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sábado, 21 de janeiro de 2017

O sexo da esquerda

À custa de insistir nos direitos de alguns grupos, ela deixou de ser vista como representante da sociedade em seu conjunto

Diferentemente dos anjos e dos partidos de direita, a esquerda tem um sexo. Declara-se feminista, como o PSOE espanhol desde a liderança de José Luis Zapatero; ou quer feminizar a política, como o Podemos, partido fundado na Espanha em 2014. A esquerda ganhou rótulos. Além de socialista, é ecologista, feminista e defensora das minorias. Essa diversidade oferece oportunidades, mas também riscos.

Por um lado, a esquerda se adaptou às mudanças sociais que dizimaram seu eleitorado clássico, os trabalhadores homens. Não se pode viver da nostalgia e, no século XXI, a defesa da igualdade deve incorporar considerações culturais, de gênero e de orientação sexual. A esquerda faz bem em propor medidas contra a discriminação de qualquer grupo em qualquer frente: escola, trabalho ou esfera privada.

Mas tudo o que há de bom nessas políticas integradoras há de mau no discurso político que as acompanha. Esse é o tendão de Aquiles da esquerda contemporânea. À custa de insistir nos direitos de alguns grupos, a esquerda deixou de ser vista como representante da sociedade em seu conjunto. Caiu no que Bo Rothstein, em relação à Europa, e Mark Lilla, em relação aos Estados Unidos, denunciam como a política da identidade. A esquerda enfatiza mais as diferenças entre os distintos grupos sociais do que as semelhanças entre todos os cidadãos.

A falida campanha de Hillary Clinton é uma séria advertência para os progressistas de todo o mundo. Hillary substituiu uma visão geral para o país por menções a grupos concretos: afro-americanos, latinos, LGTBI e, sobretudo, mulheres. Em princípio, parecia ser um bom marketing político. Particularize seu produto. Coloque nome e sobrenome, sexo e etnia em seus potenciais clientes. Mas a política não é como a moda. Quando você tenta atrair um grupo concreto, aliena outro. Nesse caso, o homem branco.

A esquerda em muitos países corre o perigo de escorregar na mesma ladeira: quando a defesa de políticas para os mais desfavorecidos desemboca em um conflito de identidade. Para evitar isso, os progressistas têm que ser como os anjos: inteligentes e assexuados. Fonte: El País - 2 JAN 2017

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