOS ASSUSTAR'
Wiersum era o advogado de uma testemunha da acusação, Nabil Bakkali, que havia se tornado informante em um caso contra dois dos suspeitos mais procurados da Holanda.
Os tiros em plena luz do dia, em um bairro tranquilo, foram vistos como um ataque à sociedade civil, à democracia e ao Estado de Direito.
"Isso é para nos assustar", alertou o promotor público Fred Westerbeke. "Devemos continuar a usar testemunhas-chave, caso contrário não conseguiremos avançar."

De repente, explodiram os temores do paraíso dos usuários de drogas se transformando em um porto para crimes relacionados às drogas e uma economia minada.
"Alguns incidentes nos últimos anos foram como um sinal", explica Wouter Loumans, cujo best-seller, Mocro Mafia, é uma história que mostra a ascensão de uma nova geração de criminosos em Amsterdã.
"Havia sinais de que eles poderiam transitar do submundo para o 'mundo superior', e agora isso aconteceu."
Loumans lista uma série de incidentes como evidência da escalada da brutalidade: dois meninos mortos em um tiroteio com fuzis AK-47, com balas ricocheteando nas paredes; uma mãe assassinada na frente dos filhos; uma cabeça decepada do lado de fora de uma cafeteria; o assassinato do irmão de uma testemunha, Reduan Bakkali; e o assassinato de Derk Wiersum.

O QUE É A 'MOCRO MAFIA'?
"É uma gíria de rua. Os jovens marroquinos se chamam 'Mocro'", diz Loumans, que escreveu o livro com Marijn Schrijver.
"Nós criamos o termo 'Mocro Mafia' para resumir o que era o livro. Agora vejo que eles usam nos relatórios da polícia. Mas não são apenas os marroquinos. São garotos que crescem em áreas de Amsterdã onde os turistas nunca vão."
"Não são canais, o Rijksmuseum, o museu Van Gogh. São os conjuntos habitacionais. Eles não têm as mesmas oportunidades. Eles são ambiciosos, estão procurando uma carreira no submundo."

'SOCIEDADE APODRECIDA'
Mesmo antes do assassinato de Wiersum, um relatório encomendado pelo prefeito de Amsterdã em agosto descreveu a capital como um "Valhalla (enorme salão, na mitologia nórdica) para criminosos que atuam no ramo das drogas".
A Holanda ainda não era um narco-Estado, mas corria o risco de se tornar um, advertiu o ministro da Justiça, Ferd Grapperhaus.
"Sabíamos que estava chegando", disse Jan Struijs. "Advogados, prefeitos, policiais, todos nós fomos ameaçados pelo crime organizado. Todos os alarmes soaram, mas os políticos foram ingênuos. Agora, os alicerces da nossa sociedade estão apodrecendo."

Alguns dias depois, outro advogado holandês, Philippe Schol, foi baleado na perna em um tiroteio enquanto passeava com seu cachorro perto de casa, do outro lado da fronteira com a Alemanha.
Uma pesquisa de opinião apontou que 59% das pessoas acreditavam que a Holanda é agora um narco-Estado, ou seja, um país cuja economia depende do comércio de drogas ilegais.
Parece irônico que, em uma nação burocrática que envia rapidamente um lembrete sobre imposto sobre cães ou multa por pagamento atrasado no estacionamento, os gângsteres permaneçam em liberdade e os tiroteios de gangues ocorram regularmente.

