O Brasil manteve campos de concentração durante a Segunda
Guerra Mundial (1939-45), revelam documentos oficiais que estavam lacrados pelo
governo e que ajudam a desvendar um período até aqui obscuro da história.
A partir de 1942, cerca de 3.000 pessoas de origem alemã,
italiana e japonesa foram mantidas em dez campos de concentração criados em
sete Estados brasileiros (PA, PE, RJ, MG, SP, SC e RS).
Sem nenhuma semelhança com os campos nazistas, os espaços de
confinamento brasileiros permitiam que os prisioneiros saíssem para fazer
compras na cidade, receber visitas e até tocar em festas.
Esse período da história brasileira jamais foi incluído nos
livros didáticos porque, até 1996, era considerado secreto pelo governo, que
permitia somente o acesso parcial aos dados. Os arquivos oficiais foram
lacrados com base em uma lei que proibia consultas ou pesquisas por 50 anos. Em
1988, o prazo caiu para 30 anos.
"Essa é uma história que está para ser escrita e foi
omitida por ser inoportuna. Esses arquivos revelam os carrascos de uma fase
desagradável da história política brasileira", diz a professora da USP e
coordenadora do projeto Arquivo-Universidade, Maria Luiza Tucci Carneiro,
especialista em racismo e anti-semitismo.
A criação dessas áreas para prisioneiros ocorreu a partir de
agosto de 1942, época em que o Brasil saiu da neutralidade em relação à guerra
e se posicionou a favor dos Aliados (EUA, Inglaterra e França). O bloco lutava
contra os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). O Brasil era governado por
Getúlio Vargas.
De acordo com Perazzo, autora da tese intitulada
"Prisioneiros de Guerra. Os Cidadãos do Eixo nos Campos de Concentração
Brasileiros", a perseguição aos imigrantes já existia alguns anos antes da
eclosão da guerra. A diferença é que, antes da adesão aos Aliados, os
imigrantes eram vistos como "cidadãos indesejados".
A partir de 1938, alemães, japoneses e italianos começaram a
ser severamente reprimidos no Brasil por representarem uma ameaça ao projeto
nacional-moderno do governo, já que tinham ideologias diferentes das sugeridas
no país.
A reclusão nos campos foi praticamente uma precondição para
o apoio do Brasil aos Aliados. A historiadora explica que o tratamento dado aos
imigrantes deixou de ser uma questão nacional para projetar-se como um dos
elementos de negociação no campo da política internacional.
O Brasil teve sua recompensa depois da guerra. Enquanto a
Europa estava quase destruída, o país aproveitava um dos períodos mais
promissores no que diz respeito à geração de empregos, provenientes da
industrialização com o apoio do Aliados. Fonte: Folha de São Paulo - 08/12/2002
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