Ao
concentrar seus principais investimentos fora do país durante uma década, a JBS
se tornou uma das multinacionais brasileiras mais internacionalizadas.
A
compra de empresas como a americana Swift por US$ 1,4 bilhão, que em 2007
permitiu a entrada no mercado de bovinos e suínos dos Estados Unidos, ou a
Pilgrim's Pride, do segmento de aves, por US$ 2,8 bilhões, em 2009, são alguns
dos negócios que a levaram à liderança do ranking de internacionalização de
múltis brasileiras realizado pela FDC (Fundação Dom Cabral) por quatro anos.
O
perfil agressivo na expansão da brasileira logo incomodou concorrentes
estrangeiros, que tentaram barrar a compra da Swift, em 2007, reclamando da
forma de financiamento da JBS, que tinha o BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social) como principal financiador de suas
aquisições e também sócio.
"O
financiamento pelo BNDES foi uma decisão acertada porque esse é um setor em que
o Brasil tem tradição e vantagem competitiva", afirma Marcos Elias,
estrategista da Modena.
Para
Marco Saravalle, da XP Investimentos, a internacionalização da empresa sempre
foi defensável.
"Em
termos de finanças, faz todo sentido diversificar a proteína, expandindo para
suínos e aves, e a geografia, buscando mais mercados, pois isso reduz o risco e
diminui a exposição à instabilidade da commodity", diz.
NO
MAPA
À
medida em que a empresa foi buscando novos mercados na Austrália e na Europa,
além de intensificar sua presença nos EUA, a operação brasileira perdeu
relevância. O país representa hoje apenas 16% da receita, enquanto seu maior
mercado, o americano, equivale a 47%.
"Em
2007, até mais de 50% da receita vinha de fora porque ela sempre exportou. Mas,
se olharmos a quantidade de empresas controladas no exterior, veremos que ela
praticamente só cresceu fora na década", diz Saravalle.
A
exceção foi a compra da Seara, em 2013, por R$ 5,85 bilhões, que, embora tenha
sido um negócio no Brasil, contribuiu para transformar a JBS na maior
processadora de frangos do mundo.
A
JBS foi a primeira no ranking de internacionalização da FDC de 2010 a 2013 e só
perdeu posição no ano seguinte porque adquiriu a Seara no Brasil, diluindo a
proporção de receitas, funcionários e investimentos no exterior. Em 2016,
retomou a trajetória de alta na lista.
CRISE
DE IMAGEM
Diante
da crise de imagem que a empresa vive desde que os controladores Joesley e
Wesley Batista fizeram a delação na Lava Jato, a perspectiva de futuro da
expansão mundial fica comprometida.
A
crise já suspendeu o plano da família Batista de abrir capital em Nova York, o
que permitiria um novo salto em sua expansão internacional.
Para
Livia Barakat, professora da FDC, ainda é difícil estimar o impacto da crise na
internacionalização futura.
"Vai
depender de como ela será percebida pelo mercado externo. Pode vir a afetar a
confiança", diz Barakat.
O
professor Frederico Martini, do Ibmec, estima um prejuízo para a imagem não só
da JBS mas de outras companhias brasileiras que queiram se expandir no exterior.
JBS
MUNDO AFORA
Número
de funcionários
2006
– 19 mil
2016-
235 mil
CRONOLOGIA
DA JBS
2005-Adquire
a produtora e exportadora de carne bovina Swift-Armour na Argentina
2007-Entra
nos mercados de bovinos e suínos nos EUA e na Austrália com aquisição da Swift
Company
2008-Compra
a Tasman Group (Austrália), a Smithfield Beef, divisão de bovinos da Smithfield
Foods (EUA), e confinamentos da Five Rivers
2009-No
ano em que incorpora o frigorífico Bertin, no Brasil, ela entra no mercado
americano de aves com o controle da Pilgrim's Pride
2010-Mais
aquisições: Tatiara Meats, Rockdale Beef (Austrália) e Toledo (Bélgica),
McElhaney (EUA)
2013-Adquire
a Seara Brasil, passando a ser a maior processadora de frangos do mundo
2014-Leva
as operações de aves da Tyson no Brasil e no México. Também leva o Grupo Primo
SmallGoods, de processados a base de carnes (Austrália)
2015-Avança
na Europa, com a compra da Moy Park, de processamento de aves e fabricação de
preparados, com unidades em Reino Unido, França, Holanda e Irlanda. Leva também
a unidade de suínos da Cargill (EUA)
2016-A
Pilgrim's adquire a GNP, de produtos de valor agregado de frango (EUA)
Fonte: Folha
de São PAULO - 28/05/2017