PRISÃO DOS MAIS PROCURADOS DA HOLANDA
Então, aconteceu uma importante prisão no Golfo nesta semana. Ridouan Taghi, de 41 anos, foi detido entrando em Dubai com uma identidade falsa e mantido sob um mandado de prisão internacional por suspeita de vários assassinatos e tráfico de drogas.
Descrito pela polícia como um dos "homens mais perigosos" do mundo, suspeita-se que ele tenha ordenado uma série de execuções, incluindo o assassinato de Derk Wiersum.
Os promotores holandeses imediatamente buscaram a extradição dele, antes de um grande julgamento de gangues marcado para março de 2020, e ele foi levado de avião para a Holanda na quarta-feira.
O "caso Marengo" envolve cinco assassinatos e uma série de tentativas de assassinato, incluindo o irmão do informante Nabil Bakkali.
Acredita-se que Ridouan Taghi estava morando em Dubai com sua esposa e seis filhos.
A polícia holandesa disse que sua prisão foi resultado de intensa cooperação internacional, e não de uma denúncia. Cem detetives estavam envolvidos no caso e o chefe da polícia, Erik Akerboom, disse que a prisão era "de grande importância para a Holanda".
"Taghi e seus cúmplices representam uma ameaça ao Estado de Direito. É muito importante para nós, como policiais, remover as ameaças", disse ele.
No dia seguinte, seis pessoas foram presas em diferentes pontos da Holanda por suspeita de lavagem de dinheiro, posse de drogas e armas de fogo.
Embora a prisão de Ridouan Taghi tenha sido um sucesso para as autoridades holandesas, Wouter Loumans duvida que isso impeça os mais jovens de aspirar a seguir seus passos.
"É uma questão de oportunidades na sociedade. Eles não são diferentes de banqueiros ou jornalistas, eles querem ganhar dinheiro. Se você não é um bom jogador de futebol ou não tem cérebro para sair daquele mundo, esse é seu meio. Não é apenas um problema relacionado às drogas, é um problema social."

QUAL É O TAMANHO DO PROBLEMA DAS DROGAS NA HOLANDA?
De certa forma, a Holanda criou o ambiente perfeito para o comércio de drogas.
Com sua extensa rede de transporte, suas leis e penalidades brandas sobre drogas, e sua proximidade com vários mercados lucrativos, tornou-se um local óbvio para o fluxo global de drogas.
O renomado escritor Roberto Saviano, que narra o mundo do crime organizado da Camorra, em Nápoles, acredita que a influência da máfia em Amsterdã é ainda pior.
"Existem clãs de todo o mundo, porque a Holanda é um dos portos de trânsito mais importantes. Eles sabem que quem controla a Holanda tem uma das artérias do mercado global de drogas", disse ele ao jornal Volkskrant.

MERCADO CLANDESTINO
Bilhões e bilhões de euros circulam nesse mercado clandestino. Estima-se que, apenas em 2017, € 18,9 bilhões (R$ 85,6 bilhões) em drogas sintéticas tenham sido produzidos na Holanda. O país é considerado um líder mundial na produção desses entorpecentes.
O chefe do sindicato da polícia, Jan Struijs, destaca a velocidade com que essas drogas são transportadas ao redor do mundo.
"No dia em que Donald Trump se tornou presidente, os primeiros comprimidos 'Trumpies' laranja de ecstasy foram encontrados em Schiphol. 24 horas depois já estavam à venda na Austrália", disse.
"Há muitos mexicanos ajudando a produzir metanfetamina na Holanda. Você vê um despejo de cocaína na Venezuela e no Suriname, vê preços muito baixos em Amsterdã, Liverpool e Manchester. (O dinheiro de) cada grama que você compra vai para o crime organizado e para financiar carteis de drogas."

ONDE A HOLANDA SE ENCAIXA NO MAPA DAS DROGAS
Os "chefes" da droga da América do Sul começaram enviando seus produtos para a África Ocidental. As drogas foram para o norte por antigas linhas de contrabando do Marrocos, e os jovens marroquinos cujos pais haviam se mudado para a Holanda ainda tinham conexões familiares e rotas de migração para explorar.
Foi assim que a polícia alegou que Ridouan Taghi fez fortuna. Ele herdou ou "ganhou controle" de uma rota de contrabando e começou a traficar cocaína em vez de maconha - o que gerou mais dinheiro e violência.
Embora os líderes operem internacionalmente, a polícia teme que eles usem sua influência interna para "contratar" capangas cada vez mais jovens.
"A polícia entende, mas não tem como intervir", diz Jan Struijs. "Não são apenas os cortes no orçamento. As equipes de prevenção que trabalham com jovens também desapareceram. Então, os jovens estão no radar (dos chefões) e. de repente, os vemos cometendo assassinatos."
Mas isso significa que a Holanda se transformou em um narco-Estado?
"Não temos corpos pendurados nas pontes", afirma Wouter Loumans, "mas temos corrupção nos portos, violência contra advogados, ameaças a jornalistas. Definitivamente, isso é característico de um narco-Estado."
A economia holandesa pode não ser dependente ou definida pela indústria das drogas, mas essa indústria está exercendo uma influência crescente na sociedade. Fonte: BBC News, The Hague,- 19 December 2019

