A
novela que terminou na prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na
noite de sábado, dia 7 de abril, é longa e cheia de reveses. Começou há quatro
anos, com o início da operação Lava Jato, e nada garante que já chegou ao fim.
Passa pela prisão de grandes figurões da política e do empresariado brasileiro,
batalhas judiciais, performances midiáticas e até pela morte de um ministro do
Supremo Tribunal Federal. O EL PAÍS destacou os principais acontecimentos desse
enredo que, por ora, afasta das urnas um dos principais atores da política
nacional nas últimas décadas.
2014-MARÇO:
COMEÇA O CASO PETROBRAS
Em
uma operação praticamente rotineira sobre crimes financeiros, a polícia detém
várias pessoas, entre elas um homem chamado Alberto Yousseff. Uma vez na
prisão, esse homem com antecedentes criminais, mas também contatos importantes
entre a elite, diz que poderia derrubar a República com as informações que
tinha. Em pouco tempo, prendiam Paulo Roberto Costa, diretor de Abastecimento
da Petrobras entre 2004 e 2012. A operação, chamada de Lava Jato, torna-se algo
mais complicado que revela um gigantesco esquema de corrupção na petroleira
estatal. No exterior, a operação ficou conhecida como 'Caso Petrobras'.
5 DE
FEVEREIRO: O TESOUREIRO DO PT É INTERROGADO
Agentes
policiais e promotores interrogaram de surpresa João Vaccari Neto, tesoureiro nacional
do Partido dos Trabalhadores (PT), conduzido de forma coercitiva à delegacia.
Os policiais federais tiveram que pular o muro para entrar em sua casa em São
Paulo, porque foram proibidos de entrar. Vaccari estava no cargo político mais
alto entre os interrogados até então.
6 DE
MARÇO: INVESTIGAÇÃO DE SENADORES E DEPUTADOS
O
Supremo Tribunal Federal (STF) autoriza a investigação de 12 senadores e 22
deputados por corrupção na Petrobras.
19
DE JUNHO: MARCELO ODEBRECHT É PRESO
O
empresário Marcelo Odebrecht, presidente da todo-poderosa construtora que leva
seu sobrenome, é preso. Depois, seria condenado a 19 anos e quatro meses de
prisão. Tenta diminui a pena em troca de revelar todos os subornos que fez a
políticos brasileiros, de todas as vertentes, durante décadas.
3 DE
AGOSTO: PRESO UM EX-MINISTRO DE LULA
José
Dirceu, ex-chefe de Gabinete de Lula, e um dos nome mais importantes do PT, é
preso. No ano seguinte seria condenado a duas penas de prisão, de 20 anos e 10
meses, e de 11 anos.
25
DE NOVEMBRO: ENVOLVIMENTO DE LULA E DILMA
O
senador do PT Delcídio Amaral é preso por obstruir a investigação sobre o
esquema de corrupção na Petrobras. Amaral decide confessar e implica na trama a
então presidenta Dilma Rousseff e Lula.
5 DE
FEVEREIRO: POLÍCIA INVESTIGA LULA POR TRÁFICO DE INFLUÊNCIA
Um
documento entregue à Justiça pela Polícia Federal informava que o ex-presidente
estava sendo investigado na operação de “venda” de medidas provisórias –
projetos de lei com caráter de urgência, aos quais o Parlamento deve dar
prioridade – que beneficiaram fabricantes de automóveis.
26
DE FEVEREIRO: LULA APRESENTA SUA DEFESA POR ESCRITO
O
ex-presidente Lula apresentou sua defesa por escrito ao Ministério Público de
São Paulo que o investigava por suspeita de envolvimento no esquema de
corrupção da Lava Jato.
4 DE
MARÇO: LULA É ACUSADO DE ENRIQUECER ILICITAMENTE
Lula
recebeu nesse dia o que seria, até então, o golpe mais duro de sua carreira. Às
seis da manhã de sexta-feira, a polícia chegou à casa do ex-presidente em São
Bernardo do Campo, no ABC paulista, revistou a residência e levou Lula para
depor por suspeita de corrupção. Não saiu nada digno de nota daquela confissão.
9 DE
MARÇO: MINISTÉRIO PÚBLICO DENUNCIA LULA
O
Ministério Público de São Paulo denunciou o ex-presidente por lavagem de
dinheiro e ocultação de patrimônio. O MP-SP acusava Lula e sua esposa, Marisa
Letícia, de ocultar a propriedade de um apartamento de luxo no Guarujá, litoral
paulista.
