Homem não vê baleia que passou do seu lado porque estava enviando
mensagens no celular
Concentrado em seu smartphone, um americano nem percebeu que
uma baleia jubarte estava ao lado de seu barco na costa de Redondo Beach, no
estado da Califórnia (EUA).
O fotógrafo americano Eric Smith capturou um desses
incríveis momentos da vida perdidos por conta do vício em tecnologia. Ele
flagrou uma linda baleia e seu filhote imergindo da água, em Redondo Beach, na
Califórnia, ao lado de um rapaz que nem notou os animais porque estava
digitando algo no celular.
Os enormes animais estavam a apenas um metro de distância do
veleiro onde o homem estava sentado no convés, mas ele não viu as baleias.
Smith então publicou a imagem em seu Instagram, com a
legenda: “Sinal dos tempos. Ei, cara! Pare de enviar mensagens. Há uma enorme
baleia jubarte a um metro do seu barco!”.
O fotógrafo afirmou que tinha cinco fotos das baleias em
volta do barco, mas o homem estava olhando para seu telefone em todas elas. Em
entrevista à rede de TV “ABC News”, porém, o artista disse que preferiu não
julgar o homem “desligado”. Fonte: O Globo - 06/02/2015
Do homem no celular que não viu a baleia passar e o retrato de nossos
tempos
Há alguns dias li uma curiosa matéria publicada no site O
Globo sob o título: “Homem não vê baleia que passou do seu lado porque estava
enviando mensagens no celular”.. De acordo com o texto, o rapaz em
seu veleiro perdeu um verdadeiro espetáculo da natureza: uma enorme baleia
jubarte passando a pouquíssimos metros da embarcação.
Confesso que quando passei o olhar ligeiramente sobre a
chamada, pensei que devesse se tratar de apenas mais uma das diversas notícias
duvidosas ou falaciosas que comumente circulam pelas redes sociais. Não era
possível! Como um homem não poderia perceber uma visita nada discreta e tão
rara?
Ao que tudo indica sim, é possível. A Aldeia Global de
McLuhan parece realmente ter se esfacelada. Ou não: ao mesmo tempo em que
parecemos estar todos mais próximos, seja por whatsapp, facebook, skype, sms,
etc., paradoxalmente estamos nos afastando do momento presente e de tudo aquilo
que acontece ao nosso redor. São os dois lados de uma mesma moeda, consequência
da dinâmica de globalização tecnológica.
De fato, já podemos observar uma geração de jovens cada vez
mais desinteressada e apática. Se por um lado testemunhamos uma era de
co-presença virtual dos indivíduos, a era dos humanos ligados ao instante, por
outro podemos observar o surgimento de um ser humano cada vez mais distante e
indiferente, em outras palavras, insípido. Este novo ser está tão conectado (ao
mundo online) que acaba por se desconectar de sua própria realidade concreta e
palpável, acontecendo exatamente no seu entorno, a cada instante e minuto.
E o que pode acontecer em um minuto? Bem, em um minuto podem
ser postadas 72 horas de vídeo no YouTube, enquanto 204 milhões de emails
chegam aos seus destinatários e 350 GB de dados são recebidos pelos servidores
do Facebook…ou pode passar uma baleia ao seu lado (se estiver em alto mar, é
claro). De qualquer forma, estes foram os dados angariados pela Qmee, empresa
de consultoria norte-americana, e diz respeito a uma parte do que acontece pela
internet afora enquanto em um minuto um evento precioso pode passar
despercebido.
E assim a vida transcorre de minuto a minuto. As informações
coletadas nos revelam que estamos deixando a vida passar enquanto ficamos
hipnotizados pelo visor e por uma exacerbada interação a distância. Não sei se
foi exatamente esse o caso do rapaz que perdeu a chance extraordinária de
experimentar a real sensação de estar lado a lado com um dos maiores animais do
planeta.
Não há como tirar conclusões, muito menos julgar a atitude
do homem no veleiro como certa ou errada. Mas faz pensar sobre as consequências
da extrema conectividade que parece estar suplantando o interesse pelas coisas
mais simples do mundo. E que mundo é esse que parece já não surtir tanta
graciosidade sobre os nossos olhos, que buscamos tão fervorosamente escapar,
distraindo-nos?
Reinventar a graça do mundo é reinventar o olhar, é abrir-se
sensivelmente para a realidade que o cerca ao enxergá-la como se fosse pela
primeira vez. Você poderá se surpreender! Fonte: ContiOutra – 16 de fevereiro de 2015 - Texto de Grace Bender