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Dez pontos principais do documento final da COP25

O acordo "Chile-Madri, hora de agir", firmado pelos quase 200 países que participaram da 25ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP25), estabelece as bases para ampliar a atuação contra a mudança climática.
A seguir, os dez pontos chaves do documento final, apresentado neste domingo (15/12), em Madri apesar dos muitos impasses entre os negociadores, prolongando o evento por quase dois dias a mais do que o inicialmente previsto.

MAIOR AMBIÇÃO
Um dos principais temas da COP25 foi a necessidade de os países serem mais ambiciosos no combate à mudança climática. Os compromissos assumidos até então foram considerados insuficientes, e o texto final contém o apelo que isso mude. O documento estabelece as bases para que na COP26, em 2020, os governos apresentem novos compromissos de redução de emissões.

PAPEL DA CIÊNCIA
O acordo da COP25 reconhece que as políticas climáticas devem ser permanentemente atualizadas com base nos avanços da ciência, "eixo principal" a orientar as decisões climáticas nacionais. Também destaca o papel do Painel Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática da ONU (IPCC) e lhe agradece pelos dois relatórios especiais publicados neste ano.

TRANSVERSALIDADE
A cúpula de Madri termina com o consenso de que a luta contra a mudança climática é uma questão transversal, que afeta âmbitos como mercado financeiro, ciência, indústria, energia, transporte e agricultura, entre outros. Ministros de vários países afirmaram que seus governos assumem a agenda climática como própria.

OCEANOS E USO DO SOLO
Esses dois pontos estiveram entre os mais debatidos no plenário. O Brasil tentou tirar ambos no texto final, foi muito criticado por outros países e acabou cedendo no fim. O acordo traz referências ao impacto dos oceanos e do uso dos solos no clima, em linha com um dos relatórios publicados pelo IPCC em 2019. Haverá uma reunião específica sobre o assunto em junho de 2020.

GÊNERO
Os representantes dos quase 200 países que estão em Madri chegaram a um acordo para aprovar um novo Plano de Ação de Gênero, que será mais uma vez revisado em 2025. O objetivo é ampliar a participação de mulheres nas negociações climáticas internacionais e promover seu papel como agentes da mudança rumo a um mundo livre de emissões.

FINANCIAMENTO DE PERDAS E DANOS
O acordo prevê a criação de diretrizes para o Fundo Verde do Clima para que, pela primeira vez, o órgão destine recursos às perdas dos países mais vulneráveis a fenômenos climáticos extremos. Essa era a principal reivindicação dos pequenos países insulares, que sofrem diariamente com os efeitos do aquecimento global.
O documento também pede que os países desenvolvidos aloquem recursos financeiros para ajudar os países em desenvolvimento. Além disso nasce a Rede de Santiago, que levará assistência técnica de organizações e especialistas a esses países vulneráveis.

MERCADOS DE CARBONO

A regulação dos mercados de carbono foi um dos principais objetivos e dos tópicos mais debatidos da conferência. Inicialmente incluído no documento, o tema acabou de fora do texto final por falta de acordo e será discutido outra vez na próxima edição da COP25. Muitas delegações nacionais consideraram melhor não ter acordo do que firmar um pacto ruim.

MULTILATERALISMO
O multilateralismo e a cooperação internacional foram pontos destacados pela ministra espanhola da Transição Ecológica, Teresa Ribera. Para ela, a COP25 é uma reafirmação desses valores para resolver um desafio global como a mudança climática: "Embora em contextos globais complexos, a COP25 não deixou a agenda climática cair, num momento fundamental para a implementação do Acordo de Paris. Pelo contrário, exibiu um multilateralismo ativista."

SOCIEDADE E TRANSIÇÃO JUSTA
A importância da dimensão social foi reconhecida na COP25, com os países concordando que os seres humanos devem estar no centro da resposta à crise climática. Nesse sentido, o acordo diz ser imperativo que a transição para um mundo livre de emissões seja justa, promovendo criação de empregos decentes e de qualidade.

