quarta-feira, 7 de junho de 2023
terça-feira, 6 de junho de 2023
domingo, 4 de junho de 2023
Semana de quatro dias é o futuro do mundo do trabalho?
Trabalhar menos, mais tempo livre: para muitos empregados, a jornada semanal de quatro dias é um sonho. Alguns países já realizaram projetos-pilotos, outros ainda estão céticos. Quais são as vantagens e desvantagens?
Para início de conversa, semana
de quatro dias não é igual a semana de quatro dias. Há que distinguir entre
dois modelos: no primeiro, as 40 horas usuais são distribuídas por quatro dias,
em vez de cinco, resultando em jornadas diárias de dez horas. Esse modelo foi
introduzido na Bélgica, por exemplo, onde os empregados podem decidir se
preferem concluir suas tarefas em quatro dias, sem que haja uma redução da
carga total.
Também a Espanha inicia uma
fase de testes em empresas de pequeno e médio porte, em que 30% do pessoal terá
uma redução da carga horária de, no mínimo, 10%, mantendo-se o salário. E a
França experimenta a semana de 35 horas distribuídas por quatro dias. Também no
resto do mundo, esse modelo vem sendo aplicado há bastante tempo, por exemplo
na Nova Zelândia, Japão e Estados Unidos.
Mas quais são as vantagens e
desvantagens?
Vantagens da semana de quatro
dias:
Menos estresse com
produtividade igual
Os projetos-pilotos
realizados até agora têm acusado efeitos francamente positivos. Num estudo
britânico divulgado em 2023, os funcionários se mostraram menos estressados e
apresentavam risco menor de afecções psíquicas como o burnout (esgotamento
profissional).
Também a ansiedade, cansaço e
distúrbios de sono diminuíram no período dos testes que envolveram 61 empresas
com um total de cerca de 2.900 empregados. A maioria delas afirmou que
pretendia manter a jornada de quatro dias em caráter duradouro, estando o
aumento do bem-estar entre seu pessoal entre os principais motivos para essa
decisão.
Menos empregados doentes
Ao mesmo tempo, os
funcionários pediram menos licenças médicas. Motivo para tal seria o fato de
disporem de tempo suficiente para se recuperar, e a redução da pressão, avalia
a psicóloga Hannah Schade, do Instituto Leibniz Pesquisa sobre o Trabalho, da
Universidade Técnica de Dortmund.
Segundo ela, esse também é um
ponto importante para esclarecer como se poderia financiar a semana de quatro
dias. Pois cabe levar em consideração os altos custos de ter grande parte do
pessoal em licença médica, ou sofrendo distúrbios psíquicos dentro da empresa.
Mais igualdade de gênero,
menos escassez de mão de obra
A jornada semanal de quatro
dias também pode contribuir significativamente para mais equiparação de gênero
no local de trabalho. Como frisa a psicóloga laboral Schade, o estudo britânico
indicou que, nesse regime, os homens se ocupam mais das tarefas domésticas,
como o cuidado dos filhos ou de familiares necessitados.
Bernd Fitzenberger, diretor
do Instituto de Pesquisa de Mercado de Trabalho e Atividade Profissional, vê
ainda uma vantagem decisiva da jornada reduzida para o combate à escassez de
mão de obra: "Ela torna os empregos mais atraentes, potencializa o número
de candidatas e candidatos em campos nos quais as empresas estão procurando
pessoal ansiosamente."
Com a jornada reduzida, as
famílias poderiam coordenar melhor profissão e cuidados infantis, e para as
mulheres – que nos casais alemães continuam sendo quem tem que abrir mão da
carreira – seria mais fácil retornar ao expediente integral.
Vantagens para o clima?
É difícil aferir se a redução
da carga horária tem efeito concreto sobre o clima. O think-tank Konzeptwerk
Neue Ökonomie afirma em seu website, por exemplo, que com uma semana de quatro
dias "também o consumo de energia e recursos dos ramos e rotas para o
trabalho poderá ser diminuído". Como a pegada climática de cada
funcionário se reduz, contudo, depende do estilo de vida individual.
Empresas mais atraentes para
candidatas/os a emprego
Embora a jornada de quatro
dias seja acima de tudo uma reivindicação dos empregados, também os patrões
poderiam lucrar com sua implementação. "Toda empresa ganha uma dianteira
de competitividade se oferece a semana de quatro dias", afirma Schade.
Entretanto não é o modelo que
mantém as 40 horas que torna as firmas mais atraentes, mas sim uma redução
efetiva da carga horária, e, segundo a psicóloga, "para isso os candidatos
também estão dispostos a abrir mão de outras coisas".
