Não muito tempo atrás, o cenário brasileiro era de otimismo.
De 2008 a 2013, enquanto os Estados Unidos e a Europa enfrentavam a crise
financeira, a renda per capita no Brasil cresceu 12%, descontada a inflação. Os
salários aumentaram, a pobreza despencou.
O eterno “país do amanhã” se viu entre os Brics (Brasil,
Rússia, Índia, China e África do Sul).
Mas, então, não aconteceu.
Entre 2015 e 2017, a economia brasileira deverá encolher 8%,
segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). O desemprego atingiu 11% no
primeiro trimestre. A presidente enfrenta um processo de impeachment. O
desenvolvimento do Brasil em uma economia avançada — que já esteve
incrivelmente próximo — mais uma vez parece uma miragem.
Quando a China comprava insaciavelmente ferro e soja
brasileiros, era difícil para os políticos não se sentirem invencíveis,
enquanto as baixas taxas de juros nos Estados Unidos empurravam uma onda de
dinheiro para os títulos brasileiros. “Lula pensou que fosse um gênio da
economia”, disse o economista brasileiro José A. Scheinkman, sobre o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, cujo mandato terminou em 2011.
“O boom retardou outras políticas difíceis de implementar:
reformas judiciais, reformas fiscais, reformas educacionais, reformas no
mercado de trabalho, abertura ao comércio exterior”, disse Alejandro Werner, do
FMI.
Quando Dilma Rousseff sucedeu a Lula, impôs ainda mais
populismo. Achou que a importância dos mercados era exagerada. O tipo de
reformas de que o FMI gostava, inútil.
A economia do Brasil há muito esteve fechada para o mundo.
Sua tarifa média de importação aplicada, de 10%, é a mais alta entre os Brics.
Mas isso não impediu que o governo brasileiro aumentasse ainda mais os
subsídios e a proteção a setores favorecidos. Os três bancos de desenvolvimento
federais fizeram tantos empréstimos subsidiados que, no ano passado,
representaram mais da metade de todos os empréstimos.
Não há nada de errado na ação do governo para estimular a
economia. Mas o governo não soube quando devia parar.
Uma lição é que as opções que se apresentam aos países em
desenvolvimento não necessariamente colocam os livres mercados contra as
políticas de combate à pobreza.
“Todos os empresários apoiaram as intervenções na taxa de
câmbio e nas taxas de juros, o crédito subsidiado e as intervenções nos preços
da eletricidade e da gasolina”, disse Marcos Lisboa, que dirige o instituto de
pesquisas Insper, em São Paulo.
Os infortúnios do Brasil também não significam uma
condenação de toda a esquerda latino-americana. Bolívia e Equador, conduzidos
por governos de esquerda, demonstraram uma gestão econômica mais cautelosa.
O resumo da história é que há métodos de bom senso que
funcionam: investir em capital humano, administrar com cautela as bonanças das
matérias-primas e reconhecer que a abertura à concorrência estrangeira é
necessária para o desenvolvimento. Fonte: Folha de São Paulo – The New York Times - Maio 21, 2016
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