NOVO CICLO
O documento final também reconhece a importância dos atores não governamentais na ação climática e os convida a ampliar as ações para combater o problema. A existência de um marco de governança global como o Acordo de Paris abre um novo ciclo, e faz com que a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas não seja apenas um fórum para fixar regras. Fonte: Deutsche Welle-15.12.2019

domingo, 22 de dezembro de 2019

A rescisão de 310 milhões de reais do funcionário Marcelo Odebrecht

O funcionário celetista Marcelo Bahia Odebrecht, ex-presidente do grupo fundado por seu avô, foi demitido nesta sexta-feira por justa causa. Na prática, já havia perdido o cargo quando foi obrigado a renunciar em dezembro de 2015, após ser preso na Operação Lava Jato. Agora perde também o salário de 115.000 reais mensais e todos os benefícios — advogados, motoristas, secretários, assessores, seguranças — que a empresa garantiu, inclusive, durante os dois anos em que esteve preso, após ser condenado por corrupção.
O empresário de 51 anos, no entanto, sai com 310 milhões de reais, dos quais 240 milhões já foram pagos pela companhia, fruto de um acordo feito com a empresa para que ele aceitasse assinar a delação premiada com o MPF. Além de uma participação minoritária de 2,79%, que lhe garante alguma presença nos negócios do grupo, via Kieppe, holding da família controladora.

Em nota, a Odebrecht informa que o “desligamento do funcionário” atendeu à recomendação feita em outubro deste ano pelos monitores externos independentes do Ministério Público Federal (MPF) e do Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DoJ), que atuam na empresa há dois anos e meio. A “recomendação” tinha até o dia 31 de dezembro deste ano para ser acatada. Dos herdeiros, apenas Mauricio Odebrecht, o irmão mais novo de Marcelo, permanece no conselho da companhia.
A recomendação dos monitores foi de que nenhuma pessoa sem um “programa de ação” definido — basicamente uma tarefa que justifique sua contratação —, permanecesse no quadro de funcionários. Este era o caso de Marcelo, que, conforme o acordo de leniência, estava impedido de ter qualquer atuação na companhia. Apesar disso, quando teve sua pena progredida para o regime semiaberto, em setembro deste ano, voltou a frequentar a sede da Odebrecht em São Paulo. Dos 77 delatores da empresa, os monitores haviam autorizado a permanência de 19 no dia a dia dos negócios. Hoje apenas nove ainda trabalham na empresa.

Internamente, no entanto, a presença de Marcelo causava incômodo. O acirramento da crise familiar dos Odebrecht, que se arrasta desde o começo das investigações da Lava Jato, foi um fator determinante na decisão. Marcelo nunca concordou com as decisões tomadas pelo pai, Emílio, para salvaguardar a empresa. Mesmo preso, negava a possibilidade de fazer delação, uma medida defendida por seu pai, que conseguiu escapar da prisão.

Marcelo começou a trabalhar na Odebrecht logo após se formar no curso de engenharia civil, em 1992. Atuou como engenheiro júnior na construção de prédios em Salvador e depois nas obras da hidrelétrica do rio Corumbá, em Goiás. Inicialmente, de forma anônima. Em meio ao exército de engenheiros da empresa, não utilizava o sobrenome famoso para evitar o assédio aos herderios. Mas já no começo do milênio decidiu lutar por uma posição de liderança nos negócios, o que não agradou ao pai, que preferia uma sucessão profissional. Foi seu avó, o fundador Norberto Odebrecht, então com 82 anos de idade, que alçou Marcelo ao comando da construtora com apenas 34 anos, enquanto Emílio assumia o conselho de administração.


