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domingo, 24 de novembro de 2019

O que Charles Darwin achou do Brasil do século 19

No dia 29 de agosto de 1831, o jovem Charles Robert Darwin, então com 22 anos, recebeu uma carta que mudaria sua vida. Um de seus professores na Universidade de Cambridge, o botânico John Stevens Henslow, indicara seu nome para participar de uma expedição científica ao redor do mundo.
Prevista para durar pouco mais de três anos, a viagem de circum-navegação levou quase cinco. Nesse período, a tripulação do Beagle enfrentou abalo sísmico no Chile, doença misteriosa na Argentina — alguns especialistas cogitam a hipótese de Doença de Chagas — e tempestade tropical no Brasil.
Sim, o Brasil estava entre os mais de dez países, como Austrália, Nova Zelândia e África do Sul, visitados pelo navio de pesquisa da Marinha Real Britânica — o HMS, a propósito, significa His Majesty's Ship ("Navio de Sua Majestade") —, ao longo de quatro anos e nove meses.

OBSERVAÇÕES SOBRE O BRASIL
■Darwin ficou encantado com a nossa biodiversidade. A Mata Atlântica foi o bioma mais rico que ele conheceu. Por outro, ficou revoltado com a escravidão. Sua família lutava contra o comércio de escravos", afirma o biólogo Nélio Bizzo.
■"Nunca é agradável submeter-se à insolência de homens de escritório, mas aos brasileiros, que são tão desprezíveis mentalmente quanto são miseráveis as suas pessoas, é quase intolerável", reclamou, em 6 de abril de 1832.  Darwin levou um dia inteiro até conseguir autorização para excursionar pelo interior fluminense.
■Darwin reclama muito da burocracia e chega a dizer que é interminável", diz o biólogo Charbel El-Hani, coordenador do Laboratório de Ensino, Filosofia e História da Biologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
■A cavalo, Darwin e uma comitiva de seis homens empreenderam uma viagem de 16 dias, entre 8 e 24 de abril, até Conceição de Macabu, a 227 km da capital. De maneira geral, a impressão deixada pelos donos de pousada não foi das melhores. Alguns demoravam até duas horas para servir a refeição. "A comida estará pronta quando estiver", respondiam os mais atrevidos. Outros, sequer, tinham garfos, facas ou colheres para oferecer.
■Na Fazenda Campos Novos, em Cabo Frio, os viajantes deram pela falta de uma bolsa com alguns de seus pertences. "Por que não cuidam do que levam?", retrucou o hospedeiro, mal-humorado. "Talvez tenha sido comida pelos cachorros".
■No dia 3 de julho, chegou a rotular os brasileiros de "ignorantes", "covardes" e "indolentes".
"Até onde posso julgar, possuem apenas uma fração daquelas qualidades que dão dignidade ao homem", queixou-se. "Não importa o tamanho das acusações que possam existir contra um homem de posses, é seguro que, em pouco tempo, ele estará livre. Todos aqui podem ser subornados."
■A primeira parte da passagem de Darwin pelo Brasil chegou ao fim em 5 de julho de 1832. Daqui, a expedição seguiu para o Uruguai e, de lá, para a Argentina. Em setembro de 1835, chegou às Ilhas Galápagos, no Oceano Pacífico, o ponto mais famoso da viagem.
■ Darwin não teria colocado mais os pés no Brasil se, em agosto de 1836, ventos contrários não tivessem obrigado o capitão FitzRoy a atracar novamente no país: de 1 a 6 de agosto em Salvador e de 7 a 12 no Recife. Apesar de agnóstico, Darwin deu "graças a Deus" por estar, finalmente, deixando as costas do Brasil. "Espero nunca mais visitar um país de escravos",
■ O diário de bordo e as anotações de viagem de Darwin, ricos tanto em descrições geográficas quanto em comentários sociológicos, não se perderam no caminho. Em 1839, viraram livro, Viagem de Um Naturalista ao Redor do Mundo, e, em 2015, ganharam uma edição brasileira, O Diário do Beagle, um calhamaço de 528 páginas lançado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Fonte: BBC News Brasil-23 novembro 2019

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