Donald Trump tomou posse nesta
sexta-feira (20) como 45º presidente dos Estados Unidos. Em um discurso de
pouco menos de 20 minutos, o novo presidente prometeu transferir o poder
político do país de Washington para os americanos e disse que o povo não será
ignorado pelo governo. Trump ainda ressaltou a necessidade de priorizar o país,
e criticou os políticos tradicionais.
Leia abaixo a íntegra do discurso de posse de Trump, com comentários de
Raul Juste Lores.
Juiz presidente do Supremo
Roberts, presidente Carter, presidente Clinton, presidente Bush, presidente
Obama, meus concidadãos americanos e povos do mundo: obrigado.
Nós, os cidadãos da América, nos
unimos agora em um grande esforço nacional para reconstruir nosso país e
restaurar sua promessa para toda nossa população.
Juntos, vamos determinar o rumo
da América e do mundo por anos pela frente.
Vamos enfrentar desafios. Vamos
encarar dificuldades. Mas daremos conta do recado.
A cada quatro anos nós nos
reunimos nestes degraus para realizar a transferência de poder ordeira e
pacífica, e somos gratos ao presidente Obama e à primeira-dama Michelle Obama
por sua ajuda gentil nesta transição. Eles foram magníficos.
Agradecimentos ao antecessor são
uma civilizada praxe.
A cerimônia de hoje, contudo,
encerra um significado muito especial. Porque hoje não estamos apenas
transferindo o poder de uma administração a outra, ou de um partido a outro
–estamos transferindo o poder de Washington e devolvendo-o a vocês, o povo americano.
Durante tempo demais, um grupo
pequeno na capital de nosso país auferiu os benefícios do governo, enquanto o
povo arcou com os custos.
Antipolítico e
anti-establishment, a retórica que o elegeu.
Washington prosperou –mas o povo
não compartilhou sua riqueza.
A região metropolitana é das mais
ricas do país, incólume à crise de 2008.
Os políticos prosperaram –mas os
empregos partiram, e as fábricas foram fechadas.
O establishment se protegeu, mas
não protegeu os cidadãos de nosso país.
As vitórias dos políticos não têm
sido as vitórias de vocês; os triunfos deles não têm sido os seus triunfos; e,
enquanto eles festejavam na capital de nossa nação, as famílias em todo nosso
país que passavam por dificuldades tinham pouco o que festejar.
Isso tudo vai mudar –começando
aqui mesmo, e agora mesmo, porque este é o momento de vocês: ele pertence a
vocês.
Ele pertence a todos os que estão
reunidos aqui hoje e todos que estão assistindo em toda a América.
Este é o dia de vocês. É a festa
de vocês.
E este país, os Estados Unidos da
América, é o seu país.
O que importa verdadeiramente não
é qual partido controla nosso governo, mas se nosso governo é controlado pelo
povo.
O dia 20 de janeiro de 2017 será
recordado como o dia em que o povo tornou-se governante deste país outra vez.
Os homens e mulheres esquecidos
de nosso país não serão mais esquecidos.
Todos os estão ouvindo agora.
Vocês vieram às dezenas de
milhões para tornarem-se parte de um movimento histórico que o mundo nunca
antes viu.
Ao centro desse movimento está
uma convicção crucial: que uma nação existe para servir a seus cidadãos.
Os americanos querem ótimas
escolas para seus filhos, bairros seguros para suas famílias e bons empregos
para eles mesmos.
São as reivindicações justas e
razoáveis de um público que está com a razão.
Mas, para uma parte grande demais
de nossos cidadãos, a realidade que existe é diferente: mães e crianças presos
na armadilha da pobreza nos centros pobres de nossas zonas centrais; fábricas
desativadas e corroídas, espalhadas pela paisagem de nosso país como túmulos;
um sistema de ensino rico em dinheiro, mas que deixa nossos estudantes jovens e
belos privados de conhecimento; e criminalidade, gangues e drogas que já
roubaram vidas demais e roubaram nosso país de tanto potencial não realizado.
