Fotografias: haverá coisa mais preciosa? Em tempos arcaicos,
talvez. A minha avó costumava contar que o maior tesouro que trouxe da casa dos
pais eram as fotos de família. Álbuns e álbuns com fotos em preto e branco,
algumas coloridas (manualmente, claro) e impressas em cartão grosso. Todas elas
insubstituíveis. Estranho tempo, esse, em que os retratos valiam tanto como
ouro. Ou até mais que ouro.
Hoje vivemos o supremo paradoxo: nunca se tiraram tantas
fotos; nunca elas tiveram tão pouco valor.
O jornal "Guardian" avisa que 2014 será o ano em
que o mundo vai bater recordes no número de fotos tiradas: qualquer coisa como
3 trilhões. Esse excesso não pode ser coisa boa: a facilidade com que hoje se
tiram fotos é diretamente proporcional à facilidade com que nos esquecemos
delas.
Uma amiga, aliás, contava-me há tempos uma história
instrutiva: em três anos de maternidade, ela acumulara mais de mil fotos do
primogênito. Até descobrir que não tinha nenhuma para mostrar em papel ou em
moldura -permaneciam todas na memória do laptop, ou na câmera, ou no celular. À
espera de melhores dias.
Três trilhões de fotos para 2014, diz o
"Guardian". E, no fim de contas, é como se o mundo não tirasse uma
única foto que realmente importe. Fonte: Folha de São Paulo - 07/01/2014-João Pereira Coutinho, escritor
português
Comentário: Vivemos num mundo digital saturado. Tudo é
descartável. A novidade de ontem virou rotina no presente e amanhã estará morta.
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