O ouro de Thiago Braz é marcado pela ousadia. O primeiro
brasileiro a ser campeão olímpico no salto com vara - feito conquistado na
segunda-feira (15), no Engenhão - só conseguiu a façanha porque não se
contentou com a prata e colocou o sarrafo 11 cm acima do seu recorde pessoal.
Se ele teve condições de fazer isso, é porque no fim de 2014 ele saiu do lugar
comum e mudou de país. Abandonou os treinos com Élson Miranda, técnico de
Fabiana Murer, e foi parar em Fórmia, na Itália, longe de família e amigos.
Tudo por apostar que valia a pena trocar o conforto e a
segurança da sua casa no Brasil pelo desafio de trabalhar integralmente com
Vitaly Petrov, o ucraniano que mudou a história do esporte. Foi ele, no fim da
década de 1980, que guiou o compatriota Sergei Bubka a 35 quebras de recorde na
carreira. Vinte anos depois, ele levou a russa Yelena Isinbayeva a dominar a
modalidade no feminino.
Não é coincidência que os dois maiores saltadores da
história tenham o mesmo técnico. Só que ao trocar o Brasil pela Itália rendeu
dores de cabeça para o brasileiro. Elson, seu antigo técnico, fez críticas
públicas ao ex-pupilo e a Petrov, de quem era parceiro. Thiago sofreu em silêncio,
acumulou maus resultados e respondeu na hora certa. A ousadia rendeu o quinto
ouro do atletismo brasileiro na história e um recorde olímpico. Aos 22 anos, na
hora decisiva, ele teve a força mental e a técnica para ocupar o espaço que
separava seu histórico do maior título de todos. E não tem dúvida ao ser
perguntado se conseguiria o feito sem Petrov:
Acredito que não. De todos os treinadores que passaram
comigo, o mais refinado foi o Vitaly, ao meu ver. Eu arrisquei todas as minhas
fichas no Vitaly. Eu poderia não estar no atletismo caso não tivesse resultado
com ele
Thiago Braz, que não tivera tempo de saltar com o forte
temporal, deixou para começar suas tentativas a partir de 5,65 m. Era a mesma
marca escolhida pelo francês Lavillenie. O brasileiro superou a marca com
facilidade e, apesar de uma falha, também passou pelos 5,75 m. A partir daí, a
disputa ficou entre cinco atletas e a medalha ganhava contornos de realidade.
Thiago Braz ultrapassou os 5,85 m na primeira tentativa. Com
as falhas do polonês Piotr Lisek e do tcheco Jan Kudlicka, só sobraram três na
competição: ele, o favorito Lavillenie e o americano Sam Kendricks. O pódio
agora era garantido: só faltava saber a cor da medalha.
Thiago superou os 5,93 m em sua segunda tentativa. Já era o
melhor salto em estádio aberto (algumas competições são disputadas em locais
fechados) da sua vida: o anterior foi em Baku (Azerbaijão), quando atingiu 5,92
m, em 2015. O americano falhou, e a prata estava assegurada - até aquele
momento - no peito do brasileiro.
A disputa, então, era com o francês. E Lavillenie seguia o
roteiro dos favoritos: saltou os 5,98 m. A torcida brasileira vaiava cada
tentativa do rival. O locutor tentava contê-los com pedidos de silêncio. Os
franceses, em grande número, já comemoravam seu provável campeão.
O inesperado, o incrível aconteceu. Thiago Braz correu para
saltar sobre uma barreira de 6,03 m, algo que ele nunca havia sequer tentado, e
venceu. Os franceses botaram as mãos na cabeça em descrédito, os brasileiros
explodiram. Era o recorde olímpico. Lavillenie ainda teve mais um salto,
tentando 6,08 m, e falhou.
Thiago entrou como a terceira melhor marca do ano na final, era campeão olímpico. Uma
dessas histórias para botar em moldura de ouro no museu da história dos Jogos.
Fonte: UOL Olimpiadas - 15.08.2016