O fotógrafo britânico Jack Latham
passou um mês na capital do Vietnã, Hanói, fotografando as famosas "click
farms" ("fazendas de cliques", em tradução livre).
'PARECEM STARTUPS DO VALE DO SILÍCIO'
Em entrevista à CNN, Latham contou que visitou
cinco fazendas de cliques no total. Enquanto algumas delas tinham uma
configuração tradicional, com diversos de celulares operados manualmente,
outras já funcionavam com um método mais moderno chamado "box farm".
Nele, vários telefones — sem baterias ou telas —
ficam conectados entre si e também a uma interface de computador.
Todas pareciam startups do Vale do Silício. Havia
uma enorme quantidade de hardware, paredes inteiras de telefones. Jack Latham à
CNN
TikTok é a plataforma mais popular nas fazendas de
cliques que o fotógrafo visitou. Segundo ele, os trabalhadores desses locais
geralmente eram responsáveis por tarefas em plataformas específicas, como
comentar em massa em contas do Facebook ou ver vídeos em sequência no YouTube.
Trabalhadores com quem Latham conversou anunciavam
seus serviços online por menos de um centavo por clique, visualização ou
interação, ainda de acordo com a CNN.
As imagens da viagem pelas fazendas de cliques do
Vietnã aparecem no novo livro de Latham, "Beggar's Honey" ("O
Mel do Miserável", em tradução livre). Em 134 páginas, o fotógrafo retrata
uma mistura de telefones, redes de fios e computadores com frames do tipo de
conteúdo que viu sendo impulsionado nesses locais.
Fazendas de cliques em todo o mundo também são
usadas para espalhar desinformação. Ao jornal português Público, Latham
reforçou que seu projeto busca retratar as máquinas usadas para espalhar
desinformação.
As fábricas de cliques não são a causa do problema.
O problema começa quando as pessoas se apoiam nas redes sociais para consumir
informação. As fábricas de cliques nascem dessa premissa. As pessoas querem
consumir informação de forma rápida e em formato de entretenimento. Jack Latham
ao P3
Ele ainda afirmou que locais como esses "nunca
tinham sido fotografados ou filmados profissionalmente até então".
"Inicialmente, foi um pouco assustador, porque, obviamente, elas operam
numa área cinzenta da lei. Depois das duas primeiras visitas, comecei a me
sentir mais confortável", disse.
COMO FUNCIONA UMA FAZENDA DE CLIQUES?
Driblando o algoritmo. Basicamente, as fazendas de
cliques vendem serviços de curtidas e comentários para empresas e pessoas
físicas interessadas em aumentar sua influência e engajamento na internet, com
o intuito de manipular algoritmos.
Esse conceito já é conhecido há algum tempo no
sudeste asiático. Uma rápida pesquisa no Google gera uma série de imagens de
pessoas manejando ao mesmo tempo incontáveis smartphones dispostos em
prateleiras.
Também é possível controlar os dispositivos por
meio de um computador. Inúmeros smartphones ficam conectados à internet 24
horas por dia e sete dias por semana e vão gerando curtidas e compartilhamentos
aleatórios nas páginas e perfis das empresas e pessoas contratantes do serviço.
A prática tem a finalidade de reunir mão de obra
barata para driblar os termos de uso das redes sociais, que proíbem a
utilização de robôs para automatizar e alavancar o alcance das publicações.
A ilegalidade das fazendas de cliques, porém, não é regra no mundo todo. Especialistas acreditam que as fazendas de likes funcionem, principalmente, na China e na Rússia. Fonte: UOL Tilt - 01/04/2024