A Marcelo sempre se atribuiu o crescimento exponencial da Odebrecht, o que o novo presidente, Ruy Sampaio, contesta. “Ele recebeu uma empresa com quatro áreas de negócios e, em seu projeto de poder, aumentou para 17. Ele queria, a qualquer custo, ser o maior empresário da América do Sul. Este projeto de poder, que usou corrupção, nos trouxe a isso”, disse em entrevista ao Valor. Sampaio ingressou na companhia em 1985 e passou pelos anos dourados — a partir de 2009, quando Marcelo assume os negócios —, na diretoria da Kieppe, controladora da empresa, que também se beneficiou da corrupção. Fonte: El País - São Paulo - 20 DEC 2019 

sábado, 21 de dezembro de 2019

Economia informal cresce pelo 5º ano seguido no país

A economia informal avançou pelo 5º ano consecutivo no Brasil, segundo o Índice de Economia Subterrânea (IES), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO) e pelo Ibre/FGV. A chamada "economia subterrânea" movimentou R$ 1,12 trilhão ao longo do ano – o equivalente a 17,3% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, e semelhante ao PIB de países como Suécia e Suíça.
A alta, de acordo com as entidades, é reflexo da crise econômica, iniciada em meados de 2014 e que reduziu o mercado de trabalho e a participação do setor formal da economia. No mercado de trabalho, por exemplo, a informalidade bateu recorde, atingindo 41,2% em outubro.
O indicador foi criado em 2003 para medir a chamada economia subterrânea, que consiste na produção e comercialização de bens e serviços que não é reportada oficialmente ao governo, e leva em conta tanto a sonegação quanto o descumprimento de regulamentações trabalhistas e previdenciárias.


Com a nova alta registrada este ano, o indicador é o maior desde 2010, quando a economia informal equivalia a 17,6% do PIB.

Para Edson Vismona, presidente do Etco, para reverter esse quadro é necessária uma sólida recuperação do ambiente econômico e a melhora do relacionamento do fisco com o contribuinte, "simplificando procedimentos para os cidadãos que querem pagar seus impostos e autuando duramente os que estruturam sua atividade para sonegar impostos".

Alta do PIB
No terceiro trimestre deste ano, o PIB brasileiro cresceu 0,6% em comparação com o anterior, segundo dados divulgados no início do mês pelo IBGE – o equivalente a R$ 1,842 trilhão. Com isso, no acumulado em 12 meses a alta foi de 1%. Fonte: G1-18/12/2019

Comentário:
Segundo dados do trimestre encerrado em julho/2019,  divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),  o número de trabalhadores informais na população ocupada atingiu 38,683 milhões de brasileiros; número de desempregados  atingiu 12,4 milhões em outubro
Obs: Pessoas desalentadas - que desistiram de procurar emprego, não entra na estatística de desemprego e nem a população fora da força de trabalho.
Dados do INSS; 55 milhões de trabalhadores formais; 20,3 milhões de trabalhadores aposentados, 10,7 milhões de pensionistas do INSS. A conta futura não fechará.
Com esse dado o Balanço Previdenciário; trabalhador formal mais contribuições sociais, o resultado é um desiquilíbrio futuro da Previdência. Cada trabalhador na informalidade significa um contribuinte a menos para o sistema, fora os desempregados e desalentados.. Isso em escala produz consequências graves financeiros para o sistema previdenciário, provocando efeito dominó na sustentação do próprio programa. Existe um problema grave. Os próximos governos terão de descascar esse abacaxi.  É um vulcão social previdenciário.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Geração floco de neve: SnowFlake

O termo, que ganhou popularidade no meio político, se refere aos jovens adultos que não admitem ser contrariados e está até no dicionário
Não é fácil ouvir um não, receber críticas ou aceitar que o outro pense de modo diferente do seu. Mas tudo isso é essencial para que os relacionamentos cresçam de forma saudável. Parece conteúdo de um livro de autoajuda? Talvez.
Embora o tema esteja, de fato, se tornando cada vez mais frequente nos exemplares que chegam às livrarias de todo o mundo, o público ao qual eles tentam falar parece nem perceber que é com ele. No último ano, recebeu até nome: geração floco de neve — ou os jovens adultos que não aceitam ser contrariados.
A professora universitária Myrian del Vecchio tem percebido novos “integrantes” dessa população de poucos anos para cá na sala de aula. “Não devemos rotular uma geração, mas esta parece ter uma sensibilidade muito aflorada. Tenho alunos de 19, 20 anos, que não aceitam críticas, deixam de fazer trabalhos porque dizem estar deprimidos ou têm receio de enfrentar determinadas tarefas”, conta.

