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sexta-feira, 21 de abril de 2017

Economia da América Latina entra numa zona de risco elevado

A América Latina vê seu futuro escapar. A crise do petróleo, o agravamento das tensões na Venezuela, no Brasil e na Argentina e o fim da bonança econômica turvam o sonho de um equilíbrio continental e reavivam o fantasma de turbulências do passado. Há alguns meses a incerteza se estende por este espaço de 605 milhões de habitante.

A América Latina há muito tempo abandonou o crescimento na faixa dos 5%, e agora, quando muito, hiberna. A previsão do FMI para este ano é de apenas 1,3%, praticamente a metade da cifra dos países desenvolvidos. Essa anemia, numa região com quase 170 milhões de pobres, ameaça jogar por terra os progressos da última década e aumentar o potencial de conflito político. “Os avanços sociais obtidos correrão riscos à medida que o ritmo de redução de pobreza for freado devido à desaceleração”, adverte Jorge Araújo, assessor do Banco Mundial para a América Latina.

Entre as causas do declive figuram a fragilidade da economia europeia e, sobretudo, a fadiga da China, incapaz de manter o alucinante ritmo de compra de matérias primas oriundas das economias austrais. Nesse contexto de debilidade internacional, a região sofreu um golpe inesperado e profundo: a queda dos preços do petróleo. A constatação de que não se trata de uma desvalorização provisória, e sim de um novo ciclo, acendeu os alarmes. Os países exportadores adotaram, com diferentes intensidades, cortes dos gastos públicos. Especialistas consideram que o baque poderá ser superado, mas deixará sequelas. “Graças às reformas políticas adotadas desde os anos noventa, a maioria de países da área está bem posicionada para enfrentar choques externos”, afirma Hamid Faruqee, economista do FMI.

México: possivelmente o país latino-americano mais bem preparado para resistir ao solavanco, resume os paradoxos do novo cenário. Embora seus cofres públicos ainda dependam em 30% dos dividendos petrolíferos, há décadas o país se esforça em diversificar sua economia e reduzir sua dependência em relação ao produto – de fato, em 20 anos a participação petroleira no PIB caiu de 11% para 5,9%. Apesar disso, a forte desvalorização do petróleo e o ajuste fiscal promovido pelo Governo, com o consequente efeito dominó numa estrutura econômica ainda imatura, reduziram suas perspectivas de crescimento para este ano e o próximo, impedindo a decolagem para os 5%, o objetivo político mais cobiçado.

Colômbia:  até recentemente uma locomotiva, já reduziu suas expectativas e encara um histórico processo de paz que consumirá grande parte de suas energias.

Brasil: O gigante do Hemisfério Sul, protagonista do milagre da década, atravessa agora uma tempestade perfeita. Seu PIB declina até a insignificância (previsão de 0,3% neste ano), enquanto sua liderança política, um de seus grandes trunfos, definha sob uma maciça onda de descontentamento e escândalos de corrupção.

Argentina: por sua vez, atravessa um amargo fim de ciclo, em situação recessiva e com uma inflação de 30% ao ano, enquanto sua presidenta, Cristina Fernández de Kirchner, prepara-se para encerrar seu mandato deixando uma nação consumida por uma extrema polarização política.

Venezuela: um país que vive em choque permanente, e ao qual a crise do petróleo (responsável por 95% das exportações) deixou à beira colapso. O regime chavista, com a maior inflação do planeta, gira atualmente sem um centro gravitacional conhecido, eternamente confrontado com os Estados Unidos e desvalorizado por uma repressão política de consequências imprevisíveis.

Nesse horizonte tormentoso, muitos olhares se voltam para a grande potência do norte. Washington, com sua renascida pujança, representa para muitos países a única esperança de reativação regional, e inclusive como substituto do colosso chinês. Mas os Estados Unidos também constituem uma ameaça: a mais que possível alta dos juros no segundo semestre poderá absorver fluxos de capital que até agora se direcionam para os países emergentes. O efeito seria imediato, algo semelhante a tirar a gasolina de um carro. A América Latina, embora muito longe dos desequilíbrios de décadas passadas, entrou em uma zona de risco elevado. Fonte: El País - 9 ABR 2015  

Comentário: O país que especializa em exportação de matérias-primas, apresenta um ciclo, em que os economistas denominam doença holandesa, quando o câmbio é favorável e a abundância de recursos naturais gera vantagens  levando-o a se especializar na produção desses bens e deixando o setor industrial em processo de desindustrialização ou menos competitivo,  o que, a longo prazo, inibe o desenvolvimento econômico. Acrescentando a política de consumo  e fatores externos tais como, redução do crescimento, e a valorização cambial, as exportações (preços) se tornam menos competitivos internacionalmente. A pobreza continuará na América Latina. A América Latina olha para o passado tentando corrigir os erros e esquece o futuro. A nova revolução tecnológica requer mais educação e menos demanda para o trabalho. A robotização da economia está cada vez mais comprimindo o mercado de trabalho e a América Latina parece mais uma locomotiva a vapor competindo num mercado mundial que utiliza trem de alta velocidade. 

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