16-18
DE MARÇO: DE MINISTRO A EX-MINISTRO EM UM DIA
Lula
durou apenas um dia como ministro de Dilma. Em 16 de março, a então presidenta
nomeou-o ministro, um cargo que lhe oferecia proteção contra uma investigação
de lavagem de dinheiro. Lula tomou posse no dia 17 e, apenas um dia depois, o
magistrado do STF Gilmar Mendes suspendeu a nomeação. Com isso,
automaticamente, tirou-lhe a imunidade de que desfrutam os ministros, e
devolveu o processo sobre o ex-presidente ao juiz Sérgio Moro, responsável pela
operação Lava Jato em Curitiba.
22
DE MARÇO: UM SISTEMA DE CORRUPÇÃO “PROFISSIONAL” NA ODEBRECHT
Os
investigadores descobriram um sistema “profissional” de corrupção baseado no
pagamento de subornos da construtora Odebrecht. As suspeitas eram de que altos
executivos do grupo operavam um esquema de contabilidade paralela chamado
“setor de operações estruturadas” destinado a pagar propinas e que possuía até
um sistema eletrônico próprio. Oito executivos foram presos. Havia um
departamento inteiro da empresa dedicado a administrar as propinas.
12
DE MAIO: TEMER, NOVO PRESIDENTE DO PAÍS
Dilma
sofre impeachment acusada de adulterar as contas públicas, um processo que não
tem nada a ver com a Lava Jato: muitos suspeitam, porém, que o impeachment foi
feito apenas para pôr no poder alguém que, diferentemente de Dilma, estivesse
disposto a frear as investigações. Michel Temer, vice-presidente, assume a
presidência interina.
29
DE JULHO: LULA, INDICIADO POR TENTAR SUBORNAR UM ACUSADO DA PETROBRAS
Um
juiz de Brasília indiciou Lula, junto a outras cinco pessoas, pelo crime de
obstrução de Justiça e o acusou de fazer parte de um esquema que tentou comprar
o silêncio de um dos acusados que, segundo o Ministério Público, iria
denunciá-los. O promotor pediu uma pena de prisão de três a cinco anos para o
petista.
31
DE AGOSTO: IMPEACHMENT DE DILMA
Dilma
foi destituída definitivamente pelo Senado, encerrando o processo de
impeachment, que pôs fim ao mandato da primeira presidenta do Brasil e a 13
anos do PT no poder. Temer foi empossado como presidente.
20
DE SETEMBRO: MORO ACEITA DENÚNCIA CONTRA LULA
O
juiz Sérgio Moro considerou que a denúncia apresentada pelo Ministério Público
possuía “indícios suficientes de autoria e materialidade” e admitiu o trâmite.
O Ministério Público havia denunciado Lula por corrupção passiva e lavagem de
dinheiro. Acusava-o de ter recebido 3,7 milhões de reais em propinas da
construtora OAS que teriam sido usados na reforma de um apartamento.
26
DE SETEMBRO: PALOCCI É PRESO
A
polícia prende o ex-ministro da Fazenda de Lula e ex-chefe de Governo de Dilma
Antonio Palocci
13
DE OUTUBRO: O JUIZ ACEITA A TERCEIRA ACUSAÇÃO CONTRA LULA
A
Justiça acata outra denúncia contra Lula. Os promotores solicitaram que o
petista fosse condenado por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro (crime
esse que, segundo os investigadores, cometeu 44 vezes). O caso está relacionado
com as obras realizadas pela Odebrecht em Angola com a ajuda de empréstimos do
BNDES.
10
DE DEZEMBRO: QUARTA ACUSAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
Lula
é acusado de tráfico de influência na compra de 36 caças. O Ministério Público
acredita que o ex-presidente pressionou para que o Governo declarasse a empresa
sueca Saab vencedora em uma licitação para a aquisição das aeronaves.
19
DE DEZEMBRO: QUINTA DENÚNCIA CONTRA LULA
O
juiz aceita a quinta denúncia do Ministério Público contra o ex-presidente no
marco da Operação Lava Jato, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Segundo o promotor, ele recebeu propinas através do ex-ministro Antonio
Palocci, hoje na prisão.
