terça-feira, 28 de novembro de 2023
domingo, 19 de novembro de 2023
Cinco milhões de brasileiros não sabem que têm diabetes
Se considerados apenas os
casos diagnosticados, Brasil é o sexto no ranking mundial. Doença, que pode ser
tratada com diagnóstico precoce, causa prejuízos de R$ 10,3 bilhões por ano ao
país.
De acordo com dados da
Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês), há 5 milhões de
brasileiros vivendo com a doença crônica sem saber disso. Para especialistas,
essa falta de diagnóstico é um grande problema, já que ter diabetes e não
tratá-lo pode acarretar consequências graves de saúde. Desta forma, visando
alertar a população, desde 1991, a IDF e a Organização Mundial da Saúde (OMS) celebram
em 14 de novembro o Dia Mundial do Diabetes.
De acordo com um atlas
produzido pela IDF, se levado em conta apenas o número de pessoas
diagnosticadas com a doença, o Brasil ocupa hoje a sexta colocação no mundo:
são 15,7 milhões de pessoas com diabetes, o que deixa o país atrás de China
(140,9 milhões), Índia (74,2 milhões), Paquistão (33 milhões), Estados Unidos
(32,2 milhões) e Indonésia (19,5 milhões) — todas nações mais populosas.
CUSTOS SOCIAIS
Os custos sociais e
sanitários também são enormes. De acordo com estudo realizado por pesquisadores
da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp) e publicado no ano passado, o Brasil gasta 2,1 bilhões de dólares por
ano (cerca de R$ 10,3 bilhões) por causa da doença, considerando gastos diretos
(farmácia popular, hospitalizações e outros atendimentos) e indiretos (falta ao
trabalho, aposentadoria precoce, morte precoce). O mesmo estudo estima que esse
valor pode chegar a 5,47 bilhões de dólares em 2030 (cerca de R$ 26,8 bilhões).
"Diabetes é a doença
crônica que mais mata, superando todos os cânceres juntos. É responsável por
50% das mortes por doenças cardiovasculares, que são consideradas as principais
causas de mortalidade", afirma Fraige Filho, presidente da seção sul e centro-americana
da IDF. "Ocupa 50% dos leitos em hospitais gerais, devido às complicações.
Tem grande impacto econômico e social por conta das complicações. Todas elas
poderiam ser evitadas com tratamento precoce e adequado."
DIAGNÓSTICO- DETECÇÃO DE
GLICOSE NO SANGUE
E diagnosticar a doença é
simples. A maneira mais acessível é por meio da detecção de glicose no
sangue."Qualquer médico pode solicitar esse exame de rotina. Hoje até em
farmácias já é possível verificar", diz o biólogo Alex Rafacho,
coordenador do Laboratório de Investigação de Doenças Crônicas da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC). O problema é que muitos pacientes não
apresentam qualquer sintoma.
No caso do diabetes tipo 1,
as crianças costumam sofrer perda de peso acentuada, cansaço frequente, urinam
muito e estão sempre com sede. Muitas suam em períodos de jejum. "Esses
mesmos sintomas também podem ocorrer nos adultos que porventura tenham o tipo 2
há muito tempo e nunca souberam. Mas até esse momento, a pessoa pode conviver
com o diabetes há anos e ir desenvolvendo algumas comorbidades", esclarece
o biólogo.
As mais comuns são o aumento
dos triglicerídeos, hipertensão, obesidade e gordura no fígado. Casos não
tratadas, podem trazer consequências graves, como infarto, acidente vascular
cerebral (AVC), glaucoma, perda de sensibilidade nas extremidades, disfunção
renal, entre outros. "Por isso, o diabetes é um dos maiores fatores de
risco para amputação de membros, cegueira e complicações renais que requeiram
hemodiálise", alerta Rafacho. "Não se pode negligenciar a doença."
CADA VEZ MAIS CASOS NO BRASIL
Rafacho alerta que o cenário
é de crescimento da doença no Brasil — de 8,8% da população em 2021 para 10,9%
da população em 2045, conforme estimativas.
Esses números não fazem
distinção entre os dois tipos de diabetes mellitus (1 e 2) — o termo vem do
latim mel e se deve ao excesso de glicose no sangue. No primeiro caso, o
paciente apresenta uma desordem que causa a destruição das células produtoras
de insulina. No segundo, é uma deficiência na secreção da insulina.
"É importante frisar que
há estudo apontando o Brasil como sendo o quarto país do mundo com a maior
incidência de diabetes tipo 2 entre os jovens com menos de 20 anos e o terceiro
com o maior número de indivíduos com o tipo 1 entre bebês, crianças e jovens com
menos de 20 anos", alerta Rafacho.
De acordo com ele, as razões
para este cenário são muitas, "mas inegavelmente a falta de educação
relacionada à saúde e a desigualdade social" seriam o ponto de partida do
problema. E o cuidado precisa ser maior entre aqueles que apresentam
pré-diabetes, "ou seja, uma condição de forte risco para o desenvolvimento
futuro" da doença.
ESTILO DE VIDA
"As principais razões
atribuídas para este alto número de pessoas com diabetes, que vem aumentando
cada vez mais ao longo dos anos, são principalmente aquelas ligadas à mudança
imposta pelo estilo de vida, como o sedentarismo, sobrepeso e obesidade, além do
envelhecimento da população", comenta a biomédica Gabriela Arrifano,
professora na Universidade Federal do Pará (UFPA).
As causas são variadas. No
caso do tipo 1, Rafacho explica que "há uma predisposição genética que
deve ser considerada", e a doença acaba se desenvolvendo após exposição,
na infância, a fatores que geram um gatilho, como antígenos presentes em certos
alimentos.
"Neste caso, a melhor
forma de prevenir é ter um acompanhamento regular com endocrinopediatra sempre
que o bebê nascer em família em que pai ou a mãe tenham diabetes tipo 1",
alerta.
Já o diabetes tipo 2 é
causado por fatores como excesso de peso, idade, pressão arterial alta e por
não praticar atividades físicas com regularidade. Ter parentes de primeiro grau
com a doença aumenta o risco. "Tudo isso pode, em maior ou menor grau, ter
como base uma cultura associada a ingestão de alimentos e bebidas com alto teor
energético e baixo teor nutricional, um ambiente familiar e escolar que pouco
discute temas relacionados à saúde, ambiente obesogênico, menor grau de
instrução e de poder de escolha e até mesmo uma qualidade ou quantidade de sono
insuficiente", analisa o biólogo.
Em outras palavras, o
diabetes tipo 1 "não é evitável, mas é rastreável". "Já o de
tipo 2 pode, sim, ser evitado, por meio de um estilo de vida saudável",
argumenta Rafacho. Fonte: Deutsche Welle
- 14/11/2023