Um exemplo: na disciplina de redação, do curso de jornalismo da UFPR, Myrian costuma compartilhar leituras jornalísticas com a turma. São textos de autores renomados, como Eliane Brum (uma das mais premiadas jornalistas brasileiras) e Truman Capote, do clássico livro-reportagem “A Sangue Frio”.
Em geral, o conteúdo das obras é denso (tratam de temas como assassinatos, pobreza extrema, doenças mentais), mas essencial de ser abordado. E, segundo Myrian, muitos alunos não suportaram as leituras, ou se negaram a fazer os exercícios sobre as obras. “É claro que isso não se aplica à maioria, mas a realidade dura tem chocado bastante. Só que, querendo ou não, isso faz parte do jornalismo”, diz.
A psicanalista Juliane Kravetz explica que é comum algumas situações gerarem angústia, mas é importante tentar enfrentá-las. “Se torna um problema quando a pessoa passa a usar sua sensibilidade ou sintoma de depressão para mascarar algo que realmente pode ajudar em seu crescimento pessoal”, afirma.

ORIGEM DO TERMO É POLÍTICA
O termo ganhou popularidade há pouco mais de um ano no meio político, quando partidários da direita passaram a se referir à oposição como “pobres flocos de neve” durante as polêmicas acaloradas sobre o Brexit e as eleições norte-americanas (que tiveram como protagonistas Donald Trump e Hillary Clinton).
Mas bastou pouco tempo para que a crítica logo ultrapassasse as barreiras políticas e fosse adotada ao vocabulário dos cidadãos mundo afora.
O Dicionário Collins foi o primeiro a adotar o termo à lista de palavras do ano no início de novembro de 2016. Em seguida, o de Cambridge também acrescentou o significado de “geração floco de neve” em seu material.
Para Ulisses Natal, coordenador adjunto do curso de psicologia da PUCPR, estas são formas de traduzir as relações sociais e pessoais da modernidade. “É o espelho de como está a sociedade.”

O CULPADO É SEMPRE O OUTRO
Não é fácil admitir o próprio erro ou aceitar uma opinião contrária porque essas são questões que afetam o ego. Basta surgir uma situação que desperte um conflito de crenças (ou mesmo que desafie as potencialidades do indivíduo) para que os dedos em riste tomem o lugar da autoavaliação.
 “É muito fácil colocar a culpa no outro, mas é essencial refletir sobre as próprias frustrações de forma racional. A nota baixa que você recebeu é mesmo culpa do professor? Tem problema se alguém não concorda com o que você diz?”, questiona Natal.
Para ele, a raiz do problema está na falta de frustrações sofridas durante a infância. “As crianças precisam se frustrar. Quando os pais dizem sim para tudo, elas crescem achando que ninguém deve lhes impor limites”, diz.
Mas há esperança. Os dois especialistas são unânimes sobre como lidar com a frustração na vida adulta: o único modo é entender mais de si mesmo. “É preciso entender que a satisfação não precisa ser completa. Quando se tem a plenitude, não há mais nada a ser buscado”, afirma Kravetz.

NARCISIMO?
A dificuldade em admitir o próprio erro ou aceitar críticas construtivas, segundo a psicanalista, é uma forma de narcisismo exacerbado. “As pessoas falam muito de diversidade [de opiniões], mas caem em um discurso vazio, porque não aceitam ser contestadas”, comenta.
Já a professora não enxerga essa mudança como um sintoma do personagem do mito grego, que morreu ao ficar obcecado com a própria beleza. “Vejo como um receio, uma autodefesa. A gente tem que ir quebrando aos poucos essa capa protetora em que esses jovens se envolveram. Pode levar um tempo, mas acredito no amadurecimento durante o processo. Fonte: Gazeta do Povo -alterado em: 6 de dezembro de 2017.