19
DE JANEIRO: TEORI ZAVASCKI MORRE EM ACIDENTE AÉREO
O
ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF, morre na queda do avião
em que viajava no Rio de Janeiro
17
DE ABRIL: REVELAÇÕES DA ODEBRECHT AFETAM O MITO LULA
A
temida confissão dos executivos da Odebrecht se torna pública. Setenta e oito
das pessoas mais poderosas do setor privado do pais contam às autoridades como
compravam favores, contratos e leis de toda a classe política brasileira,
durante anos. Ninguém se salvou, nem da direita nem da esquerda, nem da
oposição nem do Governo. Mas atingiu sobretudo Lula, ou melhor, o mito de Lula;
a fábula de um incorruptível engraxate, amigo dos pobres e não do dinheiro, que
acabou presidindo o país entre 2002 e 2010 e tirando 30 milhões de pessoas da
pobreza.
28
DE ABRIL: LULA DEVOLVE PRESENTES
Um
juiz ordena que Lula devolva 26 presentes, entre eles uma escultura de Miró,
que recebeu como chefe de Estado e que, em sua opinião, pertenceriam ao acervo
oficial da Presidência da República
10
DE MAIO: LULA DEPÕE PERANTE O JUIZ MORO
O
ex-presidente negou as acusações de corrupção que o colocariam dentro da Lava
Jato em uma audiência de cinco horas com o juiz Sérgio Moro em Curitiba. Depois
do encontro, o ex-presidente se dirigiu à praça onde cerca de cinco mil simpatizantes
– segundo dados da polícia – se manifestavam em seu apoio. Em cima do palco, de
microfone na mão, Lula declarou, referindo-se a si mesmo: “Se a elite não tem
competência de consertar este país, um metalúrgico com quarto ano primário vai
consertar.”
22
DE MAIO: NOVA DENÚNCIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO
Lula
é novamente denunciado no marco da Operação Lava Jato. Desta vez, os promotores
o acusam de corrupção e lavagem de dinheiro junto com outras 12 pessoas, por
supostos benefícios ilegais na reforma, paga por duas construtoras, de um sítio
em Atibaia, no interior de São Paulo
12
DE JULHO: LULA CONDENADO A NOVE ANOS DA PRISÃO
O
juiz Sérgio Moro condena Lula a nove anos da prisão ao considerá-lo culpado de
aceitar e reformar um triplex avaliado em 3,7 milhões de reais no litoral de
São Paulo, pago pela construtora OAS em troca de contratos públicos. Cabia
recurso na segunda instância.
13
DE JULHO: LULA NÃO DESISTE DA CANDIDATURA NAS ELEIÇÕES DE 2018
O
ex-presidente desafia o juiz: “Esta sentença não me deixa fora do jogo”. O
ícone da esquerda brasileira não renuncia a sua candidatura nas eleições de
2018. A condenação de Lula por corrupção – contra a qual cabe recurso –
complicou ainda mais o já complexo panorama político brasileiro, mas o
ex-dirigente insiste que esse é apenas um obstáculo no caminho.
19
JULHO: JUSTIÇA BRASILEIRA BLOQUEIA QUATRO CONTAS BANCÁRIAS DE LULA
O
Banco Central bloqueia 606.727 reais de quatro contas bancárias pertencentes ao
ex-mandatário. A decisão, que impede Lula de fazer uso desses recursos, foi
tomada pelo juiz federal Sergio Moro. O magistrado também pediu o bloqueio de
outros bens do ex-presidente: dois carros, três apartamentos em São Bernardo do
Campo e um terreno.
12
SETEMBRO: SEGUNDA DENÚNCIA DO PROMOTOR CONTRA LULA EM MENOS DE UMA SEMANA
O
Ministério Público apresenta uma nova denúncia contra Lula, a segunda em menos
de uma semana, acusado de favorecer empresas privadas em troca de recursos para
o Partido dos Trabalhadores.
13
DE SETEMBRO: LULA VOLTA A DEPOR PERANTE MORO E DIZ SER VÍTIMA DE UMA “CAÇA ÀS
BRUXAS”
Pela
segunda vez em quatro meses, o ex-presidente do Brasil voltou a ficar frente a
frente com Sérgio Moro. Lula depôs durante duas horas. Nessa nova audiência, o
ex-presidente enfrentava acusações similares, suspeitas de doação de terrenos
para o Instituto Lula e de outro imóvel por parte da construtora Odebrecht.