Jovens utilizam computadores
e celulares em local de trabalho compartilhadoJovens utilizam computadores e
celulares em local de trabalho compartilhado
Desvantagens da semana de
quatro dias:
Pelo contrário: mais
estresse?
Uma desvantagem do modelo
poderia ser a condensação da carga de trabalho, aponta o economista Bernd
Fitzenberger. Ter que realizar mais em menos tempo também pode provocar mais
estresse. Na Bélgica, a carga de 40 horas é mantida, embora distribuída por
quatro dias. Os empregados têm a alternativa de diminuir essa carga, porém aí
também o salário sofre cortes proporcionais.
Dificuldade de medir
produtividade objetivamente
Holger Schäfer, do Instituto
da Economia Alemã (IW), em Colônia, está entre os economistas que veem a semana
de quatro dias com ceticismo: para ele, não está claro como se pode sequer
medir a produtividade, não havendo modo de "verificar acima de qualquer
dúvida como ela se desenvolveu nas empresas".
Seu colega Fitzenberger
aponta a possibilidade de que o novo modelo até mesmo acarrete aumento dos
custos empresariais, "lá onde a jornada reduzida ou a concentração da
carga de trabalho em quatro dias não pode ser compensada por incrementos de
produtividade".
Ameaça à competitividade
nacional
O chefe da bancada
parlamentar do Partido Liberal Democrático (FDP), Christian Dürr, se preocupa
que a introdução de jornadas reduzidas possa comprometer a competitividade da
indústria da Alemanha.
"Diante da gritante
escassez de mão de obra, a proposta de uma semana de quatro dias é francamente
incompreensível", declarou a jornais do Funke Mediengruppe. Para o líder
da sigla pró-empresariado, não há dúvida: em vez fortalecer a economia
nacional, esse novo regime de trabalho a prejudicaria.
Por sua vez, Fitzenberger
acha possível as firmas compensarem essa eventualidade configurando as rotinas
de trabalho mais produtivas, através de inovações tecnológicas.
Semana reduzida não é
praticável em todos os setores
Para o especialista em
mercado de trabalho, contudo, o problema maior é até que ponto o jornada de
quatro dias pode ser implementada nos diferentes setores da economia: "Vai
ser um desafio para campos em que os serviços precisam ser prestados aqui e
agora, em horários fixos, a clientes, a indivíduos que dependem de
cuidados."
Nos setores de cuidados
pessoais, segurança ou transportes, é mais difícil do que em outros adotar a
jornada de quatro dias: "Se aplicássemos uma norma rígida, afetando
igualmente todos os ramos, isso poderia comprometer a competitividade",
considera Fitzenberger.
Novas perspectivas para o
mundo do trabalho
"Mudança sempre
significa risco, também", lembra, e isso desencadeia medo. No entanto os
números já falam: numa pesquisa realizada na Alemanha, mais de três quartos se
pronunciaram pela adoção da jornada semanal em suas empresas, sobretudo os
consultados abaixo dos 40 anos de idade. Fonte:
Deutsche Welle - 08/05/2023
sábado, 3 de junho de 2023
quinta-feira, 1 de junho de 2023
domingo, 28 de maio de 2023
Seca na Espanha ameaça tornar azeite de oliva item de luxo
Oliveiras sofrem com falta de
água e altas temperaturas, e colheita deste ano deverá ser pior que a anterior,
que já foi ruim. Essencial na dieta mediterrânea, azeite custa hoje na Europa
50% mais que há um ano.
"Senhor, mandai-nos
chuva!", clamavam as vozes de uma recente procissão liderada por Sebastián
Chico, bispo da cidade de Jaén, capital da província de mesmo nome, no sul da
Espanha. Apesar do reforço de muitos olivicultores da região que acabaram se
juntando à caminhada religiosa, o pedido lançado aos céus ainda não foi
atendido.
No próprio dia da procissão,
o sol fustigava os olivais. Há meses não chove na província de Jaén. Se o tão
esperado milagre da água não acontecer logo, há o risco de grandes quebras de
safra pelo segundo ano consecutivo. Uma catástrofe para os agricultores que é
sentida também pelos consumidores: os preços do azeite, já bastante elevados,
devem subir ainda mais.
"Sem água, não tem
azeitona. E sem azeitona, a província sofre", preconiza o bispo Chico.
"Nossa economia depende da produção de azeitonas." Com cerca de 630
mil habitantes e 66 milhões de oliveiras, Jaén é considerada a mais importante
área olivícola do mundo. Aqui é produzido o azeite destinado a grande parte da
Europa.