"Inner cities", zonas
centrais, virou sinônimo de áreas de maioria negra dos anos 1960 aos 2000; ele
foi acusado de racismo na campanha por usar esse termo.
Essa carnificina americana para
aqui e para agora mesmo.
Somos uma só nação –e a dor deles
é a nossa dor. Seus sonhos são nossos sonhos; seu sucesso será nosso sucesso.
Compartilhamos um só coração, um lar e um destino glorioso.
O juramento de posso que faço
hoje é um juramento de lealdade a todos os americanos.
Durante muitas décadas
enriquecemos a indústria estrangeira às custas da indústria americana;
Ainda que as empresas americanas
tenham liderado a fuga para "o estrangeiro".
Subsidiamos os exércitos de
outros países, ao mesmo tempo em que permitimos o lamentável esgotamento de
nossas próprias forças armadas;
Defendemos as fronteiras de
outros países, ao mesmo tempo em que nos recusamos a defender as nossas;
O orçamento de US$ 600 bilhões
(R$ 1,9 bilhão) é superior aos dos outros seis maiores exércitos do mundo
somados, mas sofreu cortes sob Obama.
E gastamos trilhões de dólares no
exterior, enquanto a infraestrutura da América se deteriorou.
Enriquecemos outros países,
enquanto a riqueza, a força e a confiança de nosso país desapareceram no
horizonte.
Nacionalista, projeta a ideia de
que o país "enriquece" outros países, sem interesse
Uma a uma, as fábricas fecharam
suas portas e deixaram nosso território, sem sequer pensar nos milhões e
milhões de trabalhadores americanos deixados para trás.
A produção industrial americana
tem obtido recordes nos últimos anos, mas boa parte é montada por robôs.
A riqueza de nossa classe média
foi arrancada de suas casas e então redistribuída pelo mundo inteiro.
Mas isso é o passado. E agora
estamos voltados apenas para o futuro.
Nós aqui reunidos hoje estamos
lançando um novo decreto a ser ouvido em todas as cidades, em todas as capitais
estrangeiras e em todos os salões do poder.
Deste dia em diante, uma nova
visão vai reger nossa terra.
Deste momento em diante, será a
América em Primeiro Lugar.
Cada decisão sobre comércio,
sobre impostos, sobre imigração, sobre política externa, será tomada para
beneficiar os trabalhadores americanos e as famílias americanas.
Precisamos proteger nossas
fronteiras dos estragos causados por outros países que fabricam nossos
produtos, roubam de nossas empresas e destroem nossos empregos. A proteção
levará a maior prosperidade e força.
Mistura protecionismo com
segurança, temas fortes na campanha, mas não cita os imigrantes ilegais, nem o
muro com o México.
Eu lutarei por vocês com cada
respiração minha –e nunca, jamais os decepcionarei.
A América vai começar a ganhar
outra vez, a ganhar como nunca antes.
Traremos nossos empregos de
volta. Traremos nossas fronteiras de volta.
Traremos nossa riqueza de volta.
E traremos nossos sonhos de volta.
Vamos construir novas estradas,
rodovias, pontes, aeroportos, túneis e ferrovias em toda parte deste nosso país
maravilhoso.
Ele prometeu investimentos de até
US$ 1 trilhão (R$ 3,2 bilhões) em obras públicas.
Vamos tirar nosso povo da
dependência da seguridade social e lhe dar trabalho outra vez –reconstruindo
nosso país com mãos americanas e mão-de-obra americana.
Republicanos acusam há anos de
muita gente não procurar emprego por receber "seguridade social".
Vamos nos pautar por duas regras
simples: compre o que é americano e contrate quem é americano.
Buscaremos a amizade e a boa
vontade com as nações do mundo –mas o faremos com o entendimento de que é
direito de todas as nações priorizar seus próprios interesses.
Não queremos impor nosso modo de
vida a ninguém, mas sim deixar que ele brilhe como exemplo para todos o
seguirem.