Lula negou tudo e voltou a se mostrar desafiante perante o juiz. Acusou-o de
promover uma “caça às bruxas” contra ele.
20
DE DEZEMBRO: LULA DISPARA NAS PESQUISAS ENQUANTO AVANÇA O PROCESSO QUE PODE
TORNÁ-LO INELEGÍVEL
A
popularidade do ex-presidente cresceu 16 pontos percentuais desde junho até
situar-se em 45%, mais que o dobro de seus potenciais adversários, o
ultradireitista Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, de
centro. “Eu tenho a tranquilidade de que vou ser absolvido porque para um
cidadão ser condenado ele tem que ter cometido um crime. E não tem [crime]. Eu
duvido que nesse país tenha alguém com a consciência mais tranquila do que a
minha. A minha condenação será a negação da Justiça”, declarou o ex-presidente.
24
DE JANEIRO: SEGUNDA INSTÂNCIA JULGA LULA E AUMENTA SUA PENA
Três
juízes da segunda instância revisam a condenação de nove anos de prisão contra
Lula. Para muitos, o julgamento tem nuances políticas e busca julgar a
honestidade e a personalidade de quem foi referência da esquerda de toda a
América Latina. Os magistrados ratificaram por unanimidade sua condenação por
crime de corrupção e lavagem de dinheiro, e aumentaram a pena de 9 para 12 anos
da prisão. A expectativa em todo o país foi evidente e a sessão do tribunal, de
mais de seis horas, foi transmitida pela televisão e internet.
3 DE
FEVEREIRO: JUIZ DEVOLVE O PASSAPORTE DO EX-MANDATÁRIO
Depois
de duas semanas de reveses judiciais, o ex-presidente conseguiu celebrar uma
pequena vitória. Um magistrado lhe devolveu o passaporte que havia sido retido.
Uma decisão que não lhe permitiu comparecer a um evento da ONU na Etiópia.
Depois disso, a defesa de Lula apresentou um 'habeas corpus' para tentar evitar
a prisão.
7 DE
MARÇO: JUSTIÇA REJEITA PRIMEIRO RECURSO APRESENTADO POR LULA
O
STJ, a penúltima instância judicial do país, rejeitou o pedido de habeas corpus
apresentado pela defesa do ex-mandatário. Com esse movimento, Lula pretendia
frear a execução imediata da sentença que o condenou a 12 anos de prisão. A
decisão foi tomada por unanimidade.
27
DE MARÇO: LUZ VERDE PARA O INGRESSO NA PRISÃO
O
mesmo tribunal que ratificou sua condenação dois meses antes ordenou que o
magistrado Sérgio Moro levasse a cabo o ingresso de Lula na prisão. Moro,
responsável por julgar o ex-mandatário, foi quem proferiu a primeira
condenação. O prazo para acatar a ordem do tribunal era de 12 dias, uma vez
esgotados os prazos para recorrer (de dez dias) e de responder aos recursos (48
horas).
28
DE MARÇO: TENSÃO POLÍTICA PROVOCA UMA ESCALADA DE VIOLÊNCIA NAS RUAS
A
figura de Lula, com tudo o que acontece em torno dele, provocou uma convulsão
social no Brasil em um ambiente político polarizado. Um dos incidentes ocorreu
quando três disparos alcançaram dois ônibus de uma caravana eleitoral do
ex-presidente, sem fazer vítimas. Lula deu por encerrada a excursão eleitoral
24 horas depois do acontecido. “Nossa caravana está sendo perseguida por grupos
fascistas. Já jogaram ovos, pedras. Hoje, até atiraram contra um ônibus”,
indicou o próprio Lula.
4 DE
ABRIL: MILITARES LANÇAM OFENSIVA NAS REDES SOCIAIS
A
cúpula do Exército entrou totalmente na campanha de pressões ao sistema
judiciário do país com mensagens de advertência sobre a decisão do Supremo
quanto ao 'habeas corpus' do ex-presidente. O chefe das Forças Armadas chegou a
escrever no Twitter: “o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de
todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição”.
Outros generais, em tom mais exaltado, publicaram mensagens como “Comandante!
Estamos juntos na mesma trincheira” ou “aguardo suas ordens”.
5 DE
ABRIL: STF REJEITA O ÚLTIMO RECURSO DE LULA
Por
uma estreita margem de seis votos a cinco, os magistrados do STF rejeitaram o
último recurso de Lula. Fonte: El País-Madri 7 ABR 2018