COMENTÁRIO:

Geração floco de neve (do inglês Generation Snowflake) é um neologismo do idioma inglês usado para caracterizar os jovens adultos da década de 2010 como sendo mais propensas a se ofenderem e menos resistentes do que as gerações anteriores, ou como sendo emocionalmente muito vulneráveis para lidar com pontos de vista discordantes dos seus. O termo é considerado depreciativo. A expressão provavelmente se originou nos Estados Unidos  e entrou em uso mais amplo no Reino Unido em 2016. Fonte: Wikipédia

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Reino Unido: Partido Conservador ganha com ampla maioria

Com a maioria, os conservadores aumentaram significativamente seu poder, o que deve, inclusive, facilitar a aprovação do projeto de Johnson para o Brexit e garantir que o Reino Unido deixe a União Europeia em 31 de janeiro de 2020.

Para obter a maioria, um partido precisa de 326 assentos. Antes de ser dissolvido no dia 6 de novembro, o Parlamento tinha 298 conservadores e 243 trabalhistas.

O resultado foi considerado devastador para o Partido Trabalhista, que perdeu em uma série de locais historicamente ligados aos trabalhistas e só manteve alguns assentos graças a vitórias bastante apertadas.

Por outro lado, o Partido Nacional Escocês (SNP) comemorou um número de cadeiras acima do previsto em pesquisas. Das 59 vagas disponíveis na Escócia, o SNP obtinha, até às 5 horas locais, 48 vagas, superando as 35 que ocupava antes destas eleições.

O bom desempenho do partido da primeira-ministra Nicola Sturgeon - que tem entre suas propostas a realização de um novo plebiscito para independência do país - custou inclusive a cadeira de Jo Swinson, líder do Partido Liberal Democrata.

"A Escócia enviou uma mensagem muito clara - não queremos um governo Boris Johnson, não queremos deixar a UE", afirmou Sturgeon. "Os resultados no resto do Reino Unido são sombrios, mas sublinham a importância da Escócia ter uma escolha. Boris Johnson tem um mandato para tirar a Inglaterra da UE, mas ele deve aceitar que eu tenho um mandato para dar à Escócia uma escolha para um futuro alternativo", acrescentou.

BREXIT
Com a ampla maioria conquistada por seu partido nestas eleições, Johnson fica em uma posição muito mais confortável para conseguir promover a saída do Reino Unido da União Europeia em 31 de janeiro de 2020, como sempre prometeu.
Seu projeto não deverá enfrentar mais as mesmas dificuldades de antes para obter aprovação perante um Parlamento predominantemente conservador e a tendência é que avance rapidamente.
Mas a saída no dia 31 de janeiro, porém, caso aconteça, será apenas o primeiro passo oficial do Brexit.
Ainda é necessário negociar um acordo comercial com a União Europeia, e o prazo final para isso é 30 de junho de 2020.
A partir daí, dois cenários são possíveis: com um acordo fechado, ele precisa ser ratificado, um processo que pode levar meses, mas garante uma saída organizada. Sem o acordo, pode ter início a extensão de um período de transição que duraria até dois anos – algo que Johnson já descartou – ou uma saída sem acordo. Fonte: G1-13/12/2019

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

ONU divulga ranking do IDH; Brasil ocupa a 79ª posição

O Brasil ficou na 79ª posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) .
Medido anualmente, o IDH vai de 0 a 1 – quanto maior, mais desenvolvido o país – e tem como base indicadores de saúde, educação e renda.