Trump criticou duramente o
intervencionismo do seu antecessor republicano George W. Bush.
Vamos reforçar alianças antigas e
formar alianças novas –e unir o mundo civilizado contra o terrorismo islâmico
radical, que vamos erradicar completamente da face da Terra.
Obama não usava o termo porque
temia que soasse como a era das Cruzadas. Trump quis marcar a diferença.
E o alicerce fundamental de nossa
política será uma lealdade total aos Estados Unidos da América, e, através de
nossa lealdade a nosso país, vamos redescobrir nossa lealdade uns aos outros.
Quando você abre seu coração ao
patriotismo, não há lugar para o preconceito.
A Bíblia nos diz "como é bom
e agradável quando os irmãos convivem em união".
Precisamos dizer abertamente o
que pensamos, debater nossas divergências com franqueza, mas sempre buscar a
solidariedade.
Quando a América está unida, ela
é totalmente invencível.
Não deve haver nenhum medo
–estamos protegidos e sempre estaremos.
Seremos protegidos pelos grandes
homens e mulheres de nossas forças armadas, por nossa polícia, e, o que é mais
importante, somos protegidos por Deus.
Mescla paternalismo à proteção
divina. Faz sucesso com o eleitorado mais religioso.
Finalmente, precisamos pensar
grande e sonhar ainda maior.
Na América, entendemos que uma
nação só vive enquanto estiver se esforçando.
Não vamos mais aceitar políticos
que falam muito e fazem pouco –que reclamam constantemente, mas nunca fazem
nada a respeito dos problemas.
A hora do discurso da boca para
fora acabou.
Agora é chegada a hora da ação.
Não permitam que ninguém lhes
diga que isso não pode ser feito. Nenhum desafio é capaz de derrotar o coração,
a garra e o espírito da América.
Discurso direto, sem firulas, mas
quase de auto-ajuda. O presidente escreveu vários livros motivacionais.
Não vamos fracassar. Nosso país
vai vicejar e prosperar novamente.
Estamos na aurora de um novo
milênio, preparados para decifrar os mistérios do espaço, para libertar a Terra
do sofrimento das doenças e para atrelar as energias, indústrias e tecnologias
do amanhã.
Um novo orgulho nacional vai
inspirar nossas almas, animar nossas visões e sanar nossas divisões.
Tenta endereçar a polarização
crescente no país.
É hora de lembrar aquelas
palavras de sabedoria antiga que nossos soldados nunca esquecem: que, quer
sejamos negros, morenos ou brancos, todos sangramos o mesmo sangue vermelho dos
patriotas, todos desfrutamos das mesmas liberdades gloriosas e todos saudamos a
mesma e grandiosa bandeira americana.
E a divisão racial –apenas 8% dos
eleitores negros votaram nele; raro momento em que não se dirige apenas à sua
base.
Quer uma criança nasça no
alastramento urbano de Detroit ou nas planícies do Nebraska, varridas pelos
ventos, ela olhará para o mesmo céu noturno, encherá seu coração com os mesmos
sonhos e recebeu o sopro de vida do mesmo Criador todo-poderoso.
Assim, a todos os americanos, em
cada cidade próxima ou distante, pequena ou grande, de montanha a montanha e de
oceano a oceano, ouçam estas palavras:
Vocês nunca mais serão ignorados.
Sua voz, suas esperanças e seus
sonhos vão definir nosso destino americano. E sua coragem, sua bondade e seu
amor nos guiarão para sempre neste caminho.
Juntos, Tornaremos a América
Grande Outra Vez.
Tornaremos a América Rica Outra
Vez.
Faremos a América Sentir Orgulho
Outra Vez.
E Tornaremos a América Segura
Outra Vez.
E, Sim, Juntos, Tornaremos a
América Grande Outra Vez.
O slogan de sua campanha
Obrigado, Deus Os Abençoe e Deus
Abençoe a América.
Fonte: Folha de São Paulo - 20/01/2017