À custa de insistir nos direitos de alguns grupos, ela
deixou de ser vista como representante da sociedade em seu conjunto
Diferentemente dos anjos e dos partidos de direita, a
esquerda tem um sexo. Declara-se feminista, como o PSOE espanhol desde a
liderança de José Luis Zapatero; ou quer feminizar a política, como o Podemos,
partido fundado na Espanha em 2014. A esquerda ganhou rótulos. Além de
socialista, é ecologista, feminista e defensora das minorias. Essa diversidade
oferece oportunidades, mas também riscos.
Por um lado, a esquerda se adaptou às mudanças sociais que
dizimaram seu eleitorado clássico, os trabalhadores homens. Não se pode viver
da nostalgia e, no século XXI, a defesa da igualdade deve incorporar
considerações culturais, de gênero e de orientação sexual. A esquerda faz bem
em propor medidas contra a discriminação de qualquer grupo em qualquer frente:
escola, trabalho ou esfera privada.
Mas tudo o que há de bom nessas políticas integradoras há de
mau no discurso político que as acompanha. Esse é o tendão de Aquiles da
esquerda contemporânea. À custa de insistir nos direitos de alguns grupos, a
esquerda deixou de ser vista como representante da sociedade em seu conjunto.
Caiu no que Bo Rothstein, em relação à Europa, e Mark Lilla, em relação aos
Estados Unidos, denunciam como a política da identidade. A esquerda enfatiza
mais as diferenças entre os distintos grupos sociais do que as semelhanças
entre todos os cidadãos.
A falida campanha de Hillary Clinton é uma séria advertência
para os progressistas de todo o mundo. Hillary substituiu uma visão geral para
o país por menções a grupos concretos: afro-americanos, latinos, LGTBI e,
sobretudo, mulheres. Em princípio, parecia ser um bom marketing político.
Particularize seu produto. Coloque nome e sobrenome, sexo e etnia em seus
potenciais clientes. Mas a política não é como a moda. Quando você tenta atrair
um grupo concreto, aliena outro. Nesse caso, o homem branco.
A esquerda em muitos países corre o perigo de escorregar na
mesma ladeira: quando a defesa de políticas para os mais desfavorecidos
desemboca em um conflito de identidade. Para evitar isso, os progressistas têm
que ser como os anjos: inteligentes e assexuados. Fonte: El País - 2
JAN 2017
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