RANKING
Apesar do leve aumento, o Brasil caiu uma posição no ranking mundial em relação à publicação anterior, passando da 78ª para 79ª. O Pnud revisa os índices a cada nova edição do relatório. No relatório atual, a posição do Brasil no ranking anterior foi alterada (de 79ª para 78ª).
Os dados do relatório publicado agora são de 2018. Dados deste ano serão divulgados na edição 2020 do levantamento.
Entre os países da América do Sul, Brasil e a Colômbia apareceram empatados na quarta posição. O primeiro lugar ficou com Chile (42º, na colocação geral), seguido de Argentina (48º) e Uruguai (57º), respectivamente.
Segundo o relatório, a taxa anual de crescimento do IDH brasileiro nos últimos 18 anos foi de 0,78%. No mesmo período, a expectativa de vida foi de 66 para 75 anos. Fonte: Human Development Report Office 2019. 
Ranking
País
Índice de desenvolvimento humano
Expectativa de vida
Ano de escolaridade esperado
Média de anos de escolaridade
PIB Per capita
1
Norway
0.954
82.3
18.1
12.6
68,059
2
Switzerland
0.946
83.6
16.2
13.4
59,375
3
Ireland
0.942
82.1
18.8
12.5
55,66
4
Germany
0.939
81.2
17.1
14.1
46,946
4
Hong Kong, China (SAR)
0.939
84.7
16.5
12.0
60,221
6
Australia
0.938
83.3
22.1
12.7
44,097
6
Iceland
0.938
82.9
19.2
12.5
47,566
8
Sweden
0.937
82.7
18.8
12.4
47,955
9
Singapore
0.935
83.5
16.3
11.5
83,793
10
Netherlands
0.933
82.1
18.0
12.2
50,013
11
Denmark
0.930
80.8
19.1
12.6
48,836
12
Finland
0.925
81.7
19.3
12.4
41,779
13
Canada
0.922
82.3
16.1
13.3
43,602
14
New Zealand
0.921
82.1
18.8
12.7
35,108
15
United Kingdom
0.920
81.2
17.4
13.0
39,507
15
United States
0.920
78.9
16.3
13.4
56,14
17
Belgium
0.919
81.5
19.7
11.8
43,821
18
Liechtenstein
0.917
80.5
14.7
12.5
99,732
19
Japan
0.915
84.5
15.2
12.8
40,799
20
Austria
0.914
81.4
16.3
12.6
46,231
América do Norte

13
Canada
0.922
82.3
16.1
13.3
43,602
15
United States
0.920
78.9
16.3
13.4
56,14
76
Mexico
0.767
75.0
14.3
8.6
17,628
América do Sul

42
Chile
0.847
80.0
16.5
10.4
21,972
48
Argentina
0.830
76.5
17.6
10.6
17,611
57
Uruguay
0.808
77.8
16.3
8.7
19,435
79
Brazil
0.761
75.7
15.4
7.8
14,068
79
Colombia
0.761
77.1
14.6
8.3
12,896
82
Peru
0.759
76.5
13.8
9.2
12,323
85
Ecuador
0.758
76.8
14.9
9.0
10,141
96
Venezuela (Bolivarian Republic of)
0.726
72.1
12.8
10.3
9,07
98
Paraguay
0.724
74.1
12.7
8.5
11,72
98
Suriname
0.724
71.6
12.9
9.1
11,933
114
Bolivia (Plurinational State of)
0.703
71.2
14.0
9.0
6,849
123
Guyana
0.670
69.8
11.5
8.5
7,615
América Central

56
Barbados
0.813
79.1
15.2
10.6
15,912
60
Bahamas
0.805
73.8
12.8
11.5
28,395
63
Trinidad and Tobago
0.799
73.4
13.0
11.0
28,497
67
Panama
0.795
78.3
12.9
10.2
20,455
68
Costa Rica
0.794
80.1
15.4
8.7
14,79
72
Cuba
0.778
78.7
14.4
11.8
7,811
73
Saint Kitts and Nevis
0.777
74.6
13.6
8.5
26,77
74
Antigua and Barbuda
0.776
76.9
12.5
9.3
22,201
89
Dominican Republic
0.745
73.9
14.1
7.9
15,074
89
Saint Lucia
0.745
76.1
13.9
8.5
11,528
94
Saint Vincent and the Grenadines
0.728
72.4
13.6
8.6
11,746
96
Jamaica
0.726
74.4
13.1
9.8
7,932
103
Belize
0.720
74.5
13.1
9.8
7,136
124
El Salvador
0.667
73.1
12.0
6.9
6,973
126
Guatemala
0.651
74.1
10.6
6.5
7,378
126
Nicaragua
0.651
74.3
12.2
6.8
4,79
132
Honduras
0.623
75.1
10.2
6.6
4,258
169
Haiti
0.503
63.7
9.5
5.4
1,665
BRICS

49
Russian Federation
0.824
72.4
15.5
12.0
25,036
79
Brazil
0.761
75.7
15.4
7.8
14,068
129
India
0.647
69.4
12.3
6.5
6,829
113
South Africa
0.705
63.9
13.7
10.2
11,756