Seca na Espanha: moradores de
Perelada, norte do país, carregam uma imagem de Jesus Cristo durante uma
procissão pedindo chuva, em 27 de abril de 2023.Seca na Espanha: moradores de
ÁGUA PARA PESSOAS E TURISTAS,
MAS NÃO PARA PLANTAS
Os meteorologistas, no
entanto, não trazem boas notícias para os agricultores. A escassez de água na
Espanha, que ameaça não apenas os olivicultores de Jaén, mas também grande
parte da agricultura espanhola, ainda deve continuar por muito tempo. Segundo a
agência meteorológica estatal Aemet, não há previsão de chuvas fortes até o
outono europeu, que começa em setembro. E os pesquisadores do clima alertam: a
longo prazo, a Espanha deve se preparar para temperaturas mais altas e ainda
menos precipitações.
O drama vivido pelos
moradores de Jaén se reflete nas barragens no interior do país. Agora, em plena
primavera, os reservatórios estão apenas 25% cheios. Isso é suficiente para
abastecer a população e os turistas com água potável, mas não os agricultores.
Embora precisem desesperadamente da água para salvar seus campos de oliveiras,
eles recebem apenas um quarto da quantidade normal.
OLIVEIRAS EM RISCO
"A situação é
catastrófica", diz Juan Luis Ávila, olivicultor de Jaén. "Este ano
não só a colheita está em perigo, mas o futuro das plantações de oliveiras como
um todo."
Nas últimas semanas, várias
ondas de calor, com temperaturas de quase 40 graus, literalmente queimaram as
flores brancas de muitas oliveiras. Grande parte da safra de azeitona,
normalmente colhida de novembro a fevereiro, já foi perdida, um panorama que
nunca foi tão ruim.
"A oliveira é capaz,
sim, de suportar temperaturas muito altas, mas apenas se receber água
suficiente", explica Ávila, que também é porta-voz da indústria olivícola
na associação de agricultores COAG. Quando há falta de água extrema, a árvore
não tem forças para formar frutos saudáveis.
A última temporada já havia
sido ruim. Escassez de chuvas e fortes ondas de calor também ocorreram em 2022,
o ano mais quente já registrado na Espanha. "Colhi 70% menos do que nos
anos anteriores", conta Ávila, prevendo que a próxima temporada irá trazer
ainda menos produção.
OUTROS PAÍSES TAMBÉM SOFREM
COM A SECA
O pessimismo de Ávila é
compartilhado pela maioria dos olivicultores espanhóis. Com quase 1,5 milhão de
toneladas de azeite oriundos da safra 2021/22, a Espanha viu sua produção cair
para apenas 680 mil toneladas em 2022/23 – menos da metade. Se as previsões
sombrias para 2023/24 se concretizarem, a próxima safra poderá registrar
grandes perdas novamente.
Mas não é apenas na Espanha
que esta seca do século vem causando danos gigantescos às colheitas. A situação
não parece estar muito melhor para os olivicultores em Portugal ou na Itália, o
que coloca pressão adicional sobre os preços do azeite no mercado europeu.
Segundo estatísticas da União
Europeia, quase 2,3 milhões de toneladas de azeite foram produzidas na Europa
em 2021/22, caindo para pouco menos de 1,4 milhão de toneladas em 2022/23. As
quebras de safra no setor oleícola europeu só não foram maiores devido à
Grécia, onde até agora houve menos falta de água. A Grécia foi o único país
produtor europeu que conseguiu aumentar sua produção de azeite na última safra.
FALTA DE ÁGUA ELEVA PREÇOS DE
ALIMENTOS
A seca nas plantações de
azeitona tem feito com que os preços do óleo subam para níveis recordes: de
acordo com uma pesquisa da UE, o azeite na Europa custa hoje em média 50% a
mais do que doze meses atrás. O que significa que o azeite, parte indispensável
da famosa dieta mediterrânea, corre risco de se tornar um item de luxo.
"O choque do custo do
azeite é uma evidência de que a seca está causando o aumento dos preços dos
alimentos", escreve o El País, o maior jornal da Espanha. De acordo com os
últimos dados disponíveis (de março de 2023), os preços dos alimentos no país
aumentaram 16,5% em doze meses – em toda a UE, o aumento foi de até 19,2%. A
crise climática poderia desencadear uma crise alimentar?
MISTURA DE AZEITE COM ÓLEO DE
GIRASSOL
Na tentativa de contornar a crise, alguns fabricantes espanhóis têm usado a criatividade. Uma das soluções encontradas foi misturar o precioso azeite de oliva com óleo de girassol, que é muito mais barato, e vender o novo "produto" a preços mais baixos. O fato de se tratar de uma mistura, camuflada por um rótulo de azeitonas verdes e brilhantes, só fica claro para quem se dá ao trabalho de ler as letras miúdas. Fonte: Deutsche Welle - 08/05/2023